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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

 O que é um ícone?

Ícone, termo derivado do grego εἰκών, (eikon, imagem),
no campo da arte pictorica religiosa identifica uma representação sacra pintada sobre um painel de madeira. O ícone é a representação da mensagem cristã descrita por palavras nos Evangelhos. Se trata de uma criação bizantina do século V, a que se dizer que e Arte Bizantina é totalmente religiosa, quando da oferta de uma representação da Virgem, atribuída pela tradição a São Lucas.
Quando da queda de Constantinopla em 1453, foi a população dos Balçãs que contribuiu para difundir e incrementar a produção desta representação sacra, sendo na Russia a grande herdeira do patrimônio de Bizâncio- a Terceira Roma o local onde assume um significado particular e de grande importância. O simbolismo e a tradição não englobam somente o aspecto pictórico, mas também aquele relativo à preparação espiritual e aos materiais utilizados.
(Este ícone é de propriedade e está exposto no Mosteiro de São Bento em São Paulo-SP)

Quais as características marcantes para a confecção e veneração de um ícone?
O ícone é pintado sobre um painel de madeira, geralmente larice ou abeto. Sobre a superfície aplainada é feito o desenho e começava-se a pintura pela aplicação do dourado, geralmente nas bordas, detalhes das roupas, fundo e resplendores ou coroas. Então se pintam as roupas, construções e a paisagem de fundo. A última etapa é a aplicação do branco puro na face e mãos. O efeito tridimensional é alcançado misturando ocre ao branco e aplicando essa tinta mais escura nas maçãs do rosto, nariz e testa. Uma fina camada de verniz avermelhado da o sutil acabamento final a lábios, face e ponta do nariz. Um verniz marrom é usado no cabelo, barbas e detalhes dos olhos. A produção de ícones religiosos é considerada uma arte nobre, que necessita grande preparação técnica e espiritual. O pintor, ou melhor, o icinógrafo precisa se purificar de corpo e alma para conseguir a perfeição, pois ele não é o autor, mas a Graça Divina opera pelas suas  mãos.De modo que nenhum ícone é assinado. Além do mais nota-se que não falamos em “pintar” um ícone mas “escrever” um ícone. Ésta é a expressão correta; pois ele coloca no ícone em forma de figuras e cores o que a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição nos ensinam a cerca dos acontecimentos da Economia da nossa Salvação, sobre a pessoa e os ensinamentos de Nosso Senhor, a Mãe de Deus, os Santoa Apóstolos e outras categorias de fiéis. Depois de acabados são submetidos a autoridade da Igreja para constar da verificação de tais elementos condizentes com a pureza da fé e são literalmente “crismados”, mediante um benção especial e a unção com o “Santo Miron”, o Òleo do Crisma. O Primeiro Domingo da Grande Quaresma é conhecido em nosso Rito Bizantino como o Domingo da Ortodoxia ou Veneração dos Santos Ícones. Mais adiante abordaremos este aspecto e seu significado.
Qual o significado das letras e das cores presentes em um ícone?
Como na maioria das representações sacras, a cor no ícone assume uma importância fundamental para expressar a intenção do iconógrafo. O azul é a cor da transcendência, mistério divino. O vermelho, sem dúvida a cor mais viva presente nos ícones, é a cor do humano e do sangue dos mártirres. O verde é usado como símbolo da natureza, da fertilidade e da abundância. O marrom simboliza o terrestre, o humilde e pobre.Branco  é a harmonia, apaz , a cor do divino que representa a luz que se avizinha e o preto, decepção e tristeza. Muitos ícones trazem a inscrição ICXC, forma grega abreviada de Cristo. Também Ø O N, significando ‘’aquele que é’’, aparece nas auréolas. Maria é frequentemente identificada com MP OU, Mãe de Deus. A compreensão do significado do ícone pode ser difícil para a ótica da cultura ocidental muito dada a arte religiosa escultural. A que se observar: muito limitada em relação ao ícone. Como a pintura impressionista e arte abstrata, são representações de emoções, de características que não podem ser estabelecidas pelo cânone. Para um artista deste gênero, a luz é uma manifestação divina, não existe o meio tom. Daí a abundancia do dourado: a luz é divina.

Afinal quando nasceu o “Ícone” e sua fundadamentação nas Escrituras?
No Antigo Testamento, Deus tinha proibido que se tentasse reproduzir a sua imagem. Textos bíblicos (Dt 4, 12 e 15) nos dizem que, também quando se ouviu o som das palavras de Deus, nenhuma imagem foi vista, e muitas censuras foram feitas a cada nova tentação de esculpir e adorar um ídolo! Somente a arte decorativa, prevalecendo a de forma geométrica, exprimia o sentido do infinito, como vemos ainda hoje com os hebreus ou os muçulmanos. Somente a representação dos anjos foi permitida no Antigo Testamento (Ex 25,17-22) e sobre a arca da aliança havia-se esculpido o ícone dos querubins como prenúncio de acontecimento futuro.
A hora do nascimento terreno do Filho de Deus é a hora do nascimento do ícone: Jesus Cristo, com efeito, não é apenas o Verbo de Deus, mas também a sua imagem: «Cristo é a imagem (eikón) do Deus invisível» (Cl 1, 15). São João Damasceno, o teólogo poeta, morto em 749, que nos seus três Tratados pela defesa dos santos ícones, na época iconoclasta, tanto aprofundou esta questão, explica a superação da proibição das Escrituras de se representar o Deus invisível:
«Quando virmos Aquele que não tem corpo tornar-se homem por nossa causa, então poderemos executar a representação de seu aspecto humano. Quando o Invisível, revestido de carne, se tornar visível, então representa a imagem daquele que apareceu... Quando aquele que é a Imagem consubstancial do Pai despojou-se, assumindo a imagem de escravo (Fl 2, 6-7), tornando-se assim limitado na quantidade e na qualidade por se ter revestido da imagem carnal, então pintamos (...) e expomos à vista de todos Aquele que se quis manifestar. Pintemos o vosso nascimento, da Virgem, o vosso batismo no Jordão, a vossa Transfiguração no monte Tabor, pintemos tudo com a palavra e com as cores nos livros e na madeira». (São João Damasceno-Tratado da defesa dos ícones.)
O fundamental e primeiro ícone - tomando a palavra no seu significado mais amplo de imagem - é, assim, a própria face de Cristo. E podemos representá-la, porque não se trata mais de uma imagem inacessível à vista, mas de uma pessoa real. O ícone de Jesus Cristo exprime, através da imagem, o dogma do Concílio de Calcedônia (451): o ícone não representa tão-só a natureza divina, nem só a natureza humana de Cristo, mas representa a sua Pessoa, a pessoa de Deus-Homem, que reúne em si «sem mistura nem divisão» as duas naturezas.
Doravante, serão possíveis também os ícones da Mãe de Deus, mesmo quando a Virgem Santíssima carrega o Filho divino (e são pouquíssimos os ícones sem a presença de Jesus); eles são às vezes denominados ícones da Encarnação.
Serão possíveis os ícones dos santos, porque, assumindo a natureza humana, o Filho de Deus não só renova no homem a imagem obscurecida com a queda de Adão, mas a recria mais profundamente à imagem de Deus. Cristo abre para o homem o caminho da transfiguração pela graça... como diz São Paulo: «Nós que (...) refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem» (2Cor 3, 18). Assim, o ícone transmite verdadeiramente a imagem do um homem purificado, transfigurado revestido da beleza incorruptível do Reino de Deus, de uma pessoa humana transformada em ícone vivente de Deus.


Os Iconoclastas, o VII Concílio Ecumênico de Nicéia e o Domingo da Ortodoxia celebrado no Primeiro Domingo da Grande Quaresma.
As disputas referentes à Pessoa do Cristo não cessaram com o Concílio de 681, mas foram expandidas de forma diferente nos séculos oitavo e nono: a luta centrada nos Santos Ícones, as pinturas de Cristo, da Mãe de Deus, e dos Santos, que eram mantidas e veneradas nas igrejas e nas casas. Os iconoclastas ou destruidores de ícones, desconfiados de qualquer arte religiosa que representasse seres humanos ou Deus, exigiam a destruição dos ícones; o partido oposto, os defensores ou veneradores de ícones, defendiam vigorosamente o lugar dos ícones na vida da Igreja. A luta não foi apenas um conflito entre duas concepções de arte cristã. Questões mais profundas estavam envolvidas aí, o caráter da natureza humana de Cristo, a atitude cristã em relação ao assunto, o significado verdadeiro da redenção cristã.
Os iconoclastas podem ter sido influenciados por conceitos dos judeus e islâmicos, e é significativo que três anos antes da primeira erupção do iconoclasmo no Império Bizantino, o califa maometano Yezid ordenou a remoção de todos os ícones de seus domínios, Mas o iconoclasmo não foi simplesmente importado de fora; mesmo no cristianismo sempre existiram posições "puritanas”, que condenavam os ícones porque parecia haver nas imagens uma latente idolatria. Quando os imperadores isaurianos atacaram os ícones, eles encontravam bastante apoio dentro da Igreja. Exemplo típico dessa posição é a atitude de São Epifânio de Salamis (315-403), que ao encontrar numa igreja do interior da Palestina uma cortina de pano com figura de Cristo, rasgou-a com indignação. Esta atitude foi sempre violenta na Ásia Menor, e alguns afirmam que o movimento iconoclasta foi um protesto asiático contra a tradição grega. Mas há dificuldades em tal ponto de vista; a controvérsia foi realmente uma divisão dentro da tradição grega.
A controvérsia iconoclasta que durou por volta de 120 anos se dá em duas fases. O primeiro período iniciou-se em 726 quando Leão III começou seu ataque aos ícones, e terminou em 780 quando a Imperatriz Irene suspendeu a perseguição. A posição dos defensores foi mantida pelo sétimo e último Concílio Ecumênico (787), que se reuniu (como o primeiro) em Nicéia. Ícones, o concílio proclamou, devem ser mantidos nas Igrejas e honrados com a mesma relativa veneração como outros símbolos materiais, como "a cruz preciosa e vivificante" e o Livro dos Evangelhos. Um novo ataque aos ícones, começou, com Leão V, o Armênio, em 815, e continuou até 843 quando os ícones foram novamente reintegrados, desta vez permanentemente por outra Imperatriz, Teodora. A vitória final das Santas Imagens em 843 é conhecida como "Triunfo da Ortodoxia”, e é comemorada com o ofício especial celebrado no "Domingo da Ortodoxia," o primeiro domingo da Grande Quaresma. Durante este ofício a fé verdadeira - Ortodoxia - é proclamada, seus defensores são honrados e anátemas são declarados a todos os que atacam os santos ícones ou os Concílios Ecumênicos: A todos aqueles que rejeitam os Concílios dos Santos Padres e suas tradições as quais estão de acordo com a revelação divina as quais a Igreja Católica Ortodoxa( Ortodoxia aqui neste sentido significa fidelidade ás Tradições dos Concílios= orto, doxa- palavra reta, doutrina certa; piamente mantém, ANÁTEMA! ANÁTEMA! ANÁTEMA!
O maior defensor dos ícones no primeiro período foi São João Damasceno (675?-749), no segundo São Teodoro Estudita (759-826). João pode trabalhar mais livremente porque ele trabalhava em território islâmico, fora do alcance do governo bizantino. Não foi a última vez que o Islam agiu, sem intenção, como protetor da ortodoxia. Uma das características mais distintas da ortodoxia é a posição que ela atribui aos ícones. Uma igreja ortodoxa/católica de hoje é cheia deles: dividindo o santuário da nave existe uma parede, a iconostase totalmente coberta de ícones, enquanto outros ícones são colocados em sacrários em volta da igreja; e as paredes são cobertas por ícones às vezes em afresco ou mosaico. Um ortodoxo/católico prostra-se em frente desses ícones, beija-os e acende velas na frente deles; eles são incensados pelo padre e levados em procissão. O que significam estes gestos e as atitudes? O que significam os ícones e porque João Damasceno e os outros os consideravam tão importantes?
Devemos considerar primeiro a carga de idolatria que os iconoclastas lançaram contra os defensores dos ícones; e então o valor positivo dos ícones como meio de instrução; e finalmente sua importância doutrinal. A questão da idolatria. Quando um ortodoxo/católico beija um ícone ou se prostra diante dele, ele não está cometendo idolatria. O ícone não é um ídolo, mas um símbolo; a veneração feita às imagens é direta, não dirigida à pedra, madeira e tinta, mas dirigida à pessoa retratada. Isto foi salientado por Leôncio de Nápoles (morto cerca de 650) algum tempo antes da controvérsia iconoclasta: Não nos prostramos diante da natureza da madeira, mas reverenciamos e nos prostramos diante d'Ele que foi crucificado na Cruz... Quando dois eixos da Cruz são postos juntos adoro a figura do Cristo que foi crucificado na Cruz, mas se os dois eixos são separados, jogo-os fora e os queimo. Pelo fato dos ícones serem apenas símbolos, os ortodoxos/católicos não os adoram, mas os reverenciam e veneram. João Damasceno distinguiu cuidadosamente entre a honra relativa ou veneração dedicada aos símbolos materiais e a adoração devida somente a Deus.


(Ícones do nosso padroeiro: o glorioso e megalomártir: São Jorge) 

Um comentário:

  1. Monsenhor, sou Católica Romana mas apaixonada pelos Santos Ícones, pela História da Igreja (principalmente o início dela) e admiradora da Igreja Católica do Oriente. É uma alegria ler, conhecer tanta riqueza! Muito obrigada. Márcia.

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