Pessoas on line

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O Ano Litúrgico
Bizantino
Parte I
Madre Maria Donadeo.
 Três ciclos do
ano litúrgico bizantino
A riqueza e variedade das celebrações litúrgicas da tradição constantinopolitana notam-se, também, pela multiplicidade dos livros eclesiásticos próprios de cada tempo. Distinguimos três ciclos litúrgicos:
Ciclo pascal, com data móvel
A Páscoa é a primeira festa cristã por importância e antiguidade. Dela desenvolveu-se, paulatinamente, todo o ano litúrgico. As mesmas discussões, surgidas no segundo século entre o Papa de Roma e as cristandades asiáticas, vêm nos confirmar que a celebração da Páscoa remonta aos tempos apostólicos. Segundo as prescrições emanadas do Concílio de Nicéia no ano 325, o prazo dentro do qual se pode celebrar a Páscoa, conforme os cálculos astronômicos, vai de 22 de março a 25 de abril. Além disso, todas as igrejas ortodoxas," para a celebração da Páscoa, seguem até hoje o calendário juliano, atrasado de 13 dias em relação ao chamado gregoriano, introduzido em 1582 pelo papa de Roma, Gregório XIII. Portanto, se em 1990 a data da Páscoa calculada pelos ortodoxos caiu em 2 de abril e, pelos católicos latinos, em 15 de abril, acrescentando os 13 dias de diferença se obteve a feliz coincidência de celebrar a Páscoa no mesmo dia, isto é, em 15 de abril do calendário civil, já adotado em muitos países com maioria de cristãos bizantinos.
A solenidade da Ressurreição de Cristo possui uma importância única no Oriente cristão e ocupa por si um lugar, acima mesmo das "Doze grandes festas." É precedida por 10 semanas de preparação, cujos ofícios litúrgicos estão contidos no Triódion penitencial, ao passo que as 8 semanas que se seguem à festa da Páscoa - até Pentecostes e ao Domingo de Todos os Santos - estão contidos no Triódion luminoso ou Pentikostárion. Esses dois períodos serão objeto de um exame aprofundado mais adiante."
Ciclo das festas com data fixa
O Ano Litúrgico Bizantino, no que diz respeito às festas de Nosso Senhor, da Mãe de Deus, dos anjos e santos com data fixa, começa no dia 1º de setembro 'início da indicção ou do novo ano', conforme a inscrição que abre o Minéon de setembro, que é justamente o primeiro dos 12 volumes que contêm os textos litúrgicos das festas com data invariável. A indicção, período de 15 anos usado no cômputo cronológico civil e eclesiástico a partir do ano 312 d.C., começava em l º de setembro. Ademais, o I Concílio de Nicéia (†325) fixou o dia 1º de setembro como início do novo ano, relacionando-o ao dia em que Constantino, sob o sinal da Cruz, derrotou Maxêncio, concedendo em seguida a liberdade aos cristãos.
Encontramos o "próprio" de nove das Doze grandes festas e dos santos de cada dia do ano na coleção de livros litúrgicos chamado Minéa: conjunto de doze volumes, um para cada mês do ano.
Ciclo semanal e dos oito tons
As vezes o ciclo semanal é apresentado separadamente do ciclo dos oito tons, levando assim a quatro os ciclos do ano litúrgico bizantino, porém os textos litúrgicos próprios de cada dia da semana estão contidos no Októikos ou livro dos oito tons. De fato há 8 séries semanais, cada qual correspondente a um tom (1º, 2º,3º, etc.), com evidentes alusões aos sete temas de cada dia da semana.
O primeiro dia da semana, o Domingo, a Igreja o consagra à memória e à exaltação da Ressurreição de Cristo. A segunda-feira é dedicada aos anjos ou, conforme a exata denominação bizantina, aos "incorpóreos"; a Terça-feira é dedicada a João Batista, o Precursor; na quarta 21 e na sexta-feira se comemora a Paixão de Cristo, dando ênfase à veneração da Cruz, instrumento de sofrimento e redenção; a quinta-feira é dedicada aos apóstolos e, entre seus sucessores, destaca-se São Nicolau, bispo de Mira; o sábado é dedicado aos defuntos e a todos os santos.
Deixamos a palavra a um escritor ortodoxo que escreve: "A Santíssima Mãe de Deus é lembrada e venerada em cada dia da semana, como aquela que sempre intercede pelos cristãos junto do trono do seu Filho; mas é venerada especialmente no domingo, na quarta e na sexta-feira."
Alguns autores, ortodoxos e/ ou católicos, afirmam que na quarta e na sexta-feira, que são também dias de jejum, celebram-se a Cruz e a Mãe de Deus. Um autor católico assim escreve:
"A Virgem santa, longe de ficar esquecida, é comemorada todos os dias, em cada ofício e particularmente no domingo, na quarta e na sexta-feira, por causa da sua participação no mistério da redenção."
Um capítulo deste livro apresentará alguns exemplos de orações e outras informações sobre esses assuntos.
Combinações dos diversos ciclos
As maneiras de combinar os diversos ciclos do ano litúrgico estão indicadas teoricamente no Typikón e em outros livros específicos; praticamente, por meio de sinais característicos colocados na frente do nome inicial que indicam o grau da festa e também por meio de algurnas rubricas nos livros usados e nas indicações dadas pelos calendários litúrgicos publicados anualmente pelas diversas igrejas ortodoxas. Estas nunca chegaram a publicar nem missais, nem breviários, como, por outro lado, sucedeu na Igreja romana no primeiro milênio. Mas a viva tradição litúrgica vivida e a possibilidade de abreviar e variar a juízo do superior da igreja ou comunidade facilitam o desenvolvimento das celebrações litúrgicas bizantinas. Por serem de origem monástica, sem dúvida, estas são bem mais longas que as celebrações da Igreja latina. De fato, hoje somente em alguns mosteiros são celebradas na íntegra, porém, mesmo abreviadas, proporcionam um alimento abundante para os fiéis que delas participam. Graças à liturgia é que comunidades cristãs do Oriente, vivendo em situações anormais, sob o jugo turco ou sob a doutrinação ateu-marxista, muitas vezes despojadas dos edifícios de culto, impedidos de receber uma instrução cristã orgânica e adequada, desprovidas de livros religiosos e catequéticos, conseguiram manter viva a própria fé e a vida de oração.
Depois de aludir aos vários ciclos do ano litúrgico bizantino e ao que poderíamos chamar de "próprio" das celebrações, é bom lembrar que existe também um elemento fixo, dentro de cada Ofício celebrado, constituído sobretudo por salmos, hinos, orações, preces litânicas, de modo que o ideal seria participar de uma celebração para ter uma idéia mais completa.
Uma última observação: os fiéis orientais gostam de conservar suas antigas tradições. Por vezes esse fato lhes é imputado como uma incapacidade de se adequar às necessidades dos tempos atuais. Porém, que patrimônio litúrgico esplendoroso eles souberam conservar também para nós! Modificações ocorridas no rito romano após o Vaticano II, que para muitos pareciam novidades, não eram outra coisa senão uma volta àquilo que o Oriente nunca havia perdido: como por exemplo a concelebração na missa por vários sacerdotes, as litanias, ou oração dos fiéis com a introdução de intenções apropriadas às necessidades atuais da assembléia.
"O ano litúrgico bizantino- observa um perito no assunto - é particularmente denso e complexo. Ele encerra os frutos de uma meditação secular da Igreja do Oriente e o depósito da espiritualidade de uma multidão de santos, muitos dos quais são considerados Padres da Igreja universal."

Domingo da Páscoa,
Ressurreição de Senhor Jesus Cristo
"Dia da ressurreição, rejubilemo-nos, o povos!
Páscoa do Senhor, é a Páscoa!
Da morte à vida, da terra ao céu,
Cristo nos fez passar, cantando o hino da vitória!
Purifiquemos os sentidos e veremos,
à luz inacessível da ressurreição,
o Cristo resplandecente que diz: Alegrai-vos!
Nós o ouviremos claramente, cantando o hino da vitória!
Gozem os céus, exulte a terra!
Rejubile o cosmo inteiro, visível e invisível:
Cristo, eterna alegria, ressuscitou!"
Nesses primeiros versos do Cânon Pascal, esplêndida criação de São João Damasceno († 749), vislumbramos desde já alguns elementos característicos da celebração pascal: a alegria, a luz, a vitória sobre a morte, a passagem para a verdadeira vida, a participação cósmica.
A Páscoa é o apogeu do ano litúrgico bizantino: é a "festa das festas," a "rainha das festividades," o "primeiro e oitavo dia"; só para repetir algumas expressões da celebração litúrgica. É essa a razão pela qual ela não está na lista das Grandes festas, pois tudo converge para ela. As semanas do tempo quaresmal começam pela segunda-feira e terminam no domingo, dia da Páscoa. A partir desse dia, as semanas sucessivas começam pelo domingo e terminam no sábado. Não somente o ciclo das festas com data móvel, como também o dos Oito tons e a ordem das leituras bíblicas da liturgia eucarística começam a ser contadas a partir da Páscoa.
Só quem presenciou uma celebração pascal, numa igreja repleta de fiéis exultantes, poderá entender o significado da Páscoa no Oriente bizantino.
"Cristo ressuscitou dos mortos, com a morte destruiu a morte e aos mortos, nos túmulos, devolveu-lhes a vida!"
Esse tropário pascal, verdadeiro grito de vitória, é repetido centenas de vezes pelos cristãos bizantinos na noite da Páscoa e nos dias seguintes; a liturgia eucarística e todos os demais ofícios litúrgicos começam e se concluem com as palavras desse tropário, que ficam gravadas na mente dos fiéis também pela contemplação do ícone da Ressurreição, exposto no meio da igreja durante 40 dias, para a veneração.
No ícone, de fato, aparece o Cristo vestido de branco, muitas vezes segurando com a mão a cruz, instrumento da sua vitória. Ele está pisando em cima dos destroços do império do mal; as portas estão arrancadas, os ferrolhos espalhados no fundo preto. O Ressuscitado segura a mão de Adão significando a sua reintegração na primitiva felicidade, enquanto Eva, do lado oposto, oculta respeitosamente as mãos debaixo da túnica, aguardando a hora de ser chamada. Por detrás dessa cena aparecem, em dois grupos, os justos do Antigo Testamento. Entre eles distinguem-se, à esquerda, os reis Davi e Salomão, coroados, Daniel e João Batista. Do lado oposto, Moisés e outros profetas. Nota-se também um círculo dourado, símbolo da divindade, no qual se inscreve a figura do Ressuscitado e no alto enxergam-se rochedos nus que nos lembram a aridez da nossa terra.
Comparados aos da Grande Semana Santa, os textos litúrgicos das celebrações pascais, sempre cantados, são relativamente breves, mas repetidos inúmeras vezes como para penetrar mais profundamente no íntimo de quem os canta ou de quem os escuta.
"Os anjos no céu, ó Cristo Salvador, exaltam a tua ressurreição; faze-nos dignos, a nós que estamos na terra, de glorificar-te com coração puro."
Esse é o refrão que se canta repetidamente, enquanto a procissão, à meia noite, faz a volta externa da Igreja, cada fiel segurando uma vela acesa. Entretanto, no interior da igreja, com as portas fechadas, um encarregado acende todas as luzes e faz queimar incenso em profusão preparando um proskinetárion pronto para receber o ícone da Ressurreição. Antes de entrar no edifício sagrado, o celebrante convida a assembléia a dar "Glória à santa, consubstancial, vivificante e indivisível Trindade." Em seguida alterna com o povo o tropário pascal com alguns versículos do salmo 67 que começa com as palavras "Levante-se Deus; eis que se dispersam seus inimigos..."
Em contraposição à sofrida e longa preparação quaresmal, agora é toda uma explosão de júbilo que acompanha a celebração da vigília pascal. "Cristo ressuscitou!" "Verdadeiramente ressuscitou!": em todas as línguas do Oriente bizantino, inúmeras vezes, prorrompe da boca dos fiéis essa saudação pascal que não se limita ao recinto da igreja, mas em qualquer lugar, substituindo o "bom-dia"e o "boa-tarde." Isso até a Ascensão.
O kontákion da Páscoa é atribuído ao poeta São Romanós, o Melode. Esse hino, bem conhecido, remonta ao século sexto:
"Desceste ao túmulo, ó imortal, e destruíste o poder do hades; ressurgiste como um vencedor, ó Cristo Deus, anunciando às miróforas: Regozijai-vos! e dando a paz a seus Apóstolos, tu que ofereces aos caídos a ressurreição."
A Ode nona de qualquer cânon quase sempre faz referência à Mãe de Deus. Também no Cânon pascal encontramos estes versos: "Ó puríssima Mãe de Deus, rejubila-te na ressurreição do teu Filho!"
Cristo é a Páscoa, por isso na mesma Ode se canta:
"Ó grande e santíssima Páscoa, ó Cristo! ó Sabedoria e Verbo e Potência de Deus, concede-nos comungar mais claramente contigo no dia sem ocaso do teu reino!"
Nas Laudes encontramos o texto seguinte:
"Elevamos hinos, ó Cristo, à tua paixão salvífica e glorificamos a tua ressurreição! Ó Senhor, que padeceste na cruz e destruíste a morte, ressurgido dos mortos, pacifica também nossa vida, ó único Onipotente! Tu que despojaste o Hades e pela tua ressurreição fizeste o homem ressurgir, ó Cristo, faz-nos dignos de louvar-te e de glorificar-te com coração puro!"
De beleza particular se revestem os Stiquirás da Páscoa. Constituem um texto poético-litúrgico que, na sua composição definitiva, remontam aos séculos VI-VII. Nele o jubiloso anúncio da ressurreição do Senhor é dado com expressões bem próximas às das homilias pascais de São João Crisóstomo, São Basílio Magno e São Gregório de Nazianzo. Eis as duas últimas estrofes:
"Páscoa esplendorosa, Páscoa do Senhor, Páscoa!
Uma Páscoa puríssima sobre nós brilhou! Páscoa!
Com alegria abracemo-nos uns aos outros!
Ó Páscoa, que destrói a tristeza!
Pois hoje o Cristo, resplandecendo do sepulcro
como do tálamo,
encheu as mulheres" de alegria, dizendo:
levai o anúncio aos apóstolos!
Dia da ressurreição!
Resplandeçamos de alegria por esta festa,
abracemo-nos uns aos outros,
chamemos "irmãos" também aos inimigos,
perdoemos tudo e todos pela ressurreição,
e assim cantemos:
Cristo ressuscitou dos mortos,
com a morte destruiu a morte
e aos mortos, nos túmulos,
devolveu-lhes a vida!"
A ressurreição de Jesus Cristo está na base da nossa fé e é o sustentáculo da nossa esperança: nela se desvela o mistério de Deus e do homem, o significado último da criação. A Igreja, com exultação insólita, repete o anúncio da ressurreição e aprofunda a contemplação dela.
"Contemplando a ressurreição de Cristo, adoramos o santo Senhor Jesus, o único sem pecado..."
Convida o Sticirón que, além de ser cantado três vezes no Órthros da Páscoa, é repetido em todas as Horas menores da semana sucessiva, e a cada domingo do ano, após o evangelho da ressurreição das Matinas; e o texto prossegue:
"Porque tu és o nosso Deus. Não reconhecemos outro deus senão a ti, e com o teu nome somos chamados... Eis que, por meio da cruz, veio a alegria no mundo inteiro! Bendizendo sempre ao Senhor, elevamos hinos à sua ressurreição! Por nós, de fato, suportou a cruz e com a sua morte destruiu a morte! Ressurgindo do túmulo, como haviam anunciado, Jesus nos deu a vida eterna e a grande misericórdia!"
Fizemos um aceno ao "Evangelho da ressurreição." É chamada assim a perícope que trata desse tema, tirada de um dos quatro evangelistas, e que é lida pelo sacerdote em cada domingo no ofício do Órthros. Uma é tirada de Mateus, duas de Marcos, três de Lucas e cinco de João: ao todo uma série de onze evangelhos matutinos da ressurreição que, ciclicamente, se repetem cada domingo do ano, mantendo assim muito viva entre os fiéis do Oriente bizantino a experiência do Dia do Senhor como Páscoa semanal.
Depois das Grandes Matinas pascais a vigília continua com a celebração da divina liturgia (missa) na maneira mais esplendorosa possível. As antífonas são próprias; o evangelho é o "Prólogo de São João" (1:1-17), que é cantado em diversas línguas (quando possível) para ressaltar a universalidade do anúncio.
Existem outras particularidades que evidenciam a alegria pascal, como por exemplo: as três portas da Iconóstase - a divisória recoberta de ícones que separa o altar da nave da igreja - permanecem abertas até o sábado seguinte; no tempo pascal os fiéis, para rezar, permanecem sempre de pé sem nunca se ajoelhar. Há inclusive uma catequese especial, de São João Crisóstomo, que o sacerdote lê no final do Órthros; é conhecida pelos fiéis, pois é repetida a cada ano; no entanto é sempre aguardada com alegria, porque resume bem o dom infinito recebido no "dia santo e esplendoroso da gloriosa e salvífica ressurreição de Cristo nosso Deus," para repetir a frase que no livro litúrgico a precede. Para concluir esta seção do nosso livro eis o texto da homilia:
"Quem tiver piedade e amor a Deus rejubile-se nesta gloriosa e brilhante festa; quem for servo bom entre alegre no gozo de seu Senhor; quem suportou a fadiga do jejum receba agora o denário; quem trabalhou desde a primeira hora receba hoje o seu justo salário; quem veio após a terceira hora festeje com gratidão; quem chegou após a sexta hora entre sem hesitar, porque não será castigado; quem se atrasou até a nona hora venha sem receio; quem chegou somente na undécima hora não tenha medo por causa de sua demora, porque o Senhor é generoso, acolhe o último como o primeiro; remunera o operário da undécima hora como o da primeira; cobre um com sua misericórdia e outro com sua graça; a um dá, a outro perdoa; aceita as obras e abençoa a intenção; recompensa o trabalho e louva a boa vontade.
Entrai, pois, todos no gozo de Nosso Senhor; primeiros e últimos, recebei a recompensa; ricos e pobres, alegrai -vos juntos; justos e pecadores, honrai este dia; vós que jejuastes e vós que não jejuastes regozijai-vos uns com os outros; a mesa é farta, saciai-vos à vontade; o novilho é gordo, que ninguém se retire com fome; tomai todos parte no banquete da fé; participai todos da abundância da graça; que ninguém se queixe de fome, porque o reino universal foi proclamado; que ninguém chore por causa de seus pecados, porque o perdão jorrou do túmulo; que ninguém tema a morte, porque a morte do Salvador nos libertou a todos.
(Salvador) destruiu a morte, quando a ela se submeteu; despojou o inferno, quando nele desceu; o inferno tocou seu corpo e foi aniquilado. Foi isso que profetizou Isaías (14:9), exclamando: "o inferno foi aniquilado e arruinado; aniquilado e menosprezado, aniquilado e executado, aniquilado e espoliado, aniquilado e subjugado. Agarrou um corpo e encontrou um Deus; apossou-se da terra e achou-se diante do céu; pegou o que viu e caiu pelo que não viu.
Onde está a tua vitória, ó Inferno? Onde está o teu aguilhão, ó Morte? Cristo ressuscitou e foste arrasada!
Cristo ressuscitou e os demônios foram vencidos!
Cristo ressuscitou e os anjos rejubilaram-se!
Cristo ressuscitou e a vida foi restituída!
Cristo ressuscitou e nenhum morto ficou no túmulo!
Cristo ressuscitou dos mortos e tornou-se primícias de todos os mortos!
A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém."
Doze grandes festas
A expressão "Doze festas" é comum entre os fiéis bizantinos que agrupam assim as principais festas litúrgicas do ano (superadas pela importância somente pela Páscoa), nas quais se recordam e revivem os principais eventos da nossa fé. O adjetivo "grande" foi acrescentado para melhor compreensão por parte dos fiéis ocidentais: com efeito, as "Doze festas" já indicam, com seu título, a categoria mais alta das festas. Nove possuem data fixa e três têm data móvel (relacionadas com a data da Páscoa). Algumas delas são festas "despóticas," conforme dizem os gregos, isto é, do Senhor, e serão assinaladas mais embaixo com um S, as outras são "theomitóricas," isto é, da Mãe de Deus. Como os Minéa começam dia 12 de setembro, elas se sucedem na ordem seguinte:
Festas com data fixa:
8 de setembro - Natividade da Mãe de Deus
14 de setembro - Exaltação da Santa Cruz
21 de novembro - Apresentação da Mãe de Deus ao templo.
25 de dezembro - Natal do Senhor
6 de janeiro - Teofania (Batismo do Senhor)
2 de fevereiro - Festa do Encontro
25 de março - Anunciação
6 de agosto - Transfiguração
15 de agosto - "Dormição" da Mãe de Deus
Festas com data móvel:
Entrada de Jesus em Jerusalém, ou Domingo de Ramos
Ascensão do Senhor
Domingo de Pentecostes
As Grandes festas serão descritas uma por uma, apresentando sempre alguns textos litúrgicos, quase todos em uso há mais de um milênio. Às vezes os livros que contêm tais textos indicam o nome do autor e, em alguns casos, serão assinalados justamente para comprovar sua venerável antiguidade; todavia permanecem sempre atuais, alimentando e sustentando a nossa fé. Revestem-se sempre de importância particular o tropário do dia (ou conclusivo) e o kontákion, repetidos em cada Hora canônica do Ofício divino como também durante a Liturgia eucarística, inclusive nos dias de pós-festa (de dois a oito) até a sua apódosis ou conclusão na qual repete quase por completo todo o Ofício festivo. Durante esse período, o ícone alusivo à festa permanece no meio da igreja, exposto à veneração e ao beijo dos fiéis, que assim assimilam melhor o conteúdo do mistério celebrado. Além disso, nas igrejas em que a Iconostase é mais completa, há sempre uma série de ícones que representam as Doze festas, ficando dessa maneira permanentemente expostas. O "próprio" de cada festa encontra-se no Ofício das Vésperas e no Órthros, habitualmente identificado com as Matinas, mas que na realidade inclui necessariamente também as Laudes, com os salmos fixos 148, 149, 150, os textos do dia e o Hino de glorificação.
A maioria das partes são cantadas, infundindo assim uma particular atmosfera de alegria na celebração, sempre variada no seu desenvolvimento: algumas partes são lidas por uma só pessoa, outras são cantadas pelo coro ou por todos, algumas litanias ou preces são exclusivas do sacerdote, ou do diácono, ou do superior. Outros elementos, como as incensações, acendimentos de lâmpadas e velas em determinados momentos e assim por diante, acrescentam uma nota de beleza que eleva os fiéis presentes em toda a sua realidade psicofísica. Se a festa possui um grande conteúdo catequético, não se reduz a um mero ensinamento: é uma experiência vivida e faz pressentir que de festa em festa se chegará à festa eterna que não tem fim. Na Igreja "lugar em que o mundo que há de vir, vindo até nós na pessoa de Jesus Cristo, atinge o mundo presente para arrastá-lo até o seu destino escatológico," os fiéis "vivem" as realidades cristãs fundamentais através do culto dado a Deus pelo Corpo de Cristo. A liturgia - foi dito - "é a contemplação experimental da teantropia e da deificação" e isso é particularmente verdadeiro pela celebração das Doze grandes festas. Todas elas constam também no calendário católico romano, sinal de uma unidade eclesial vivida ao longo de séculos e que é preciso reencontrar. Algumas delas, porém, revestem-se de maior importância no Oriente bizantino (como por exemplo, as do 6 de agosto e do 21 de novembro).
Passemos a examiná-las separadamente: descobriremos nos textos próprios a referência habitual à Sagrada Escritura, à antiga Tradição e à meditação dos Padres, unida ao elã espiritual e à riqueza de imagens caras aos Orientais.
Festas com data fixa
8 de setembro: Natividade da Santíssima Mãe de Deus.
No dia 8 de setembro, celebra-se a festa da Natividade da SS. Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, que é a primeira das Doze grandes festas do ano litúrgico bizantino. Para as festas com data fixa, o ano litúrgico começa no dia 1º de setembro; tempos atrás, essa data registrava também o início do ano civil no Oriente. Esse costume tem sua origem numa tradição hebraica que fixava o início do novo ano ao Tishri, período que corresponde ao nosso setembro-outubro. Portanto a primeira grande festa litúrgica é mariana, como também a última do ano, a do 15 de agosto, como a confirmar o grande amor que tem para com a Mãe de Deus o Oriente que a viu nascer e crescer em perfeita conformidade ao plano de Deus. Também os cristãos do Ocidente celebram o nascimento de Maria Santíssima na mesma data, porém com menor solenidade. Essa festa mariana teve sua origem em Jerusalém na metade do século V, onde permanecia viva a tradição da dedicação da igreja construída no lugar onde surgia a casa dos santos Joaquim e Ana.
No século VI a festa foi introduzida em Constantinopla e mais tarde em Roma.
A Igreja bizantina já no dia anterior (7 de setembro) celebra a pré-festa e nas orações mais repetidas (tropário e kontákion) vislumbram-se já os temas que serão desenvolvidos nas celebrações de 8 de setembro. Eis o texto das duas orações:
Tropário (4º tom).
"Da raiz de Jessé e da estirpe de Davi para nós hoje foi gerada Maria, a celeste menina. Por isso, a criação se alegra e se renova, céus e terra juntas tripudiam. Povos todos, louvai-a. Joaquim exulta e Ana se alegra exclamando: A estéril dá à luz a Mãe de Deus, nutriz da nossa vida."
Kontákion (3º tom).
"Hoje, a Virgem e Mãe de Deus, intransponível câmara nupcial do Esposo celeste, é gerada pela estéril, em conformidade com a vontade divina, para ser o coche do Verbo de Deus. Para isso, de fato, foi destinada aquela que é a porta santa e a mãe da verdadeira vida."
Juntamente com a riqueza de imagens, típica da oração oriental, nota-se logo que a liturgia do Oriente bizantino acolhe dados transmitidos pelo Proto-evangelho de São Tiago, baseado provavelmente em textos apócrifos anteriores: o nome dos justos e piedosos pais, a tristeza deles por não ter filhos, os prodigiosos anúncios do céu acerca do inesperado nascimento de uma filha, cujo destino é excepcional.
No ofício das Vésperas, com o qual começa a festa do dia 8 de setembro, assim vem exaltado o evento:
"Hoje o Deus que se assenta em tronos espirituais preparou para si um trono santo sobre a terra; Aquele que em sua sabedoria estabeleceu os céus, no seu amor cria um céu vivente..". "Eis o dia do Senhor, alegrai-vos, ó povos! Com efeito a câmara nupcial deu à luz, e o livro do Verbo da vida saiu de um ventre. A porta do Oriente nasceu e aguarda a entrada do grão-sacerdote, única a introduzir no universo o único Cristo, para a salvação das nossas almas." "Hoje se descerram as portas estéreis e nasce a Pura virginal e divina; hoje a graça começa a dar o seu fruto mostrando ao universo a Mãe de Deus, para a qual a terra é unida aos céus." "É abolida a esterilidade da nossa natureza, pois uma mulher estéril tornou-se mãe daquela que permanecerá virgem após o nascimento do seu Criador. Dela o Deus por natureza apossou-se do que lhe era estranho e encarnado, opera a salvação dos transviados pela carne."
É fácil perceber que o nascimento da pequena Maria é interpretado como o início do plano da redenção. Daí a importância e o tom festivo que caracteriza esta festa. No ícone da Natividade de Maria, exposto no meio da igreja para ser venerado pelos fiéis, vê-se Ana estendida no leito, algumas servas cuidam dela e Joaquim observa a cena ou, em outros ícones, está junto de Ana feliz pelo nascimento da menina. Mais embaixo está a cena do primeiro banho da menina onde se vêem evidentes, ao lado da cabeça, as iniciais gregas que indicam ser ela a 'Mãe de Deus'. Maria, desde o seu nascimento, é considerada tão íntima e indissoluvelmente unida ao Cristo na obra de redenção que alguns hinos litúrgicos a exaltam com expressões que para alguns poderiam parecer exageradas. Vejamos:
"... é ela o soerguimento de Adão e a libertação do pecado; graças a ela fomos divinizados e libertos da morte; aclamemos, pois, com Gabriel: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo e, por teu intermédio, nos concede grande misericórdia."
O tropário conclusívo (4º tom), que será repetido muitas vezes, até mesmo nos quatro dias que se seguem à festa, assim reza:
"O teu nascimento, ó Mãe de Deus, anuncia a alegria ao mundo inteiro; pois de ti nasceu o Sol da justiça, Cristo nosso Deus, o qual, abolindo a maldição, nos deu a bênção e, destruindo a morte, nos presenteou com a vida eterna."
Nas Vésperas das festas marianas mais importantes, entre as quais está a de 8 de setembro, fazem-se três leituras bíblicas a saber: Gn. 28:10-17, que trata da escada celeste vista por Jacó; Ez 43:27-44:4 em que o Senhor indica ao profeta a "porta fechada" através da qual passará somente Deus; e Pr. 9:1-11, descrevendo a Sabedoria que constrói sua casa e convida a "comer o pão e beber o vinho."
O Oficio matutino (que entre os eslavos se une às Vésperas para constituir uma grande vigília muito solene) aprofunda os temas já apresentados e os reforça, pois no Oriente a repetição tem grande importância, mais que a concatenação lógica, à qual estamos acostumados no Ocidente. E novas imagens procuram exprimir o inexprimível. Do Cânon respigamos (Odes 3o, 6 º e 7o) as seguintes composições:
"Ó Imaculada, te tornaste áureo turíbulo do fogo divino, perfuma a podridão do meu coração, o única sempre Virgem!" "Em ti nós possuímos, ó Mãe de Deus, um porto, um baluarte inexpugnável, uma proteção segura..." "A sarça incombusta na montanha e a fornalha refrescante na Caldéia claramente te prefiguram, Esposa de Deus..."
Trata-se de textos litúrgicos muito antigos, pois no século IX os ofícios bizantinos eram já quase todos formados do jeito que se conservaram até hoje. O Ikos, cantado após a Ode sexta, remonta ao século VI, sendo seu autor São Romanós, o Melode. Concluiremos apresentando o texto do kontákíon, também este repetido, como o tropárío, mais vezes até o dia 12 de setembro.
Kontákion (4o tom).
"Joaquim e Ana foram livrados do opróbrio da esterilidade, e Adão e Eva, libertados da corrupção da morte, pela tua santa Natividade, ó Pura. Teu povo, salvo da escravidão do pecado, a celebra" exclamando: a estéril dá à luz a Mãe de Deus que alimenta nossa vida."
14 de setembro: festa da Universal Exaltação da Cruz.
No dia 14 de setembro, os cristãos do Ocidente e do Oriente se encontram para juntos exaltar a santa Cruz, uma festa que deve ligar-se à dedicação da basílica da Ressurreição, erguida sobre o sepulcro de Cristo em Jerusalém († 335), mas que, mais tarde, entre os fiéis de tradição constantinopolitana, teve como objeto a invenção da santa Cruz e a sua primeira apresentação ao povo pela imperatriz Helena, mãe de Constantino, e do bispo local São Macário. Também o ícone da festa evoca tal acontecimento: no meio está a Cruz sustentada pelo bispo de Jerusalém, à esquerda (de quem olha) estão duas figuras coroadas, protagonistas da busca e do achado da preciosa relíquia, à direita aparece a figura do miraculado e do povo. A tradição, com efeito, narra que quando foram descobertas nas escavações três cruzes, para distinguir a de Jesus Cristo das dos ladrões, foi colocado o cadáver de um homem e, ao simples contato com o madeiro que sustentou o Salvador do mundo, ele foi milagrosamente ressuscitado.
Nenhum dos ritos conhecidos pode disputar ao rito bizantino o lugar especialíssimo que ele reserva à Cruz, seja no calendário litúrgico, seja na literatura eclesiástica criada pelos Padres da Igreja e pelos Hinógrafos sacros, através dos séculos, para cantar e louvar as virtudes, as glórias e o inefável papel da cruz redentora.
Todas as quartas e sextas-feiras do ano são dedicadas à santa Cruz. Cantam-se, então, os seguintes tropário e kontákíon:
Tropário (1o tom).
"Salva, Senhor, teu povo e abençoa a tua herança; concede às tuas Igrejas vitória sobre os inimigos e protege, pela tua Cruz, este povo que é teu."
Kontákion (4º tom).
"Cristo Deus, que voluntariamente foste levantado na Cruz, tem compaixão do teu povo que traz o teu nome. Alegra, pelo teu poder, os nossos fiéis governantes, dando-lhes a vitória sobre os inimigos: encontrem na tua aliança uma arma de paz, um troféu invencível."
Essas duas orações são as mais importantes também na celebração do 14 de setembro. No meio da Quaresma temos outra festa dedicada à Cruz . Outras duas comemorações se fazem no dia 12 de agosto e em 7 de maio, porém a festa máxima permanece mesmo a de 14 de setembro, cuja importância é evidenciada pela sua mesma denominação: festa da Universal Exaltação da venerável e vivificante Cruz. Ela é precedida por um dia de vigília e se conclui em 21 de setembro. O próprio das Vésperas começa com estes hinos:
"A Cruz exaltada convida toda a criação a cantar hinos à paixão imaculada daquele que sobre ela foi erguido: sobre a Cruz ele levou à morte quem nos tinha dado a morte, ressuscitou os mortos e, tendo-os purificado, em sua compaixão e infinita bondade os fez dignos de viver nos céus; alegremo-nos, pois, exaltemos seu nome e magnifiquemos a sua extrema condescendência." "Erguendo os braços para o alto e pondo em fuga o tirano Amalek, Moisés te prefigurou, ó Cruz veneranda, glória dos fiéis, sustentáculo dos mártires, ornamento dos apóstolos, defesa dos justos, salvação de todos os santos. Por isso à vista da tua exaltação, a criação se alegra e exulta glorificando a Cristo, cuja extrema bondade reuniu, por teu meio, o que estava dividido."
Em muitos outros hinos da festa encontramos profundidade teológica, exultação de louvores, riqueza de referências bíblicas. No final, enquanto os fiéis vão beijar a Cruz, bem ornamentada, exposta sobre o proskinetáríon no meio da igreja, canta-se o hino que segue, indicado nos livros litúrgicos como obra do "imperador Leão" († 912):
"Vinde, fiéis, adoremos o madeiro vivificante: sobre ele Cristo, Rei da glória, estendeu os braços e nos reergueu para a primitiva bem-aventurança, da qual o inimigo, aliciando-nos, nos havia despojado, afastando-nos da presença de Deus. Vinde, fiéis, adoremos o madeiro graças ao qual somos julgados dignos de esmagar as cabeças dos inimigos invisíveis. Vinde, famílias de todos os povos, veneremos com nossos cânticos a Cruz do Senhor. Salve, ó Cruz, perfeita libertação do Adão decaído; em ti se glorificam os nossos piíssimos reis, pois é pelo teu poder que submetem à força o povo de Ismael. Beijando-te agora com reverência, nós, cristãos, glorificamos ao Deus que sobre ti foi pregado, clamando: Senhor, que foste crucificado sobre ela, tem piedade de nós, tu o Bom e Amigo dos homens."
Segue-se o rito, simples, mas com um significado cósmico evidente' no qual o sacerdote faz a "exaltação" da Cruz: eleva-a ao máximo que puder acima de sua cabeça e depois a abaixa até tocar o chão, em direção dos quatro pontos cardeais, pronunciando intenções de preces as quais o povo responde com insistência: Kyrie, eleíson, ou Góspodí, pomilui (= Senhor, piedade).
Conforme prescrevem os livros litúrgicos, essa invocação repete-se 100 vezes para cada uma das 4 direções.
Mesmo sendo uma festa do Senhor, é praxe, nas orações bizantinas, lembrar vivamente a Mãe de Deus; eis um breve hino da Ode nona do Cânon:
"Tu és, ó Mãe de Deus, o místico jardim que sem ter sido cultivado germinou o Cristo, para o qual foi plantada a árvore vivificante da Cruz. Por isso hoje, ao exaltá-la, adoramos a ele e a ti glorificarmos."
O dia 14 de setembro, mesmo quando cai num domingo, é celebrado pelo Oriente bizantino com jejum e abstinência por causa da alusão direta à paixão do Salvador. No entanto a hinografia se caracteriza pelo tom de triunfo ao apresentar a Cruz como instrumento de salvação e de vitória sobre os inimigos da Igreja e dos cristãos. Alguns elementos textuais talvez firam a nossa sensibilidade moderna, como também a referência a alguma tradição lendária, mas é preciso imergir na realidade cultural dos fiéis e observar a participação numerosa e atenta às celebrações dessa festa para entender seu valor educativo. A salvação vem da Cruz de Cristo; por isso a Igreja quer que ela seja admirada pelo olhar dos fiéis e meditada no íntimo dos que repetidamente aclamam:
"Adoramos a tua Cruz, Senhor, e glorificamos a tua santa ressurreição!"
21 de novembro: Entrada no templo da Mãe de Deus
"Hoje, o universo inteiro, cheio de alegria, na insigne festa da Mãe de Deus, exclama: Eis aqui o celeste tabernáculo!" "Ana hoje nos preanuncia a alegria [ ... ]: cumprindo o seu voto apresenta ao Templo do Senhor aquela que é verdadeiramente o templo do Verbo de Deus e sua Mãe puríssima."
Assim, já no dia 20 de novembro, a Igreja de tradição constantinopolitana exulta na véspera da festa da entrada ao Templo da Santíssima Mãe de Deus, que se concluirá em 25 de novembro. É uma das Doze grandes festas do ano litúrgico bizantino e coincide, como data, com o calendário romano. Mas qual riqueza hinográfica o Oriente nos transmitiu em seus textos litúrgicos! A festa de origem hierosolimitana celebrava a festa da dedicação da igreja de Santa Maria Nova (no tempo do imperador Justiniano, em novembro do ano 543).
Desde as Vésperas iniciais, um dos temas mais freqüentes é o convite a honrar aquela que é "o santo tabernáculo, a arca espiritual que contém o Verbo infinito," "o templo animado da santa glória de Cristo"embora o evento da encarnação esteja cronologicamente ainda longe. Com efeito, repete-se várias vezes que a menina apresentada ao templo tinha três anos. Evidentemente aqui se considera o plano de Deus na sua globalidade, pelo qual já se pode aclamar:
"Tu és o oráculo dos profetas, a glória dos apóstolos, o orgulho dos mártires e a renovação de todos os mortais, ó Virgem Mãe de Deus. Por isso honramos a tua entrada no templo do Senhor e, juntamente com o anjo, te saudamos com os nossos cânticos, nós que fomos salvos pela tua intercessão" (do ofício de Vésperas).
A exuberância oriental é bem diversa da sobriedade e concisão latina; além disso, notamos, com freqüência, no "próprio" bizantino referências ao Proto-evangelho de São Tiago, do qual são lembrados muitos detalhes: as meninas que acompanharam Maria com as lâmpadas acesas, o grão-sacerdote Zacarias que a introduziu no templo e no Santo dos Santos, o alimento que o anjo Gabriel lhe levou até o dia de suas núpcias com José. Os hinos litúrgicos dessa festa estão repletos de elementos lendários, dificilmente aceitos por um fiel ocidental, mas é preciso entender que no Oriente se deu a eles um valor simbólico de verdades mais elevadas, como a total consagração a Deus de Maria Santíssima desde a mais tenra infância e a sua preparação excepcional à missão única de gerar ao mundo o Redentor. Um estudioso de liturgia bizantina observa:
"O temperamento ocidental, apaixonado pela exatidão histórica e que julga com esse critério os próprios dados da sua vida religiosa, só podia desdenhar a lenda piedosa da apresentação de Maria ao templo. Completamente diferente é a atitude do oriental; pode estar perfeitamente a par da inautenticidade histórica de um relato sem por isso rejeitá-lo. Ele busca nos fatos da história sagrada, mesmo nos perfeitamente estabelecidos, não tanto a sua verdade humana quanto o seu conteúdo divino."
O ícone da festa é caracterizado por certa fixidez. Pode-se notar que, em cima de um estrado, o sacerdote Zacarias acolhe a pequena Maria, que tem um olhar maduro e vestes de pessoa adulta; atrás dela está uma menina e, segurando uma vela, símbolo da oferta, estão Joaquim e Ana. Na cena do ângulo superior à direita, o anjo Gabriel leva a comida para a menina, como é lembrado pelo tropário que se segue:
"No Santo dos Santos, a Santa e Imaculada é introduzida pelo Espírito Santo para ali habitar e ser nutrida por um anjo; ela é o templo mais santo do Deus Santo; com o seu ingresso santifica todas as coisas e diviniza a natureza decaída."
Passamos assim à poesia da hinografia litúrgica. Eis o texto das preces mais repetidas no dia 21 de novembro e nos dias de pós-festa:
Tropário (4º tom).
"Hoje é o prelúdio da benevolência de Deus e a proclamação preliminar da salvação dos homens: a Virgem apresenta-se com esplendor no templo de Deus e antecipadamente anuncia Cristo a todos. A ela, nós também clamemos em alta voz: Salve, ó realização dos planos do Criador."
Kontákion (4º tom).
"O puríssimo templo do Salvador, a Virgem, o preciosíssimo tálamo, o sagrado tesouro da glória de Deus, é apresentada hoje à casa do Senhor, introduzindo com ela a graça do Espírito divino. Os anjos de Deus a louvam, clamando: Esta é o tabernáculo celeste."
As três leituras veterotestamentárias que se proclamam nas Vésperas da festa evocam as disposições dadas por Jeova a Moisés para que erigisse "o Tabernáculo, a tenda de reunião" (Ex. 40), a "arca da Aliança" que Salomão colocou no templo (1 Rs. 8) e a "porta fechada" vista por Ezequiel (Ez. 44). São todas figuras bíblicas muitas vezes aplicadas à Virgem. Venerando desde a mais remota antigüidade a santidade sublime de Maria, no Oriente bizantino a reflexão se deteve sobre a misteriosa preparação da Escolhida para a missão que Deus lhe confiou. Por isso, é importante a festa de 21 de novembro, em que nós também, celebrando as primícias da nossa salvação, podemos rezar com as palavras de um tropárío da Ode nona do Cânon matutino que dizem:
"Ó imaculada Mãe de Deus, tu tens na alma a beleza resplandecente da pureza, és cheia de graça celestial; tu iluminas sempre com eterna luz os que com alegria exclamam: Na verdade, tu és a mais excelsa de todas as criaturas, ó Virgem pura!"
25 de dezembro: Nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo
"Cristo nasce, glorificai-o; Cristo desce do céu, ide ao seu encontro; Cristo está sobre a terra, sede orgulhosos dele. Canta ao Senhor a terra inteira e vós, ó povos, com hinos celebrai-o na alegria, porque cobriu-se de glória."
Essa estrofe, a primeira do Cânon de Natal, é de São Cosme de Maiúma († 760). Nas igrejas bizantinas que celebram por inteiro todos os ofícios litúrgicos, já, algumas semanas antes do Natal, fazem ecoar essa estrofe, cantada como katavasía, isto é, estrofe que conclui o Cânon. Mas é cantada com particular exultação no dia da festa, quando se celebra o "Nascimento segundo a carne do Senhor, Deus e Salvador nosso Jesus Cristo": solene e longa denominação que indica a festa do Natal. Depois da Páscoa, também no Oriente é a festa mais querida a todos os fiéis, caracterizada por uma alegria espiritual e por uma hinografia excepcionalmente rica e bela. São diversos os "melodes" que contribuíram na criação dessas composições, chegadas até nós desde séculos longínquos.
É de Romanós, o Melode (VI século), o kontákion que segue:
"Hoje a Virgem dá à luz o supersubstancial e a terra oferece uma gruta ao inacessível. Os anjos com os pastores cantam a sua glória, os Magos avançam seguindo a estrela. Para nós nasceu, tenra criatura, o Deus existente antes dos séculos."
Este breve hino faz-nos entender que a liturgia bizantina celebra em 25 de dezembro o evento histórico do nascimento de Jesus da Virgem Maria, no seu complexo, incluindo também a adoração dos Reis Magos. São Germano († 733) é mais explícito ainda afirmando num outro hino das Vésperas:
"Ao nascer de Jesus em Belém de Judá, os Magos, chegados do Oriente, adoraram o Deus encarnado e, abertos diligentemente seus tesouros, lhe ofereceram dons preciosos: ouro puro como ao Rei dos séculos, incenso como ao Deus do universo, e mirra a ele, o Imortal, como a um morto triduano. Povos todos, vinde, adoremos aquele que nasceu para salvar as nossas almas."
Um autor bizantino faz notar, justamente, como na tradição oriental não se encontra
"a mesma ternura da cultura ocidental em relação às figurações típicas da prática devocional, como o Menino Jesus, o presépio realizado por São Francisco de Assis ou em relação ao tema da Sagrada Família. O Oriente gosta mais de considerar o Mistério de Deus, o qual, descendo dos céus, se inclina para a terra, e assume uma natureza a ele estranha para socorrer o homem decaído."
Uma confirmação de quanto foi dito encontramos nos textos litúrgicos do dia de Natal; basta um exemplo.
"Vinde, alegremo-nos no Senhor, considerando o mistério presente: o muro de separação foi abatido, a espada flamejante retrocede, os Querubins se afastam da árvore da vida e eu participo das delícias paradisíacas das quais a desobediência me tinha afastado. A imagem idêntica ao Pai, a marca da sua eternidade toma forma de servo sem sofrer mutação, nascendo de uma mãe que desconhece as núpcias. Deus verdadeiro, o que era permanece, o que não era assume-o, feito homem por amor dos homens. Aclamemo-lo: Deus nascido da Virgem, tem piedade de nós!"
O ícone do Natal será solenemente exposto no meio da igreja, sobre o proskinetárion, durante a celebração vesperal do dia 24 e ali permanece até o dia 31 de dezembro. A representação tradicional remonta à mais remota antiguidade e a encontramos, inclusive, nas chamadas ampolas de Monza, trazidas da Terra Santa entre o V e VI século. No meio da composição iconográfica, numa gruta escura, símbolo do mal, está o recém-nascido Jesus Cristo, verdadeira luz para o mundo inteiro; as faixas que o envolvem relembram as faixas mortuárias das quais sairá o Ressuscitado, sendo idêntica também a palavra que as descreve. Um único raio de luz (único como é Deus), saindo da estrela, torna-se tríplice (evidente alusão a Trindade) e desce sobre a Mãe e o seu Filho. No alto à esquerda, dois anjos estão em adoração; mais embaixo os três Magos, montados em cavalos, dirigem-se rumo ao Salvador. Mais embaixo ainda, está José pensativo, talvez num momento de tentação. Com efeito, os apócrifos narram que o demônio, disfarçado de pastor, insinuava-lhe dúvidas sobre a virgindade de Maria. Por fim, a cena do banho indica que o pequeno Jesus Cristo possui verdadeiramente a natureza humana e contemporaneamente alude ao batismo, pois a bacia tem forma de pia batismal.
No lado oposto, outro anjo dá o anúncio aos pastores e, no meio, junto ao recém-nascido, está a Mãe de Deus deitada sobre panos. São pouquíssimos os ícones em que a Virgem olha para o seu Filho; habitualmente ela está voltada para nós, diríamos "rneditando no seu coraç ão" o conjunto do mistério da salvação em que ela, flor da humanidade, representou a nós todos dando seu consentimento à encarnação e tornando-se a mãe de todos nós, permanecendo virgem. As três estrelas que ornam o seu manto indicam a virgindade de Maria. Observando o ícone da festa, saem espontaneamente dos nossos lábios as palavras das Vésperas tão profundamente poéticas que dizem:
"O que te ofereceremos, ó Cristo, por te haveres mostrado sobre a terra como homem? Cada uma das criaturas por ti criada oferece-te a sua gratidão: os anjos, o cântico; os céus, a estrela; os Magos, os dons; os pastores, a sua admiração; a terra, uma gruta; o deserto, um presépio; mas nós, uma Mãe Virgem! ó Deus, existente antes dos séculos, tem piedade de nós!"
Para concluir, transcrevemos a parte final de um hino composto por Cássia, monja que viveu no século IX. O hino ainda faz parte do ofício de Natal celebrado pelos ortodoxos e pelos católicos gregos:
"Os povos foram recenseados por ordem de César; nós, os crentes, fomos marcados pelo nome da tua divindade, ó nosso Deus encarnado. Tua misericórdia é grande, Senhor, glória a ti!"
6 de janeiro: Santa Teofania do Nosso Senhor Jesus Cristo
Tanto os fiéis de tradição constantinopolitana como os de tradição romana conservaram, para o dia 6 de janeiro, uma festa cristológica muito antiga, a primeira em que se sintetizavam todos os mistérios do Senhor ao manifestar-se ao mundo. Mas quando no século IV, a data do nascimento do Senhor foi colocada no dia 25 de dezembro, por iniciativa romana, e logo em seguida aceita também pelos orientais, o conteúdo da festa do 6 de janeiro se diversificou. Para os católicos latinos o dia 6 de janeiro é o dia da Epifania, a manifestação de Cristo "luz das nações" considerada a partir da vinda dos Reis Magos em Belém. Esse evento, para os cristãos bizantinos, está incluído na comemoração global do dia 25 de dezembro. Ao passo que no dia 6 de janeiro eles celebram a "Santa Teofania" do Deus que se encarnou. É a segunda manifestação do Salvador, no início de sua vida pública, por ocasião do seu batismo no rio Jordão, que se deu num contexto trinitário, em que Deus Pai fez ouvir sua voz e o Espírito Santo apareceu em forma de pomba.
Era um dia em que os catecúmenos recebiam solenemente o batismo, como na Páscoa. Os textos litúrgicos da festa da Teofania resumem bem os mistérios fundamentais da fé cristã: encarnação do Verbo, com muitas alusões ao nascimento, e a unidade de Deus na Trindade. Os textos do "próprio" são abundantes, também porque a pré-festa começa no dia 2 de janeiro e a pós-festa prolonga-se até o dia 14 do mesmo mês. O tropárío principal, por isso o mais repetido, assim reza:
"Em teu batismo no jordão, Senhor, foi manifestada a adoração da Trindade; pois a voz do Pai te testemunhou ao chamar-te Filho bem-amado; e o Espírito, em forma de pomba, confirmou a verdade dessa palavra. ó tu, que manifestaste e iluminaste o mundo, Cristo Deus, glória a ti!"
O kontákion da festa, também ele muito repetido, é de Romanós, o Melode.
"Hoje, Senhor, te manifestaste ao universo, e tua luz brilhou sobre nós; reconhecendo-te, a ti cantamos: vieste, apareceste, o luz inacessível!"
A manifestação, a "teofania," ocorreu nas águas do Jordão na hora em que Cristo foi batizado; é o que confirma também o ícone da festa, no qual vemos Cristo Jesus, despido das vestes habituais, imerso na água. À sua direita vemos João Batista, humildemente curvado, que por obediência lhe dá o batismo. A cena de fundo mostra um deserto estilizado com uma amostra de vegetação.
Do lado oposto estão uns anjos, atônitos, considerando o admirável evento. Suas mãos estão encobertas pelas extremidades dos mantos, sinal de respeito habitual, nesse caso também sinal de disponibilidade em servi-lo quando sair das águas. No alto do ícone, além do nome "Teofania do nosso Salvador Jesus Cristo," escrito em caracteres abreviados, notamos um semicírculo que indica os céus abertos e do qual desce um raio que, após a figura da pomba, torna-se tríplice, clara alusão à Trindade. No nimbo cruciforme do Cristo notam-se as três letras gregas significando "Aquele que é."
Voltemos aos textos litúrgicos nos quais encontramos a explicação da festa. Num dos textos das Vésperas, São João Damasceno (†749) afirma:
"Querendo salvar o homem perdido, Senhor Deus, não desdenhaste assumir a forma de um escravo, pois a ti convinha assumir a nossa natureza em nosso favor. De fato, enquanto eras batizado na carne, ó Libertador, nos tornavas dignos do perdão. A ti clamamos, pois: Benfeitor, Cristo nosso Deus! Glória a ti!"
São Cosme de Maiúma (†760). no Cânon matutino explica:
"O Senhor que tira a impureza dos homens, purificando-se por eles no Jordão, fez-se voluntariamente semelhante a eles, permanecendo contudo o que era; e ilumina os que estão nas trevas, porque recobriu-se de glória."
E evoca o ensinamento profético:
"Isaías proclama: Lavai-vos, purificai-vos, despojai-vos da vossa malícia perante o Senhor; vós que tendes sede aproximai-vos da água viva. Cristo de fato vos asperge com a água renovando os que se aproximam com fé, e batiza no Espírito para a vida eterna."
Por fim, nas Laudes, assim se expressa o Patriarca Germano (†733):
"Luz da luz, Cristo nosso Deus, resplandece ao mundo; Deus se manifesta, povos, adoremo-lo." "Ao ser batizado no jordão, Salvador nosso, santificaste as águas, aceitando a imposição das mãos de um servo, e sanaste as paixões do mundo. Grande é o mistério da tua 'economia'! Senhor, amigo dos homens, glória a ti!" "A verdadeira luz apareceu e a todos ilumina. Cristo, superior a toda pureza, é batizado conosco; infunde a santidade na água que se torna purificação para as nossas almas. Tudo o que vemos é terrestre, tudo o que contemplamos é mais sublime que os céus. Mediante a ablução vem a salvação, mediante a água vem o Espírito, mediante a descida na água vem a nossa subida a Deus. Admiráveis são tuas obras, Senhor! Glória a ti!"
Uma cerimônia muito antiga, a bênção da água, caracteriza a festa do dia 6 de janeiro. Após o ofício das Vésperas, ou depois da Liturgia eucarística, celebrantes e fiéis dirigem-se a um curso de água, uma fonte, ou então a uma bacia de água colocada no meio da igreja, enquanto o coro canta:
"A voz do Senhor ecoa sobre as águas dizendo: Vinde, recebei todos do Cristo que se manifestou: o Espírito de sabedoria, o Espírito de inteligência, o Espírito do temor de Deus"
e acrescenta o tropárío da festa (já apresentado na p. 49). Seguem as leituras bíblicas, entre as quais Mc. 1:9-11, uma longa prece litânica, na qual se pede também para que a água sirva para a "cura da alma e do corpo."
O sacerdote acrescenta uma antiga e longa oração e mergulha por três vezes a cruz na água dizendo:
"Tu mesmo, Senhor, santifica agora esta água com o teu Santo Espírito. Concede a todos aqueles que a usam a santificação, a bênção, a purificação e a salvação."
A água é bebida em parte pelo povo e, com ela, o sacerdote asperge os fiéis e suas casas. Aqui não se trata da bênção da água para o batismo, embora se encontrem referências bíblicas comuns.
O tema do Cristo, luz do mundo, que insistentemente aparece nos textos litúrgicos da festa, explica o porquê da denominação "Festa das luzes" dado às vezes a essa solenidade. Nela vibra também um sentido cósmico: "Hoje resplandece toda a criação..." "as criaturas celestes fazem festa unidas às terrestres..." e o convite se estende até nós, para que possamos "tomar parte na alegria do mundo" redimido e iluminado pelo nosso Senhor Jesus Cristo.
2 de fevereiro: Encontro de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Na narração que nos deixou a peregrina Etéria sobre a estada dela em Jerusalém (séc. IV), há uma referência também a respeito da festa do dia 2 de fevereiro. Ela não diz o nome, mas nos informa que "no quadragésimo dia" após a manifestação do Senhor sobre a terra "se celebra uma grande solenidade." Fazem "uma grande procissão até ao Anástasis" (que os latinos chamam de Santo Sepulcro) e tudo acontece "numa grande alegria, como na Páscoa." Acrescenta ainda que, em seguida, o bispo faz a leitura e o comentário do Evangelho de Lucas (2:21-39) que ainda hoje é lido nas Igrejas do Oriente e do Ocidente no dia 2 de fevereiro."
Por essa descrição podemos entender quão antiga e solene (significativa a alusão de Etéria à Páscoa) seja a festa que o Missal Romano atual intitula de "Apresentação do Senhor" ao passo que o Oriente bizantino chama de Hypapántê, que significa "Encontro." Com efeito, na adoração dos Reis Magos tudo tinha acontecido na intimidade da Sagrada Família, ao passo que em 2 de fevereiro se festeja o primeiro encontro público, no Templo de Jerusalém, do Verbo de Deus com o seu povo, bem representado pelo justo Simeão e pela profetisa Ana. Encontramos o nome Hypapántê também em antigos calendários romanos e é rico de interpretações, porque há também um encontro entre o Antigo e o Novo Testamento.
Desde a sua origem, a festa é cristológica, mas, no decorrer dos séculos, assumiu um colorido mariano: na Igreja romana a festa era chamada também de "Purificação da Virgem Maria." O tropário principal e alguns outros do Ofício bizantino do dia 2 de fevereiro são dirigidos, de fato, à Mãe de Deus, permanecendo, porém, Jesus ao centro da atenção de todos.
Tropário (1º tom).
"Salve, ó Virgem, Mãe de Deus, cheia de graça, pois de ti nasceu o sol de justiça, Cristo, nosso Deus, iluminando os que estão nas trevas. Alegra-te, ó justo ancião, ao receber em teus braços o libertador das nossas almas, que nos doa a ressurreição."
Nascida em Jerusalém, onde Maria e José, em respeito à lei, subiram ao templo com o pequeno Jesus e um casal de pombinhas, a festa do 2 de fevereiro foi introduzida em Roma, como atesta o Liber pontíficalis, por um papa de origem oriental, Sérgio I (687-701). O mesmo que introduziu as festas do Natal de Jesus, da Anunciação e da Dormição ou Assunção da Mãe de Deus.
Mais de uma vez o Ofício do dia chama atenção para o fato de Jesus ser ainda pequeno; agia através da sua mãe. É o que lemos no tropárío da véspera da festa que diz:
Tropário (1º tom).
"O coro celeste dos Anjos, inclinado para a terra, vê o primogénito de toda a criação, como pequeno menino, ser levado ao Templo pela Virgem Mãe. Cheio de alegria canta então conosco o hino da pré-festa."
A solenidade do Encontro conclui-se ordinariamente no dia 9 de fevereiro, mas se a Páscoa ocorrer pelos fins de março, os dias de pós-festa serão reduzidos. O kontákion, repetido com freqüência em todo aquele período, remonta ao século VI e tem por autor Romanós, o Melode:
Kontákion (1º tom).
"Cristo Deus, que santificaste um seio virginal e abençoaste, como convinha, as mãos de Simeão, vieste e nos salvaste. Nas guerras, concede a paz ao teu povo e fortifica os governantes que tu amas, ó único Amigo dos homens."
Os breves hinos que se intercalam entre os versículos sálmicos no Ofício de vésperas são de autoria do patriarca de Constantinopla, Germano. Entre eles destacamos o seguinte:
"Vamos também nós ao encontro de Cristo, com cânticos inspirados e acolhamos aquele do qual Simeão viu a salvação. É aquele que Davi anunciou, o que falou pelos profetas, o que se encarnou por nós e nos instrui com a lei. Adoremo-lo!-
No Ofício do dia não podia faltar alguma composição do famoso hinógrafo bizantino, João Damasceno:
"Abra-se hoje a porta do céu! O Verbo eterno do Pai, de fato, tendo iniciado a sua existência temporal, sem separar-se da sua divindade, conforme a lei, deixa-se levar ao templo por sua Mãe, como menino de quarenta dias. O velho (Simeão) recebe-o em seus braços dizendo: 'Deixa ir-me em paz - exclama o servo ao Senhor -, pois meus olhos viram tua salvação'. ó tu que vieste ao mundo para salvar o gênero humano: Glória a ti, Senhor!"
O ícone da festa do Encontro nos apresenta todas as personagens de quem fala a liturgia; a re-evocação plástica da cena tem sempre um andamento procissional. Simeão está sobre um estrado que evidencia a sua dignidade, mas, quase na mesma linha, vemos José com as duas pombinhas e Maria. Do lado oposto vemos Ana. Às vezes o pequeno Jesus está nos braços de Maria Santíssima num gesto de entregá-lo ao velho Simeão, mas não é incomum o caso em que é o mesmo Simeão que segura o Menino Jesus nos braços e inclina-se para ele numa atitude de profunda adoração, tendo sido iluminado pelo Espírito sobre a misteriosa identidade daquele menino. A tenda, no fundo, indica que a cena se desenvolve num interior, no Templo.
A "procissão" que se fazia em Jerusalém por ocasião dessa festa e da qual a peregrina Etéria, no séc. IV, nos deixou o testemunho, até hoje se conserva no Ocidente onde, um pouco mais tarde, foi acrescentada a bênção das velas. Alguns estudiosos (entre os quais Baumstark) acham que ela se originou de uma procissão lustral praticada na antiga Roma (a "amburbale"), embora se trate apenas de uma conjectura, não é de todo infundada. No Oriente bizantino não se faz a procissão nem se abençoam as velas, mas a riqueza de textos próprios (mais de sessenta), tão cheios de referências bíblicas e de poesia orante, permite aos fiéis penetrar o significado profundo e perene da festa do Encontro. Também para nós deve ser um novo encontro com "Aquele que, após ter dado a Moisés o livro da Lei, se submete à Lei, tendo-se feito semelhante a nós no seu amor para com os homens" (das Vésperas). Um encontro novo com a Mãe de Jesus e nossa, para a qual os hinógrafos têm expressões belíssimas:
"Ó Sião... acolhe Maria, a porta do céu: ela é semelhante ao trono dos Querubins e sustenta o Rei da glória. A Virgem é uma nuvem de luz que traz o Filho feito carne, nascido antes da estrela da marihã...." "Simeão abençoando a Virgem Maria, Mãe de Deus, viu profeticamente nela os sinais da paixão":
na alegria, como no sofrimento, Maria permanece a primeira colaboradora na obra da redenção.
25 de março: Anunciação da Santíssima Virgem Maria
Quem entrar numa igreja ortodoxa ou greco-católica notará sempre nas portas centrais da Iconostase o ícone representando a cena da Anunciação: numa folha da porta está o anjo Gabriel e na outra a Virgem. Às vezes a dimensão da cena pode até estar ieduzida, mas sempre o "início da salvação" é posto iconograficamente em posição de destaque e a mesma porta parece sugerir a idéia do ingresso de Deus na humanidade, ao encarnar-se no seio da Virgem Maria.
Cristãos do Oriente e do Ocidente celebram, habitualmente juntos, a festa da Anunciação do Senhor, no dia 25 de março. Porém, enquanto os católicos romanos, tendo em conta o período litúrgico, por vezes transferem a data da festa, os fiéis de tradição constantinopolitana celebram-na exatamente nesse dia, querendo respeitar os nove meses exatos em relação à data do Natal de Cristo, mesmo que esse dia tivesse de cair na Semana Santa.
Tropário (4º tom).
"Hoje é o começo da nossa salvação e a manifestação do eterno mistério: o Filho de Deus torna-se Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça. Com ele aclamamos, pois, à Mãe de Deus: Ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo!"
Assim o tropário principal da festa resume o evento da encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo e merece deter-se na expressão "cheia de graça" que, no grego, como no eslavo, é formada por uma única palavra, como que um novo nome caracterizando a Virgem de Nazaré que se torna a Mãe de Deus e que inúmeras vezes se faz presente nos textos dos Ofícios do dia. Quase sempre a data cai durante a Quaresma, Por isso há somente um dia de pré-festa e a celebração se conclui à tarde do mesmo dia 25, ao passo que, no dia 26, se lembra, conforme o costume bizantino, de comemorar no dia seguinte, o segundo protagonista da festa, o arcanjo Gabriel. O tropário da véspera convida à exultação:
Tropário (4º tom).
"Hoje é o prelúdio da alegria universal. Com júbilo celebremos a pré-festa, pois Gabriel com espanto e temor se aproxima da Virgem para anunciar-lhe a boa nova: Ave, ó cheia de graça, o Senhor é contigo!"
É sabido que a palavra do original grego habitualmente traduzida por "Salve" ou "Ave," literalmente significa "alegra-te" e essa versão foi conservada no texto eslavo eclesiástico. Toda a celebração é rica de expressões poéticas em que se aprofunda a reflexão teológica sobre o grande mistério da encarnação do Verbo: Maria é saudada como "sarça incombusta," "abismo insondável," "ponte que conduz aos céus e escada que ali se eleva, como Jacó a contemplou," "nova Eva que desfez a maldição e chamamento de Adão," receptáculo do ser que nenhum outro pôde conter." Nas Vésperas se fazem cinco leituras bíblicas tiradas do Antigo Testamento: Gênesis (escada de Jacó), Êxodo (sarça ardente), Provérbios ("A Sabedoria construiu para si uma casa" e "O Senhor me possuiu desde o começo") e Ezequiel (a porta pela qual o Eterno passará e que depois permanecerá fechada). Lá pelo fim há uma composição hinográfica de André de Jerusalém († 740) que é uma síntese dos temas e o tom da festa:
"Hoje é o ledo anúncio da alegria, triunfo da Virgem; as coisas aqui debaixo se harmonizam com as de cima; Adão foi renovado e Eva libertada da tristeza primitiva; o tabernáculo da nossa mesma natureza, com a divinização da substância assumida, foi consagrado Templo de Deus. Ó Mistério! Incompreensível é a maneira desse rebaixamento, inefável a maneira desse concebimento. Um anjo se encarrega dessa missão prodigiosa; um regaço virginal acolhe o Filho; o Espírito Santo é enviado do alto; o Pai, nos céus, se compraz e a união acontece por vontade comum. Salvos nele e por ele, unamos as nossas vozes à de Gabriel e gritemos à Virgem: Ave, ó cheia de graça, da qual veio a salvação, Cristo, nosso Deus, que, tendo assumido a nossa natureza, a elevou à altura da sua. Roga-lhe para que salve nossas almas!"
Uma particularidade do Cânon do ofício matinal desse dia é a forma dialogal com o qual foi composto. As estrofes se alternam entre o diálogo da Mãe de Deus e o diálogo em que o anjo fala. As seis primeiras Odes são de autoria de São Teófanes, o "Marcado," bispo de Nicéia († 845) e as outras três têm como autor São João Damasceno. A cada estrofe-tropário repete-se a invocação: "Santíssima Mãe de Deus, salva-nos!"
Também através de perguntas, hesitações, respostas de esclarecimento, o Ofício do dia confirma aquilo que o conhecido teólogo bizantino, leigo, Nicolau Cabásilas, afirmava a respeito da Anunciação: "A encarnaçao, não foi somente obra do Pai, da sua potência e do seu Espírito; mas foi também obra da vontade e da fé da Virgem," a qual, num hino das Vésperas, depois que o anjo lhe tinha lembrado que "quando Deus quer, a ordem da natureza é vencida e obras prodigiosas são realizadas," assim exclama:
"Faça-se em mim segundo a tua palavra: porei ao mundo aquele que não tem corpo e que de mim tomará carne, para reconduzir o homem à sua primitiva dignidade, pois somente ele pode fazê-lo, mediante esta união."
O evento que celebramos no dia 25 de março aconteceu em Nazaré, no Oriente. É compreensível, pois, que tal festa tenha começado a ser celebrada ali. Foi introduzida em Roma, posteriormente, pelo papa Sérgio 1, já por nós citado, um siciliano de origem síria e de cultura grega.
O belíssimo hino Akáthistos, em honra da Mãe de Deus, tão apreciado pela piedade popular bizantina há cerca de treze séculos, e que agora começa a ser conhecido também no Ocidente, está presente em diversos trechos do Ofício da festa, como por exemplo no proêmio que precede as vinte e quatro estrofes do hino, ou no kontákion (8º tom) cujo texto transcrevemos em seguida:
"Ó Mãe de Deus, invencível estratega, nós, teus servos, elevamos a ti o hino de vitória e de gratidão por ternos salvado de terríveis calamidades. Tu, pois, cujo poder é irresistível, livra-nos de todo mal, para que possamos a ti clamar: Ave, Virgem e Esposa!
Para concluir, eis a reflexão de Pavel Florensky, sacerdote ortodoxo russo - gênio poliédrico ao qual a mesma Enciclopédia soviética dedicou três colunas - falecido num lager nos anos Quarenta: "O momento da Anunciação, no qual a criação, na pessoa da Mãe de Deus, acolhe a divindade em si mesma, contém toda a eternidade e, nesta, toda a plenitude dos tempos. A festa da Anunciação, do ponto de vista cósmico, celebra-se no equinócio da primavera ... Como nesse equinócio está incluída em germe toda a plenitude do ano cósmico, assim a Anunciação contém, como o botão de uma flor, a plenitude do ano eclesiástico. Pois bem, o ano cósmico e o ano eclesiástico são figuras do ano ontológico, isto é, o ano ou a plenitude dos tempos e das pausas de toda a história mundial. Esta está contida inteiramente na Virgem Maria, e a Virgem Maria se expressa por completo no momento da anunciação."
6 de agosto: Santa Transfiguração do Nosso Senhor Jesus Cristo
No Oriente bizantino a festa do 6 de agosto, Santa Transfiguração de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, reveste-se de uma solenidade toda especial. Essa festa é lembrada desde o século IV pelos santos Efrém, o Sírio e João Crisóstomo e, entre os hinos litúrgicos, até hoje ainda em uso entre os bizantinos ortodoxos e/ou católicos, muitos são de autoria de São Cosme de Maiúma e de São João Damasceno. já no dia anterior à festa se evidencia a importância do evento em que aparecem a beleza primordial da criação e o inteiro plano salvífico:
Kontákion da vigília (4º tom).
"Hoje, em tua divina transfiguração, a inteira natureza humana brilha de divino resplendor e exclama com júbilo: O Senhor transfigura-se salvando todos os homens.
O tropário final da festa, bem como o kontákíon, são repetidos mais vezes até o dia 13 de agosto. Ei-los:
"Ó Cristo Deus, te transfiguraste sobre a montanha, mostrando aos discípulos tua glória, à medida que lhes era possível contemplá-la. Também sobre nós, pecadores, deixa brilhar tua luz eterna, pelas orações da Mãe de Deus. ó Doador da luz, glória a ti!"
Kontákion (7º tom).
"Sobre o monte te transfiguraste e os teus discípulos, à medida que o podiam, viram a tua glória, ó Cristo Deus, a fim de que quantos te vissem crucificado, compreendessem que a tua paixão era voluntária e proclamassem ao mundo que tu és verdadeiramente o resplendor do Pai."
Com efeito, a narrativa evangélica, transmitida por Mateus, Marcos e Lucas, se encontra entre dois prenúncios da paixão de Cristo, e os três discípulos presentes ao evento da transfiguração são os mesmos que assistirão, embora de longe e sonolentos, à dolorosa oração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Com freqüência no-lo lembram os textos litúrgicos bizantinos próprios do dia, como, por exemplo, este trecho das Vésperas:
"Antes da tua crucificação, Senhor, o monte tornou-se parecido ao céu e uma nuvem encobriu-o como uma tenda; enquanto te transfiguravas, o Pai te testemunhou qual Filho. Estavam ali presentes Pedro, Tiago e João, os mesmos que estariam presentes contigo na hora da traição, para que, tendo contemplado as tuas maravilhas, não se perturbassem ao contemplar teus sofrimentos. Concede também a nós, por tua misericórdia, contemplá-los na paz."
O ícone da Transfiguração encontra-se com freqüência, também porque é um tema que o iconógrafo deve privilegiar na sua atividade pictórica. Ele fica exposto, no meio da igreja, à veneração dos fiéis, desde a tarde do dia 5 de agosto até 13 do mesmo mês. O complexo pictórico resume bem o conjunto da festa conforme o esquema que nos foi transmitido por séculos. Ao centro domina a figura do Cristo em vestes brancas. Raios de luz se desprendem da sua pessoa e se espalham em todas as direções rumo à extremidade de um círculo, símbolo da verdade. Ele está no alto de um monte e aos lados, sobre dois picos rochosos, admiramos as figuras de Moisés e Elias, ligeiramente inclinados para o Salvador, com o qual conversam; representantes respectivamente da Lei e dos Profetas que têm, na pessoa do Salvador, o seu cumprimento. Embaixo, a cena é mais movimentada e apresenta figuras do Novo Testamento: os três discípulos escolhidos para subir ao monte estão em atitude de grande espanto. À direita (de quem olha), Pedro, de joelhos, com uma das mãos se apóia no chão e com a outra aponta para o divino fulgor que observa de esguelha. Tiago e João estão caídos no chão e cobrem os olhos ofuscados pela luminosa teofania. A fraqueza humana perante o evento excepcional, por contraste, ressalta a paz transcendente e a divina segurança de Jesus, centro de tudo.
A tradição oriental reconhece na Transfiguração uma nova manifestação trinitária após a ocorrida no batismo de Jesus, porque no Tabor "a voz do Pai dá testemunho, o Espírito ilumina e o Filho recebe e manifesta a palavra e a luz."
Existem outros temas sobre os quais os hinos litúrgicos dessa festa querem atrair a atenção dos fiéis: a "metamorfose" de Cristo "resplendor" do Pai; o prenúncio da Ressurreição de Jesus e nossa; a divinização da natureza humana, obscurecida em Adão e agora iluminada. Eis alguns desses temas hinográficos:
"Luz imutável da luz do Pai não gerado, ó Verbo, na tua luz brilhante hoje no Tabor vimos a luz do Pai e a luz do Espírito que ilumina toda criatura." "Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do nosso Deus, e veremos a glória da transfiguração, glória do Unigênito do Pai; na luz receberemos a luz e, elevados pelo Espírito, cantaremos nos séculos a Trindade consubstancial."
"Ó Cristo, te revestiste do Adão inteiro, iluminaste a natureza outrora obscurecida e na metamorfose do teu aspecto a divinizaste."
A teologia oriental insiste sobre a graça incriada, participação na luz que envolveu o Cristo no Tabor,
"graça deificante, emanação do Espírito Santo que vem a iluminar a Esposa para torná-la nupcialmente conforme ao Esposo,"
como escreve C. Andronikov, acrescentando:
"A Transfiguração, festa teleológica por excelência, nos permite aguardar a Páscoa e prever o porvir para além da parusia."
As origens dessa festa, no Oriente, talvez remontem à inauguração de uma basílica da Transfiguração no monte Tabor no IV século e possui antigos testemunhos.
A oração de São João Damasceno (século VIII), na Ode nona do seu Cânon para o dia 6 de agosto, é um convite que se estende até os nossos dias, para todos nós:
"Vinde, ó povos, segui-me; subamos à montanha santa, rumo ao céu. Fixemos espiritualmente a nossa morada na cidade do Deus vivente e contemplemos a divindade imaterial do Pai e do Espírito que, em seu Filho único, resplandece." "ó Cristo, tu me atraíste e transformaste com o teu divino amor; queima, pois, os meus pecados na chama do fogo imaterial e enche-me de tuas delícias, para que, exultante de alegria, possa glorificar, ó Deus de bondade, as tuas duas vindas."
15 de agosto: Dormição da Santíssima Virgem Maria
A última grande festa do ano litúrgico bizantino (que nos Minéa termina no dia 31 de agosto) é mariana: Dorrnição da SS. Mãe de Deus, Kóímesis no grego e Uspénie no eslavo eclesiástico, palavras que aludem justamente ao ato de dormir. E a tradicional representação iconográfica de 15 de agosto mostra a Virgem estendida no leito de morte, rodeada para o último sono pelos apóstolos, vindos prodigiosamente dos lugares onde pregavam o evangelho, tendo ao centro Jesus Cristo que acolhe a sua alma, representada como uma menina envolta em faixas e por ele sustentada.
A partir do dia 1 de agosto, o Oriente bizantino prepara-se para a festa com um jejum (do qual também fala São Teodoro Estudita, morto no ano 826) e dado que, além da pré-festa do dia 14 de agosto, os textos litúrgicos falam do trânsito de Maria SS. ao céu até o dia 23 de agosto, pode-se afirmar que este é o mês mariano dos fiéis ortodoxos e greco- católicos.
A celebração dessa solenidade no dia 15 de agosto foi fixada com um edito do imperador do Oriente, Maurício (582-602), confirmando uma tradição, sem dúvida, mais antiga. No Ocidente, a festa foi introduzida, juntamente com outras três festas marianas, pelo papa Sérgio I, coincidindo as datas de sua celebração. Quanto ao conteúdo, o tropário principal assim sintetiza o mistério:
Tropário (1º tom).
"Em tua maternidade conservaste a virgindade e em tua dormição não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus. Foste levada para a vida sendo a Mãe da Vida, e por tuas orações resgatas nossas almas da morte."
Logo é posto em evidência o ministério de intercessão que a Mãe de Deus e nossa desempenha após sua entrada (também corpórea) no céu. O kontákion do dia, a segunda oração mais repetida, o confirma:
Kontákion (2º tom).
"Nem o túmulo nem a morte prevaleceram sobre a Mãe de Deus, que, sem cessar, reza por nós e permanece firme esperança de intercessão. Com efeito, aquele que habitou um seio sempre virgem assumiu para a vida aquela que é a Mãe da Vida."
Embora os evangelhos não falem sobre o fim da vida de Maria, existe uma antiga tradição patrística, com informações provindas outrossim dos apócrifos, e que está na base do Ofício litúrgico bizantino do dia 15 de agosto.
São Germano de Constantinopla, de cuja autoria é o hino das Vésperas que se segue:
"Vinde de todos os confins do universo, cantemos a bem-aventurada trasladação da Mãe de Deus! Nas mãos do Filho ela depositou a sua alma sem pecado: com a sua santa Dormição o mundo é vivificado; e é com salmos, hinos e cânticos espirituais, em companhia dos anjos e dos apóstolos, que ele a celebra na alegria."
Como nos demais textos litúrgicos bizantinos, da maioria dos hinos, que se repetem há mais de mil anos, se desconhece o nome do autor: Eis um exemplo tirado ainda do Ofício de Vésperas:
"Oh, os teus mistérios, ó Pura! Apareceste, ó Soberana, trono do Altíssimo e nesse dia te transferiste da terra para o céu. A tua glória brilha com o resplendor da graça. Virgens, subi para o alto com a Mãe do Rei. ó cheia de graça, salve, o Senhor é contigo: ele que doa ao mundo, por teu intermédio, a grande misericórdia."
Entre os lugares santos venerados em Jerusalém que se relacionam ao mistério final da vida da Mãe de Deus, não existe somente a Basílica da Dormição cuidada pelos Beneditinos católicos, mas há também o Túmulo da Virgem, que está aos cuidados dos ortodoxos, próximo ao jardim do Getsêmani e onde recentes escavações confirmam que a sepultura remonta, de fato, à época em que viveu Maria Santíssima, e pode ter sido o lugar de seu breve sepultamento. A tradição bizantina, claramente expressa na oração, acredita na morte e no sepulcro da Virgem, mas também na sua antecipada glorificação ao céu com o corpo e a alma, à semelhança e em virtude de quanto aconteceu ao seu divino Filho. Assim começa o texto próprio das Grandes vésperas do dia 15 de agosto:
"Ó maravilha inaudita! A fonte da vida é posta no túmulo e o sepulcro transforma-se em escada que leva ao céu. Alegra-te, ó Getsêmani, santuário sagrado da Mãe de Deus!..."
A tradição narra que o apóstolo Tomé, tendo chegado atrasado para o sepultamento da Virgem e querendo rever seu amado semblante, fez reabrir o túmulo, mas este foi achado vazio e a mesma Mãe de Deus anunciou, numa visão, que havia ressuscitado e subido ao céu junto do seu Filho divino.
Se nos textos litúrgicos da festa encontramos várias alusões à tristeza dos Apóstolos que não verão mais junto deles a Mãe de Jesus, predomina, porém, a alegria pelo triunfo da Theotókos.
"A tua gloriosa Dormição - diz um hino das Laudes - alegra os céus, faz exultar a multidão dos anjos: a terra toda exulta de alegria elevando a ti um canto de adeus, ó Mãe do Senhor de todas as coisas, Virgem santíssima desconhecedora de núpcias, que libertaste o gênero humano da antiga condenação."
A festa da Dormição da Santíssima Mãe de Deus - este nome, como também a representação iconográfica permaneceu comum no Oriente e no Ocidente por mais de um milênio.
Com esta citação de um teólogo russo ortodoxo concluímos, retomando do Ofício das Vésperas bizantinas uma última invocação:
"Ó imaculada Mãe de Deus, sempre vivente com o Rei da vida e Filho teu, reza sem cessar para que seja conservada e salva de toda insídia do adversário a multidão de teus filhos, pois nós estamos debaixo da tua proteção e te glorificamos por todos os séculos."

Festas com data móvel
Entrada de Jesus em Jerusalém, ou Domingo de Ramos
O domingo que antecede a grande solenidade da Páscoa - dito Domingo de Ramos seja no Oriente como no Ocidente - é a primeira das três festas com data móvel que, junto às nove com data fixa, já apresentadas, completam o grupo das Doze grandes festas do ano litúrgico bizantino.
A Semana Santa na tradição constantinopolitana começa com o Sábado de Lázaro, no dia anterior ao Domingo de Ramos, cujo tropário principal é repetido em todas as Horas do domingo junto a outro, próprio do dia, que repete a aclamação dirigida a Jesus na sua entrada em Jerusalém.
2º Tropário da festa (4º tom).
"Sepultados contigo pelo batismo, Cristo nosso Deus, por tua ressurreição, nos tornamos dignos da vida imortal. Por isso a ti cantamos em alta voz: Hosana no mais alto dos céus; bendito o que vem em nome do Senhor!"
"Festa esplêndida e gloriosa" é chamada pelo Triódion bizantino e de fato pode-se notar um tom festivo e alegre em seus textos, ao passo que para os católicos romanos a Missa do dia é velada de certa tristeza com a leitura que se faz da paixão de Cristo. Na liturgia eucarística bizantina se lê o Evangelho de João (12:1-8), com o episódio de Marta e Maria e da entrada de Jesus em Jerusalém.
"Alegra-te e permanece na alegria, cidade de Sião; permanece na alegria e exulta, Igreja de Deus, pois o teu Rei se aproxima" (do oficio de Vésperas). "O Senhor Deus apareceu-nos! Celebrai juntos esta festa: vinde jubilosos, adoremos Cristo e aclamemo-lo: Bendito o que vem em nome do Senhor nosso Salvador!" (do ofício de Matinas).
Também para o Domingo de Ramos temos um testemunho da peregrina Etéria sobre como se desenvolvia, em meados do século IV, a reunião dos fiéis na basílica do Eleona no Monte das Oliveiras, e a procissão que lhe seguia, com o povo agitando ramos de palmeira ou de oliveira até ao Calvário e à basílica da Anástasis (isto é, da Ressurreição, a mesma que os católicos latinos chamam de Santo Sepulcro). A Procissão dos Ramos de Jerusalém espalhou-se em seguida por quase todas as Igrejas do Oriente e do Ocidente, mas somente poucas conservaram esse costume. Os textos litúrgicos bizantinos repetem o desenrolar-se do evento, contemplam ao mesmo tempo o fato visível e a realidade eterna, como neste breve hino que se segue.
Kontákion (6º tom).
"Nos céus assentado num trono, aqui na terra montado num jumentinho, ó Cristo Deus, acolhe os louvores dos anjos e as aclamações das crianças que gritam: Bendito és tu que vens soerguer o Adão decaído."
Não faltam aplicações para os fiéis de hoje:
"Com ramos espirituais de palmeira, com a alma purificada, aclamamos a Cristo como os meninos, com fé gritando ao Senhor em alta voz: Bendito és tu, ó Salvador! Espiritualmente te tornaste o novo Adão e vieste para salvar o Adão da antiga maldição, conforme o teu beneplácito, ó Amigo dos homens!"
Existe mais um tropário que se poderia definir de central na festa, repetido em diversos momentos no decorrer dos Ofícios:
"Hoje a graça do Espírito Santo nos reuniu. Todos, carregando a tua cruz, dizemos: Bendito o que vem no nome do Senhor! Hosana nas alturas!"
"O triunfo de Jesus na cidade santa na véspera da Páscoa é um grande mistério. Contemplando os textos bíblicos, as profecias, os evangelhos, a liturgia sempre descobre neles novas facetas. A entrada de Jesus em Jerusalém é uma teofania, na linha das antigas teofanias do Antigo Testamento. A glória de Deus entra na cidade santa (Ez. 43:4), mas humilhada na humildade do rei manso, do Cordeiro (Jo 1:29), que vem para ser imolado. Com as crianças, os discípulos, as multidões, os povos, todas as criaturas participam desse rito de entronização: as forças angélicas, os elementos cósmicos."
Durante o oficio matutino (nos países eslavos, freqüentemente antecipado para a noite anterior após as Vésperas, numa única celebração que forma a Grande vigília) o sacerdote dirige-se ao meio da nave central para benzer os ramos de palmeira ou de oliveira que, como na liturgia latina, são considerados símbolos de vitória e de ressurreição. Os fiéis aproximam-se para recebê-los das mãos dele, enquanto beijam o ícone alusivo à festa que fixa visualmente os dados da narração evangélica. No entanto o coro está cantando o cânon, repetindo, provavelmente várias vezes, o tropário que transcrevemos, com evidentes remissões ao Antigo e ao Novo Testamento.
Tropário:
"O povo de Israel se dessedentou na pedra dura, aberta sob o teu comando e que fez jorrar água e tu, ó Cristo, eras essa pedra e a vida; sobre ela foi fundada a Igreja que clama: Hosana! Bendito és tu que vens!"
Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo
No trigésimo nono dia após a Páscoa o Oriente bizantino celebra, ao mesmo tempo, o "encerramento" ou "conclusão" da festa da Ressurreição de Jesus Cristo - da qual se retomam quase todos os textos litúrgicos - e a Pré-festa da Ascensão de Nosso Senhor.
Tropário da festa (4º tom).
"Subiste glorioso ao céu, Cristo nosso Deus, enchendo de júbilo os discípulos com a promessa do Espírito Santo e confirmando-os com a tua bênção, pois tu és o Filho de Deus, o Redentor do mundo."
O triunfo do Salvador que, com o seu corpo glorificado, volta para o céu para sentar-se à direita do Pai, era celebrado em Jerusalém com grande solenidade desde a mais remota antiguidade. Encontramos testemunhos num fragmento de Eusébio († 325) e no relato vivaz da peregrina Etéria. O Monte das Oliveiras em Jerusalém, onde se realizou o evento, já de per si convidava a uma comemoração festiva, que bem cedo se estendeu às demais Igrejas.
O conteúdo da festa é sintetizado pelo kontákion que, juntamente com o tropário acima apresentado, será repetido por oito dias após a Ascensão.
Kontákion (6º tom).
"Tendo cumprido o plano salvífico sobre nós, e reunido as criaturas terrestres às celestes, ascendeste ao céu em glória, Cristo nosso Deus, sem contudo te afastares de nós, mas permanecendo conosco clamas aos que te amam: Eu estou convosco e ninguém prevalecerá contra vós!"
Não obstante se trate de uma separação entre o Mestre e seus discípulos, os textos litúrgicos conservam o caráter alegre da festa, como neste:
"... Tu que, na tua ascensão, cumulaste de júbilo os apóstolos e a Mãe que te gerou, faz-nos dignos também a nós da alegria de teus eleitos, graças aos seus rogos e à tua grande misericórdia."
A Virgem Santíssima e os apóstolos estão bem visíveis no ícone da festa, que há mais de um milênio acompanha a celebração litúrgica da festa da Ascensão. Basta pensar que remontam ao século V e VI as assim chamadas "galhetas de Monza," que fazem parte do tesouro da catedral daquela cidade, e em cujo lado arredondado está pintado o evento da Ascensão semelhante ao que vemos pintado nos ícones dos séculos sucessivos até aos pintados em nossos dias. Vamos nos deter um pouco para examinar o ícone da Ascensão que atualmente se encontra exposto na Galeria Tretjakov de Moscou. No alto, inscrito num círculo com raios luminosos, a figura do Cristo em sua majestade; o círculo é sustentado por dois anjos. No registro inferior, separado inclusive por tufos de árvores de oliveira que emergem de um fundo rochoso, dois grupos de apóstolos para os quais "dois homens em brancas vestes" dirigem as palavras que encontramos nos Atos dos Apóstolos: "Homens da Galiléia, que estais aí a contemplar o céu? Esse Jesus, que vos foi arrebatado, virá do mesmo modo que para o céu o vistes partir" (1:11). A idéia da segunda vinda de Jesus se encontra no "próprio" da festa, inspirando uma súplica. Diz um katísma:
"Levado pelas nuvens do céu, após ter deixado a paz aos habitantes da terra, subiste ao céu e te sentaste à direita do Pai, consubstancial a ele e ao Espírito; mesmo tendo-te mostrado na carne, de fato permaneceste sem mudança. Por isso aguardas o cumprimento de cada coisa para voltar à terra para julgar o mundo inteiro. justo juiz, Senhor, poupa as nossas almas e concede aos teus servos o perdão dos pecados, tu és Deus misericordioso."
Voltando a observar o ícone da festa, o que nos chama a atenção é a centralidade da Mãe de Deus, o destaque que os dois "em brancas vestes" lhe dão, separando-a ligeiramente dos apóstolos. Depois da subida ao céu de Jesus, Maria Santíssima toma-se o centro moral da Igreja, por ela tão bem representada num gesto de orante, com as mãos erguidas em sinal de súplica. E também nos textos litúrgicos bizantinos da festa da Ascensão a Virgem tem um destaque bem mais marcante em relação à liturgia ocidental. Um destes textos explica tal afirmação:

"... convinha de fato que aquela que, como Mãe, tinha sofrido mais que qualquer outro na tua paixão, fosse cumulada de alegria acima de qualquer outra alegria, na glorificação do teu corpo..."
Ademais, todas as Odes do Cânon terminam com uma prece mariana, o que não acontece nas demais festas maiores do Senhor. Por vezes é uma prece de súplica:
"Imaculada Mãe de Deus, intercede incessantemente junto do Deus que de ti tomou carne sem que se afastasse do seio do Pai, para que salve de toda tentação os que criou" (Ode primeira);
Ou então é uma exaltação:
"Salve, Mãe de Deus, Genitora de Cristo Deus: hoje, ao ver subir com os anjos aquele que geraste, tu o exaltas" (Ode nona).
Outros temas poderiam se observar nos textos litúrgicos, mas nos limitaremos a dois. A missão terrena de Jesus, chegada ao seu cumprimento, se une à promessa de enviar o Espírito Santo.e mais vezes se reza: "...envia, Senhor, o teu santíssimo Espírito, que ilumina nossas almas."
E no começo da Litia:
"Subindo aos céus de onde vieste, não nos deixes órfãos, Senhor; desça sobre nós o teu Espírito, portador de paz ao mundo; contemplem os filhos dos mortais as obras do teu poder, ó Amigo dos homens."
Enfim, devemos lembrar que o triunfo de Cristo é agora também o de seus seguidores para os quais ele foi "preparar um lugar" no seu Reino, aliás na unidade de seu Corpo místico também nós já fazemos a nossa entrada no céu. Isso é afirmado num hino do ofício matutino:
"Tu que desceste dos céus à terra e, como Deus, reergueste a estirpe de Adão humilhada nos grilhões do Hades, com a tua ascensão, ó Cristo, faze-a subir ao céu e sentar-se contigo no trono do teu Pai, pois tu és compassivo e amigo dos homens."
Domingo do santo Pentecostes
Ao findar o período de cinqüenta dias após a Páscoa, a festa de Pentecostes com a descida do Espírito Santo marca o "cumprimento da promessa e a realização da esperança," como reza um hino do Ofício bizantino da manhã e no "próprio" dessa solenidade o elã poético se une à precisão teológica ao convidar o fiel à adoração do Deus Uno e Trino. No Oriente bizantino, a festa de Pentecostes celebra também a festa da Santíssima Trindade (diferentemente da liturgia latina que a celebra no domingo seguinte), porque justamente com a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos se completou a revelação do mistério trinitário. No cristianismo primitivo a comemoração do evento histórico, ocorrido no Cenáculo do monte Sion, prevalecia na festa de Pentecostes, que já se celebrava em Jerusalém no século IV, ao passo que a liturgia bizantina hodierna transfere tal comemoração ao dia seguinte, segunda-feira.
Os textos dos Ofícios unem, porém, os dois aspectos do mistério e já nas Vésperas encontramos seja um breve hino trinitário muito conhecido, porque cantado a cada liturgia eucarística, logo depois da comunhão dos fiéis:
"Vimos a verdadeira luz, recebemos o Espírito celeste, encontramos a fé verdadeira, adorando a indivisível Trindade; pois foi ela que nos salvou,"

seja a invocação ao Espírito Santo com a qual começam quase todas as orações litúrgicas e particulares dos fiéis ortodoxos e católicos de rito bizantino:
"Rei celeste, Consolador, Espírito de verdade, presente em toda parte e ocupando todo lugar; tesouro de bens e díspensador da vida, vem e habita em nós; purifica-nos de toda a impureza e salva as nossas almas, tu que és bom."
No ofício das Vésperas, três leituras tiradas do Antigo Testamento (Nm 11:16-17.24-29; Jl 3:1-2 e Ez 36:24-28) evocam as obras do Espírito em épocas longínquas, para fazer melhor entender a ação transformadora ocorrida nos apóstolos nos inícios da história do Reino de Deus, assim sintetizada no tropário (8º tom) conclusivo:
"Bendito és tu, Cristo nosso Deus, que tornaste sábios a simples pescadores, enviando-lhes o Espírito Santo e, por eles, colheste na rede o universo inteiro. Glória a ti, Amigo dos homens."
Outro hino, repetido várias vezes durante a semana de Pentecostes, é o kontákion, que faz alusão ao fato bíblico da confusão das línguas durante a construção da torre de Babel:
Kontákion (8º tom).
"Quando o Altíssimo desceu à Terra para confundir as línguas, dispersou os povos; mas, quando distribuiu as línguas de fogo, chamou-nos todos à unidade. Glorifiquemos a urna só voz o Espírito Santíssimo."
É sabido que importância têm na teologia e na liturgia bizantina a pessoa e a obra do Paráclito; o Ofício de Pentecostes, em vários momentos, se detém em descrevê-las. É suficiente, como exemplo, este hino tirado das Laudes:
"O Espírito Santo era, é e será sem princípio e sem fim, mas sempre igual em dignidade ao Pai e ao Filho e com eles enumerado Vida e vivificador; Luz e doador de luz; Bom em si mesmo e fonte de bondade: graças a ele o Pai é conhecido e o Filho é glorificado e à humanidade inteira se faz conhecer como uma única força, uma única hipóstase, uma única adoração da santa Trindade."
O ícone da festa, com sua mensagem visual, reforça nos fiéis o conhecimento do evento e do mistério de Pentecostes. Também ele se fundamenta no dado escriturístico (At 2), porém com uma releitura eclesial que, no seu tratado Hermenêutica da pintura, Dionísio de Furná no século 18, relatando uma tradição quase milenária, assim expõe.
"Os doze Apóstolos estão sentados em círculo e, abaixo deles, numa pequena abóbada semicircular, está a figura de um velho com uma coroa na cabeça; com ambas as mãos segura uma faixa na qual estão envolvidas doze cartas. Sobre a cabeça aparece a inscrição: 'O Cosmo...´"
O mundo inteiro, representado pelo velho homem coroado, prisioneiro das trevas do mal e que estende os braços para receber os doze rolos, isto é, a pregação apostólica, é, dessa maneira, iluminado pelo evento de Pentecostes que continua ainda hoje: estende-se no anúncio missionário e alcança também a nós. Se no universo perdura o "mistério da iniqüidade" em tantos acontecimentos e situações dolorosas, a graça e a luz do Espírito pode renovar e divinizar tudo. No ícone descrito, aparece no centro a Virgem numa atitude orante e, ao mesmo tempo, de acolhida; à sua direita está São Pedro e os outros apóstolos. Entre eles podemos ver anacronismos como, por exemplo, as imagens de São Paulo ou de alguns evangelistas indicados pelos nomes inscritos nos nimbos, como querendo melhor sublinhar a ação permanente do Espírito Santo que funda e anima a Igreja. No alto, ao centro, o fogo da divindade, da qual se depreendem línguas de fogo colocadas sobre a cabeça da Mãe de Deus e dos apóstolos.
"O Espírito Santo distribui todos os benefícios - afirma outro hino litúrgico -, efunde as profecias, institui os sacerdotes, doa a sabedoria aos ignorantes, transforma os pescadores em teólogos, dá toda a sua forma ao ordenamento da Igreja. Paráclito consubstancial e co-reinante com o Pai e o Filho, glória a ti!"
Sete longas orações, recitadas pelo celebrante ajoelhado, como também todos os fiéis, constituem uma particularidade da festa de Pentecostes; fazem parte do ofício das Vésperas do domingo à tarde. A autoria da primeira oração é atribuída a São Basílio. Somente elas mereceriam um tratado à parte. Entre os hinógrafos da festa cujos nomes chegaram até nós, assinalamos: São Romanós, o Melode, que compôs uma oração recitada depois do kontákion e que na Quaresma bizantina é repetida todos os dias na Hora terça; Leão, imperador bizantino († 912), compôs um comentário ao Triságion e São Cosme de Maiúma, autor do primeiro Cânon no ofício das Matinas. Esses autores são os representantes daquela Igreja indivisa do primeiro milênio em que cristãos do Oriente e do Ocidente, mesmo com algumas diversidades, viviam unidos, testemunhando melhor que, graças aos apóstolos, sustentados pelo Paráclito, "o mundo inteiro é iluminado para honrar a Santa Trindade."
"A força divina, descida hoje sobre nós, é o Espírito bom, o Espírito da sabedoria de Deus, o Espírito que procede do Pai e através do Filho se manifesta aos crentes, doando aos que neles habita a santidade" (Ode quinta do Cânon).
Invoquemos, pois, o Espírito Santo também para o restabelecimento da unidade plena entre os cristãos, para o louvor e glória da Santíssima Trindade!
Parte 1-b
Triódion é o nome de um livro litúrgico bizantino usado nas dez semanas que precedem a Páscoa e Tempo do Triódion é sinônimo de Tempo da Quaresma. Porém, dentro de uma sábia pedagogia da Igreja para com seus filhos, existe uma gradualidade. As primeiras quatro semanas são orientadas à compreensão dos motivos do jejum quaresmal e à aquisição das disposições espirituais para percorrer frutuosamente os quarenta dias que se lhes seguem.
O nome Triódion vem de Três-odes, porque no cânon do Órthros há somente três odes em lugar das nove habituais. Nem por isso o conjunto dos Ofícios fica mais breve, pelo contrário, pois se recitam os hinos bíblicos conexos a cada Ode (habitualmente omitidos, exceção feita para o Magnificat, Lc 1:46-55 à Ode nona) e os tropários se tornam mais numerosos.
A cada Hora, recita-se a oração quaresmal de Santo Efrém, acompanhada por prostrações e, excetuados o sábado e o domingo, não se celebra a divina liturgia (missa), e, às quartas e sextas-feiras, celebra-se a Liturgia dos Pré-santificados. Antes de nos aprofundarmos nessas duas particularidades, eis alguns textos litúrgicos dos dias preparatórios à Quaresma ou aos seus inícios, extraídos do Triódion:
"As portas da divina penitência abrem-se diante de nós, entremos com júbilo e purifiquemos nossos corpos; abstenhamo-nos do alimento e das paixões comportando-nos como discípulos de Cristo, o qual chama o mundo para o Reino celestial; ofereçamos ao Rei do universo o dízimo do ano inteiro, para que possamos contemplar com amor a sua santa Ressurreição."
"Verbo de bondade que, com o Pai e o Santo Espírito, na tua inefável sabedoria criaste todas as coisas visíveis e invisíveis, torna-nos dignos de transcorrer em profunda paz o luminoso Tempo da Quaresma, livrando-nos, na tua bondade, da amargura do pecado, concedendo-nos benfazejas lágrimas de penitência e o perdão de nossas culpas, a fim de que, jejuando com a alma fortificada e o espírito alegre, possamos cantar com os anjos a tua majestade."
Como sempre, no Oriente, é freqüente recorrer à Mãe de Deus:
"Virgem santa, única defesa dos que acreditam, concede neste tempo de quaresma o teu misericordioso socorro a todos os que te reconhecem qual Mãe de Deus."
A dimensão social da nossa conversão em preparação à Páscoa manifesta-se várias vezes:
"Conhecendo os preceitos do Senhor, vivamos de maneira conforme a eles: aos pobres demos o que comer e aos sedentos o que beber, vistamos os que não têm roupas, acolhamos os estrangeiros, visitemos os enfermos e os prisioneiros para que aquele que julgará o mundo diga também a nós: Vinde, benditos do meu Pai, recebei em herança o reino preparado para vós."
"Irmãos, jejuemos corporalmente e jejuemos também com o espírito: rompamos qualquer cadeia de iniqüidade, quebremos os liames das paixões violentas, anulemos todo contrato injusto, demos o pão aos famintos e acolhamos em casa os pobres sem teto para que obtenhamos, do Cristo nosso Deus, grande misericórdia."
Oração quaresmal de Santo Efrém
Uma grande quantidade de fiéis ortodoxos e católicos de rito bizantino a conhecem de cor:
"Senhor e Mestre da minha vida! Afasta de mim o espírito de preguiça, de indolência, de soberba e de palavras fúteis (prostração).
Mas doa ao teu servo um espírito de castidade, de humildade, de paciência e de amor (prostração).
Sim, Senhor e Rei, faz com que eu reconheça minhas culpas e que não julgue o meu irmão, pois tu és bendito por todos os séculos, amém (prostração)."
Às vezes - quando as rubricas o prescrevem, a oração é seguida pela invocação "Tem piedade de mim, pecador" repetida doze vezes e acompanhada por uma profunda inclinação; no fim se repete a oração inteira com uma prostração conclusiva.
Também durante a liturgia dos Pré-santificados, o sacerdote, junto com os fiéis, por duas vezes recita essa oração de Santo Efrém, o Sírio († 373). Poderíamos nos perguntar por que essa breve e simples oração adquiriu tanta importância na liturgia quaresmal bizantina. A resposta no-la dá o conhecido teólogo ortodoxo A. Schememam:
"O motivo é que ela enumera de maneira feliz todos os elementos negativos e positivos do arrependimento e constitui, por assim dizer, um 'lembrete' para o nosso esforço pessoal de Quaresma."
O grande poeta russo Puskin a transcreveu em versos confessando que nos dias do Grande jejum "vem aos lábios com freqüência e fortalece ao caído com força invisível."
Examinando detalhadamente a oração de Santo Efrém, constatamos que quatro são os elementos negativos dos quais as pessoas pedem ser livradas: o ócio, doença de fundo que leva à indolência, à indiferença espiritual; o desânimo, aquela acídia bem conhecida na tradição ascética que põe em guarda contra as suas catastróficas conseqüências; a cobiça do poder (traduzida às vezes também com soberba), que no fundo é a teimosia do eu egoístico, o qual, não orientado para Deus, deseja levar a melhor, não respeitando os outros; enfim aquela loquacidade vã da qual já o apóstolo Tiago alertava por ser fonte de pecados.
Com um ato de fé que é ao mesmo tempo disposição para ser guiados e ensinados por Deus a quem chamamos no início da oração de "Senhor e Mestre," dirigimos a ele uns pedidos positivos, solicitando-lhe em primeiro lugar a virtude que em grego é chamada de sofrosyne e em eslavo de celomúdrie: às vezes traduzida com a palavra "sabedoria" ou "modéstia," mas cuja tradução certa é "castidade" no sentido de disposição à integridade, ao respeito da escala de valores na qual estão envolvidos o corpo e o espírito. Pede-se, em seguida, o dom da humildade, que, pela ligação que tem com a verdade, permanece na base de tudo, e da paciência, à imitação de Deus que é paciente conosco, justamente porque enxerga a profundidade das pessoas, coisas e circunstâncias. Enfim o amor, vértice da vida espiritual e mandamento máximo que Deus legou ao homem.
Na oração pede-se, enfim, a capacidade de enxergar os próprios erros e culpas e de não julgar o próximo. Esse pedido permanece sempre importante para nós que, após a culpa original, temos a tendência oposta e facilmente sabemos desculpar a nós mesmos, exigindo muito dos outros. A oração se conclui com, um louvor a Deus "Bendito por todos os séculos."
Liturgia quaresmal dos Pré-santificados
Na liturgia ambrosiana, que entre as liturgias ocidentais é a que mais se aproxima à bizantina, nas sextas-feiras da Quaresma não se pode celebrar a missa.
O motivo foi explicado no Sínodo XI, presidido por São Carlos Borromeu:
"Toda sexta-feira, por causa da santíssima Paixão de Nosso Senhor, é repleta de religiosa e verdadeira tristeza cristã. Para expressar mais significativamente essa realidade e para imprimi-Ia sempre mais na alma dos seus filhos, a nossa Igreja milanesa sempre manteve o costume, desde a antiguidade, de não celebrar a Santa Missa nas sextas-feiras da Quaresma, porque, sendo o ato litúrgico por excelência, suscitaria no povo católico uma plena e exuberante letícia."
A mesma motivação explica a razão dos dias "alitúrgicos" da tradição bizantina: o caráter solene e festivo da Liturgia eucarística - chamada de São João Crisóstomo ou de São Basílio Magno, porque os textos principais são atribuídos a tais santos -, pouco se ajusta ao espírito de penitência da Quaresma. O sábado e o domingo nunca foram considerados dias de jejum no Oriente; por isso nesses dias celebra-se a eucaristia. Já no Concílio de Laodicéia (314) havia-se decretado a proibição do sacrifício eucarístico na Quaresma (exceto nos dias de sábado, domingo e na festa da Anunciação); no Concílio de Trullo (692), aparece pela primeira vez o convite a celebrar a liturgia dos Pré-santificados, justamente nos dias de jejum do período preparatório à Páscoa. O formulário já aparece constituído pelos fins do VIII e inícios do século IX; do século X em diante há muitos testemunhos que permitem afirmar que a celebração da liturgia dos Pré-santificados havia-se tornado um costume geral.
Também na Quaresma, porém, se sente a necessidade de sermos sustentados na luta contra o pecado, pelo alimento e pela bebida, novo maná, que são o Corpo e Sangue de Cristo. A liturgia dos Pré-santificados satisfaz a essa exigência sendo por sua natureza um solene rito de comunhão. É constituída pela primeira parte das Vésperas (muito análoga à liturgia dos catecúmenos) e pelos ritos e orações próprias da comunhão. Deveria ser celebrada ao entardecer, e o pão é consagrado na liturgia do domingo anterior e conservado no sacrário para a comunhão dos celebrantes e dos fiéis.
Nas férias da Quaresma são prescritas leituras tiradas do Antigo Testamento: uma à Sexta e duas às Vésperas, que se tornam parte integrante da liturgia dos Pré-santificados quando esta é celebrada. Antes de começar a segunda leitura, o celebrante, segurando com ambas as mãos um círio aceso e o turíbulo fumegante, traça um sinal da cruz e, voltando-se para a assembléia, exclama: "A luz de Cristo ilumina a todos!" enquanto isso, os fiéis, ajoelhados, se prostram profundamente, encostando a fronte até o chão.
Em lugar do hino dos Querubins, na Grande entrada se canta:
"Agora os poderes celestes adoram invisivelmente conosco. Eis que se aproxima o Rei da glória. Eis a mística Vítima, perfeita; avança escoltada em triunfo. Aproximemo-nos com fé, a fim de participarmos da vida eterna. Aleluia, aleluia, aleluia."
Esse tríplice aleluia poderá surpreender os católicos latinos, acostumados a associar tal expressão à exultação pascal, mas ela significa simplesmente "Louvai ao Senhor," portanto adapta-se muito bem ao tempo quaresmal. Um tríplice aleluia está associado ao canto do versículo do SI 33, "Saboreai e vede como o Senhor é bom" que precede a distribuição da comunhão, enquanto logo em seguida se canta:
"Bendirei o Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre em minha boca. Saboreai o pão celeste e o cálice da vida e vereis quão suave é o Senhor. Aleluia, aleluia, aleluia."
Um particular interessante é que a liturgia dos Pré-santificados no Oriente bizantino é dita: Liturgia de São Gregório Magno, papa, que, porém, é apelidado de São Gregório "Diálogo," nome que provém da sua obra principal e ao qual é dirigida uma oração especial nessa celebração bizantina. Não se conhece bem de onde vem a associação desse nome.
Concluiremos, com o texto da oração, que o sacerdote reza em voz alta, fora do santuário, e que nos faz entender bem a ligação que há entre a liturgia dos Pré-santificados e o tempo quaresmal:
"Senhor todo-poderoso, que governas com sabedoria toda a criação e que pela tua inefável providência e infinita bondade nos conduziste nestes dias à purificação das nossas almas e dos nossos corpos, ao domínio das nossas paixões, à esperança da nossa ressurreição; tu que, em quarenta dias, formaste as tábuas da Lei, texto gravado pela tua mão divina para o teu servo Moisés, concede-nos também, em tua bondade, combater o bom combate e levar a bom termo o tempo do jejum, guardar a integridade da fé, esmagar a cabeça do inimigo invisível, vencer o pecado e conseguir, sem perigo de condenação, venerar a tua santa ressurreição, pois bendito, glorificado, venerável e magnífico é o teu santo nome, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém."
De semana em semana.
A décima semana antes da Páscoa, com a qual começam os textos próprios do Triódion, é chamada do Fariseu e do Publicano, pois é este o episódio que se lê no evangelho da Liturgia eucarística e a ele faz alusão o kontákion.
Kontákion (4º tom).
"Fujamos da soberba do fariseu e aprendamos a profunda humildade.das palavras do publicano, clamando com arrependimento: "Salvador do mundo, sê misericordioso para com teus servos."

Nas primeiras semanas as partes próprias do Triódion limitam-se aos domingos e, mesmo assim, prevalecem os textos do Októichos. No domingo seguinte (nono antes da Páscoa), dito do Filho Pródigo (cf. Lc 15,11-32), todo fiel faz sua a experiência espiritual ao rezar com estas palavras:
Kontákion (3º tom).
"Abandonei estultamente a glória paterna e dissipei nos vícios a riqueza que me havias doado. Eis que clamo a ti com as palavras do Filho Pródigo: ´Pequei contra ti, Pai misericordioso, acolhe-me arrependido, e trata-me como um de teus empregados'."
Segue-se o domingo (oitavo antes da Páscoa), no qual se recordam os eventos escatológicos conexos à segunda vinda do Senhor (cf. Mt 24, 31-46), chamado também de Domingo de Carnaval, porque é o último dia em que é permitido comer carne. O domingo que se lhe segue (sétimo antes da Páscoa, que antes os latinos chamavam de Qüinquagésima) termina também o uso dos laticínios até a Páscoa. Estas normas severas vigoram ainda hoje para todos os fiéis, embora o princípio da "economia" permita adaptações misericordiosas para os diversos casos. O anunciado Sínodo das Igrejas ortodoxas tratará também sobre as normas dos jejuns.
No Evangelho se lê o trecho de Mateus 6,14-21 e as palavras do kontákion assim se expressam:
Kontákion (6º tom).
"Mestre de sabedoria e guia do intelecto, pedagogo dos ignorantes e protetor dos pobres, fortifica e instrui meu coração. ó Verbo do Pai, infunde em mim a tua palavra e eu não impedirei que meus lábios te supliquem dizendo: Misericordioso, tem piedade de mim que miseravelmente caí!"
Com a segunda-feira começa a Quaresma propriamente dita (dois dias antes da "quarta-feira de Cinzas" dos latinos) e a semana termina com o domingo da Ortodoxia ou dos Santos Ícones.
Estas normas severas vigoram ainda hoje para todos os fiéis, embora o princípio da "economia" permita adaptações misericordiosas para os diversos casos. O anunciado Sínodo das Igrejas ortodoxas tratará também sobre as normas dos jejuns.
Era de fato o 1º domingo da Quaresma quando, após o Concílio de 843, começou-se a celebrar a festa que marcou o fim das lutas iconoclastas. A oração mais repetida na ocasião é a seguinte:
Tropário (2° tom).
"Adoramos a tua sagrada imagem, ó Bom, implorando o perdão de nossas faltas, ó Cristo Deus, pois aceitaste espontaneamente subir à cruz, a fim de salvar as tuas criaturas da escravidão do inimigo. Por isso te agradecemos, exclamando: encheste tudo de alegria, ó nosso Salvador, vindo salvar o mundo."
O tropário citado recita-se diante do ícone do Cristo, a qualquer dia do ano; o kontákion do dia, de cunho mariano, faz alusão mais diretamente à doutrina reafirmada pelo Concílio:
Kontákion (8º tom).
"O Verbo incomensurável do Pai tornou-se limitado ao se encarnar em ti, Mãe de Deus; reconduziu ao primevo estado a nossa imagem (ícone) deturpada pelo pecado, elevando-a à divina beleza. Reconhecendo com isso a nossa salvação, procuramos realizá-la com a palavra e a ação."
O segundo domingo da Quaresma comemora São Gregório Pálamas, um santo muito amado no Oriente bizantino e talvez mal compreendido pelos católicos, ao ponto de a sua festa não ser celebrada nas igrejas greco-católicas. Recentemente, porém, tal festa foi retomada e assumida pelos católicos. Também nas edições litúrgicas mais recentes da Congregação para as Igrejas orientais foi introduzido o "próprio" como está nos livros ortodoxos.
No centro da Quaresma coloca-se
o domingo da Adoração da Santa Cruz.
Como já foi dito, a festa bizantina principal em honra da Cruz do Senhor é a que ocorre no dia 14 de setembro, mas o terceiro domingo da Quaresma é caracterizado pela Adoração da gloriosa e vivificante Cruz. Ela fica exposta à veneração dos fiéis, no meio da Igreja, sobre uma estante enfeitada. Muitos textos litúrgicos, já cantados e lidos na festa mencionada, são repetidos nesse terceiro domingo, como também se repetem textos próprios das quartas e sextas-feiras. Outras composições, porém, são próprias do dia, e têm referências explícitas ao período quaresmal. Alguns exemplos:
"Salve, Cruz vivificante, paraíso da Igreja, árvore de incorrupção que buscas a alegria de uma glória eterna. Por teu meio, legiões de demônios são repelidas; os anjos se alegram e os fiéis se unem festivos. Arma invencível, baluarte inexpugnável, vitória dos reis, ufania dos sacerdotes, permite-nos contemplar os sofrimentos de Cristo e a sua ressurreição."
"Senhor, que sobre a Cruz estendeste voluntariamente os braços, concede-nos a compunção do coração para adorá-la, e permite que sejamos iluminados pelo jejum e a oração, a temperança e as boas ações, porque tu és bom e amigo dos homens."
"Senhor, na magnificência do teu amor, apaga a multidão dos meus pecados e faz com que, nessa nova semana de jejum, possa enxergar e adorar a tua Cruz com a alma purificada, ó Amigo dos homens."
Do Cânon de São Teodoro Estudita († 826), deste terceiro domingo da Quaresma, respigamos alguns breves hinos:
"Vinde, fiéis, dessedentemo-nos não na nascente da água que corrompe, mas na fonte da luz, adorando a Cruz de Cristo, na qual nos glorificamos."
"A tua Cruz, Senhor, é santificada; nela encontram cura os que definham no pecado e por ela nós te suplicamos: tem piedade de nós."
"Tu, que transformaste um instrumento de morte em um meio de vida para o universo, santifica os adoradores da tua Cruz digna de toda honra, ó único Deus dos nossos pais, bendito e exaltado."
"Salve, divina Cruz, três vezes bendita, luz para os que estão nas trevas. Tu iluminas os quatro pontos do universo preanunciando a luz de Cristo ressuscitado; faz com que todos os fiéis sejam dignos de chegar à Páscoa."
No quarto domingo da Quaresma, dito de São João Clímaco em honra do grande monge († 649), autor da Escada (no grego: Climax) das virtudes, obra lida nos mosteiros habitualmente durante a Quaresma, segue-se uma semana que tem duas celebrações especiais: na quinta-feira faz-se a leitura - agora quase somente nos mosteiros do Grande Cânon de penitência de Santo André de Creta, e no sábado se celebra o Hino Akáthistos da Santíssinia Mãe de Deus, muito amado pelo povo que acorre numeroso para as Igrejas a fim de participar dessa festa mariana.
O quinto domingo da Quaresma, dedicado à memória da grande santa penitente Maria Egipcíaca († 431), precede os últimos dias do período quadragesimal.
Dois dias festivos nos introduzem na Semana da Paixão, imediatamente antes da Páscoa, chamada também Santa e grande semana. O Domingo de Ramos, do qual já falamos no capítulo das Doze grandes festas e o dia anterior, dito Sábado de Lázaro. É uma comemoração, prelúdio da ressurreição de Cristo, baseada no Evangelho de João 11,1-45. Duas festas antigas, no Oriente bizantino, ainda hoje zelosamente conservadas e muito queridas da piedade popular.
Os textos próprios completos foram publicados em italiano, por isso nos limitaremos a apresentar os mais repetidos, do Sábado de Lázaro:
Tropário (1º tom).
Antes da Paixão, querendo fundar a nossa fé na comum ressurreição, ressuscitaste Lázaro dentre os mortos, ó Cristo Deus. Por isso, como as crianças de outrora, levando os símbolos da vitória, vencedor da morte, a ti cantamos: "Hosana no mais alto dos céus! Bendito o que vem em nome do Senhor!"
Kontákion (2º tom).
"Ó Cristo, alegria de todos, verdade, luz, vida do mundo e nossa ressurreição, na tua bondade te manifestaste aos que estão na Terra, tornando-te modelo da ressurreição e concedendo a todos o perdão divino."
Primeiros três dias da semana santa.
Eles têm em comum um tropário, conhecido de cor por muitos fiéis, e que é cantado três vezes com uma linda melodia no ofício do Órthros (Matinas), comumente antecipado à tardinha do dia anterior. A celebração recebe o nome de "Ofício do Nynfíos" (em grego = "Esposo") das palavras do tropário:
Tropário (8º tom).
"Eis que vem o Esposo no meio da noite. Feliz o servo que ele encontrar acordado; infeliz, porém, do que ele encontrar dormindo! Vê, portanto, ó minha alma, não te deixes vencer pelo sono, a fim de que não sejas entregue à morte e fiques fora das portas do reino. Mas, vigilante, grita: Santo, Santo, Santo és tu, ó Deus! Pela intercessão da Mãe de Deus, tem piedade de nós!"
Nessa ocasião, é costume expor à veneração dos fiéis, no meio da Igreja, o ícone chamado "O Esposo" em que o Cristo, com os olhos fechados, de pé num ataúde, diante da cruz se mostra paciente e ao mesmo tempo Rei da glória, como costuma estar escrito no letreiro.
A vigilância do cristão, tendo sempre em mente a volta do seu Senhor e sobre a qual se insiste durante a Grande Semana, é uma atitude fundamental para ele. O tropário do Esposo, logo acima apresentado, é repetido a cada dia do ano no Ofício da meia-noite (no grego = Mesonyktikóm).
Existe outro texto litúrgico muito importante, comum aos três primeiros dias da semana santa, que retoma o tema do Esposo: é o exapostilárion, também cantado três vezes:
"Vejo o teu tálamo nupcial ornado, ó meu Salvador, e não tenho a veste (digna) para entrar nele. Ilumina a veste da minha alma, que doas a luz, e salva-me!"
"É uma alusão à veste de inocência e de glória perdida por Adão e que o batismo no-la dá de novo, mas que com freqüência perdemos com o pecado. Então será preciso recorrer à misericórdia divina, à purificação do "sangue do Cordeiro."
O tema comum das núpcias de Deus com a humanidade, com cada alma, junta-se cada dia a temas particulares indicados nos trechos bíblicos lidos e retomados pela hinografia litúrgica.
Na segunda-feira santa, conforme indicado no Triódion, se faz memória do patriarca José e da figueira amaldiçoada por Jesus e que ficou seca. O primeiro, um justo vendido pelos irmãos e em seguida exaltado, é a figuração de Jesus, enquanto que o episódio da figueira estéril, lido nas Matinas (Mt 21,18-43), nos estimula a produzir frutos espirituais. Durante a liturgia dos Pré-santificados é proclamado um evangelho (Mt 24,3-35) que caracteriza os primeiros três dias da semana santa.
Na terça-feira santa se põe em destaque a parábola das dez virgens, incluída na perícope evangélica proclamada na liturgia dos Pré-santificados (Mt: 24, 36-26,2). É um novo apelo de alerta à chegada do Esposo, a reavivar a fé e a caridade. Um texto litúrgico das Laudes assim nos faz rezar:
"Tu, que entre todos os homens és o Esposo mais belo e nos convidaste ao convívio espiritual das tuas núpcias, despe-me da veste miserável das minhas culpas, para que possa participar nos teus sofrimentos e, ornando-me com a veste de glória da tua beleza, torna-me digno comensal do teu Reino, ó Misericordioso!"
Na quarta-feíra santa se comemora a unção de Betânia: na liturgia dos Pré-santificados se lê (Mt: 26,6-16), com o episódio da mulher que derramou ungüento precioso sobre a pessoa de Jesus, para nós exemplo de amor e de arrependimento. Mas os hinos litúrgicos têm referências constantes também aos demais evangelhos, com cenas similares. O kontákion, repetido a cada Hora menor, faz uma aplicação pessoal do tema central:
Kontákion (4º tom).
"Pequei mais que a meretriz, ó Deus Bom, mas não te ofereci torrentes de lágrimas. Prostro-me, agora, diante de ti, adorando-te em silêncio, e beijando com amor teus pés imaculados, para que tu, ó Senhor, perdoe minhas culpas, a mim que clamo: O Salvador, tira-me da lama de minhas ações!"
Respigando algumas expressões das Laudes notamos o contraste entre a cortesã que, conforme diz o Sinaxário, "derramando o perfume sobre o corpo de Cristo antecipa a unção de Nicodemos," e a figura de Judas que contemporaneamente "faz acordos com os iníquos" e "sai para vender aquele que não tem preço." Outro texto litúrgico da quarta-feira santa, digno de ser assinalado, é de autoria da monja Cassiani (ou Cássia) que viveu em Constantinopla no século IX:
"A mulher caída em muitos pecados sente a tua divindade, ó Senhor, e assumindo o papel de mirrófora te oferece antes da sepultura o myron com as lágrimas..."
Como em qualquer oficio ou celebração bizantina, aparecem diversas orações marianas e, enquanto se pensa na vinda do Esposo, significativamente o Cânon de André de Creta nas Completas (em grego: Apódipnon) da quartafeira santa termina invocando a Mãe de Deus assim:
"Somente tu te revelaste Tálamo celeste e Esposa sempre virgem..."
Nas Laudes da segunda-feira santa um texto sintetiza os sentimentos desses dias sagrados:
"O Senhor, indo ao encontro de sua paixão voluntária, dizia no caminho aos Apóstolos: 'subamos a Jerusalém e o Filho do homem será entregue como está escrito.' Eia, pois, também nós subamos com ele, com as mentes purificadas. Deixemo-nos crucificar e morrer por ele aos prazeres da vida, para com ele viver e ouvir da sua boca: Não vou mais à Jerusalém terrestre para padecer, mas vou ao meu Pai e ao vosso Pai e comigo vos levarei à Jerusalém celeste, no Reino dos céus."
Tríduo conclusivo da semana santa.
O escritor ortodoxo russo, V. llyne, num de seus livros escreveu que o conjunto dos ofícios dos últimos três dias da Grande semana são a "resposta de amor da Igreja Esposa ao amor sacrifical e redentor do Cristo seu Esposo, a recepção solene da cruz, do evangelho, do cálice eucarístico e da glória da ressurreição que ilumina."
São inúmeros e extensos os temas tratados pelo "próprio" litúrgico desses dias e não é fácil resumi-los. Limitar-nos-emos acenando a alguns textos seguindo os ofícios dia por dia.
O Sinaxário, na Quinta-feira santa, diz:
"Hoje celebramos o santo Lava-pés, a Ceia mística, a sublime oração e a traição."
O tropário principal, cantado três vezes nas Matinas, sublinha os dois primeiros temas:
"Enquanto os gloriosos discípulos eram iluminados, na hora do lava-pés da Ceia, o pérfido Judas mergulhava nas trevas da sua avareza e tramava entregar a ti, o juiz justo, nas mãos de juízes iníquos. Olhe só este homem, que por amor do dinheiro acaba se enforcando! Foge (ó fiel) do cobiçoso, que tanto ousou contra o Mestre! Senhor, que és bom com todos, glória a ti!"
Observem a expressão "os discípulos iluminados no Lava-pés;" lembrando que o Batismo no Oriente é chamado o sacramento da "Iluminação," há quem afirme que na hora em que Cristo lavou os pés a seus apóstolos, estes receberam o sacramento do batismo antes da ceia eucarística.
A divina liturgia (missa) é celebrada conforme o formulário de São Basílio, usado somente dez vezes durante o ano. Ele é mais extenso que o formulário de São João Crisóstomo, usado habitualmente. O evangelho que se proclama é composto de uma série de trechos extraídos dos vários evangelistas, sendo a perícope mais longa do ano e compreende a narração completa da última Ceia, a traição de Judas e a prisão noturna de Jesus, que estava em oração no jardim das Oliveiras. O hino dos Querubins e a antífona da comunhão são substituídas por um canto cujo texto é usado quotidianamente como oração preparatória à comunhão. Eis as palavras:
"Ó Filho de Deus, recebe-me neste dia na tua mística ceia: eu não desvendarei os mistérios aos teus inimigos; nem te darei um beijo como Judas, mas como o ladrão arrependido, eu te peço: lembra-te de mim, Senhor, quando entrares no teu Reino."
Essa última frase é muito conhecida dos fiéis orientais, usada outrossim como versículo responsorial durante a recitação das Bem-aventuranças evangélicas. Como também "Divinos mistérios" usa-se freqüentemente como sinônimo da eucaristia.
A cerimônia do lava-pés, que se faz logo em seguida, é reservada somente às igrejas catedrais onde o bispo lava os pés de doze sacerdotes; e nas sedes mais importantes, a cada três ou quatro anos durante a Liturgia se faz a santificação do sagrado crisma (myron).
Na noite da quinta-feira santa, antecipa-se o ofício das Matinas da sexta-feíra santa, isto é, o Ofício dos Doze Evangelhos da Paixão, com grande participação dos fiéis que escutam a leitura segurando na mão uma vela acesa. O Evangeliário é levado solenemente no meio da igreja, instalado numa estante especial e incensado; e daquele lugar é feita a leitura. Depois de cada evangelho os fiéis cantam:
"Glória à tua compaixão (os eslavos cantam: 'à tua grande paciência'), Senhor!"
Lindos os textos litúrgicos que se intercalam, entre outros apresentamos o que se canta após o quinto evangelho:
"Hoje foi suspenso no madeiro aquele que suspendeu a terra sobre as águas. Com uma coroa de espinhos foi coroado o Rei dos Anjos. Foi envolvido numa púrpura mendaz aquele que envolve o céu em nuvens. Foi esbofeteado aquele que salvou Adão no Jordão. Foi perfurado por cravos o Esposo da Igreja. Foi transpassado pela lança o Filho da Virgem. Adoramos a tua paixão, ó Cristo; oh!, mostra-nos também a tua ressurreição!"
Na Grande sexta-feira não se celebra nem a liturgia eucarística nem a dos Pré-santificados. As Horas de prima, terça, sexta e nona tornam-se Horas régias; cada uma delas se compõe de três salmos completos, três leituras bíblicas e outros hinos litúrgicos. O kontákion repetido a todas as Horas tem um caráter mariano:
Kontákion:
"Vinde todos celebrar quem por nós foi crucificado! Ao vê-lo no madeiro Maria dizia: Embora carregues a cruz, tu és o meu Filho e o meu Deus."
Às Vésperas, em que se fazem três leituras veterotestamentárias e a leitura do evangelho (composição de trechos tirados de Mateus, Lucas e João), segue-se o rito da Sepultura. O celebrante incensa três vezes cada lado do santo Epitáphion, retângulo de pano que leva pintada e bordada a figura do Cristo Morto, chegando às vezes ao tamanho natural. O Epitáphion, após colocado sobre o altar, é depositado sobre uma mesa (ou túmulo) adrede, preparada no centro da igreja, e onde permanecerá até o início da vigília pascal. O povo vai numeroso venerar o Cristo Morto, colocando flores em profusão e beijando o livro dos evangelhos e as chagas de Cristo, enquanto o rosto dele está coberto por um véu. Cantam-se dois tropários: o primeiro lembra a deposição feita pelo "nobre José" do "corpo imaculado" de Jesus no "sepulcro novo," enquanto que o segundo é já um prenúncio da ressurreição.
Chega o grande e santo Sábado no qual - citando o que diz o livro litúrgico, - "se celebra o sepultamento do corpo divino e a descida ao reino dos mortos do Senhor, Deus e Salvador nosso Jesus Cristo." A parte mais característica das celebrações é o ofício das Matinas (= órthros) com os célebres Enkómia, tão queridos pela piedade popular ortodoxa. Em geral tal ofício é antecipado para a noite da sexta-feira santa. É típico das culturas mediterrâneas, ao velar o morto, tecer o elogio, a lamentação e a exaltação do falecido. Junto ao sepulcro do Cristo, representado no Epítáphion, a liturgia sugere elogios e lamentações, intercaladas a versículos do salmo 118 e a outros textos de grande profundeza espiritual e beleza artística, entre os quais numerosos são os de cunho mariano. Além dos dois tropários já cantados no fim das Vésperas, acrescenta-se o seguinte:
"Quando desceste à morte, ó Vida imortal, então o hades foi morto pelo fulgor da tua divindade; quando fizeste ressurgir os mortos das profundezas dos abismos, as potências celestes cantavam: ó Cristo nosso Deus, doador da vida, glória a ti!"
Os temas que mais ocorrem nas celebrações litúrgicas do sábado santo são a morte e a espera, o pranto e o louvor ao Doador da vida. Unida ao ofício das Vésperas, que contém cerca de 15 leituras bíblicas (desde Gênesis, Êxodo, Josué, Isaías, Sofonias, Jeremias, Daniel). está a liturgia eucarística de São Basílio. É uma liturgia batismal; de fato, em lugar do Triságio, antes da epístola, se canta por três vezes um versículo de São Paulo aos Gálatas (3:27): "Vós todos, que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Aleluia!"
Não é raro encontrar, nas composições litúrgicas do Oriente, textos que exprimem em forma de diálogo os sentimentos dos protagonistas. Eis um exemplo de como o mesmo Jesus se exprime:
"Não chores por mim, ó Mãe, ao ver no túmulo o Filho que sem sêmen concebeste em teu seio. Ressurgirei, de fato, e serei glorificado e, sendo Deus, elevarei à glória sem cessar os que te exaltam com fé e amor."

Do domingo depois da Páscoa
ao domingo depois de Pentecostes
A semana que se segue ao domingo da Páscoa celebra-se como um único dia festivo: nas igrejas, as portas da iconóstase permanecem abertas até ao sábado. Os Ofícios, também os das Horas, são todos cantados e repetem textos do dia da Páscoa, salvo algum breve texto próprio. Nessa semana é suprimido todo jejum, inclusive os da quarta e sexta-feira. No meio grego esses dias pascais são chamados de "Semana da renovação;" já em ambiente eslavo recebem o nome de "Semana luminosa." No período que vai da Páscoa ao domingo depois do Pentecostes se usa o livro litúrgico chamado Pentekostárion, que dá também o nome ao correspondente tempo litúrgico.
Ao fornecermos algumas informações sobre o desenvolvimento desse período, nós nos deteremos sobre algumas celebrações particulares.
O domingo depois da Páscoa é chamado, tanto no Oriente como no Ocidente, de segundo domingo da Páscoa, e também de Domingo de São Tomé, devido à perícope evangélica que se lê na liturgia eucarística (Jo 20:19-31). Faz-se também a leitura continuada dos Atos dos Apóstolos. Eis o tropário principal:
Tropário (7º tom).
"Ainda que o sepulcro estivesse selado, saíste do túmulo, ó Cristo Deus, nossa vida. Mesmo com as portas fechadas, tu te apresentaste a teus discípulos, ó ressurreição de todos, renovando em nós, por meio deles, um Espírito de retidão, segundo a tua grande misericórdia."
Outros textos próprios que se referem explicitamente ao Apóstolo repisam a idéia de que "a incredulidade de Torné confirma a ressurreição salvadora do Verbo de Deus feito homem."
No domingo seguinte (terceiro da Páscoa) as Igrejas de tradição constantinopolitana celebram o Domíngo das mirróforas, típica festa bizantina sobre a qual vale a pena se deter.
Domingo das mirróforas
A liturgia bizantina põe em destaque, sem que haja algo correspondente no Ocidente, a atuação das mulheres fiéis ao Senhor que, ao amanhecer do dia da Páscoa, foram ao sepulcro levando aromas preciosos para completar o ritual do sepultamento. Foi primeiramente a elas que os anjos anunciaram a ressurreição, incumbindo-as de levar a boa notícia aos apóstolos, tornando-se assim, como diz a liturgia, "as apóstolas dos apóstolos." Os quatro evangelistas falam delas e nesse domingo se lêem trechos de Marcos e de Lucas.
Eis o texto do tropário principal, cuja primeira parte já foi cantada no Sábado santo.
Tropário (2º tom).
"Às piedosas mirróforas junto ao túmulo o anjo disse: Os aromas convêm aos mortos! Cristo, porém, é incorruptível. Cantai antes: O Senhor ressuscitou, dando ao mundo a grande misericórdia."
Os dois motivos da cuidadosa unção sepulcral e do alegre anúncio da ressurreição reaparecem em muitos textos litúrgicos próprios desse domingo; estes, como sempre, aludem a dados escriturísticos e ao mesmo tempo transformam em oração os sentimentos das protagonistas e dos fiéis que as comemoram.
Às mirróforas, nesse dia, se associam outros dois personagens que testemunharam corajosamente o Crucificado: Nicodemos, o noturno interlocutor de Jesus, aquele que tinha pedido seu corpo a Pilatos; o "nobre José (de Arimatéia) que, depois de ter descido da cruz o corpo imaculado, envolveu-o num branco sudário e o pôs num sepulcro novo."
já nas Vésperas do sábado encontramos este texto:
"Ao amanhecer as mirróforas, tomando consigo os aromas, foram ao sepulcro do Senhor e notando coisas que não esperavam, pasmas ao ver a pedra removida, diziam uma à outra: Onde estão os lacres do túmulo? Onde estão os guardas que Pilatos enviou por precaução? Mas seus temores cessaram ao ver o anjo resplandecente dirigir-se a elas dizendo: Por que buscais em pranto Aquele que está vivo e vivifica o gênero humano? Cristo, nosso Deus onipotente, ressurgiu dos mortos e doa a todos nós a vida imortal, a iluminação e a grande misericórdia."
Várias vezes a liturgia lembra o desvelo solícito das mulheres saídas de casa às primeiras luzes do dia; sua generosidade em comprar os ungüentos e os melhores perfumes e a sua delicadeza em não ficar satisfeitas com o sepultamento apressado feito na tarde anterior. Um amor destemido era o delas, pelo qual não se renderam à idéia da pedra pesada, impossível de ser removida por elas, nem com as hostilidades de muitos judeus, dos quais haviam já ouvido os gritos blasfemos; amavam Jesus, que tinham servido em suas andanças apostólicas, permaneciam fiéis ao Mestre quando outros o haviam traído e lembravam-lhe a bondade, a misericórdia, a amizade demonstrada em muitas ocasiões.
Quando o anjo lhes anunciou a ressurreição de Cristo, não hesitaram e, como diz o texto litúrgico, "correram para os apóstolos, mensageiras de alegria." O testemunho delas, como era de se prever, não foi plenamente aceito pelos Onze, mas foi a ocasião de Pedro correr logo ao sepulcro para ver. Os dados dos quatro evangelistas estão fundidos na rerevocação feita pela liturgia, que lembra também as aparições de Cristo às mulheres e o convite a se dirigir para a Galiléia, onde tinham ocorrido os primeiros felizes encontros com Jesus.
"As santas mulheres derramaram óleos perfumados e lágrimas no teu sepulcro, e sua boca encheu-se de júbilo ao proclamar: o Senhor ressuscitou."
É assim que nas Laudes se resumem os sentimentos e os gestos das mirróforas, em honra das quais foi composto um cânon inteiro que será cantado nas Matinas dos seis dias sucessivos e todo domingo até o dia da Ascensão (cantado após o cânon pascal). Mas a memória das mirróforas poderia dizer-se que é permanente na liturgia bizantina. Cada domingo se cantam hinos em que se repete o convite que o anjo lhes fez: "Não choreis, mas anunciai aos apóstolos a ressurreição," ou então a pergunta: "Por que buscais entre os mortos aquele que vive?" Entre os tropáríos da ressurreição, nos oito tons da música bizantina repetidos num ciclo contínuo o ano todo, existem referências explícitas às mirróforas. Eis alguns exemplos:
Tropário do domingo (4º tom).
"As santas mulheres, discípulas do Senhor, receberam do anjo o alegre anúncio da ressurreição. Repelindo as argúcias dos outros judeus, disseram, cheias de altivez, aos apóstolos: A morte foi vencida; Cristo ressuscitou, irradiando sobre o mundo a sua grande misericórdia!"
Tropário do domingo (7º tom).
"Por tua cruz destruíste a morte. Ao ladrão abriste o paraíso e mudaste em regozijo as lágrimas das mirróforas. Ordenaste aos apóstolos, ó Cristo Deus, que anunciassem a tua ressurreição, derramando sobre o mundo a tua grande misericórdia."
Os nomes das mirróforas, que foram ao sepulcro de Jesus levando o myron (aromas perfumados), são lembrados pelos evangelistas de diversas maneiras. O Sinaxário, no texto explicativo das Matinas deste domingo, embora faça alusão a muitas mulheres, apresenta uma lista nominal de sete pessoas entre as quais estão Maria Madalena, Salomé, Joana, Marta e Maria, irmãs de Lázaro.
O Sinaxário e a nossa prece assim concluem: "Pelas orações das santas mirróforas, ó Deus, tem piedade de nós!"
O quarto domingo da Páscoa é chamado domingo do paralítico, por causa do evangelho proclamado nesse dia, como também o domingo seguinte é chamado de domingo da samarítana. Em cada um desses domingos repetem-se os hinos da Páscoa, mas eles possuem também um kontákion próprio que apresentamos em seguida.
Kontákion do domingo do paralítico (3º tom).
"Com teu divino poder, Senhor, ergue a minha alma gravemente paralisada e mergulhada em toda sorte de pecados e de desregramentos, como outrora reergueste o paralítico, para que eu, salvo, possa clamar a ti: Cristo misericordioso, glória ao teu poder."
Kontákion do domingo da samaritana (8º tom).
"Tendo ido com fé até o poço, a samaritana contemplou a ti, água da sabedoria. Dessedentada por ti com abundância, obteve o reino do céu por toda a eternidade, e sua memória é gloriosa."
Entre esses dois domingos, na quarta-feira em que cai o 25º dia depois da Páscoa, celebra-se uma festa tipicamente bizantina. Detenhamo-nos um pouco sobre ela.
A festa do meio-Pentecostes.
No evangelho da liturgia eucarística se lê a perícope de João 7,14-30, e algumas das palavras proferidas por Jesus nesse capítulo reaparecem no texto do tropárío e kontákion da festa, que serão repetidos quotidianamente durante oito dias consecutivos.
Tropário (8º tom).
"Na metade da festa pascal, dessedenta, ó Salvador, com as águas da piedade a minha alma sedenta, pois tu mesmo disseste a todos: Se alguém tem sede venha a mim e beba! Tu és a fonte da vida, ó Cristo Deus, glória a ti!"
Kontákion (4º tom).
"Criador e Senhor de todas as coisas, Cristo Deus, na metade da festa legal disseste aos que te cercavam: Vinde a mim, bebei a água da imortalidade. Por isso nós nos prostramos diante de ti e clamamos com fé: Concede-nos a tua misericórdia, pois tu és a fonte da nossa vida."
Os textos litúrgicos, nesse dia, são abundantes em referências ao tempo pascal. Já nas Vésperas o primeiro texto confirma essa realidade evidenciando que nos encontramos na metade, entre a Ressurreição do Salvador e o Pentecostes, "como que uma conjunção entre as duas festas, dia que se ilumina do seu dúplice esplendor e que precede a Ascensão do Senhor." Nas três leituras bíblicas vespertinas se lêem trechos do profeta Miquéias, dos Provérbios e todo o capítulo 55 de Isaías que começa pelas palavras: "ó todos que estais com sede, vinde às águas, mesmo aquele que não tem dinheiro, venha!" e repete os convites: "procurai o Senhor," "retornai a Deus... que é pródigo em perdoar."
Como variações musicais que retomam, ampliam, enfeitam um tema básico, nos textos litúrgicos vêm, reapresentados em novas formas, argumentos já tratados.
"No meio do templo e da festa exclamaste: 'Quem tem sede, venha a mim e beba, porque bebendo da fonte divina fará jorrar do seu íntimo os rios do meu ensinamento; comigo será glorificado quem me reconhecer como o enviado do Pai divino'. Por isso também nós a ti clamamos: 'Glória a ti, Cristo nosso Deus, que fizeste correr sobre os teus servos jorros abundantes do teu amor para com os homens."
"Fazendo jorrar para o mundo a fonte da salvação e da vida, convidas os homens a se dessedentar nas águas da salvação, pois aquele que recebe a tua divina Lei apaga em si mesmo as brasas do erro, não mais terá sede para a eternidade e não carecerá mais dos teus bens, Senhor e Rei celestial. Por isso glorificamos o teu poder, ó Cristo nosso Deus, e te pedimos que apagues as nossas culpas e que does com fartura aos teus servos a graça da salvação."
"Tu és o princípio e o fim, e de cada coisa és também o meio, ó Cristo, que no templo te mostraste derramando sobre mim o perdão dos meus pecados."
O sexto domingo depois da Páscoa toma o nome do episódio do cego de nascença, cuja leitura é feita no evangelho da divina liturgia. O kontákion do dia faz referência explícita ao episódio:
Kontákion (4º tom).
"Privado dos olhos da alma, recorro a ti, ó Cristo, como o cego de nascença e com arrependimento a ti clamo: 'És tu a luz resplandecente para aqueles que estão nas trevas.´"
Dois dias depois, na quarta-feira, celebra-se a Conclusão da festa da Páscoa, cujos textos litúrgicos são tomados quase por inteiro do dia da Páscoa, mas juntamente já se preanuncia a Ascensão do Senhor, solenemente celebrada no dia seguinte, quinta-feira. A subida de Jesus ao céu faz parte das Doze grandes festas do ano.
O domingo sucessivo também é uma festividade típica do Oriente bizantino; celebra-se o
Domingo dos 318 Padres
do I Concílio Ecumênico de Nicéia
Os cristãos orientais conservam viva a memória do solene evento realizado no ano 325 em Nicéia, em que foram condenados os erros de Ario. O fato de celebrar este acontecimento na proximidade da festa da Ascensão é um incentivo a reavivar a nossa fé no Verbo de Deus, verdadeiro homem, e que voltou para o Pai celestial.
É sabido que, entre os Padres dos Sete Concílios ecumênicos do primeiro milênio, o grupo dos bispos orientais formavam a maioria, mas não é tanto a eles que são elevados hinos de louvor; mais se insiste sobre a importância da Igreja, liberta dos erros, e se agradece com gratidão a Deus por tal acontecimento, como é claramente expresso no tropárío principal, que é comum também às outras duas comemorações dos Padres dos Concílios. Remetemos à apresentação detalhada da comemoração de outubro em que será dado também o texto do tropário que começa com as palavras: "Infinitamente glorioso és tu, ó Cristo nosso Deus..." Ao Evangelho se lê a Oração sacerdotal de Jesus (Jo 17:1-13). É uma súplica já bastante repetida entre os ecumenistas e que nos faz pensar nas muitas Igrejas agora separadas entre si, mas que têm em comum a fé professada no Concílio de Nicéia, doutrina fundamental e essencial para todos os cristãos.
Na sexta-feira se conclui o pós-festa da Ascensão e no sábado, vigília de Pentecostes, celebra-se a
Comemoração de todos os fiéis defuntos.
É espontâneo pensar na celebração romana do Dia de finados do 2 de novembro. A ela correspondem, na liturgia bizantina, dois dias de Finados: no sábado antes do domingo de Carnaval na Quaresma e no sábado que precede o domingo de Pentecostes. Diversas orações são iguais nas duas celebrações, entre as quais o tropário principal:
Tropário dos defuntos (8º tom).
"ó único Criador que em tua profunda sabedoria e por amor dos homens governas o universo e atribuis a cada criatura o que lhe convém, concede, Senhor, o descanso às almas dos teus servos, pois em ti puseram a sua esperança, ó nosso Autor, Criador e nosso Deus."
Encontramos o correspondente tropário mariano também em outras oportunidades:
Theotókion
"ó Mãe de Deus ilibada, tu és a salvação dos fiéis: em ti vemos o nosso baluarte e porto de salvação: intercede com benevolência junto ao Deus que geraste."
O kontákion dos defuntos mais repetido durante o ano todo e especialmente aos sábados, dia dedicado a todos os santos e a todos os falecidos, assim reza:
Kontákion (8º tom).
"Concede, ó Cristo, às almas de teus servos o descanso com os santos, lá onde não existe nem dor, nem tristeza, nem gemido, mas vida sem fim."
Nas duas comemorações bizantinas de todos os defuntos repete-se a seguinte oração:
"Somente tu, ó Senhor, és imortal, autor e criador do gênero humano; nós, mortais, plasmados com a terra, para a terra voltaremos, como prescreveste dizendo: 'És pó e ao pó voltarás'. Transformemos as lamentações fúnebres em cantos de Aleluia."
O "Aleluia" é uma invocação que na liturgia do Ocidente caracteriza o tempo pascal, ao passo que no Oriente repete-se inúmeras vezes nos Ofícios para defuntos, nos tempos de jejum e penitência, sendo freqüentemente repetida três vezes tanto pelo sacerdote como pelo coro. Também é freqüente na liturgia bizantina a súplica a Deus para que perdoe as "culpas voluntárias e involuntárias." Um exemplo é o kontákion que se segue, rezado em todas as Horas no Sábado dos Defuntos antes de Pentecostes:
Kontákion
"Aos que já nos deixaram, Salvador imortal, transfere-os desta morada temporânea para os tabernáculos dos teus eleitos e faz com que descansem com os justos. Se enquanto homens eles pecaram nesta terra, tu, ó Senhor, que desconheces o pecado, perdoa-lhes as faltas voluntárias e involuntárias, pela intercessão da Theotókos que te gerou, para que com uma só voz possamos cantar para eles: Aleluia!"
Domingo do santo Pentecostes
Do domingo de Pentecostes já falamos, pois faz parte das Doze grandes festas - das quais três com data móvel, porque ligadas à Páscoa. Não é, porém, com essa data que termina o Pentikostárion, o livro litúrgico desse importante ciclo do ano. No fim dos dias de pós-festa, depois de uma semana especial e solene em que está abolido qualquer jejum penitencial, temos uma outra típica festa bizantina.
Domingo de Todos os Santos.
No 1º domingo depois de Pentecostes, a Igreja de tradição constantinopolitana conclui o tempo pascal exaltando "Todos os Santos," evidenciando assim que é o Espírito Santo o principal artífice da santidade humana.
Como a descida da terceira Pessoa da Santíssima Trindade sobre os apóstolos reunidos com Maria no cenáculo mostrou a renovação, a iluminação daquelas criaturas que se tornaram grandes santos, no Oriente pareceu oportuno celebrar, no domingo depois de Pentecostes, também todos os demais cooperadores da graça divina, santificados e aperfeiçoados na força do Espírito vivificante do Senhor. As principais orações repetidas na festa de Todos os Santos são as seguintes:
Tropário de Todos os Santos (4º tom).
"A tua Igreja revestiu-se, como de púrpura e bisso, do sangue dos mártires do mundo inteiro e por intermédio deles invoca Cristo Deus: tem piedade do teu povo; concede às tuas cidades a paz, e às nossas almas copiosa misericórdia."
Kontákion de Todos os Santos
"ó Senhor e Criador, quais primícias da natureza o universo te oferece os teóforos mártires. Pelas suas súplicas, ó Misericordioso, e pela intercessão da tua divina Mãe, governa e conserva em paz a tua Igreja."
Essas que citamos são orações bastante conhecidas, porque a primeira é retomada a cada dia na Hora das Completas e a segunda repete-se especialmente aos sábados, dia dedicado sempre a todos os santos e a todos os falecidos. Nota-se o destaque dado aos mártires, carcaterística de toda a cristandade do primeiro milênio, diversificada, mas ainda unida numa única Igreja indivisa. Resta-nos uma homilia de São João Crisóstomo, em honra de todos os santos, pronunciada justamente num 1º domingo depois de Pentecostes.
A palavra grega mártyr pode ser traduzida por "testemunha," e sem número são os "testemunhos" dados a Deus em grau eminente por aqueles que nós chamamos de santos. Também o Oriente bizantino conhece diversas categorias de santos, lembrados, por exemplo, neste tropário, também cantado aos sábados:
Tropário de Todos os Santos (2º tom).
"Apóstolos, mártires e profetas; pontífices, confessores e justos, e vós, santas mulheres, que levastes a bom termo o bom combate e conservastes a fé, pela benevolência que desfrutastes junto ao Senhor, rogai a ele por nós - vo-lo suplicamos, - para que, por sua bondade, salve as nossas almas."
A festa de Todos os Santos, tanto no Oriente como no Ocidente, foi instituída também para honrar os amigos de Deus, exemplares em sua vida cristã, que não obtiveram uma canonização oficial. Explica-nos o professor G. Fëdotov, ortodoxo estudioso dos santos russos:
"A Igreja sabe da existência de santos desconhecidos, cuja glória não é manifestada nesta terra. A Igreja nunca proibiu uma prece privada, um dirigir-se, na oração, aos justos que já se foram e que não são por ela exaltados. Nesta oração dos vivos pelos mortos e aos mortos, que pressupõe uma oração de resposta dos mortos para os vivos, exprime-se a unidade da Igreja celeste e terrena, aquela comunhão dos santos de que fala o Credo dito 'apostólico'. Os santos canonizados representam somente um círculo restrito, delimitado ao centro da Igreja celeste."
O teólogo Serghij Bulgakov, na sua apresentação da ortodoxia, confirma quanto foi acima citado:
"Na festa de Todos os Santos se faz memória em primeiro lugar de todos os santos no seu conjunto e, em segundo lugar, de todos os santos mesmo os não exaltados [com beatificação ou canonização]. A santidade alcançada significa antes de tudo a saída de uma condição de incerteza rumo à vitória, com a qual são liberadas forças para a ação, para o amor orante. Os santos podem nos ajudar através dessa força de espiritual liberdade no amor por eles alcançada. Ela lhes dá o poder de interceder junto de Deus na oração, e também no amor operante para com as pessoas. Deus concede aos santos, como também aos anjos, a capacidade de realizar a sua vontade na vida dos homens através de uma ajuda atuante, mesmo que habitualmente invisível. Eles são as mãos de Deus, com as quais Deus cumpre as suas obras... O saber que os santos rezam conosco e por nós ao Cristo nos impele a incluir nessa oração também o dirigir-se a eles para a sua súplica e ajuda: pela oração aos santos o nosso espírito se expande."
As partes próprias do domingo de Todos os Santos, juntamente com os temas dominicais da ressurreição de Cristo, apresentam uma ampla reflexão-oração expressa em dezenas de hinos ora de louvor, ora de súplica, que às vezes evocam juntas as várias categorias dos eleitos e às vezes se concentra sobre as benemerências particulares de cada grupo.
"Vinde, fiéis, exultemos de alegria, celebremos piedosamente neste dia a solenidade de todos os santos e veneremos a sua gloriosa memória dizendo: Salve, apóstolos, profetas e mártires, pontífices, justos, bem-aventurados e santas mulheres; orai ao Cristo pelo mundo inteiro para que lhe conceda a paz e às nossas almas a salvação."
Ao lado dessa evocação geral, damos exemplo da evocação de um grupo específico:
"Como aos antigos profetas, a vós foi concedido contemplar antecipadamente os bens futuros, objeto do vosso desejo; e pela nobreza do vosso coração vos purificastes com uma vida santa, ó Padres teóforos iluminados pela força do Espírito."
Nos textos afirma-se também que se celebra a memória de "todos aqueles cujo nome foi escrito no livro da vida," e não faltam referências à Mãe de Deus pela qual "os homens se tornaram concidadãos dos anjos" e que é celebrada "pelo coro de todos os santos."
Para concluir, eis o tropário com o qual começa o cânon de Todos os Santos que cada um poderá repetir como oração pessoal:
Tropário:
"Cantando a multidão dos teus santos, Senhor, pelas suas súplicas, peço-te que ilumines com a tua luz o meu espírito, pois tu és a inacessível luz que com o seu fulgor afasta as trevas do erro, ó Verbo de Deus, doador de luz."
Parte I-c

Madre Maria Donadeo.

 Októichos no
decorrer do ano
Do 2º domingo depois de Pentecostes até a retomada do Triódion para a preparação à Quaresma do ano seguinte, usa-se de preferência como livro litúrgico o Októichos, cujo nome poderíamos aportuguesar "Oitoecos." O termo deriva, de fato, do número "oito" e de échos que quer dizer "tom musical." Os tons musicais bizantinos são oito, e cada um é usado por uma semana. No fim das oito semanas se retoma o primeiro e assim por diante, num ciclo contínuo. No ambiente grego se distinguem quatro tons autênticos e quatro tons plagais [derivados, adjetivo usado no antigo gregoriano] e o nome Októichos é às vezes reservado ao livro que contém somente os Ofícios dominicais dos oito tons, enquanto o livro que contém também os Ofícios feriais dos oito tons é chamado Paraklitiki. Entre os eslavos o Oktoích compreende os Ofícios de cada dia e os tons musicais são contados de um a oito; quase sempre é formado por dois volumes, dada a quantidade dos textos.
Cada semana começa com as Vésperas do sábado à tarde que já fazem parte do domingo. Existem duas modalidades: "Pequenas vésperas" e "Grandes vésperas," a primeira, porém, é usada em poucos mosteiros. Para as Grandes vésperas são dados dez textos próprios dominicais (os três últimos são para a Mãe de Deus), mas em geral são inseridos apenas seis ou quatro entre os versículos dos salmos cantados no lucernário, porque se abre espaço também para o próprio do santo ou dos santos, celebrados naquele dia, contido no Minéon. Como conclusão, canta-se um hino mariano. Somente em coincidência com uma grande festa do Senhor é que se deixa de lado o Októichos, enquanto para as festas da Mãe de Deus ou dos santos se combinam, conforme as diretivas dadas pelo Typikón e pelo calendário eclesiástico, os textos de um ou de outro livro a ser usado nas celebrações. O celebrante, naturalmente, usará um terceiro livro em que se acham as orações sacerdotais (bênçãos iniciais, ektenias, doxologias conclusivas, etc.); os membros do coro seguirão as partituras de canto e os participantes, especialmente nos mosteiros, terão o Horológhion, isto é, Livro das Horas, que contém as partes comuns dos diversos Ofícios com o tropário principal (em grego apolytikion) e o kontákion para cada dia do ano.
A parte final das Vésperas dos domingos possui outros textos próprios para cada um dos tons, os Apósticha, que se concluem sempre com outro hino mariano.
É o mistério pascal de Cristo que é lembrado e exaltado em todos os textos dos oito domingos, em que admiravelmente se fundem conteúdo teológico e inspiração poética. Como exemplo eis alguns tropáríos dominicais finais.

Tropário do domingo do 1º tom:

"Ainda que os judeus tivessem selado a pedra, e os soldados estivessem guardando o teu corpo imaculado, contudo, ó Salvador, ressuscitaste ao terceiro dia dando a vida ao mundo. Por isso as potências celestes clamam a ti, fonte da vida: 'Glória à tua ressurreição, ó Cristo! Glória ao teu Reino! Glória à tua Providência, ó único amigo dos homens!"

Tropário do domingo do 3º tom:

"Alegrem-se os céus, exulte a terra, pois o Senhor operou com a força de seu braço! Vencendo a morte por sua morte tornou-se o Primogênito dentre os mortos. Arrancando-nos do reino dos mortos, concedeu ao mundo a sua grande misericórdia."

Tropário do domingo do 5º tom

"Cantemos e adoremos, ó fiéis, o Verbo coeterno do Pai e do Espírito, nascido da Virgem para a nossa salvação, pois ele quis subir à cruz e suportar a morte em sua carne para ressuscitar os mortos com sua gloriosa ressurreição."

No Októichos, além dos textos das Vésperas, encontram-se também partes próprias no Ofício da meia-noite e no Órthros ou Ofício das Matinas, que engloba em si também as Laudes. Se a oração litúrgica comunitária da meia-noite é normativa somente em alguns mosteiros, o Ofício das Vésperas e das Matinas permaneceram sempre em uso em muitas paróquias bizantinas, talvez um pouco abreviadas e com uma participação, não numerosa, mas representativa, de todo o povo de Deus nos dias de semana, e relevante nos domingos e festas.
Nos dias festivos toda a celebração se desenrola numa atmosfera de beleza e júbilo, e para os fiéis fica fácil intuir o valor catequético e mistagógico desses Oficios, cujos textos realçam as verdades fundamentais da nossa fé. 0 fato de cada seção hinódica semanal ser executada num dos oito tons da música eclesiástica bizantina, para depois ser retomada nos tons sucessivos, dá a oportunidade de fazer variantes e de aprofundar os temas tratados sob aspectos diversos. Nas igrejas do Oriente Bizantino não é permitido o uso de instrumentos musicais e o canto é executado de maneira que os textos sejam postos em evidência; às vezes são cantados os textos mais repetidos, limitando-se à leitura dos demais. Contudo permanece verdadeira a observação feita pelo teólogo ortodoxo C. Kern: "O coro da igreja é uma cátedra de teologia."
O domingo que se segue ao de Todos os Santos (2° depois do Pentecostes) é sempre do 1º tom e o ciclo hinográfico de 56 dias (isto é, oito tons ou semanas vezes os sete dias que vão do domingo ao sábado) se repete cinco ou seis vezes no ano, conforme as datas da Páscoa dos dois anos em que o ciclo se desenrola.
Encontramos orações próprias do Októicos também no tempo do Triódion e do Pentikostárion, especialmente aos domingos e em outras celebrações litúrgicas, isso vem comprovar sua importância e a antiguidade.
Desconhecem-se os autores, mas por antiga tradição os textos são atribuídos a São João Damasceno e sob esse nome foram publicados em diversas línguas. É uma opinião que não pode ser sustentada cientificamente, mas vem confirmar quantos séculos atrás começou a formação desse livro que agora chamamos Októichos. Nunca foi feita uma edição crítica do livro, por isso encontramos inúmeras variantes entre uma edição e outra, muito embora conservando uma correspondência fundamental dos livros litúrgicos usados nas igrejas e nos mosteiros. É digno de nota relevar que a primeira edição grega foi impressa em Veneza em 1521 e a primeira eslava em Cracóvia em 1492, duas cidades com maioria católico-romana. No Októichos, como já foi assinalado, encontramos referências sobre os temas específicos de cada dia da semana e os evidenciaremos apresentando algumas orações tomadas dos diversos tons. A segunda-feira é dedicada às legiões angélicas; o tropário mais repetido será apresentado alhures, mas os anjos são lembrados também desse jeito:

"Anjos resplandecentes de Deus, ao circundar o trono da graça divina recebei da sua luz humildade essencial e verdadeira iluminação; ó amigos dos homens, dos altos céus velai sobre nós, oprimidos na tempestade dos males e adormecidos em trevas. Vinde em nossa ajuda, ó Arcanjos, livrai-nos das insídias do inimigo, príncipe do mal: sob a vossa proteção nos refugiamos, ó gloriosos!" (Vésperas, 5º tom). "Engrandecidos pelos mais diversos dons, ó Arquistrategos que guiais as milícias angélicas, pela vossa proteção guardai com firmeza a Igreja de Cristo!" (Cânon matutino, 8º tom).

A terça-feira, na tradição bizantina, é dedicada ao Precursor São João Batista. Apresentamos uma oração do 6º tom dirigida a ele.

"Ao teu nascimento, Batizador de Cristo, livraste a tua mãe da esterilidade e o teu pai do mutismo: livra da esterilidade também o meu coração; extirpa logo toda aridez de minha alma, porque tu és a voz do Verbo que proclama a penitência; faz-me digno cumpridor dela, pois a preguiça me afasta de Deus."

Quarta e sexta-feira são os dias em que se comemora a paixão e a cruz do Senhor. O cânon matutino da quarta-feira do 1º tom começa assim:

"Erguido sobre a cruz, ó Cristo, levantaste o homem decaído e destruíste toda a força do inimigo; por isso eu canto a tua paixão, ó Verbo, que com o teu sofrer me libertaste das paixões."

E na Ode quarta:

"Elevado sobre a cruz atraíste os que estavam afastados de ti e, qual mediador que suportou, aqui na terra, paixão ignominiosa, nos reconciliaste com o Pai, ó muito paciente."

No 2º tom, à sexta-feira, nos deparamos com os seguintes hinos no início do Órthros:

"Cristo, operaste a salvação nesta terra, sobre a cruz estendeste teus braços puríssimos reunindo todas as gentes que aclamam: Senhor, glória a ti!"
"Com súplicas oferecemos a ti, Senhor, a vivificante cruz que a nós, indignos, deste na tua bondade: pelos rogos da Mãe de Deus, salva os governantes e todo o povo em paz, ó único Amigo dos homens."

Das Vésperas do 6º tom apresentamos duas orações dirigidas, como vem todas as quintas-feiras, aos Apóstolos (entendidos num sentido bastante lato) e a São Nicolau de Mira, (mais conhecido no Ocidente como de "Bari"):

"Nos nossos hinos divinos, glorificamos hoje o venerável coro dos doze Apóstolos, eleitos por Deus: Pedro, Paulo e Tiago; Lucas, João, Mateus e Tomé; Marcos, Simão e Felipe; o gloriosíssimo André com Matias e o sábio Bartolomeu, e com eles os demais setenta discípulos."
"Como estrela sem ocaso e lâmpada para o universo inteiro, resplandeceste no firmamento da Igreja, ó Nicolau. Tu iluminas o universo expulsando as trevas dos males; dissipas o inverno da tristeza e procuras uma paz profunda para nós que te exaltamos qual bem-aventurado!"

Ainda não apresentamos hinos litúrgicos do 7º tom. Apresentamos, em seguida, dois hinos breves do sábado, costumeiramente dedicados a todos os santos e a todos os defuntos. Entre as várias categorias dos santos na tradição bizantina os mártires têm destaque particular, no final do Órthros eles são lembrados assim:

"Perante o tribunal dos ímpios, ó Cristo, os santos mártires gritavam com júbilo: Senhor, glória a ti!"

E aos defuntos rezamos assim:

"Senhor, na tua misericórdia, digna-te pôr na terra dos justos os fiéis que tiraste, para ti, deste mundo temporâneo, ó Amigo dos homens."

No fim do próprio de cada dia, o Októichos relata também as assim chamadas "Bem-aventuranças," breves textos que se inserem na Liturgia eucarística no momento em que se canta o conhecido texto de Mateus 5:3-12.
Esses, com freqüência, são omitidos, mas a título de exemplo relatamos o primeiro versículo (sempre do 7º tom), observando que a invocação ao bom ladrão é freqüente no Oriente bizantino:

"Era belo para se ver e gostoso para se comer o fruto que causou a minha morte (espiritual); Cristo é a árvore da vida, da qual posso comer sem morrer, e com o bom ladrão grito: Lembra-te de mim, Senhor, no teu reino."

A alusão à liturgia eucarística (no Oriente habitualmente chamada divina liturgia) nos sugere fornecer alguma informação sobre as leituras bíblicas que ali se fazem. O rito bizantino prevê para cada ano a leitura integral do Novo Testamento exceto o Apocalipse. Com este fim os evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as Epístolas estão divididos em perícopes designadas para cada dia, mas não é raro que na ocorrência de alguma festa ou comemoração com leituras próprias no Evangeliário e no Apóstolos (como é chamado o livro que contém os Atos e as Epístolas), se leiam dois textos — o do dia e o da festa extraídos de cada um dos livros mencionados.
Com relação às perícopes evangélicas que se lêem aos domingos, especialmente nos países de língua grega, é costume chamar Domingos de São Mateus os que caem entre a oitava de Pentecostes e a festa da Exaltação da Santa Cruz, Domingos de São Lucas, os que caem entre esta festa (14 de setembro) e o início do Triódion. O Evangelho de São Marcos é lido prevalentemente nos dias de semana, enquanto o de São João caracteriza o período do Pentikostárion. Encontramos indicações mais detalhadas e precisas no Apêndice dos Apóstolos, do Evangeliário, nos calendários litúrgicos anuais e em estudos específicos.
Também para os tropários e os kontákions a ser cantados na Divina liturgia e nas diversas Horas do Ofício divino existem normas que tomam em consideração o dia da semana, o grau da festa e também o santo, ou o mistério, ao qual a igreja em que se celebra a cerimônia está dedicada. Riqueza e variedade da oração litúrgica bizantina nunca estão separadas de sábias normas verificadas numa tradição plurissecular!


Parte II

Menológio ou os
santos de cada mês
O culto aos santos é comum entre os católicos e os ortodoxos, culto esse, vivido na Igreja "una" do primeiro milênio e perpetuado até os nossos dias, nos quais de uma e de outra parte continuam acontecendo as canonizações, infelizmente, por enquanto, sem o recíproco reconhecimento. Mas a verdadeira santidade nos aproxima todos de Deus e por isso apressa a unidade plena entre a Igreja romana e a Igreja bizantina.
Não podemos falar em Ano Litúrgico sem indicar os santos celebrados a cada dia: por isso nos propomos elencá-los, mês por mês, apresentando os nomes geralmente mais celebrados. Evidentemente existem comemorações locais, quiçá de um grande santo festejado em toda uma nação. Como exemplo mencionamos, na área bizantina, Santa Nina, a Iluminadora (séc. IV), celebrada pela Igreja da Geórgia aos 14 de janeiro; São João de Rila (†946), celebrado pela Igreja da Bulgária em 19 de outubro; o santo arcebispo Sava (†1235), celebrado pela Igreja da Sérvia em 12 de janeiro; os vários "Novos mártires" gregos durante a opressão otomana.
Confrontando um calendário latino com um bizantino, podemos constatar quão numerosos são os santos inscritos em ambos e, com freqüência, celebrados na mesma data. Outros, porém, têm datas diferentes, por vezes próximas (para os católicos, por exemplo, São Basílio Magno é festejado no dia 2 de janeiro e Santo Estevão, mártir em 26 de dezembro, já os ortodoxos os celebram, respectivamente, no dia 1º de janeiro e em 27 de dezembro), por vezes em datas bem distanciadas (por exemplo, o Arcanjo São Miguel no Ocidente é celebrado em 29 de setembro e no Oriente em 8 de novembro).
Dos quatro evangelistas, Marcos (25 de abril) e Lucas (18 de outubro) têm datas iguais, para os outros dois já as datas diferem. Os santos do Antigo Testamento são mais numerosos no calendário oriental; lembramos os profetas comemorados em dezembro: no dia 1º, São Naum, no dia 2, Santo Habacuc, no dia 3, São Sofonias, no dia 16, Santo Ageu, no dia 17, São Daniel e os três Jovens, enquanto o Santo Jó, o justo, é celebrado no dia 6 de maio e São Moisés, profeta, no dia 4 de setembro. A mesma coisa pode-se afirmar dos mártires, dos quais, de alguns, se conhece quase somente o nome e a época provável da morte; mas o Oriente bizantino gosta de apresentá-los qual exemplo de generoso testemunho no oferecimento a Deus de suas vidas. Outras categorias de santos são iguais nos dois calendários: apóstolos, bispos, confessores, virgens, santas mulheres... Além dessas categorias, na tradição constantinopolitana costuma-se celebrar os grupos dos santos iconógrafos, dos santos "Loucos por Cristo" dos "anárgiros" (que curavam os doentes gratuitamente), ou então grupos de santos com os nomes compostos: "ieromártir" é o sacerdote que foi martirizado por amor a Cristo. O mesmo termo "santo" possui uma forma dúplice: a mais comum, no grego é ágios e no eslavo é sviatyi, mas para os monjes e/ou religiosos(as) usa-se, no grego, a palavra hósios e no eslavo prepodóbnyi, isto é, "muito semelhante," ao Cristo, bem entendido.
Nas páginas que se seguem para cada mês, após a lista dos nomes dos santos de cada dia, nos deteremos sobre uma ou duas datas para tornar um pouco conhecidos os textos do Ofício do dia. São todos santos do primeiro milênio, de tipos variados, bem conhecidos também no Ocidente: são homens e mulheres, mártires e bispos, celebrados individualmente ou em grupo... A apresentação fornecida pelos livros litúrgicos bizantinos, as orações a eles dirigidas porão mais uma vez em evidência a complementaridade das duas tradições — oriental e ocidental — e a riqueza espiritual da qual desfrutamos ao tê-las ambas presentes.

"Os santos são os nossos intercessores e protetores no céu e portanto membros vivos e ativos da nossa Igreja. A presença de graça deles na Igreja, visível também através dos ícones e das relíquias, nos envolve como uma nuvem orante da glória de Deus. Os santos não nos separam do Cristo, mas nos aproximam dele, a ele nos unem; não são -como os protestantes pensam — os mediadores entre Deus e os homens que ofuscam o único Mediador Jesus Cristo; eles são suplicantes conosco, são os nossos amigos e ajudantes no nosso serviço a Cristo e na nossa união com ele."

Quem escreveu a citação acima é um teólogo ortodoxo, mas é também a convicção dos católicos. Por isso, juntos continuamos a cultuar os santos e esse culto faz com que se crie um ambiente de família nas nossas assembléias litúrgicas: são irmãos e irmãs que nos precederam na fidelidade total a Cristo, que nos aguardam no Reino celestial e que podemos invocar também para o restabelecimento da unidade eclesial entre nós na sua plenitude.
No calendário bizantino, como no romano, além dos santos estão indicadas também as celebrações do Cristo e da Virgem que, mesmo não pertencendo às Doze grandes festas, são festas de notável importância, como por exemplo: a Circuncisão de Cristo do 1º de janeiro ou a Concepção de Maria Santíssima por parte de Ana no dia 9 de dezembro. Mormente no calendário eslavo são inúmeras as festas ligadas a ícones marianos (só a "Mãe de Deus de Vladimir" é celebrada três vezes: 21 de maio, 23 de junho e 26 de agosto). Os santos, porém, são a grande maioria e a eles são reservados os textos ilustrativos mês por mês.
Merecem ser assinaladas as festas de Todos os Santos de uma nação ou de uma região que nos últimos anos foram multiplicando-se entre os ortodoxos. No segundo domingo depois da Páscoa — sucessiva, pois, à festa universal de Todos os Santos -, no monte Athos se celebram os santos monges que ali alcançaram a máxima perfeição cristã e na Rússia se celebram "todos os santos que floresceram na terra russa," dia significativamente escolhido em 1988 ao concluir as celebrações do Milênio do Batismo da Rus'.
O Menológio ou Santoral tem seu início, como já dito, no dia 12 de setembro e o próprio de cada mês é contido no Minéon, o livro litúrgico das celebrações com data fixa. Parte II-b
Madre Maria Donadeo.

 Considerações
sobre o calendario bizantino
Foram consultados vários calendários publicados pelas Igrejas ortodoxas e pelos católicos de rito grego para assinalar o nome do santo (em alguns casos dois) mais comumente citados. Além da data de morte ou da época em que viveu, usamos algumas abreviaturas com os seguintes significados:
S.Ss. = santo(a); santos(as).
mon. = monja(s); monge(s).
C.CC. = companheiro(a); companheiros (as).
arc. = arcanjo
ap. = apóstolo (usado não só para os Doze, mas em sentido mais amplo).
† = morto(a).
C. = cerca
a.C. = antes de Cristo
séc. = século
it.gr. = ítalo-grego
Esl. = remete ao calendário eslavo.
O tipo em negríto no número e no nome indica uma das Doze grandes festas; somente o número do dia em negríto indica uma festa importante.
Foram indicados os dias, com data fixa, em que começam os jejuns em preparação às festas de 25 de dezembro e de 15 de agosto. Outros dois tempos de jejuns começam em data móvel: um em preparação à Páscoa e outro à festa do dia 29 de junho.

Setembro
1 Início do ano eclesiástico
S. Simeão Estilita († 459) 130
S. Aítalas e cc., mártires († 355).
2 S. Mamede, m. († c. 275).
S. João Jejuador, patriarca de Constantinopla († 595).
3 S. Antimo, mártir, bispo de Nicomédia († 303).
S. Teoctisto, mon. († 467).
4 S. Bábilas, mártir, bispo de Antioquia († 250).
S. Moisés, profeta (séc. XVI a.C.).
5 S. Zacarias, profeta, pai do Precursor (séc. 1).
6 Prodígio de S. Miguel arcanjo em Khonas (séc. IV).
7 S. Sozonte, mártir († 304); pré-festa da Natividade da Mãe de Deus
8 Natividade da Santíssima Mãe de Deus e sempre Virgem Maria
9 Ss. Joaquim e Ana, os justos, pais da Theotókos
10 Ss. Menodora, Metrodora e Ninfodora, mártires († 310).
11 S. Teodora de Alexandria, mon. († 480).
12 Conclusão da festa do 8 de setembro S. Autônomo, mártir (início do séc. IV).
13 Pré-festa da Exaltação da Santa Cruz Dedicação da Basílica da Ressurreição em
Jerusalém († 335) S. Cornélio Centurião, mártir († séc. I).
14 Exaltação universal da venerável e vivificante Cruz (jejum).
15 S. Nicetas, o Godo, mártir († c. 372).
16 S. Eufêmia, megalomártir († 304).
17 Ss. Sofia e suas três filhas Fé, Esperança e Caridade, mártires († c. 130).
18 S. Eumênio, bispo de Gortina (séc. II ou III).
19 Ss. Trofimo, Sabácio e Dorimedonte, mártires († 277).
20 Ss. Eustáquio, sua mulher Teopista, os dois filhos Agapito e Teopisto, mártires († C.
110).a
21 Conclusão da festa do 14 de setembro S. Quadrato de Magnésia, apóstolo [dos 70] (séc.
1).
22 S. Focas, mártir, bispo de Sinope († c. 110).
23 Concebimento de S. João, o Precursor
24 S. Igual-aos-apóstolos, Tecla, protomártir († séc. I) Esl.: S. Sérgio de Radonéz, mon. (†
1391) 25 S. Eufrosina, mon. (séc. V).
26 Dormição de S. João Teólogo e Evangelista, apóstolo (séc. I).
27 Ss. Calístrato e cc., mártires (início séc. IV).
28 S. Caritão, mon. († 350).
29 S. Ciríaco, anacoreta († 556).
30 S. Gregório Iluminador, mártir, bispo da Grande Armênia († 330).
26 de setembro: Dormição de São João Teólogo e Evangelista, apóstolo
João, o "discípulo a quem Jesus amava," é assim invocado no tropárío bizantino mais repetido:
Tropário (2º tom).
"Apóstolo predileto do Cristo Deus, apressa-te em ajudar um povo sem defesa. Aquele que te concedeu encostar a cabeça sobre o seu peito te acolha aos seus pés a fim de interceder por nós. Ó Teólogo, suplica-lhe para que dissipe a nuvem persistente do paganismo e pede por nós a paz e uma misericórdia abundante."
Na tradição constantinopolitana, São João, que em hebraico significa "Javé concede a graça," é chamado habitualmente "o Teólogo," título reservado a pouquíssimos e, particularmente, apropriado ao Apóstolo, sempre citado entre os primeiros, cuja insigne doutrina, através do seu evangelho, das Epístolas e do Apocalipse, tem nutrido a Igreja de todos os tempos.
E o kontákion, o outro hino repetido em todas as Horas canônicas, assim exclama:
Kontákion
"Quem jamais poderá narrar as tuas virtudes, ó virgem? De ti jorram maravilhas, tu és a fonte de curas e tu, ó teólogo e amigo de Jesus, intercede por nossas almas."
Enquanto os católicos romanos celebram a festa de São João Evangelista em 27 de dezembro, os fiéis.
O tropário e o kontákíon são os mesmos nas duas festas, e também boa parte do ofício próprio do santo, contido nos Minéa, é comum. Dos textos do Ofício podemos depreender todos os dados essenciais da biografia do mais moço dos Doze Apóstolos, o qual teve também o privilégio de testemunhar o Cristo até a idade mais avançada. O primeiro texto poético do santo, no Lucernário (= Vésperas), assim nos informa:
"O filho de Zebedeu, João, o vidente que teve revelações inefáveis, que por nós escreveu o evangelho de Cristo, nos ensina a reconhecer Deus como Pai, Filho e Espírito Santo."
Ele é lembrado como o "filho do trovão" e com freqüência somos admoestados pelo seu ensinamento sobre o "Verbo que era desde o princípio e que estava junto do Pai inseparavelmente; igual a ele na natureza." Nas Vésperas as três leituras bíblicas são tiradas da primeira epístola de São João, dando destaque especialmente aos trechos em que ele se manifesta como o Apóstolo do amor (final do cap. 3, o cap. 4 quase por inteiro e o início do cap. 5).
No Cânon destaca-se a dúplice palavra que Jesus, na cruz, dirige à sua Mãe:
"Discípulo virgem, recebeste a honra de ser adotado como filho pela Virgem imaculada; te tornaste irmão daquele que te escolheu e fez de ti o seu Teólogo."
"Discípulo do Salvador, desde a cruz Cristo confiou a ti, Teólogo virgem, a puríssima Theotókos; então cuidaste dela como a pupila dos teus olhos: intercede pela salvação de nossas almas."
Nas Laudes se recorda que o "discípulo virgem, igual aos anjos, evangelista São João, teólogo formado por Deus," anunciou ao mundo a ferida no lado de Cristo da qual saiu "sangue e água de onde jorra vida eterna para as nossas almas."
Tampouco é esquecida a atividade apostólica de João, em que se usam por vezes imagens poéticas, tão queridas aos orientais, como no katismia poético do Órthros.
"Tendo abandonado as águas profundas em que pescavas, ó Apóstolo ilustre, com o caniço da cruz sabiamente pegaste, feito peixes, o conjunto das nações e, como Cristo te dissera, foste pescador de homens, atraindo-os à fé; tendo semeado o conhecimento do Verbo de Deus, com tuas palavras colheste Éfeso e Pátmos. Ó apóstolo São João, intercede junto do Cristo nosso Deus, a fim de que conceda a remissão dos pecados a quantos celebram de coração a tua sacra memória."
A iconografia de São João estende-se pelos séculos em amplos espaços geográficos. Na tradição bizantina predominam duas representações: do santo aos pés do Crucificado, freqüentemente ao lado oposto de onde se encontra a Virgem (à direita do Cristo), sem as demais pessoas, embora lembradas nos evangelhos, presentes no Calvário ou então o Evangelista é representado sentado, por vezes tendo ao lado o símbolo da águia, ditando ao seu escriba Prócoro a revelação. Ao centro do Iconostase, nas portas reais, debaixo da cena da Anunciação, é freqüente a representação dos quatro evangelistas. São João é logo reconhecível, pois é o único, que está ditando a um discípulo. Na iconografia da Santa Ceia o discípulo amado é sempre representado com a cabeça sobre o peito do Mestre. Ele está presente também em numerosas cenas evangélicas ou tradicionais, como a Transfiguração, o Pentecostes, a Dormição da Virgem e muitas outras.
Com a liturgia bizantina, peçamos ao discípulo de Cristo, ao Apóstolo da luz e do amor, tão bem retratado nas Sagradas Escrituras, "para que ilumine todo homem e o leve ao conhecimento de Deus."
Outubro
1 Esl.: Pokróv (proteção) da SS. Mãe de Deus S. Ananias, apóstolo [dos 70] (séc. I) S.
Romanós, o Melode († c. 557).
2 S. Cipriano, hieromártir, († 304) S. Justina, virgem, e mártir († 304).
3 S. Dionísio Areopagita, hieromártir († c.90).
4 S. Hieróteo, bispo de Atenas (séc. I).
5 S. Caritina, mártir († 304).
6 S. Tomé, apóstolo (séc. I).
7 Ss. Sérgio e Baco, mártires (†t 297).
8 S. Pelágia, penitente, v. (II metade do séc. V).
9 S. Tiago, filho de Alfeu, apóstolo (séc. I) Ss. Andrônico e sua mulher Atanásia (séc.V).
10 Ss. Eulâmpio e sua irmã Eulâmpia, mártires (início do séc. IV).
11 S. Filipe, um dos 7 diáconos, apóstolo [dos 70] (séc. 1) S. Teófanes, mon., hinógrafo,
metrop. de Nicéia († 845).
12 Ss. Probo, Táraco e Andrônico, mártires († 304).
13 Ss. Carpo, bispo, Pápilo, diácono e Agatonica, mártires († c.250) Esl.: Ícone da Mãe de
Deus Ivérskaja
14 Ss. Nazário, Gervásio, Protásio e Celso, mártires († c. 66) S. Cosme, bispo de Maiúma
(† 760).
15 S. Luciano, hieromártir († 312).
16 S. Longino Centurião, mártir (séc. I).
17 S. Oséias, profeta (séc. VIII a.C). S. André de Creta, mártir († 767).
18 S. Lucas, apóstolo [dos 70] e evangelista (séc. I).
19 S. Joel, profeta (séc. VI a.C). Esl.: S. João de Rila, anacoreta búlgaro († 946) S. Varo,
mártir († 307).
20 S. Artêmio, megalomártir
21 S. Hilarião, o Grande, mon. († 371).
22 S. Abércio, bispo de Hierápolis († c. 170) Ss. Sete crianças de Éfeso, mártires († c. 250).
Esl.: ícone da Mãe de Deus de Kazan
23 S. Tiago, "irmão" do Senhor, bispo de Jerusalém, apóstolo [dos 70], mártir († 62).
24 Ss. Aretas e cc., mártires († 523).
25 Ss. Marciano e Martírio, mártires († 358).
26 S. Demétrio, megalomártir, († c. 306) Memória do grande terremoto em Constantinopla
(740) 27 S. Nestor, mártir († 306).
28 Ss. Terêncio e Neonilo, mártires
S. Estêvão Sabaíta, mon. e poeta (séc. IX).
29 S. Anastásia, mon. e mártir († séc. IV?).
S. Abraão, eremita (séc. VI) Esl.: S. Abraão de Rostov, mártir (séc. XII).
30 Ss. Zenóbio e Zenóbia, mártires (início do séc. IV).
31 Ss. Estáquio, Apeles, Ampliato, Urbano, Aristóbulo e Narciso, apóstolos [dos 70] S.
S. Estêvão Sabaíta, mon. e poeta (séc. IX).
Domingo após o 11 de outubro: os 350 Padres do VII Concílio Ecumênico
A importância dos primeiros sete concílios ecumênicos no Oriente bizantino se reflete, ou melhor, acha confirmação na liturgia, em que, por bem três vezes no decorrer do ano e sempre em dia de domingo, se celebram "os Padres teóforos, mística voz do Espírito, que fizeram ecoar no meio da Igreja a divina harmonia, proclamando a única essência da divina Trindade," conforme reza uma oração repetida nas três festas. Cada uma delas, porém, possui uma motivação específica, indicada também no título que precede a parte própria. No sétimo domingo depois da Páscoa comemoram-se "os 318 Padres do I Concílio Ecumênico de Nicéia."
Os textos próprios do Oficio se acham no livro litúrgico dito Pentikostárion ao passo que para as outras duas festas se encontram nos Minéa (de "mês") de julho e de outubro. A data pode variar ligeiramente a cada ano e a festa deve coincidir com um domingo, mas sempre entre o 13 e 19 de julho para o Oficio dos Padres dos primeiros seis concílios ecumênicos, e entre o 11 e 17 de outubro para o domingo em que se celebram "os 350 Padres do VII Concílio Ecumênico realizado em Nicéia no ano 787 contra os iconoclastas." Sobre essa última festa iremos nos deter um pouco a fim de apreciar alguns textos litúrgicos.
Essas três comemorações bizantinas dos concílios ecumênicos não encontram correspondentes na liturgia latina. É bonito constatar como eventos importantíssimos para a nossa fé, embora distantes no tempo, sejam atualizados na oração dos irmãos ortodoxos ou católicos de rito bizantino; oração que sempre começa pelo louvor e agradecimento a Deus. O tropário principal, comum às três festas, é o seguinte:
Tropário (8º tom).
"Infinitamente glorioso és tu, Cristo nosso Deus, pois estabeleceste nossos Padres como astros sobre a terra. Por meio deles, nos conduziste à verdadeira fé: Muito-Misericordioso, glória a ti!"
A começar pelas Vésperas, evidencia-se o misterioso significado do número sete que aparece com freqüência nas Escrituras; aliás os padres reunidos em Nicéia em 787 "o tornaram mais santo como regra de fé," obedecendo à ordem de Deus, que "após ter criado o universo em seis dias abençoou o sétimo dia." Continuando a apreciação dos textos litúrgicos, encontramos ainda:
"Concede, Senhor, a mim que desejo cantar o sétimo Concílio, os sete dons do Paráclito..." "Tal como as sete trombetas que no sétimo dia fizeram ruir os muros em Jericó, assim os concílios em número de sete precipitaram nas trevas do inferno os ímpios que se levantaram contra Deus no momento da sétima Reunião das harmoniosas trombetas do Espírito."
Numa Ode do Cânon é também lembrado que a fornalha em que foram jogados os jovens, por ordem de Nabucodonosor, "tinha sido aquecida sete vezes mais que o costume."
O VII Concílio de Nicéia tinha sido convocado contra os iconoclastas para reafirmar o valor do justo culto das imagens. Várias vezes, nos textos do Ofício, é evidenciado isso, enquanto se repete que o ícone é possível, pois Deus se encarnou de verdade.
"Tal como os Padres justamente nos ensinaram, nós reconhecemos que o seio da Virgem deu nascimento, sem dores, à carne do Incorpóreo; e piamente nos prosternamos perante ele, representado na imagem que reproduz o seu semblante e, reverentes, a abraçamos."
Assim reza uma prece mariana:
"Sejam rechaçados os ímpios que não veneram o sacro ícone da Mãe de Deus e que vão para o fogo eterno os que não reconhecem que ela deu à luz a Cristo, ao mesmo tempo Deus e homem."
O kontákion resume bem as conclusões do VII Concílio:
"O Filho que, irradiante, surgiu do Pai, em duas naturezas nasceu de uma mulher de forma inefável. Tendo-o visto, nós não podemos renegar a marca de seus traços, mas a reproduzimos para venerá-la fielmente. Por isso a Igreja, conservando a verdadeira fé, beija o ícone do Cristo que se encarnou."
A lembrança dos Padres Conciliares é sentida bem de perto. Na Ode nona do Cânon se diz:
"Merecestes grandes honras aqui na terra, vós que venerastes com amor a imagem de Cristo. Agora que deixastes a sombra e o véu da carne, gozais de grandes honras e o vedes face a face."
Reforça-se a idéia de que foram eles "que se prostraram com amor perante o ícone" de Jesus Cristo, da Theotókos, dos santos.
Nas Vésperas das grandes comemorações litúrgicas, intercalam-se três leituras bíblicas do Antigo Testamento. Para o domingo dos Santos Padres do VII Concílio Ecumênico foram escolhidas leituras do Gênesis (14:14-20) e Deuteronômio (1:8-11, 15-17; e 10:14-21). Aí destacam-se as figuras de Abraão e Moisés, pois eles também são nossos pais na fé aos quais, idealmente, se ligam aqueles dos concílios ecumênicos.
Justamente aos Padres reunidos em Nicéia em 787 é dirigida a súplica que segue, extraída do "Exapostilário":
"Ó Padres de celeste sabedoria, que vos reunistes no sétimo Concílio ecumênico, apresentai à Santíssima Trindade uma ardente oração, a fim de que os fiéis, que celebram a vossa sagrada festa, fiquem isentos de qualquer heresia e juízo eterno e consigam alcançar o reino celestial."
Outro hino extraído do Exapostilário diz:
"Senhor de suprema bondade, por intercessão da tua Mãe e dos Padres que os sete santos concílios reuniram, reforça em nós a verdadeira fé e torna-nos participantes do Reino eterno quando virás para julgar a criação inteira."
18 de outubro: São Lucas, apóstolo e evangelista, Kontákion:
"Discípulo do Verbo Divino te tornaste; junto com o apóstolo Paulo iluminaste a terra inteira e, ao escrever o evangelho, dissipaste as trevas."

O kontákion acima canta o evangelista São Lucas, resumindo seus dados biográficos essenciais. Em concomitância com a romana, a igreja bizantina também celebra essa festa dia 18 de outubro. Seguindo o amplo desenvolver-se do Ofício do dia, o Minéon - o "próprio" das Vésperas e das Matinas - diz muitas outras coisas a respeito de São Lucas, embora expressas em forma de oração.
"Glorioso apóstolo, como podemos chamar-te? Tesouro seguro das graças dos céus, médico solícito na cura das almas e dos corpos; colaborador e companheiro de viagem de Paulo; redator dos Atos dos Apóstolos, São Lucas: tantos nomes para outras tantas qualidades; intercede para a salvação das nossas almas."
Ainda nas Vésperas, os textos dirigem-se a ele qual "sólido fundamento da fé," Luminar da suprema luz," "não só companheiro, mas também imitador do Vaso de eleição." Outra prece das Vésperas diz:
"Admirável Lucas, jóia dos Antioquenos, intercede perante o Salvador nosso Deus, to suplicamos, pelos fiéis que celebram tua sagrada memória."
A alusão aos "Antioquenos" revela-nos o lugar de procedência de São Lucas. Era um sírio, inicialmente pagão, no qual o anúncio evangélico penetrou em profundidade. Não somente foi o cantor da bondade divina - para lembrar uma expressão de Dante, mas foi também apóstolo incansável que acompanhou Paulo na sua segunda viagem missionária, até Roma. Permaneceu-lhe fiel durante o tempo em que Paulo foi prisioneiro e deu continuidade à sua obra para que fosse conhecida a universalidade da mensagem da salvação que Jesus Cristo tinha confiado aos seus discípulos. Diz-se que pregou o evangelho na Galácia, no Egito e na Tebaida. Morreu na Bitínia aos 84 anos de idade. Esses são dados tradicionais que nem todos aceitam, bem como a identificação do evangelista com o homônimo companheiro de Cléofas, no caminho de Emaús.
A liturgia bizantina várias vezes repete que o evangelista Lucas viveu a experiência do encontro com o Ressuscitado no caminho de Emaús, embora o tenha reconhecido somente ao partir o pão. Também a liturgia repete que Lucas conhecia a arte de curar:
"Bem-aventurado Lucas, repleto da sabedoria de Deus, aprendeste a medicina das almas além da dos corpos; numa e na outra foste excelente, pelo que, curando as almas e os corpos os elevas ao amor como sobre asas; cada dia os elevas para o céu e intercedes por aqueles que te exaltam" (das Laudes).
Outro dado da tradição, apreciado pelos artistas de todos os tempos, e pelo qual São Lucas se tornou o padroeiro deles, nós o depreendemos de uma oração do ofício matinal bizantino:
"São Lucas, apóstolo bem-aventurado de Cristo, iniciado nos inefáveis mistérios, bem como doutor dos gentios, com o divino Paulo e a pura Mãe de Deus, da qual pintaste com amor o santo ícone, intercede por nós que veneramos e confessamos a tua santa dormição."
Todos concordam em ser agradecidos a São Lucas pelos muitos retratos da Virgem que nos deixou, especialmente nos primeiros capítulos do seu evangelho. Qual imenso patrimônio artístico está ligado às cenas lucanas da anunciação, da visitação, do nascimento de Jesus com a adoração dos pastores, e da circuncisão! Mas a tradição bizantina nos transmite também que São Lucas chegou a pintar as feições humanas da Mãe de Deus e atribui-se ao seu pincel o famoso ícone da Virgem Odighítria de Constantinopla e outros ícones que mais tarde chegaram até a Itália.
"A graça do Paráclito, do qual foste morada, difundiu-se copiosamente em teus lábios e fez de ti (ó São Lucas) um pregador da paz para os fiéis que elevam hinos: Glória à tua potência, Senhor" (do Cânon). "Vinde todos, aclamemos o apóstolo Lucas como nosso guia na fé: destruindo a mentira dos falsos deuses, conduziu-nos para a luz e para a vida e nos ensinou a glorificar a Trindade; venerando a sua memória, celebramos fielmente o Senhor" (katisma). Lucas é chamado "Servidor da encarnação do Verbo" e por seus escritos "nós chegamos a conhecer a certeza das palavras divinamente inspiradas" cujas narrativas são "como as haviam transmitido os que foram testemunhas oculares."
Concluiremos com um hino das Vésperas:
"Alegra-te tu, o único que nos descreveu a saudação angélica, a jubilosa anunciação da Virgem imaculada, o concebimento do Batista que desde o ventre maternal a chama de Genitora do Senhor; o nascimento do Verbo, as tentações, os milagres, os discursos, os sofrimentos, a morte na cruz, a ressurreição da qual tu foste testemunha, a ascensão e a descida do Espírito, os atos dos apóstolos e mormente de Paulo do qual foste companheiro em suas viagens; tu, o Apóstolo-médico e o luminar da Igreja, guarda-a sem cessar."
Novembro
1 Ss. Cosme e Damião, taumaturgos, anárgiros e mártires (início do séc. IV).
2 Ss. Acindino e cc., mártires († c. 350).
3 Ss. Acépsimas, Aítalas e José, mártires († 378).
4 S. Joanício, o Grande, mon. de Olimpo (†846) Ss. Nicandro bispo e Hermas, mártires (†
séc. 11).
5 Ss. Galacião e sua mulher Epísteme, mártires (início do séc. IV).
6 S. Paulo, bispo de Constantinopla († 351).
7 Ss. 33 Mártires de Melitina (início do séc. IV) S. Lázaro, mon. e taumaturgo († 1054).
8 Ss. Arquistrategos Miguel e Gabriel, arcanjos e todos os incorpôreos celestes
9 Ss. Onesíforo e Porfirio, mártires († ?) S. Matrona, mon. (séc. V).
10 Ss. Olímpio, Herodião, Sosípatro, Tércio, Erasto e Quarto, apóstolos [dos 70] (séc. I) S.
Orestes, mártir
11 Ss. Mena e cc., mártires (séc. I-II) S. Teodoro Estudita, mon. († 826) S. Bartolomeu de
Rossárto, mon. (it.-gr. † 1065 em Grottaferrata).
12 S. João Esmoler, arcebispo de Alexandria († 619) S. Nilo do Sinai, mon. († 430).
13 S. João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla († 407).
14 S. Filipe, apóstolo (séc. I).
15 Ss. Gorias (Esl.: Gurij), Samonas e Habib, mártires (início do séc. IV) Começa o jejum
em preparação ao Natal
16 S. Mateus, apóstolo e evangelista (séc. I).
17 S. Gregório Taumaturgo, bispo de Neo-Cesaréia († c. 275).
18 Ss. Platão e Romão, mártires († 305).
19 S. Abdias, profeta (séc. IV a.C). S. Barlaão, mártir (?).
20 Pré-festa do 21 de novembro S. Gregório Decapolita, mon. († 842) S. Proclo, arcebispo
de Constantinopla († 446).
21 Entrada no Templo da Santíssima Mãe de Deus
22 Ss. Filêrnon, apóstolo [dos 70], Afia, sua mulher e Arquipo, seu filho (séc. I) S. Cecília
e cc., mártires (séc.III?) S. Clemente de Ocrida, bispo da Macedônia († 916).
23 S. Anfilóquio, bispo de Icônio († 395).
24 Ss. Clemente, papa de Roma († 100) e Pedro, bispo de Alexandria († 312), hieromártires
25 Conclusão da festa do 21 de novembro Ss. Catarina de Alexandria (início do séc. IV) e
Mercúrio († c. 250) megalomártires
26 S. Alípio Estilita, mon. († c. 630) S. Nícon Metanoita, mon. († C. séc. X) Esl.: S.
Inocêncio de Irkutsk († 1731).
27 S. Tiago, o Persa, mártir († 764) Esl.: Ícone da "Mãe de Deus do Sinal"
28 S. Estêvão, o Moço, mon. († 764) Ss. Irenarco e cc., mártires (início do séc. IV).
29 Ss. Paramão († c.250) e Filomeno († c. 272), mártires
30 S. André, Apóstolo "primeiro chamado" (séc. I).
25 de novembro (Esl.: 24 de nov.): Santa Catarina de Alexandria
São poucos os calendários católicos que mantiveram no dia 25 de novembro o nome de Santa Catarina de Alexandria, cuja memória na missa desapareceu após a reforma litúrgica. Foi uma decisão que suscitou algumas reações dolorosas no Oriente bizantino, onde a virgem de Alexandria do Egito, que ofereceu sua própria vida pela fé no ano 305, permanece muito venerada e partilha com poucos o título de "megalomártir" (= grande mártir). O Tropário principal assim reza:
"Tua cordeira, ó Jesus, te invoca em voz alta: 'Meu esposo, és tu que eu desejo! Ansiando por ti eu combato, contigo sou crucificada e pelo teu batismo sou imolada. Por ti eu sofro a fim de reinar contigo. Por ti eu morro a fim de viver em ti. Acolhe, pois, como vítima sem mancha, aquela que por amor de ti se sacrifica.' Por sua intercessão, ó Misericordioso, salva nossas almas."
Existe, porém, também um tropário conclusivo próprio, especialmente nos livros eslavos, em que são resumidos alguns dados da vida da santa. Na tradição grega prevalece este tropário:
"Cantamos a ilustre esposa de Cristo, Santa Catarina, protetora do Sinai, aquela que por nós é abrigo e socorro; com efeito pela espada do Espírito fez calar brilhantemente os sofismas dos ímpios e agora, mártir coroada, implora por nós a graça da salvação."
O calendário bizantino grego celebra Santa Catarina em 25 de novembro, enquanto o calendário eslavo a festeja no dia anterior, 24 de novembro, provavelmente para dar mais ênfase à conclusão da festa da Apresentação de Maria Santíssima ao Templo, que é no dia 25 de novembro. As fontes literárias que documentam a vida e o culto da santa são relativamente tardias: parte-se de uma Passío redigida em grego e que remonta, segundo Viteau, ao século VI; ali não se encontra nenhuma referência ao Sinai. Ao invés, a lenda sugere que os anjos tenham trasladado, logo depois do martírio da santa, seus restos mortais para um sepulcro no monte onde Moisés tinha recebido as tábuas da lei e onde atualmente se situa o famoso mosteiro de Santa Catarina, erguido no tempo do imperador Justiniano. Talvez para preservá-las dos invasores árabes é que alguns séculos depois da morte, algumas importantes relíquias da santa foram levadas para o mosteiro do Sinai: com efeito a primitiva denominação do mosteiro era outra e o esquife da mártir não se encontra debaixo do altar-mor e no meio da igreja, mas no coro, à direita.
Santa Catarina nasceu em Alexandria do Egito, foi virgem ilustre não somente por nobreza de nascimento, beleza, riqueza, mas também por um grau de ciência incomum. Ela, porém, priorizou a prática da virtude e da virgindade, fiel a Cristo, amado como verdadeiro esposo. Soube por isso resistir à blandícia e à brutalidade do imperador Maximino (ou Maxêncio) que, tendo ido a Alexandria, exigia que também a santa oferecesse sacrifícios aos deuses.
Narra-se que apenas com dezoito anos ela animava os cristãos e assim falou ao imperador:
"Por que queres perder esta multidão com o culto aos deuses? Aprende a conhecer a Deus, Criador do mundo e ao seu único filho, Jesus Cristo, que com a cruz livrou a humanidade do inferno!"
O imperador convocou retóricos e filósofos para fazer mudar as idéias da jovem, mas aconteceu o contrário: os filósofos foram condenados, queimados vivos nas fogueiras, por ter-se convertido ao cristianismo. Encerrada numa prisão, foi nutrida milagrosamente por uma pomba e foi visitada por Jesus e pelos anjos.
O imperador ordenou que fosse torturada com as rodas pontiagudas, mas um anjo não somente preservou a virgem do suplício, como despedaçou a roda cujos pedaços esmagaram alguns pagãos. Enfim a grande mártir Catarina encontrou a morte por degolação.
Não é de admirar que Santa Catarina tenha sido por séculos venerada e retratada: existiam, em sua vida, todos os elementos aptos a impressionar a fantasia e favorecer a proliferação de lendas. Mais tardiamente se acrescentou o episódio das místicas núpcias entre Jesus e Catarina, tão querido pelos artistas.
Para concluir, voltemos à liturgia bizantina que num hino das Vésperas assim nos convida:
"Amigos mártires, corramos com alegria à festa de Catarina, a sapiente em Deus; coroemo-la com flores e com nossos elogios, dizendo-lhe: Alegra-te tu, que refutaste a impudente loqüela dos retóricos e os conduziste da ignorância à fé divina. Alegra-te tu que por amor do Criador expuseste o teu corpo a inúmeros tormentos e resististe como uma bigorna sem deixar-se quebrantar. Alegra-te tu que com teus sofrimentos mereceste as celestes moradas, para ali gozar a eterna glória, objeto das nossas aspirações. Possa a esperança dos teus cantores não ficar desiludida!"
30 de novembro: Santo André, Apóstolo "primeiro-chamado."
A presença de uma delegação católica junto ao Patriarca de Constantinopla por ocasião da festa de Santo André, bem como a presença de uma delegação ortodoxa em Roma por ocasião da festa dos santos Pedro e Paulo (29 de junho), encontros que já se realizam há vários anos, têm reavivado o conhecimento entre os fiéis católicos e bizantinos que no dia 30 de novembro ambos celebram com alegria a festa do apóstolo André, chamado habitualmente no Oriente de Protóclito, isto é, "primeiro-chamado." A expressão se encontra inclusive no tropárío principal da festa:
Tropário (4º tom).
"Ó glorioso André, tu por primeiro foste chamado entre os Apóstolos: como irmão de Pedro, o Corifeu, implora ao Senhor a paz para o mundo e para as nossas almas a sua grande misericórdia."
A expressão é repetida também no kontákion em que se acrescenta uma referência a Jo 1,41:
Kontákion
"Eia, veneremos o apóstolo André cuja fortaleza de ânimo é grande; ele é irmão de Pedro e por primeiro foi chamado pelo Salvador. Ele hoje nos repete quanto um dia falou a Pedro: Vinde, nós encontramos o Desejado entre as nações."
Através dos extensos textos das Vésperas e das Matinas do Ofício próprio de 30 de novembro, a tradição bizantina nos traz à memória os dados evangélicos do "santo e ilustre apóstolo André, o Protóclíto." Nas Laudes encontramos este texto:
"Alegra-te, Betsaida, pois em ti floresceram, como de um místico jardim, Pedro e André, os dois lírios, cujo suave perfume difundiu-se no mundo inteiro pela pregação da fé e pela ajuda da graça de Cristo, à qual estiveram unidos também na paixão."
Lembra-se nas Vésperas que André fora discípulo de João Batista.
"Tu que havias escutado a voz do Precursor, quando o Verbo santíssimo se encarnou para dar-nos o dom da vida e para trazer na terra a boa nova da salvação, tendo-o seguido, a ele te consagraste como primícia santa e primeiro dos seus frutos; tendo-o reconhecido, revelaste ao teu irmão o nosso Deus: suplica-lhe que salve e ilumine as nossas almas."
Ainda nos textos das Vésperas, acena-se à passagem de André da condição de pescador à de evangelizador:
"Tendo deixado de pescar peixes, pescaste os homens com o caniço da pregação e o anzol da fé, ilustre Apóstolo que repescastes do abismo do erro o conjunto das nações. Tu, ó André, irmão do Corifeu, cuja voz ressoa para instruir o mundo inteiro, não deixes de interceder por nós, que fielmente celebramos com coração aberto a tua sagrada memória."
A presença do apóstolo André no evento de Pentecostes e a sua missão evangelizadora são lembrados por dois hinos do Cânon:
"Tendo recebido a força do Espírito sob forma de línguas de fogo, tu te tornaste homem inspirado por Deus, familiar dos celestes resplendores para depois revelar-nos inefáveis ensinamentos." "Apóstolo de Cristo, tendo aspirado o fogo do Espírito santíssimo, em línguas novas nunca por ti faladas, recebeste a ordem de anunciar as maravilhas de Deus até os confins do mundo."
Os textos litúrgicos não explicitam a quais terras André levou a luz de Cristo, mas uma antiga tradição diz que evangelizou o Ponto, a Trácia, a Scytia e a Acaia.
É um dado histórico exato que no ano 357 o imperador Constâncio fez transferir o corpo de Santo André para Constantinopla. A presença das relíquias de um dos Doze Apóstolos teria aumentado o prestígio da capital do Império do Oriente. A cabeça foi devolvida à Igreja de Patras (Grécia), na qual o santo apóstolo tinha sido bispo e onde, em seguida, em idade avançada, tinha sofrido o martírio num longínquo 30 de novembro, pregado numa cruz decussada que dele tomou o nome de cruz de Santo André. Esse fato é recordado também num hino litúrgico das Laudes:
"Ó sábio André, divino protetor, conservador e libertador de todo mal, a cidade de Patras, que te possui como pastor, te dá graças e te venera. Intercede sem cessar para que seja salva."
Também a morte na cruz é lembrada no Oficio divino:
"Com a mesma paixão do Senhor foste glorificado, santo e sábio André. Na cruz encontraste, de fato, o teu fim em Deus e estás em comunhão com ele. Nós te pedimos, pois, que intercedas por nós" (do Cânon).
Nas Vésperas se fazem três leituras bíblicas, extraídas dos primeiros quatro capítulos da carta de Pedro, e a influência de André sobre seu irmão é lembrada também num hino, ainda das Vésperas, cujo texto transcrevemos:
"Tendo visto caminhar sobre a terra o Deus que amavas, tu, "primeiro-chamado" entre as testemunhas oculares, cheio de júbilo gritaste a teu irmão: Simão, encontramos aquele que nós amamos; em seguida dirigiste ao Salvador as palavras de Davi: como a corça ansiando por águas correntes, assim minha alma está ansiando por ti, ó Cristo, nosso Deus! E, tendo-o amado sempre mais, o alcançaste sobre a cruz, como verdadeiro discípulo imitando a sua paixão; consorte com ele na glória, suplica-lhe com fervor por nossas almas."
Nos últimos anos, tornou-se popular o ícone que representa o abraço dos dois irmãos Pedro e André. O patriarca de Constantinopla, Atenágoras, deu-o de presente ao papa Paulo VI quando em Jerusalém trocaram o ósculo da reconciliação sobre o Monte das Oliveiras, na Epifania de 1964. O ícone tomou-se de certa maneira o símbolo do caminho para a unidade dos fiéis das duas 1grejas irmãs," do Oriente e do Ocidente que, juntas, honram cada ano, em 30 de novembro, o apóstolo Santo André.
"Honremos com hinos - diz ainda a liturgia bizantina - o 'Primeiro-chamado,' o irmão de Pedro, o discípulo de Cristo, pescador de peixes e de homens, o apóstolo André que a todos fez conhecer os ensinamentos de Jesus. Assim como se joga uma isca aos peixes, ele ofereceu o seu corpo aos ímpios e prendeu-os em suas redes. Por suas preces, ó Cristo, nosso Deus, concede ao teu povo a paz e a graça da salvação."
Dezembro
1 S. Naum, profeta (séc. VII a.C.).
2 S. Habacuc, profeta (séc. VII a.C).
3 S. Sofonias, profeta (séc. VII a.C).
4 S. Bárbara, megalomártir († 306) S. João Damasceno, mon. († 749).
5 S. Sabas, o Santificado, mon. († 532).
6 S. Nicolau, arcebispo de Mira († séc. IV).
7 S. Ambrósio, bispo de Milão († 397).
8 S. Patápio, mon. (séc. VII).
9 Concepção de S. Ana, mãe da Theotókos
10 Ss. Mena, Hermógenes e Éugrafo, mártires († c. 313).
11 S. Daniel Estilita, mon. († 493).
12 S. Espiridião, bispo em Chipre, taumaturgo († c. 348).
13 Ss. Eustrácio, Auxêncio, Eugênio, Mardário e Orestes, mártires († início do séc. IV) S.
Luzia, virgem e mártir (séc. IV).
14 Ss. Tirso, Léucio, Calinico, Apolônio e Filêmon, mártires († séc. III).
15 S. Eleutério, hieromártir († c. 130).
16 S. Ageu, profeta († 516 a.C). S. Marino, mártir (séc. III).
17 Ss. Daniel, profeta e os três jovens: Ananias, Azarias e Misael († séc. a.C. VI).
18 Ss. Sebastião e cc., mártires († fim do séc. II).
19 S. Bonifácio, mártir (séc. IV).
20 Pré-festa do Natal de N.S. Jesus Cristo
S. Inácio Teóforo, bispo de Antioquia, hieromártir († 107).
21 S. Juliana de Nicomédia, mártir (início do séc. IV).
22 S. Anastásia, megalomártir (fim do séc. III).
23 Ss. Dez Mártires de Creta († c. 250).
24 Paranionia do Natal S. Eugênia, mártir (fim do séc. III).
25 Nascimento segundo a carne do Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo
26 Sinaxe da Santíssima Mãe de Deus (Domingo depois do Natal: S. José, o justo, esposo
de Maria; S. Rei Davi e S. Tiago, "irmão" do Senhor).
27 S. Estêvão, arquidiácono, protomártir († 37).
S. Teodoro, o Grapto, mon. († 844).
28 Ss. Mártires de Nicomédia († 303).
29 Ss. Mártires Inocentes S. Marcelo, o Acemeta, mon. († 470).
30 S. Anísia de Tessalônica, mon. e mártir (início do séc. IV).
S. Zótico, "pai dos orfãos" (séc. IV).
31 Conclusão dafesta do Natal
S. Melânia, romana (†410).
7 de dezembro: Santo Ambrósio, bispo de Milão.
O dia 7 de dezembro é o aniversário da sagração episcopal de Santo Ambrósio, ocorrida no ano 374. Nesse dia ele deu início à sua atividade benéfica como pastor da Igreja de Milão, que se estendeu por 23 anos. A tradição romana e constantinopolitana celebram a memória do santo bispo nesse dia.
O Ofício bizantino, no próprio do santo, começa relembrando nas Vésperas a passagem rápida da administração civil à eclesiástica do nobre romano nascido em Trévires (em 333 para alguns, em 339 para outros):
"Tu, que com tuas virtudes ornavas a cadeira de governador, recebeste justamente, por divina inspiração, a cadeira episcopal; sobre esta e aquela foste fiel dispensador da graça de Deus e por isso, ó santo Ambrósio, recebeste a dúplice coroa."
Em outro tropário vespertino é logo lembrado, também, o comportamento corajoso do bispo de Milão em relação ao imperador Teodósio, que se manchara de crueldades:
"Como Natã fez com Davi, bem-aventurado Ambrósio, certa vez repreendeste com veemência ao imperador dos cristãos o seu pecado contra Deus; publicamente o excluíste da comunhão e, em seguida, tendo-o submetido à penitência e tendo-se corrigido, o readmitiste entre tuas ovelhas."
São três os imperadores com os quais o Metropolita de Milão manteve relações e inúmeros os contatos com os bispos das regiões vizinhas e mesmo longínquas.
Mais um texto das Vésperas que evidencia a importante contribuição teológica que o santo deu sobre o mistério da encarnação:
"Participando do Concílio dos Padres teóforos, pregaste o Filho único em duas naturezas, nascido por nós da Virgem desconhecedora de núpcias, consubstancial ao Pai, do qual compartilha a natureza, a eternidade e, pela força do Espírito, refutaste a ímpia loquacidade de Ario. Pede a Cristo que conceda à Igreja a concórdia, a paz e a graça da salvação."
O tropárío conclusivo é o comum aos outros bispos:
"A sinceridade das tuas obras, ó pai e pontífice Ambrósio, te tornou, perante o teu rebanho, regra de fé, modelo de doçura, mestre de temperança. Por isso, pela tua humildade, obtiveste a exaltação, e por tua pobreza, a riqueza. Roga ao Cristo Deus que salve as nossas almas."
O kontákion, nas duas versões (grega, 3º tom e eslava, 4º tom), realça os traços característicos da obra de Ambrósio. Apresentamos aqui a versão eslava:
"Ó santo pontífice Ambrósio, iniciador dos sagrados mistérios, ensinando os divinos dogmas desmascaraste o engano de Ario; operador de milagres, pela força do Espírito curaste as diversas paixões. Pastor santo, roga ao Cristo Deus que salve as nossas almas."
Dos santos ocidentais, Ambrósio é um dos mais conhecidos no Oriente. No livro que contém a breve biografia dos santos de cada dia, comemorados pela liturgia, a Santo Ambrósio é reservada uma página e meia. Há muitos que pensam que a nobre família, da qual nasceu o santo, fosse de origem grega. Nas muitas obras que o bispo milanês deixou escritas, os teólogos do Oriente - Atanásio, Orígenes, Fílon, Dídimo Alexandrino e também Basílio - estão bem presentes.
Para o dia 7 de dezembro aparecem nos Minéa dois cânones, no Ofício matinal, em honra de Santo Ambrósio em que são lembradas suas excelsas qualidades. Insiste-se muito sobre a luta contra o arianismo por parte de Santo Ambrósio, o qual é também lembrado como "modelo para os bispos," "curador de tantos males," "língua sábia que proclama palavras de verdade," "melodiosa cítara do divino Paráclito," e poder-se-ia continuar ainda. A última atribuição de "ter cantado por nós todos" nos faz pensar nos hinos sagrados que o santo bispo compôs. O hino conhecido no Ocidente como Te Deum laudamus está sempre incluído nos livros bizantinos de orações e de cantos. No Oriente bizantino, o hino é chamado simplesmente de Híno de Santo Ambrósío.
Na manhã de 4 de abril de 397, um sábado santo, a morte colheu Santo Ambrósio, logo depois de ter recebido a eucaristia. A perda do insigne pastor e mestre sensibilizou também o Oriente. Ainda hoje os ortodoxos, ao passar por Milão, visitam a. basílica ambrosiana e gostam de rezar na frente do corpo do santo, exposto à veneração dos fiéis ao lado dos corpos dos mártires Gervásio e Protásio, por ele reencontrados.
Verdadeiramente "a riqueza dos teus ensinamentos, ó ilustre Pontífice, e a tua vida resplandecente de divina beldade encantam os nossos corações como incenso de suave perfume" (Texto extraído de um Cânon do dia 7 de dezembro).
27 de dezembro: Santo Estêvão, protomártir
Os calendários eclesiásticos bizantinos mais detalhados (por exemplo, o editado pelo Patriarcado de Moscou), o protomártir Estêvão é lembrado quatro vezes no ano. O 27 de dezembro, porém, é a comemoração principal, próxima à da Igreja romana, do dia 26. Os motivos dessa data são os mesmos: o de aproximar ao Salvador recém-nascido aquele que por primeiro confessou a sua divindade até o derramamento do sangue. A tradição constantinopolitana costuma homenagear, depois de uma festa importante, as pessoas que participaram do evento. Depois do Natal de N.S. Jesus Cristo, o Oriente bizantino só podia dedicar o dia 26 de dezembro à memória da Virgem Mãe de Deus. Logo em seguida - em 27 de dezembro -, faz-se memória do "santo apóstolo protomártir e arquidiácono Estêvão." O kontákion explica quanto se segue:
Kontákion (3º tom).
"Ontem o Senhor desceu no meio de nós em um corpo humano, e hoje o servo abandona o corpo; ontem o Rei nasceu segundo a carne e agora o seu servo é apedrejado até morrer por ele, o grande Estêvão, primeiro mártir."
No 4 de janeiro o nome de Estêvão está incluído entre os "70 Apóstolos" escolhidos por Jesus Cristo, dos quais naquele dia se faz a "Sinaxe."
Nos textos próprios das Vésperas, são relatados os nomes de todos eles; o de Estêvão está no primeiro tropário.
Ao dia 15 de setembro está ligado o incremento do culto a Santo Estêvão, porque no ano 415 foram achados os seus restos mortais em Kefar-GarnIá (Palestina) por parte do presbítero Luciano que informou da descoberta o bispo de Jerusalém, João; pouco depois aconteceu a solene trasladação das relíquias para a basílica do Sião. No 15 de setembro, os textos litúrgicos bizantinos, porém, não fazem nenhuma alusão ao protomártir Estêvão.
O dia 2 de agosto é a quarta data em que é lembrado o diácono descrito pelos Atos dos Apóstolos no capítulo 6. Nesse dia, em 428, conforme indicado em diversos livros eslavos, aconteceu a transferência das relíquias de Jerusalém para Constantinopla.
Nas duas festas bizantinas do "santo apóstolo protomártir e arquidiácono Estêvão" é repetido o mesmo tropário conclusivo. Ali se faz menção do significado do nome, em grego coroa:
Tropário (4º tom),
"Tua cabeça foi coroada com um diadema real, por causa do combate que travaste por Cristo Deus, ó protoatleta do exército dos mártires. Enfrentaste o furor dos judeus e viste o teu Salvador à direita do Pai. Roga-lhe sem cessar pelas nossas almas."
Sabemos que o autor do Cânon (parte importante do Ofício de matinas) do dia 2 de agosto é Teófanes, ao passo que o autor do Cânon do dia 27 de dezembro é composição de João, o Monge, isto é, de João Damasceno. Nos versos hinográficos se encontram mais informações biográficas sobre o santo, expressas em orações, como é costume na liturgia bizantina. Sabemos, por exemplo, que o seu discurso é um dos mais longos do Novo Testamento.
"Coma sua boca que anunciava Deus, o protomártir lançou uma tempestade de palavras aos acusadores, mas debaixo da tempestade de pedras que lhe lançaram recebeu a coroa dos vencedores." "Apóstolo de Cristo, primeiro entre os diáconos, vértice dos mártires, protagonista de combates mediante os quais santificaste o universo, teus milagres fazem resplandecer as almas dos mortais: Estêvão, salva de qualquer perigo a nós que veneramos tua ilustre memória."
Também a prática do perdão, que o mesmo Jesus pediu para seus algozes, é lembrada pelos textos litúrgicos:
"Ó Estêvão, bem-aventurada é a palavra por ti pronunciada: 'Cristo, Senhor meu dizias, não lhes imputes este pecado, mas como Deus e Criador recebe o meu espírito como um sacrifício de agradável perfume."
Os temas da recente festa do Natal, além de aparecer nas preces do pós-festa, são trazidas à baila pelos textos próprios do Ofício de Santo Estêvão:
"O nascimento do Salvador e a memória do protomártir formam para nós um coro: louvemos, pois, sem cessar ao Senhor e exaltemo-lo pelos séculos."
Ou então:
"Como estrela resplandecente, o protomártir Estêvão misturou, neste dia, a sua luz com a do nascimento de Cristo, iluminando os confins do universo. Do sinédrio venceu a impiedade; pelas palavras sábias desmascarou o engano e pela citação das Sagradas Escrituras testemunhou Jesus, nascido da Virgem, qual Filho de Deus e Deus ele mesmo. Confundiu a sacrílega malícia deles, o protomártir e grão diácono Estêvão."
Janeiro
1 Circuncisão de Nosso Senhor Jesus Cristo S. Basílio, o Grande, arcebispo de Cesaréia
na
Luzia, virgem e mártir (séc. IV).
2 Pré-festa da Teofania
S. Silvestre, papa de Roma († 335).
S. Silvestre de Troina (it.-gr. † 1164).
Esl.: S. Serafim de Saróv, mon. († 1833).
3 S. Malaquias, profeta (séc. V a.C).
4 Sinaxe dos 70 apóstolos S. Teoctisto de Cácamo, mon. (it.-gr. t c. 800).
5 Paramonia da Teofania Ss. Teopento e Teonas, mártires († fim do séc. III) S. Sinclética,
mon. († ?).
6 Santa Teofanía do Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo; Batismo do Senhor
7 Sinaxe de S. João Batista, o Precursor
8 S. Jorge, o Cozebita († c. 613) S. Dômnica, virgem († c. 475).
9 S. Polieuto, mártir († c. 250).
10 S. Gregório de Nissa, bispo († c. 394) S. Marciano de Constantinopla, mon. († c. 472).
11 S. Teodósio Cenobiarca († c. 529).
12 S. Tatiana, mártir (séc. III).
13 Ss. Hermilo e Estratonico, mártires († c. 310).
14 Conclusão da Santa Teofanía Ss. Monges, mártires do Sinai († 305, 370,400).
15 S. Paulo de Tebe, eremita (c. séc. IV) S. João Calibita (séc. V).
16 Veneração das Cadeias de S. Pedro
17 S. Antão, o Grande, anacoreta († 356).
18 Ss. Atanásio e Cirilo, bispo de Alexandria (séc. IV e V).
19 S. Macário Egípcio, eremita († c. 390) S. Arsênio, bispo de Corfu († fim do séc. X).
20 S. Eutímio, o Grande, mon. († 473).
21 S. Máximo, o Confessor († 662).
22 S. Timóteo, apóstolo [dos 70] (fim do séc. I) S. Anastásio da Pérsia († 628).
23 Ss. Clemente, bispo de Ancira e Agatângelo, mártires († início do séc. IV).
24 S. Xénia, mon. († séc. V).
25 S. Gregório Nazianzeno, o Teólogo, arcebispo de Constantinopla († c. 389).
26 Ss. Xenofontes, mon. e cc., mártires († séc. VI).
27 Trasladação das relíquias de S. João Crisóstomo (438).
28 S. Efrém Sírio, mon. e diácono († 373).
29 Trasladação das relíquias de S. Inácio de Antioquia (c.440).
30 Ss. Três Hierarcas: Basílio, o Grande, Gregório, o Teólogo e João Crisóstomo.
S. Hipólito, mártir († séc. III).
31 Ss. Ciro e João, anárgiros († 312).
30 de janeiro: os santos Três Hierarcas: Basílio, o
Grande, Gregório, o Teólogo, e João Crisóstomo
Há quase nove séculos que os cristãos do Oriente, ortodoxos ou católicos de rito bizantino, no dia 30 de janeiro, celebram numa única festa os três santos bispos e doutores: Basílio, o Grande, Gregório, o Teólogo (ou Nazianzeno) e João Crisóstomo. A festa não tem uma correspondente no calendário romano, no qual, porém, são celebrados respectivamente em 2 de janeiro os santos Basílio e Gregório, e em 13 de setembro São João Crisóstomo. No calendário bizantino os três "hierarcas" possuem também uma festa em dias separados: São Basílio é comemorado no dia l' de janeiro, aniversário de sua morte (379) (juntamente à festa da Circuncisão de N.S. Jesus Cristo); São Gregório, o Teólogo, como é apelidado no Oriente o bispo de Nazianzo morto no ano 390, é comemorado em 25 de janeiro; e São João Crisóstomo em 13 de novembro e 25 de janeiro, dia em que foram trasladadas as suas relíquias de Cumana (onde morreu exilado em 407) para Constantinopla, na presença do Imperador do Oriente, em 438.
A festa conjunta dos três santos, no Oriente bizantino, remonta ao ano 1084. Naquele tempo, sob o imperador Aléxio Comneno, em Constantinopla e proximidades, surgiam discussões animadas sobre qual entre os três santos fosse o maior: de Basílio, louvavam-se sua inteligência excepcional e sua austeridade exemplar; de Gregório se louvava a sublime teologia expressa em estilo elegante; de Crisóstomo, enfim, louvava-se a excepcional eloqüência e a força convincente de seus discursos. Na incerteza e perplexidade para a resposta, pensou-se em recorrer ao santo e douto bispo João, metropolita dos Eucaitas. Este se pôs em oração e, a noite seguinte, teve a alegria de uma aparição dos três grandes Doutores da Igreja que lhe disseram:
"Fala àqueles cristãos de pôr fim a suas discussões e contendas. Perante Deus nenhum de nós três é maior do que os outros; entre nós não existem desacordo nem divisões. Aquilo em que um creu e ensinou, também os outros creram e ensinaram. Levanta-te, pois, e diga-lhes que fiquem na paz e na concórdia. E, para afirmar praticamente essa unidade da nossa fé, escolhe um dia em que se faça celebrar em nossa honra uma liturgia para agradecer a Deus pelas graças que concedeu a nós três e, por nosso meio, a toda a Igreja
Assim foi feito. O metropolita João escolheu o dia 30 de janeiro e ele mesmo compôs o Ofício para celebrar a nova solenidade em honra dos três santos Padres e Doutores universais.
A maior parte dos textos litúrgicos do dia lembram "os três grandes luminares" juntos, mas em algumas partes se evidenciam as qualidades específicas de cada um, nomeados individualmente. A importância da festa é ressaltada também porque, se a data cai num domingo de Pré-Quaresma ou em outro dia liturgicamente importante, a festa é transferida para outro dia da semana.
Poder-se-ia fazer uma litania elencando os numerosos atributos que elogiam os três santos: "Três astros que juntos brilham no universo," "anjos terrestres e homens celestes," "colunas e alicerces da Igreja," "sustentáculo dos fiéis e flagelo dos hereges," "médicos para as enfermidades espirituais e corporais," "pastores que nutriram com ensinamentos divinos," "instrumentos do Espírito que anunciam a verdade," "oradores do Verbo," "trombetas sonoras da divina pregação," "campeões da Trindade," "baluartes da fé," "três verdadeiros Apóstolos após os Doze de Cristo," "rios por onde correm as águas vivas do Éden," "Doutores divinos e universais," "Padres teóforos," "tochas para o mundo e força vital para os pobres," "teólogos da palavra de ouro," "combatentes fortes e invencíveis," "exploradores da profundeza do Espírito..." e poder-se-ia continuar, porque o estro poético e a forte imaginação dos orientais são bem evidentes nesses textos litúrgicos.
Em alguns trechos se faz alusão às qualidades específicas de cada um dos três santos: Basílio "espírito eminente" possui um nome régio; Gregório é o "epônimo da teologia" e "quebrou as cadeias da heresia com a sabedoria da sua doutrina," João Crisóstomo "de nome bem escolhido..." "pregou incessantemente" e é "árvore de vida com frutos de imortalidade." 0 número "três" dos santos comemorados conjuntamente relembra com freqüência a Trindade dos quais foram eminentes servidores.
Do hino das Matinas respigamos:
"No prado das Sagradas Escrituras, como abelhas escolhestes as flores mais belas para alimentar os crentes com o mel dos vossos ensinamentos; possuidores de tal doçura, em júbilo cada um exclama: 'Também após a vossa morte, eis- vos de novo presentes entre os que celebram vossa memória, ó Bem-aventurados."
Fevereiro
1 Pré-festa do Encontro S. Trifão, mártir († 251).
2 Hypapantê = Encontro de Nosso Senhor Jesus Cristo (Apresentação ao Templo).
3 Sinaxe dos Ss. Simeão, o justo e Ana, profetisa (séc. I).
4 S. Isidoro de PeIúsio, mon. († c. 449).
5 S. Águeda de Catânia, mártir († 251).
6 S. Bucólio, bispo de Esmirna († 100?) S. Julião, mártir (séc. III).
7 S. Partênio, bispo de Lâmpasco (séc. IV) S. Lucas, eremita († 953).
8 S. Teodoro, chefe militar, megalomártir († 319) S. Zacarias, profeta (séc. VI a.C.).
9 Conclusão dafesta do Encontro S. Nicéforo, mártir († c. 257).
10 S. Caralampo, mártir († 202).
11 S. Brás, bispo de Sebaste, hieromártir († c. 316).
12 S. Melécio. Arcebispo de Antioquia († 381).
13 S. Martiniano, mon. († fim do séc. IV).
14 S. Auxêncio, eremita († 473) S. Marão, eremita († c. 423) Esl.: S. Cirilo, mestre dos
Eslavos († 869).
15 S. Onésimo, apóstolo [dos 70] (séc. I).
16 S. Pânfilo e cc., mártires (†309).
17 S. Teodoro Tiron, chefe militar, mártir († 319).
18 S. Leão, o Grande, papa de Roma († 461).
19 S. Arquipo, apóstolo [dos 70] († séc. I).
20 S. Leão, bispo de Catânia (séc. VIII).
21 S. Eustácio, bispo de Antioquia († c. 330).
S. Timóteo, mon. (séc. VII?).
22 Invenção das relíquias dos Ss. mártires de Constantinopla (séc. IV).
23 S. Policarpo, bispo de Esmirna, hieromártir († 155) S. João Terista (it.-gr. t séc. XI).
24 lª e 2ª invenção da cabeça de S. João Batista, o Precursor
25 S. Tarásio, arcebispo de Constantinopla († 806).
26 S. Porfirio, bispo de Gaza († 420).
27 S. Procópio Decapolita (séc. VIII).
28 S. Basílio, mon. (séc. VIII).
29 S. Cassiano, mon. († c. 435).
5 de fevereiro: Santa Águeda de Catânia, virgem e mártir
Em 5 de fevereiro de 251, durante a perseguição anticristã do imperador Décio, Águeda, virgem siciliana, encerrou sua vida com o martírio testemunhando a Cristo. Os milagres realizados junto do seu túmulo, no subúrbio de Catânia chamado Hybla Maíor, deram grande notoriedade à santa, ainda hoje venerada por católicos e ortodoxos no dia 5 de fevereiro. Os bizantinos, no kontákion do Ofício do dia mais vezes repetido, assim rezam:
Kontákion (4º tom).
"A Igreja neste dia se orna com a gloriosa púrpura banhada no sangue da ilustre mártir Águeda aclamando-a: alegra-te, glória de Catânia."
Ressoa assim, nos vários países do Oriente bizantino, da Grécia à Rússia, da Romênia à Bulgária e aos demais países onde se encontram ortodoxos ou católicos de rito grego, o nome da cidade italiana que a venera como sua padroeira e que várias vezes experimentou a sua prodigiosa intercessão, especialmente por ocasião das erupções do vulcão Etna. Os Atos (Passio) da mártir, que remontam à segunda metade do século V, e que chegaram até nós em duas redações gregas e uma latina, nos informam que justamente no primeiro aniversário da morte de Águeda, quando a lava vulcânica ameaçava submergir a cidade, os mesmos pagãos correram até o túmulo da heroína cristã, tomaram o véu que cobria o corpo da santa e o usaram como escudo contra o flagelo, que logo cessou. Como tropário principal, a liturgia bizantina utiliza aquele do Comum das virgens-mártires:
Tropário (4º tom).
"Tua cordeira, ó Jesus, te invoca em voz alta: 'Meu esposo, és tu que eu desejo! Ansiando por ti eu combato, contigo sou crucificada e pelo teu batismo sou imolada. Por ti eu sofro, a fim de reinar contigo. Por ti eu morro a fim de viver em ti. Acolhe, pois, como vítima sem mancha, aquela que por amor de ti se sacrifica.' Por sua intercessão, ó Misericordioso, salva nossas almas."
A comemoração da santa, no dia 5 de fevereiro, cai num período litúrgico em que, para os bizantinos, se celebra o pós-festa de 2 de fevereiro, particularmente solene no Oriente. Por isso alguns textos do Ofício recordam a apresentação do Menino Jesus ao Templo. Assim mesmo, os textos próprios em honra da santa são extensos. Desde as Vésperas é lembrado que o nome Águeda em grego quer dizer boa e são mencionados detalhes sobre a sua vida e o seu martírio.
"Ilustre mártir, suportando a ablação de teus seios, as queimaduras com o fogo e as dilacerações do corpo, elevaste o olhar do teu coração para a eterna recompensa, para a bem-aventurança eterna e para a coroa imarcescível: aquela que agora o Cristo, para o qual sofreste, te concede; ó paciente lutadora."
O Cânon das matinas, obra de Teófanes, alterna elogios com súplicas: "Ó mártir, foste verdadeiramente digna do nome que levavas, e a inefável Providência de antemão havia previsto a tua bondade."
E mais adiante:
"Águeda, belíssima flor, glória radiosa dos divinos mártires, cura a minha alma do mal e fazendo com que possa resplandecer de beleza." "Águeda, ilustre mártir, és famosa pela bondade e pela beleza da tua alma e do teu corpo; com efeito uma e outra contribuíram para realizar em ti o bem e foram preservadas pela providência de Cristo."
É lembrado que a agueda é uma pedra preciosa e a mesma qualificação é dada à mártir, que viveu e morreu em Catânia, provavelmente também ali nasceu, embora mesmo os livros bizantinos indiquem Palermo como cidade do nascimento.
Os detalhes da sua vida, tidos como lendários no Ocidente, são, ao invés, acolhidos no Oriente, mesmo nas preces litúrgicas:
"Mostrando muita alegria, encheste de admiração o tirano pela tua graça, pela sabedoria dos teus discursos e pela paciência no meio dos suplícios porque, suportando as brasas ardentes sem queixas, assim exclamavas: És bendito, Deus dos nossos Pais." "Na prisão apareceu-te resplandecente Pedro, o discípulo de Cristo, que veio visitar-te e curar as horríveis chagas..."
E na prisão Águeda faleceu, conforme a tradição bizantina, mártir da sua fé em Cristo.
18 de fevereiro: São Leão, o Grande, papa
Não são poucos os papas, bispos de Roma, comemorados pela liturgia bizantina; todos do primeiro milênio, evidentemente, pois as dolorosas excomunhões recíprocas de 1054 entre as Igrejas de Roma e Constantinopla provocaram uma divisão que somente de algumas décadas para cá está se procurando com empenho superar.
As comemorações, porém, são feitas, pelas duas Igrejas, em datas diferentes, às vezes próximas entre si, como acontece para o papa São Silvestre, celebrado no Ocidente em 31 de janeiro e no Oriente em 2 de janeiro, ou por São Martinho, o pontífice romano que foi condenado à morte pelo imperador exatamente em Constantinopla e que morreu de privações na Criméia em 656, no dia 13 de abril, data que o calendário geral romano manteve para a comemoração, ao passo que o Oriente bizantino o comemora no dia seguinte, 14 de abril. São Gregório Magno é celebrado pelos católicos latinos em 3 de setembro e pelos ortodoxos em 12 de março. O Oriente bizantino associa ao nome do papa Gregório a lembrança dos Diálogos escritos por ele, e também não poucos lhe atribuem a paternidade da liturgia bizantina dos Pré-santificados, celebrada com freqüência durante a Grande Quaresma.
São Leão Magno, sepultado na basílica de São Pedro, era celebrado conforme o calendário romano dia 11 de abril, data que foi transferida após a última reforma litúrgica para 10 de novembro. O calendário bizantino contempla essa festa no dia 18 de fevereiro, data que com freqüência cai durante a Quaresma, quando prevalece o Ofício do tempo sobre o do santo.
Os textos litúrgicos sublinham o ardente zelo que o santo tinha pela ortodoxia da fé e a firmeza irremovível ao enfrentar os hereges que solapavam a disciplina eclesiástica; os mesmos textos reconhecem-no como "herdeiro do trono supremo de Pedro, animado pelo seu mesmo espírito e zelo."
São também interessantes as informações biográficas do santo que os livros litúrgicos bizantinos fornecem ao apresentá-lo. Na edição eslava dos Minéa, editados pelo Patriarcado de Moscou em 1981, por exemplo, é lembrado que o "Pontífice Leão I, o Grande, papa de Roma," nasceu de uma piedosa família da Itália (evita-se assim a questão controvertida do nascimento ocorrido em Roma ou na Toscana); teve uma excelente formação intelectual e moral e escolheu o "serviço à Igreja tomando-se arquidiácono junto ao papa São Sisto III," ao qual teria sucedido em 440. Encontrava-se nas Gálias, enviado para uma missão pacificadora, quando foi eleito Sumo Pontífice após uma rápida e concorde decisão do clero e do povo romano. O seu pontificado estendeu-se até 461, durante um período difícil e atormentado da história civil e eclesiástica. Além de ter enfrentado Átila e parado sua ação devastadora, em 455 conseguiu que Genserico, chefie dos vândalos que avançavam da África ameaçando Roma, poupasse a cidade do fogo e da matança de seus habitantes.
Nos livros litúrgicos gregos e eslavos encontramos, por vezes, textos diferentes a respeito do papa Leão Magno, esta pode ser uma confirmação indireta de sua notoriedade. O kontákion, porém, é o mesmo nas duas versões:
Kontákion (3º tom).
"Tu, que sentaste num trono sagrado e que com a tua doutrina divinamente inspirada fechaste as bocas leoninas da heresia, fizeste brilhar o conhecimento da santa Trindade. Por isso foste glorificado como o santo oráculo da graça divina."
O mesmo nome do Pontífice inspira uma referência ao rei dos animais:
"Na verdade, ó santo, como um leão expulsaste com teus reais rugidos as raposas que semeavam confusão."
Nem é esquecido o lugar da sua cátedra:
"Do Ocidente te levantaste como a aurora, três vezes bem-aventurado, irradiando na Igreja o conjunto dos teus ensinamentos para iluminar as nossas almas."
Os ensinamentos que o papa Leão Magno nos legou através dos Sermões e das epístolas eram bem notórios também no Oriente. No século passado, seus escritos foram publicados também em língua russa. De particular renome gozava o Tomus ad Flaviarum, a instrução dogmática em que Leão I sustentava, contra Êutiques, a genuína doutrina católica das duas naturezas - a divina e a humana -, distintas e conjuntas na única pessoa do Verbo divino. No importante Concílio de Calcedônia (451), na presença de cerca de 600 bispos quase todos orientais, foi lida solenemente a epístola por todos reconhecidas como autêntico ensinamento da única Igreja de Cristo alicerçada sobre Pedro. Nos Atos daquele Concílio Mansi registrou as aclamações com as quais foi recebido o documento: "Eis a fé dos Padres! Nós todos assim cremos! Pedro falou por boca de Leão!"
Março
1 S. Eudócia, mártir († início do séc. II).
2 S. Teodoto, bispo de Chipre, hieromártir († c. 321).
3 Ss. Eutrópio e cc., mártires († início do séc. IV).
4 S. Gerásimo, mon. († 475).
5 S. Cônon de Isáuria, mártir († 275).
6 Ss. Quarenta e dois Mártires de Amório († 848).
7 Ss. Sete Hieromártires, bispos do Quersoneso († séc. IV).
8 S. Teofilacto, bispo de Nicomédia († 845).
9 Ss. Quarenta Mártires de Sebaste († 322).
10 S. Quadrato de Corinto e cc., mártires († 258).
11 S. Sofrônio, patriarca de Jerusalém († 638).
12 S. Teófanes de Sigriana, mon. († 817) S. Gregório "Diálogo," papa de Roma († 604).
13 Trasladação das relíquias de S. Nicéforo, bispo de Constantinopla (847).
14 S. Bento de Nórcia, mon. († c. 547).
15 Ss. Agápio e cc., mártires († 304).
16 S. Sabino Egípcio, mártir († 303).
S. Nicodemos de Mámmola (Reggio Calabria), mon.(it.-gr. † 990).
17 S. Alexis, homem de Deus († séc. IV ou V).
18 S. Cirilo, bispo de Jerusalém († 387).
19 Ss. Crisanto e Daria, sua mulher, mártires († 283).
20 Ss. Monges da Lavra de S. Sabas, mártires († 796).
21 S. Tiago, bispo de Catânia († c. 815).
22 S. Basílio de Ancira, hieromártir († 363).
23 Ss. Nicon e cc., mártires († 273).
24 Pré-festa da Anunciação S. Zacarias, o recluso (?).
25 Anunciação da SS. Mãe de Deus, nossa Senhora e sempre Virgem Maria
26 Conclusão da festa da Anuncíação Sinaxe do arcanjo S. Gabriel
27 S. Matrona de Tessalônica, mártir († séc. 111-IV).
28 S. Estêvão, taumaturgo († c. 815) S. Hilarião, o Moço († fim do séc. VIII).
29 Ss. Marcos, bispo de Aretusa e Cirilo, diácono († 362).
30 S. João Clímaco, eremita († c. 649) 31 S. Hipácio, bispo de Gangre, hieromártir († séc.
IV).
26 de março: Sinaxe do arcanjo São Gabriel
No dia 25 de março, festa da Anunciação, o arcanjo Gabriel, Núncio celeste da encarnação de N. S. Jesus Cristo, é nomeado vezes sem conta. Seguindo o costume litúrgico de comemorar, no dia seguinte a uma grande festa, os personagens que nela figuraram, em 26 de março celebra-se a Sinaxe do arcanjo São Gabriel. Março é um mês sempre encaixado no período quaresmal. Por isso o menológio não apresenta figuras de destaque, exceção feita da festa dos santos Quarenta Mártires de Sebaste, no dia 9 de março.
Em 26 de março celebra-se também a Conclusão da festa da Anunciação, sempre com a finalidade de não prolongar uma celebração festiva em época de jejum na qual predominam os Ofícios do Triódion quaresmal. Se o dia 26 de março ocorrer durante a Semana Santa, algumas partes relativas ao arcanjo São Gabriel são inseridas nas Completas da semana anterior.
A tradição litúrgica constantinopolitana dá muita importância às milícias celestes, especialmente aos arcanjos Arquistrategos Miguel e Gabriel. A cada segunda-feira se repetem em lhonra deles estas orações:
Tropário (4º tom).
"Grandes chefes das milícias celestes, nós vos suplicamos, indignos que somos, protegei-nos por vossas orações e guardai-nos à sombra das asas de vossa glória imortal, nós que, prostrados, instantemente vos imploramos: 'Livrai-nos dos perigos, ó Príncipes das potências do alto.´"
Kontákion (2º tom).
"Divinos Arquistrategos, ministros da glória divina, chefes dos anjos e guias dos homens, pedi o que nos é conveniente e uma grande misericórdia, chefes dos incorpóreos."
A primeira oração, porém no singular, constitui o tropário conclusivo do dia 26 de março. Esse mesmo tropário é repetido, no plural, por ocasião da "Sinaxe dos Arquistrategos Miguel e Gabriel e das demais potências angélicas," no dia 8 de novembro, que é a festa principal dos lncorpóreos, usando uma expressão freqüente no Oriente.
O kontákion do 26 de março é próprio do arcanjo Gabriel; cujo nome significa "força de Deus": "Arquistratego de Deus, servidor da sua glória, guia dos mortais e chefe dos anjos, consegue para nós o que é útil às nossas almas e a graça da salvação."
"Sinaxe" significa "reunião para celebrar uma festa" e, apesar dos textos próprios do dia serem em menor número - para dar lugar aos do Triódion e a outros da festa do dia 25, encontramos belas preces como a que se segue, extraída das Vésperas:
"O grande mistério, desconhecido no início até dos anjos, e que por séculos ficou oculto, a ti somente foi confiado, Gabriel, e tu mesmo, chegando a Nazaré, o anunciaste somente à Virgem imaculada: com ela intercede para que seja concedida às nossas almas a paz e a graça da salvação."
As duas leituras bíblicas das Vésperas são extraídas do Exodo (3,1-8:Moisés recebe a visão do Anjo do Senhor junto à sarça ardente) e dos Provérbios (8,22-30). Gabriel, como diz uma frase do Sinaxário, é o "servidor do inefável mistério, sobrenatural e divino," isto é, da Encarnação de Deus. Também no Cânon das matinas encontramos lindas invocações dirigidas a ele:
"Arcanjo do Senhor, que és luz reflexa da luz divina e imaterial, pelos teus rogos, ilumina a minha mente, eu te suplico, a fim de que possa louvar-te."
"Formemos um coro divino no júbilo deste dia, a fim de glorificar o príncipe dos Incorpóreos que anunciou a inefável alegria que, por bondade, veio a este mundo."
O arcanjo Gabriel é invocado para que sejamos livres de todos os perigos," é exaltado como "ornamento dos que o celebram com fé" e é lembrado como mensageiro que no templo visitou Zacarias, que ficou mudo por não ter acreditado no anúncio.
Abril
1 S. Maria Egipcíaca († c. 431).
2 S. Tito, taumaturgo (séc. IX).
3 S. Nicetas, o Confessor, mon. († 824) S. José, hinógrafo de Siracusa († 880).
4 Ss. Teodulo e Agátopo, mártires (início do séc. IV).
5 Ss. Cláudio e cc., mártires († c. 250).
6 S. Eutíquio, bispo de Constantinopla († 582) Esl.: S. Metódio, mestre dos Eslavos, bispo
(† 885) S. Filarete de Palermo, mon. (it.-gr.† 1170).
7 S. Jorge, bispo de Melitina (séc. IX) S. Caliópio, mártir († 304).
8 Ss. Herodião, Agabo, Rufo, Asíncreto, Flegonte, Hermes, apóstolos [dos 70] (séc. I).
9 S. Eupsíquio de Cesaréia, mártir († 362).
10 Ss. Terêncio, Pompeu e cc., mártires († c. 250).
11 S. Antipas de Pérgamo, mártir († c. 90).
12 S. Basílio, bispo de Pários (séc- VIII).
13 S. Martinho, papa de Roma, mártir († 655).
14 Ss. Aristarco, Pudente e Trófimo, apóstolos [dos 701] séc. I).
15 S. Crescêncio, mártir († c. 250).
16 Ss. Ágape, Irene, Ciônia, mártires (início do séc. IV).
17 Ss. Simeão, bispo de Seleucia e cc., mártires († 314).
18 S. João, discípulo de S. Gregório Decapolita († C. 850).
19 S. Pafnúcio, hieromártir (início do séc. IV) S. João da Antiga Lavra (início do séc. IX).
20 S. Teodoro, o Triquinate (séc. V).
21 Ss. Januário, bispo de Benevento e cc., mártires (início do séc. IV).
22 S. Teodoro, bispo de Anastasiópolis († 613).
23 S. Jorge Megalomártir (c. 303).
24 S. Isabel, mon. (?) S. Sabas, o Godo, mártir († 372).
25 S. Marcos, apóstolo [dos 70] e evangelista (séc. I).
26 S. Basílio, bispo de Amaséia († 322) Esl.: S. Estêvão de Perm, mon. evangelizador (†
1396).
27 S. Simeão, apóstolo [dos 70], parente do Senhor, bispo de Jerusalém, mártir († 107).
28 Ss. Jasão e Sosípatro, apóstolos [dos 70] (séc. I) 29 Nove santos Mártires de Cizico (†
322) 30 S. Tiago, apóstolo, irmão de S. João Evangelista († 42).
23 de abril: São Jorge, megalomártir
No dia 23 de abril, tanto as Igrejas do Oriente como a católico-romana celebram o grande mártir, São Jorge. Porém, enquanto a última reforma litúrgica para a Igreja latina viu retroceder a importância desse santo, para os fiéis ortodoxos ele será sempre o "megalomártir, vitorioso e taumaturgo" em honra do qual a festa não se celebra somente em 23 de abril, mas ainda no dia 3 de novembro, quando, por toda parte, se comemora a reconstrução da igreja dedicada a ele, em Lydda (atualmente em Israel), onde foi deposto o seu corpo glorioso. Há uma tradição que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Como a liberdade de culto para os cristãos se deu somente dez anos depois dessa data, supõe-se que também a igreja em honra de São Jorge tenha sido construída por vontade do imperador Constantino.
Em ambas as festas repete-se o mesmo tropário conclusivo:
"Libertador dos cativos e defensor dos pobres, médico dos enfermos, sustentáculo dos reis, ó vitorioso e grande mártir Jorge, pede a Cristo Deus que salve nossas almas."
À etimologia do nome, relacionado à terra e a quem a cultiva, faz alusão em sentido espiritual o hino encontrado no Ofício dos dias 23 de abril e 3 de novembro:
"A tua vida foi digna do teu nome, Jorge glorioso: tomada a cruz de Cristo em teus ombros, beneficiaste o terreno tornado estéril pelo embuste do demônio e, tendo extirpado como arbusto espinhoso o culto dos ídolos, plantaste o cepo da verdadeira fé. Por isso consegues a cura para os fiéis de toda a terra e te mostras bom cultivador da Santa Trindade. intercede, to pedimos, pela paz do mundo e pela salvação das nossas almas."
Apesar das escassas notícias biográficas, nem sempre concordantes, os elogios tecidos pelas duas orações apresentadas delineiam uma figura excepcional do santo. Nascido na Capadócia de pais cristãos, foi predestinado para empreendimentos nobres. Um velho manual russo assim diz de São Jorge: Tendo ingressado para o serviço militar, "distinguiu-se pela inteligência, coragem, capacidade organizativa, força física, porte nobre." Mas é sobretudo na Passio Georgii (tida por muitos como apócrifa) que encontramos descritos os detalhes dos inúmeros suplícios aos quais o valoroso militar cristão foi submetido ao confessar a sua fé até o fim, até sua degolação. No Oriente, enquanto alguns atribuem a responsabilidade da condenação de São Jorge ao imperador dos Persas Daciano, para a maioria foi o imperador Diocleciano o responsável. Algumas recentes publicações, como o Minéon de abril, publicado em 1985 aos cuidados do Patriarcado de Moscou, relatam os diversos suplícios aos quais foi submetido o Santo: aprisionado, espancado, esfolado por uma roda cheia de pregos, sepultado numa fossa, obrigado a correr calçando botas de ferro incandescente ... e outros mais. Com a ajuda de Deus e dos seus anjos, Jorge sai-se sempre vitorioso e incólume e revida com respostas corajosas e cheias de fé aos seus perseguidores, muitos dos quais se convertem ao cristianismo.
Em algumas representações e especialmente nos icones, o mártir Jorge aparece montado num cavalo, quase sempre branco, no ato de matar um dragão que está aos seus pés. Na cena de fundo é possível ver com freqüência, próximas de uma janela, algumas pessoas, entre as quais uma donzela destinada a ser vítima do monstro faminto, se não tivesse intervido o "Vitorioso." Esse episódio, porém, é relatado numa época mais tardia em relação às primeiras "paixões" . Entre os ícones, existe um, antiqüíssimo, pintado com a técnica da encáustica e conservado no mosteiro do Sinai (talvez do séc.VI) onde os santos Jorge e Teodoro aparecem eretos, ladeando a Mãe de Deus sentada num trono.
O culto de São Jorge, ininterrupto no Oriente e bem cedo assumido também pelo Ocidente como símbolo de virtude intrépida, é muito difundido, quer na dedicação de igrejas e instituições, quer na piedade popular: desde Jerusalém, onde já no século VI existiam um mosteiro e uma igreja dedicados ao santo, até Bizâncio onde era venerado num orfanato; desde a Inglaterra, onde a famosa Ordem da "Jarreteira" é na realidade a "Ordem de São Jorge" e onde também o calendário anglicano conserva a festa, até a Rússia, onde a imagem do santo aparecia no brasão da cidade de Moscou, e onde desde a primeira introdução do cristianismo muitas igrejas e mosteiros lhe foram dedicados. A mesma cidade de Roma julga possuir o crânio do santo mártir, conservado na igreja de São Jorge al Velabro.
A Geórgia - uma das 15 repúblicas que constituíam a então União Soviética - acredita ter uma ligação peculiar com São Jorge, também pela semelhança do nome. Mas também no monte Athos, a montanha sagrada do monaquismo ortodoxo, o santo é muito venerado e representado. A Etiópia e em geral os fiéis coptos conhecem muito bem o "megalomártir," celebrado também por eles em 23 de abril. Entre os maronitas, o culto desenvolveu-se especialmente depois das Cruzadas.
No Mínéon do mês de abril, publicado em 1985 em Moscou, os dados biográficos do santo informam:
"Ele morreu quando ainda não tinha trinta anos. Apressando-se para se juntar à armada celeste, entrou na história da Igreja com o apelido de Vitorioso."
Maio
1 S. Jeremias, profeta (séc. VI a.C.).
2 Trasladação das relíquias de S. Atanásio, o Grande (373).
3 Ss. Timóteo e Maura, mártires († 304) Esl.: S. Teodósio das grutas junto de Kiev,
mon.(1074) 4 S. Pelágia de Tarso, mártir (séc. III-IV).
5 S. Irene, mártir (séc. I-II).
6 S. Jó, o Justo provado, profeta
7 Aparição da Santa Cruz em Jerusalém (351).
8 S. João Teólogo, apóstolo e evangelista (séc. I) S. Arsênio, o Grande († c. 445).
9 S. Isaías, profeta (séc. VIII a.C). S. Cristovão, mártir († c. 250) Esl.: Trasladação das
relíquias de S. Nicolau, de Mira para Bari
10 S. Simão Zelota, apóstolo (séc. I).
11 Esl.: Ss. Cirilo e Metódio, mon., Mestres dos Eslavos († 869 e 885) Fundação e
Dedicação de Constantinopla a Maria (330) S. Múcio, mártir (início do séc. IV).
12 S. Epifânio, bispo de Chipre († 403) S. Germano, bispo de Constantinopla († 733).
13 S. Glicéria, virgem, mártir († e. 150).
14 S. Isidoro de Quios, mártir († c. 250)ver Quios ou Quio
15 S. Pacômio, o Grande († 346) S. Aquiles, taumaturgo, bispo de Larissa (séc. IV).
16 S. Teodoro, o Santificado, mon. discípulo de Pacômio (séc. IV).
17 Ss. Andrônico e Júnias, apóstolos [dos 70] (séc. †).
18 Ss. Pedro, André, Paulo, Dionísio e cc., mártires († c. 250).
19 Ss. Patrício de Prusa e cc., mártires (séc. II-III).
20 S. Talileu, mártir († 284).
21 Ss. Iguais-aos-Apóstolos, Constantino († 337) e Helena († 329), imperadores
Esl.: ícone da SS. Mãe de Deus de VIadimir
22 S. Basilisco, mártir († 307).
23 S. Miguel, confessor, bispo de Sínada († 826).
24 S. Simeão Estilita, o Moço, anacoreta († 596).
25 3ª Invenção da cabeça de S. João Precursor (823).
26 S. Carpo, apóstolo [dos 701] (séc. I).
27 S. Heládio, mártir (?).
28 S. Êutiques, bispo de Melitina, mártir (séc. I).
29 S. Teodósia, virgem, mártir († 307).
30 S. Isaac, mon. († 406) 31 S. Hérmias, mártir († c. 150).
9 de maio: Trasladação das relíquias de São Nicolau de Mira para Bari
São Nicolau taumaturgo, arcebispo de Mira, é conhecido no Ocidente como São Nicolau "de Bari." A festa principal é celebrada tanto no Oriente como no Ocidente no dia 6 de dezembro e tal permanece. No entanto, em 9 de maio os calendários litúrgicos eslavos, como também a cidade de Bari, capital da Apúlia na Itália, celebram o aniversário da chegada dos restos mortais do santo àquela cidade, ocorrida em 1087. A tradição bizantino-grega não comemora esse evento, por vezes recordado como o "roubo" dos marinheiros barenses. Já um antigo documento russo, talvez mais próximo à data da trasladação do santo, conhecido como "Lenda russa de Kiev," interpreta esse fato como um desígnio da Providência divina, uma vez que as relíquias foram levadas para uma terra cristã; com efeito, a cidade de Mira, fazia já alguns anos, estava sob o domínio dos turcos. O mesmo papa Urbano II fez questão de consagrar a cripta da nova igreja, onde haviam sido inumados os restos mortais em 29 de setembro de 1089. É de se considerar, ainda, que agradava aos russos poder acrescentar à festa principal de 6 de dezembro, época de frio rigoroso, uma outra festa primaveril em honra do tão amado taumaturgo, arcebispo de Mira. Os inúmeros ícones do santo que se vêem nas igrejas, nos museus, nas casas atestam esse amor do povo para com o taumaturgo.
É de fato excepcional a devoção a São Nicolau em todo o Oriente bizantino. Basta lembrar que cada quinta-feira do ano é dedicada, além dos Apóstolos, ao santo bispo de Mira. Em sua honra o Ofício dedica orações próprias que recorrem a cada um dos oito tons bizantinos, desde as Vésperas da quarta-feira (lembrando que o dia litúrgico oriental começa na tarde anterior). O tropário principal em honra de São Nicolau, morto em torno do ano 342, é comum aos de outros bispos. O kontákion, porém, é próprio e assim resume a vida do santo:
Kontákion (3º tom).
"Ó Santo Bispo, em Mira, foste ministro do divino sacrifício; em cumprimento do evangelho de Cristo deste a vida pelo teu povo e salvaste da morte os inocentes. Por isso foste santificado como grande pontífice da graça divina."
Nas regiões bizantinas eslavas existem Ofícios devocionais em honra de São Nicolau: Moleben ou Akáthistos, em que povo e clero, só para citar alguns atributos, o invocam como "regra da ortodoxia," "coluna da Igreja," "protetor das viúvas e dos orfãos," "consolador dos aflitos," "defensor contra as injustiças e sustentáculo da piedade," "lâmpada luminosíssima," "ajuda poderosa dos que estão em dificuldade na terra e no mar," "intercessor misericordioso e possante."
Voltando aos textos litúrgicos próprios do dia 9 de maio, constatamos que o nome da cidade italiana, que conserva os restos mortais do santo bispo, é várias vezes repetido. Eis o texto do tropárío principal:
Tropário (4º tom).
"Chegou o dia da festa luminosa: a cidade de Bari alegra-se e, com ela, o universo inteiro se rejubila com hinos e cânticos espirituais. É a sagrada solenidade da trasladação das gloriosas relíquias, que operam curas, do bispo e taurnaturgo Nicolau. Ele resplandeceu como sol radioso e que não tem ocaso, dissipando as trevas das tentações e dos males dos que o invocam confiantes: sendo nosso intercessor, salva-nos, ó grande Nicolau."
Provém do Oriente eslavo o precioso ícone, ainda hoje ali venerado, do Bispo de Mira que o rei Urósio da Sérvia quis doar à basílica barense. Alguns anos atrás, na cripta, bem próximo do corpo do santo que transpira o famoso "maná," foi acrescentada uma capela bizantina, onde os ortodoxos podem celebrar no próprio rito o sacrifício eucarístico e demais ofícios litúrgicos.
Uma lamparina de azeite arde diante dos restos mortais de São Nicolau. É alimentada dos dois lados com azeite doado respectivamente pelos cristãos do Oriente e do Ocidente e arde numa única chama.
11 de maío: santos Girilo e Metódio, "iguais-aos-Apóstolos"
No Oriente bizantino, o tropário mais repetido nas Horas do Ofício litúrgico e na Liturgia eucarística é este que segue:
Tropário (4º tom).
"Êmulos dos Apóstolos e Mestres dos países eslavos, sábios e santos Cirilo e Metódio, orai ao Senhor do universo para que todos os povos eslavos sejam fortalecidos na unidade e na fé ortodoxa, para que ao mundo seja concedida a paz e para que sejam salvas as nossas almas."
O Minéon do mês de maio registra a festa dos dois irmãos no dia 11. Essa data é importante especialmente para os povos eslavos. Mas, sendo o costume, ainda bastante difundido no Oriente, de usar para a liturgia o calendário juliano, atrasado de 13 dias em relação ao gregoriano, mais conhecido e adotado universalmente, tal data, na realidade, vem a coincidir com o nosso 24 de maio. É uma data já arraigada na consciência popular ao ponto que, mesmo naquelas regiões em que foi adotado oficialmente o calendário do "novo estilo," os fiéis bizantinos preferem manter a antiga data do 24 de maio. É possível avaliar quanto temos afirmado acima ao constatar o afluxo das muitas delegações (por exemplo, as da Bulgária) que, para honrar os "Mestres dos Eslavos," em Roma, a cada ano, nesse dia, se dirigem à basílica de São Clemente onde se conservam as relíquias dos santos Cirilo e Metódio. A herança cultural deixada por eles é, de fato, ampla e reconhecida ao ponto que, em alguns países balcânicos, enquanto 25 de dezembro é um dia de trabalho, o aniversário dos dois santos é também festa civil, portanto feriado.
Com insistência os textos litúrgicos convidam a celebrar os irmãos "iluminadores" dos povos eslavos, salvos com a luz da Trindade e de Cristo, "fontes do conhecimento divino, mediante as Escrituras" traduzidas por eles e que ainda hoje "estando na presença de Deus fervorosamente intercedem" por aqueles que os invocam.
Os textos dos hinos litúrgicos resumem os principais dados biográficos dos dois santos que de Constantinopla foram enviados, num primeiro momento somente Cirilo, aos árabes (Agarenos), depois os dois juntos, aos Khazares da Criméia e, em seguida, para a Grande Morávia, que se tornou o campo específico de sua obra evangelizadora. Em outros textos, ao invés, se hesita sobre as características pessoais de cada um. Pelo próprio das Vésperas chegamos a saber que Metódio, irmão mais velho, por primeiro se consagrou a Deus na vida monástica em Olimpo, na Bitínia. Ele foi:
"Habitante do deserto, e persistindo no silêncio, enriqueceu de frutos a sua alma," "tendo desprezado os bens do mundo por amor de Cristo, com o hábito angélico lutou na milícia do Rei celestial e tornou-se pura morada de oração."
Cirilo, ao invés, "tendo escolhido desde a infância a sabedoria como própria companheira, usou os talentos que Deus lhe dera para a sua glória," "dotado de palavras áureas alcançou uma altíssima sabedoria," tornando-se "fonte vivificante de espiritual conhecimento para dessedentar a aridez dos povos eslavos."
É sabido que os nomes dos dois irmãos são monásticos e, segundo a tradição, começam com a mesma letra do nome de batismo: Constantino, desde cedo apelidado de Filósofo, tornou-se em seguida o monge Cirilo.
Os dois irmãos "que conduziram até Cristo os povos eslavos, iluminando-os com seus ensinamentos" são celebrados em conjunto em 11 de maio. Porém as mais recentes edições dos livros litúrgicos eslavos trazem os textos completos dos Ofícios próprios, também no aniversário de morte de cada um deles.
Os livros litúrgicos bizantinos dão aos dois santos a qualificação de "iguais-aos-Apóstolos e primeiros Mestres dos Eslavos." A primeira atribuição é reservada a pouquíssimos e a segunda é exclusiva dos santos Cirilo e Metódio. Está crescendo muito o interesse pelos dois santos por parte dos cristãos do Oriente, também fora da área eslava. Em Salonico, sua pátria, alguns anos atrás, foi construída uma bela igreja ortodoxa dedicada aos dois irmãos. Ali já se realizaram congressos internacionais de estudos cirilo-metodianos.
Entre os católicos, foram publicados importantes documentos pontifícios sobre os santos irmãos: desde a carta apostólica Grande munus do papa Leão XIII (1880) que introduzia a festa litúrgica dos santos Cirilo e Metódio no Ocidente, até aos discursos e à Encíclica do "papa eslavo," João Paulo II.
Sejam bem-vindas as comemorações dos santos Cirilo e Metódio celebradas pelas diversas tradições litúrgicas. Elas nos ajudarão a entender a unidade da Europa do Atlântico aos Urais e a herança cristã comum, visível no relacionamento entre as culturas gregas, eslavas e latinas. Ademais, os dois santos irmãos evangelizadores, sustentados por Constantinopla e Roma, poderão ser nossos guias e intercessores para a reaproximação ecumênica.
Junho
1 Ss. Justino Filósofo e cc., mártires († 165) S. Simeão de Siracusa (it.-gr. † 1037).
2 S. Nicéforo, o Confessor, bispo de Constantinopla († 829).
3 S. Luciliano, mártir (séc. III).
4 S. Metrófanes, bispo de Constantinopla († 314).
5 S. Doróteo, bispo de Tiro, hieromártir († 372).S. Pedro Spine, mon. cálabro (it.-gr. †
séc. XII).
6 S. Bessarião Taumaturgo (fim do séc. V).
S. Hilarião, o Moço, mon. († 845).
7 S. Teódoto, bispo de Ancira, mártir († 303).
8 Trasladação das relíquias de São Teodoro Tiron,
megalomártir (319).
9 S. Cirilo, arcebispo de Alexandria († 444).
10 Ss. Alexandre e Antonina, mártires († 313).
S. Timóteo, bispo de Prusa, hieromártir († c. 362).
11 S. Bartolomeu, apóstolo (séc. I).
S. Barnabé, apóstolo [dos 70] (séc. I).
12 S. Onófrio, anacoreta († séc. V).
S. Pedro Atonita, mon. († 890).
13 S. Aquilina, mártir († 293).
S. Trifilio, bispo de Chipre (séc. IV).
14 S. Eliseu, profeta (séc. IX a.C.).
S. Metódio, arcebispo de Constantinopla († 847).
15 S. Amós, profeta (séc.VIII a.C.).
S. Jerônimo de Estridão, mon. († c. 420).
16 S. Ticon, bispo de Amatonte († c. 430).
17 Ss. Emanuel, Sabel, e Ismael, mártires (séc. IV).
18 S. Leôncio, mártir († c. 75) 19 S. Judas Tadeu, apóstolo (séc. I).
20 S. Metódio, bispo de Olimpo, hieromártir († 312).
21 S. Julião de Tarso, mártir (séc. III-IV).
22 S. Eusébio, bispo de Samosata, hieromártir († 380).
23 S. Agripina, mártir († c. 255).
Esl.: ícone da SS. Mãe de Deus de VIadimir
24 Nascimento do glorioso e venerável profeta São João,
Batista e Precursor
25 S. Febrônia, mártir (início do séc. IV).
26 S. Davi de Tessalônica, mon. († 530).
27 S. Sansão Hospitaleiro (séc. VI).
28 Trasladação das relíquias dos santos Ciro e João, anárgiros (c. 400).
29 Ss. Pedro e Paulo, gloriosos e ilustres apóstolos, protocorifeus († 64-67).
30 Sinaxe dos Doze santos, gloriosos e ilustres apóstolos
24 de junho: Nascimento do glorioso e venerável
profeta e precursor, São João Batista
Em 24 de junho, os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram o Nascimento de São João Batista. Também coincide, nas duas tradições, a data em que se celebra o seu martírio em 29 de agosto. No Oriente bizantino, porém, as comemorações do grande profeta e precursor são sem dúvida mais numerosas. Ele é comemorado todas as terças-feiras do ano. Em 24 de fevereiro se faz memória da primeira e segunda "invenção" da cabeça de São João Batista (em Jerusalém a primeira e em Emesa da Síria a segunda). Em 25 de maio se comemora o terceiro reencontro da preciosa cabeça do santo, por longo tempo venerada em Constantinopla. Ademais, em 7 de janeiro, é comemorado como o batizador do Cristo.
Com relação ao nascimento, os calendários bizantinos assinalam, no dia 23 de setembro, a data da concepção do "glorioso profeta, precursor e batizador João." Antigamente também os martirológios latinos registravam essa comemoração em 24 de setembro; porém a partir do século XV foi abolida, talvez para que não houvesse confusão com a festa da Concepção da Santíssima Mãe de Deus, a única que ficou isenta do pecado original.
Apresentamos as duas orações principais, repetidas pelos cristãos de tradição constantinopolitana em 24 de junho e no dia seguinte:
Tropário (4º tom).
"Profeta e Precursor da vinda do Cristo, mesmo querendo te honrar, não conseguimos celebrar-te dignamente. A esterilidade de tua mãe e o mutismo de teu pai cessam com o teu glorioso e venerável nascimento: por ele a encarnação do filho de Deus foi anunciada ao mundo."
Kontákion (3º tom).
"Isabel, antes estéril, hoje gera o Precursor do Cristo: com ele se cumprem todas as profecias. No Jordão, João, conforme os profetas haviam preanunciado, ao impor as mãos sobre Jesus, mostra-se ao mesmo tempo profeta, arauto e precursor do Verbo divino."
Em 24 de junho, tanto os católicos romanos como os fiéis bizantinos lêem na liturgia eucarística o primeiro capítulo do Evangelho de Lucas, em que são descritas em detalhes as circunstâncias do nascimento de João. No Oriente, tais textos são lidos também quando se faz a memória da concepção do Precursor.
O próprio do Ofício de 24 de junho é pródigo em atributos dirigidos ao santo: "voz da Palavra," "prenunciador da Luz," "pregador do ledo anúncio," "profeta maior que os demais profetas," "paraninfo," "amigo do Esposo," "resplendor do Sol de justiça," "filho da estéril, portador de alegria," "arauto da penitência," "candeeiro do lume de glória," "primeiro Apóstolo, anjo terrestre e homem celeste," "adorador do Cordeiro que tira o pecado do mundo," "ornamento do deserto," "testemunha da verdade," e se poderia continuar.
Nas leituras bíblicas do Antigo Testamento, nas Vésperas, são tratados os temas seguintes: O anúncio do filho de Sara (Gn 17); Sansão nascerá de uma estéril (Jz 13) e "uma voz grita no deserto" (Is 40 e outros versículos de capítulos seguintes). Entre os hinógrafos da festa, foram-nos legados os nomes de André de Creta, João Damasceno e da Monja Cássia de Bizâncio († 857).
A referência a São João Batista como um "anjo" faz lembrar que não raramente nos ícones ele é representado com asas de anjo. Com efeito "era mais que um homem," como diz o evangelho, e a palavra "mensageiro" em grego torna-se "anjo." Sendo um dos santos mais venerados no Oriente bizantino, é compreensível que muitos sejam também os ícones que representam São João, chamado sobretudo de Precursor. Encontramo-lo representado sozinho, ou com episódios da sua vida, especialmente o da sua degolação. Nos grupos da Déesis (ou Intercessão) ele aparece à esquerda do Cristo; à direita está a Mãe de Deus, ambos intercedendo, de cabeça um pouco inclinada, em atitude de súplica.
Merece ser transcrito o tropário que toda terça-feira é cantado ou recitado em honra de São João Batista:
"A memória do justo é digna de elogios. Mas quanto a ti, ó Precursor, basta o testemunho do Senhor. Revelaste-te o mais venerável entre os profetas, pois foste julgado digno de batizar nas águas aquele que por eles apenas tinha sido anunciado. Por ter lutado corajosamente em favor da verdade, foi-te concedido o poder de anunciar com alegria, aos que estavam no Hades, a aparição do Deus feito carne; aquele que tira o pecado do mundo e que nos concede copiosa misericórdia."
29 dejunho: santos Pedro e Paulo, gloriosos e ilustres protocorifeus dos apóstolos
Foi bem na véspera da festa dos santos Pedro e Paulo, em 1980, que João Paulo II dirigiu uma primeira e solene exortação aos membros da Cúria Romana, reunidos para una celebração ecumênica, para que "aprendessem de novo a respirar plenamente com dois pulmões, o pulmão ocidental e o pulmão oriental." Torna-se oportuno relembrar brevemente o conteúdo da celebração litúrgica de 29 de junho no Oriente bizantino. Desde as Vésperas o tropário principal é repetido várias vezes nas diversas Horas e durante o sacrifício eucarístico:
Tropário (1º tom).
"Prototronos dos Apóstolos e Doutores do universo, rogai ao Senhor de todas as coisas para que conceda paz ao mundo e grande misericórdia às nossas almas."
Nos países eslavos os ortodoxos prolongam as celebrações litúrgicas, acrescentando o Ofício matutino em forma de "vigília" como acontece nas tardes que precedem os domingos e as grandes festas. A hinografia própria do dia é muito rica. Mesmo sem contar as Pequenas vésperas (quase sempre omitidas), há mais de oitenta textos que honram de maneira específica os santos Pedro e Paulo; alguns textos exaltam os dois santos juntos, outros são dirigidos ao santo que "tem as chaves do Reino," outros se voltam para o "doutor dos gentios." Nos hinos se faz menção dos dados biográficos transmitidos pela Sagrada Escritura em relação aos dois santos e, ao dirigir-se a eles, se exalta a missão providencial no seio da Igreja e no mundo, suplicando-lhes, por fim, em favor de todos. São conhecidos os nomes dos autores de algumas das composições poético-litúrgicas. São João Damasceno é o autor dos dois Cânones matinais, respectivamente em honra de São Pedro e de São Paulo. Alguns hinos das Vésperas têm como autor Santo André de Creta.
É dele o hino que se segue:
"Com quais hinos espirituais poderemos exaltar Pedro e Paulo? Eles são as asas do divino conhecimento difundido até os confins da terra e que se ergue até o céu; são as duas mãos do Evangelho da graça e os dois pés da pregação da verdade; são os dois rios da sabedoria e os dois braços da cruz, com a qual Cristo, o muito misericordioso, aniquila o orgulho dos demônios."
Também rico em imagens, como costuma ser a hinografia oriental, é o texto que se segue, de autoria "de João, o monge," isto é, do Damasceno:
"Ó cidadãos da celeste Jerusalém: rochedo da fé um, arauto da Igreja de Cristo outro, prediletos da Trindade e pescadores do mundo! Deixando esta terra após ter sofrido a paixão, sobem para Deus e com confiança lhe suplicam para que salve as nossas almas."
Diversas vezes, nos textos do Ofício, é nomeada a cidade onde Pedro e Paulo foram martirizados. Atesta-o o hino que se segue:
"Urna festa jubilosa hoje ilumina os confins da terra: a soleníssima memória dos sábios e protocorifeus dos apóstolos, Pedro e Paulo. Exulta Roma com hinos e cânticos de alegria, e nós todos celebramos este solene dia aclamando: Alegra-te, ó Apóstolo Pedro, amigo verdadeiro do teu mestre, Cristo nosso Deus! Alegra-te, ó muito amado Paulo, pregador da fé e instrutor do universo! Ambos santos e privilegiados, pedi com coragem ao Cristo nosso Deus para que salve as nossas almas."
O kontákion, dentro do Ofício, ocupa sempre importância particular. Eis o que se canta no dia 29 de junho:
"Acolhe, Senhor, no gozo e no descanso dos teus bens, os príncipes dos apóstolos, pregadores infalíveis e inspirados; pois preferiste suas provações e sua morte a qualquer sacrifício. Tu, o único que conhece os segredos do coração."
Os fiéis ortodoxos e católicos de rito bizantino observam, ainda hoje, o jejum em preparação à festa dos santos Pedro e Paulo. Faz parte dos quatro períodos de jejum do ano litúrgico bizantino. Sua duração é variável porque começa na segunda-feira que se segue ao domingo de Todos os Santos (1º depois de Pentecostes). É a única festa de santos, precedida por um tempo de jejum.
Também a iconografia dá um destaque particular aos príncipes dos Apóstolos. É admirável a fidelidade com a qual no Oriente foi transmitida a fisionomia característica dos dois santos. Isso nos faz pensar em testemunhas oculares e representações, hoje perdidos, próximos à época em que viveram. Pedro é sempre reproduzido com a fronte baixa, os cabelos grisalhos e um pouco encaracolados, a barba curta e arredondada; tem na mão as chaves e usualmente porta a cártula, em que a inscrição mais freqüente é a proclamação de fé: "Tu és o Cristo, filho do Deus vivo" (Mt 16:16). Paulo, ao invés, tem um aspecto mais jovem, com poucos cabelos; a fronte alta é evidenciada também pela calvície e a barba desce mais longa e lisa. Se já Eusébio na sua Hístóría da Igreja (VII,18) podia afirmar "já vi diversos retratos do Salvador, de Pedro e de Paulo..." não devemos nos admirar pois, se em diferentes regiões geograficamente distantes umas das outras, encontramos o mesmo e persistente modelo iconográfico. No Ocidente São Paulo é quase sempre retratado segurando a tradicional espada, ao passo que no Oriente, com freqüência, nós o vemos tendo nas mãos o livro das suas Epístolas. É assim que o admiramos no belíssimo ícone do maior iconógrafo russo, o monge Andrej Rublëv. O ícone, do século XV, foi pintado para a Iconostase da catedral de Zvenigorod. Fazendo pendant com o ícone de São Paulo, estava também o de São Pedro, infelizmente desaparecido. Nas Déesis ampliadas, de fato, além das imagens da Virgem e de São João Batista, voltados para o Cristo central, no trono, estão sempre as imagens dos dois grandes apóstolos, atrás dos Arcanjos Miguel e Gabriel, respectivamente à direita e à esquerda do Salvador e que convergem para ele, às vezes de corpo inteiro e às vezes de meio-busto.
As particularidades das duas fisionomias permitem reconhecer Pedro e Paulo também em ícones em que os dois santos aparecem juntos com outras pessoas, como, por exemplo, no ícone de 15 de agosto, Dormição da Mãe de Deus, ou no de Pentecostes. Mais tardios são os ícones onde os Príncipes dos Apóstolos aparecem no grupo dos Doze. As Igrejas do Oriente celebram a festa dos Doze Apóstolos no dia 30 de junho. Neste ícone os santos Pedro e Paulo, no centro, seguram dos dois lados o edifício de uma Igreja, em formato reduzido. É um simbolismo evidente do papel único dos dois na sociedade instituída por Cristo para a continuação da sua obra salvífica entre os homens.
Julho
1 Ss. Cosme e Damião, taumaturgos e anárgiros, már-
tires (início do séc. IV).
2 Deposição da preciosa veste da SS. Soberana Mãe de
Deus em Blaquerne (458).
3 S. jacinto, mártir (início do séc. II).
S. Anatólio, arcebispo de Constantinopla († 458).
4 S. André, bispo de Creta († 740).
5 Ss. Atanásio Atonita e Lampâdio, taumaturgo, monges
(c. séc. X).
6 S. Sisoé, o Grande, mon. († 429).
7 Ss. Tomás e Acácio, mon. (séc. X eVI).
S. Ciríaca, megalomártir (início do séc. IV).
8 S. Procópio, megalomártir († 303).
9 S. Pancrácio, bispo de Taormina, hieromártir (séc. †).
10 Ss. 45 Mártires de Nicópolis na Arinênia († 319).
11 S. Eufêmia, megalomártir († 304).
12 Ss. Proclo e Hilário, mártires (c. 110).
13 Sinaxe do arcanjo Gabriel Domingo que segue: Ss. Padres dos seis primeiros Concílios
Ecuniênicos
14 S. Áquila, apóstolo [dos 70] (séc. I) S. José, bispo de Tessalônica († 832).
15 Ss. Quírico e sua mãe Julita, mártires (séc. III-IV).
16 Ss. Atenógenes e cc., mártires (séc. IV).
17 S. Marina, megalomártir († c. 268).
18 S. Emiliano, mártir († c. 362).
19 S. Macrina, a Jovem, virgem (t 379) S. Dios, mon. († 431).
20 S. Elias, profeta (séc. IX a.C.).
21 Ss. Simeão e João, "loucos"por Cristo (séc. VI).
22 S. Maria Madalena, "igual-aos-Apóstolos," mirrófora (séc. I).
23 Trasladação das relíquias de S. Focas, mártir (séc. I) S. Ezequiel, profeta (séc. VI a.C).
Ss. Apolinário e Vital de Ravena, mártires (séc. I).
24 S. Cristina, megalomártir († c. 220) S. Fantino de Tauriana, (it.-cr. † 1130) Esl.: Ss.
Boris e Gleb = Romão e Davi († 1015).
25 Dormição de S. Ana, mãe da Theotókos
26 S. Parasceve, mártir († c. 140) Ss. Hermolau, Hermipo e Hermócrates, mártires († 312).
27 S. Pantaleimon, megalomártir e médico († e. 305).
28 Ss. Prócoro, Nicanor, Timão e Pármenas, diáconos e apóstolos [dos 70] (séc. I) Esl.:
Ícone da Mãe de Deus Odíghftria de Smolensk
29 Ss. Calinico e Teódota, mártires (início do séc. IV).
30 S. Silas, Silvano, Crescente, Epêneto e Andrônico, apóstolos [dos 70] (séc. I).
31 Pré-festa da Santa Cruz S. Eudócimo, o justo († 840).
20 de julho: Santo Elias, profeta
Muitos são os santos do Antigo Testamento contemplados pelo calendário litúrgico bizantino e celebrados num dia particular. Em geral não encontramos a celebração correspondente no contexto católico-romano. No dia 20 de julho no Oriente se comemora o profeta Elias, "santo e glorioso," conforme aparece no título do Minéon. Não possuímos escritos desse profeta que viveu no IX século antes de Cristo, mas ele se destaca entre os "profetas de ação" em Israel. Inúmeras vezes, nos livros sagrados, se fala do seu zelo em defender a verdadeira fé e piedade, como também da sua vida austera e rica em milagres, que se concluiu de maneira extraordinária. Com efeito Elias, num carro de fogo, "subiu no turbilhão para o céu" na presença de Eliseu, que herdou seu espírito. É um detalhe, esse, muito evidenciado no Oriente. Dão testemunho disso os muitos ícones, mormente russos, que representam Elias arrebatado da terra para as esferas celestes, numa carruagem puxada por cavalos chamejantes. Desde as Vésperas, já encontramos uma alusão a esse episódio e, nos tropários sucessivos, se fala do seu epifânico conhecimento de Deus, que se lhe manifestou no monte Horeb como no meio de uma "brisa suave." Os textos falam também da morte dos falsos profetas, depois da prova no monte Carmelo, da longa estiagem, sinal da punição divina e de outros episódios da sua vida. As três leituras bíblicas, excepcionalmente longas, lidas na tarde do dia 19 de julho, são extraídas do terceiro livro dos Reis (correspondente a lReis da Vulgata). Primeiramente se lê o capítulo 17 inteiro, depois uma boa parte dos capítulos 18 e 19. Na última leitura se lêem os versículos finais do capítulo 19, que tratam da vocação de Eliseu, e 2Reis (2,1-14) em que é narrado o episódio do manto que caíra dos ombros de Elias e que Eliseu apanhara, herdando assim também o seu espírito.
No tropário conclusivo, e no kontákion, assim é lembrado o profeta que apareceu junto com Moisés, na Transfiguração de Cristo:
Tropário (4º tom).
"Anjo na carne, fundamento dos profetas, segundo precursor da vinda do Cristo, o glorioso Elias, que do alto faz descer a graça sobre Eliseu, afasta as doenças e purifica os leprosos. Sobre os que o veneram faz jorrar as curas."
Kontákion (2º tom).
"Profeta de sublime nome, Elias, que prevês os grandes feitos do nosso Deus e submetes à tua palavra as nuvens portadoras de chuva, roga por nós ao único Amigo dos homens."
O profeta, nascido em Tesbes, além do Jordão, no país de Galaad, desde a primeira infância teve sonhos prodigiosos. Essa tradição foi transmitida por Santo Epifânio de Chipre e a encontramos escrita numa estrofe da Ode primeira do Cânon:
"Na hora do teu nascimento, ó profeta bem-aventurado, teu pai teve a revelação dum grande milagre, pois te viu nutrido por uma chama e envolvido em faixas chamejantes; por teus rogos, pois, livra-nos do fogo eterno."
O nome do profeta Elias significa "o-meu-Deus-é-Javé" - indica pois um programa de vida. Isso é demonstrado em numerosos episódios que o "próprio" do Ofício bizantino no dia 20 de julho, como sempre marcadamente baseado na Bíblia, várias vezes recorda e exalta. Em um breve hino das Vésperas encontramos:
"Tu paraste as águas do céu e por um corvo foste nutrido, confundiste os reis e fizeste morrer os sacerdotes de Baal; do alto do céu fizeste descer o fogo e por duas vezes fizeste perecer cinqüenta homens; tu alimentaste a viúva de Sarepta com o óleo e o pouco de farinha que lhe restava e por tua oração ressuscitaste-lhe o filho; acendeste o fogo sobre o altar encharcado e andaste sobre as águas do rio Jordão; enfim foste arrebatado ao céu sobre um carro de fogo e agraciaste duplamente a Eliseu: intercede sem cessar junto de Deus, pela salvação das nossas almas."
A figura austera do profeta, suscitado por Deus para combater a idolatria no povo de Israel sob o reinado de Acab e de Ocozias, é ainda hoje venerado também pelos hebreus e pelos árabes. Para os cristãos bizantinos, a figura de Elias é ocasião de lembrar o ensinamento evangélico, como no texto deste ikos que apresentamos como conclusão:
"Ao ver a grande iniqüidade dos homens e o grande amor de Deus para com eles, o profeta Elias irritou-se e, indignado, dirigiu-se ao Deus de misericórdia com palavras impiedosas dizendo: 'ó justo juiz, vinga-te contra os que transgridem a tua lei!' Mas Deus, em sua ternura, não quis punir os que o haviam ofendido: como sempre, o único amigo dos homens aguarda a conversão de todos."
22 de julho: Santa Maria Madalena
Os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram juntamente, nesse mesmo dia, Santa Maria Madalena.
A partir do papa Gregório Magno, na Igreja latina se começou a identificar a pessoa de Maria de Magdala com a homônima irmã de Lázaro e com a pecadora descrita pelo evangelista Lucas (7:36-50), e muitos foram os escritores eclesiásticos seguidores dessa teoria da unicidade das três mulheres. Já a Igreja constantinopolitana sempre as distinguiu, dando destaque particular a Maria Madalena que vem apresentada como mirrófora e como "igual-aos-Apóstolos," título reservado a bem poucos.
Os dados essenciais sobre a santa os encontramos nos evangelhos. Nascida em Magdala (na época, província da Síria) tinha sido curada por Jesus: "da qual haviam saído sete demônios" (Lc 8,2) e a gratidão para com o Salvador se manifestou numa vida nova no seguimento dele.
Em seu coração ardia tamanha fé e amor para com Jesus Cristo que nada no mundo conseguiu apagá-los. Ao seu Senhor ela entregou inteiramente o seu espírito e o seu coração. Em Jesus se concentravam todos os seus pensamentos, desejos, esperanças. Em Jesus se encerrava o tesouro do seu coração e a vida da alma. Seguindo Jesus Cristo com profunda fé, Maria amava-o com ardor e desprendimento... Por Jesus era instruída sobre os mistérios do reino de Deus e o servia com os seus bens. Mesmo quando todos, abandonando-o, fugiram (Mc. 14:50), ela não se afastou do Salvador... Sem temer a fúria dos seus inimigos, desafiando a multidão que injuriava o Crucificado, ela o acompanhou até o GóIgota, aproximou-se da cruz para participar do seu sofrimento, com a sua presença confortou, na medida do possível, a imensa dor da puríssima Mãe de Jesus. Quis assistir ao sepultamento e à unção com os aromas perfumados.
Em seguida é narrado o que aconteceu a Maria de Magdala após a ressurreição de Cristo. Entre os textos litúrgicos bizantinos, próprios da santa, que se encontram no Minéon de julho no dia 22, eis o tropário conclusivo.
"Seguiste o Cristo, nascido para nós da Virgem, ó venerável Maria Madalena, observando seus preceitos e suas leis; e nós que celebramos tua santíssima memória, esperamos, através de tuas preces, ser libertados dos pecados."
Nas Vésperas se insiste sobre a presença da santa junto ao túmulo de Jesus e sobre o privilégio da primeira aparição do Ressuscitado:
"Preparaste aromas para o Cristo deposto no sepulcro, para aquele que doa a ressurreição a todos os mortos; e tendo-o visto por primeira, ó teófora Maria, em prantos te prosternaste diante dele. Roga-lhe para que conceda às nossas almas a paz e a graça da salvação."
É freqüente, nos textos litúrgicos bizantinos, a dramatização de cenas, nas quais são colocados nos lábios dos protagonistas os seus sentimentos. Várias vezes encontramo-la também no Ofício desse dia em que, por exemplo, enquanto está junto à cruz, a santa exclama:
"Que maravilha é esta? Como pode ser entregue à morte e perecer o destruidor da morte, que por sua natureza é a Vida?" (Ode oitava).
No segundo domingo depois da Páscoa o Oriente bizantino celebra as mirróforas, entre as quais está Maria Madalena, nomeada sempre em primeiro lugar. Também na festa de 22 de julho se relembra a sua "compaixão, na qual, misturando suas lágrimas, preparou os aromas" para o amado Mestre.
Também para o título "igual-aos-Apóstolos," que a liturgia bizantina lhe deu, encontramos textos alusivos, como neste ikos:
"A Luz do mundo, Cristo, vendo a vigilância da tua fé e a fidelidade do teu amor, apareceu por primeiro a ti, ressurgido do túmulo, enquanto te apressavas em levar a ele, o Inacessível, o miron unido às tuas lágrimas. Por recompensa te concedeu o que o Espírito reservava aos apóstolos: o mesmo poder e a mesma vontade; te enviou, pois, a anunciar a boa nova da sua ressurreição àqueles que tinham sido iniciados por ele; e tu intercedes pelo mundo em todo o tempo."
Na Ode quinta do Cânon se diz de Maria Madalena: "Após a maravilhosa ascensão do Salvador, percorreste o mundo para anunciar-lhe a sua palavra sagrada, tu discípula do Verbo..."
Agosto
1 Procissão com a preciosa e vivificante cruz Ss. Sete irmãos Macabeus, mártires (séc. II
a.C). S. Eleazar, mártir (séc. II a.C.).
Começa o período de jejum para a festa da Dormíção da
Mãe de Deus
2 Trasladação das relíquias de S. Estêvão, protomártir
(c.428).
3 Ss. Isaac (séc. I), Dalmato († 440) e Fausto († 451), mon.
4 Ss. Sete Crianças dormentes de Éfeso (c. 250).
5 Pré-festa da Transfiguração
S. Eusígnio, mártir († 362).
6 Transfiguração de Nosso Senhor, Deus e Salvador
Jesus Cristo
7 S. Domécio, o persa, mon. e mártir († 362).
8 S. Emiliano, confessor, bispo de Cízico († c. 735).
9 S. Matias, apóstolo [dos 70] (séc. I).
10 S. Lourenço, arquidiácono, mártir († 258).
11 S. Éuplio de Catânia, mártir († 304).
12 Ss. Fócio e Aniceto, mártires († 305).
13 Conclusão da festa da Transfiguração
Trasladação das relíquias de S. Máximo, o Confessor (c.680).
14 Pré-festa da Dormição da Mãe de Deus S. Miquéias, profeta (séc. VIII a.C.).
15 Dormição da Toda Santa, nossa Soberana, Mãe de Deus e sempre Virgem Maria
16 Trasladação de Edessa para Constantinopla da imagem " Aquiropita" do Nosso Senhor
Jesus Cristo (944) S. Diomedes, mártir (início do séc. IV).
17 S. Miro, mártir († c. 250) S. Elias de Enna (it.-gr. † 903).
18 Ss. Floro e Lauro, mártires (séc. II).
19 Ss. André, tribuno militar e cc., mártires (fim do séc. III) S. Bartolomeu de Semeri
(† 1130).
20 S. Samuel, profeta (c. 1.010 a.C.).
21 S. Bassa e filhos, mártires (início do séc. IV) S. Tadeu, apóstolo [dos 70] (séc. I).
22 Ss. Agatônico, Zófico e cc., mártires
23 Conclusão da festa da Dorniíção da Mãe de Deus S. Lopo, mártir (séc. IV).
24 S. Eutiques, hieromártir (séc. I).
25 Trasladação das relíquias de S. Bartolomeu, apóstolo (séc. VI) S. Tito, apóstolo [dos 70]
(séc. I).
26 Ss. Adriano e Natália, sua mulher, mártires (fim do séc. III).
27 S. Pímen, anacoreta († c. 450).
28 S. Moisés Etíope, anacoreta (séc. IV).
29 Degolação de S. João Batista, o Precursor (jejum).
30 Ss. Alexandre († 337), João II († 518) e Paulo († 784), arcebs. de Constantinopla
31 Deposição da preciosa cintura da SS. Mãe de Deus em Xalcopratia (séc. VI).
10 de agosto: São Lourenço, mártir
O diácono e mártir Lourenço, morto em Roma dia 10 de agosto do ano 258, é celebrado na mesma data, seja pelos católicos, seja pelos ortodoxos. O fato de ele, sendo romano de nascença, ter sacrificado a própria vida ao Cristo quase ao lado do seu pontífice, o papa Sixto II, que era grego de Atenas, dá uma atualidade ecumênica à sua figura, que bem cedo atraiu a admiração dos fiéis. Não existe uma Passio dedicada somente a ele, mas muitos documentos antigos fazem referência a São Lourenço e já o propunham como exemplo em seus escritos ou discursos: Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Máximo de Turim e outros ainda.
Roma sempre se distinguiu pela veneração do ilustre "protodiácono": a basílica que surgiu no Agro Verano foi erguida por ordem do imperador Constantino e é considerada a quinta em ordem de importância, após as de São João no Latrão, São Pedro, São Paulo e Santa Maria Maior. Foi, porém, o papa Pelágio II (579-590) que mandou construir uma outra basílica ad corpus, isto é, no nível do sepulcro de São Lourenço, subterrânea, muito próxima da constantiniana (à superfície do solo) e ligada a ela por escadas. Na atual basílica, do século XIII, o altar papal corresponde ao lugar onde foi sepultado o santo mártir, como o confirmaram os trabalhos de reconstrução que o papa Pio XII mandou executar para reparar os danos do bombardeio aéreo ocorrido em 19 de julho de 1943.
Mas a fama do santo estava espalhada por toda a parte.
"Filho da luz, filho do dia, gloriosíssimo mártir Lourenço, maravilhosamente te levantaste do Ocidente como sol para iluminar de vívido esplendor os confins do universo."
Assim canta uma estrofe do Cânon do dia 10 de agosto, ainda hoje em uso entre os ortodoxos e os católicos de rito bizantino.
É bem verdade que, dada a importância excepcional da festa da Transfiguração, com os seus sete dias de pós-festa, às vezes é omitido o segundo Cânon do santo, mas todo o Ofício, comumente com um "próprio" bastante extenso, ainda hoje permite que no Oriente São Lourenço seja conhecido e venerado. Os textos põem em evidência o seu particular martírio, sofrido no fogo. Desde as Vésperas iniciais encontramos:
"Das chamas materiais foste transformado em sacrifício de agradável odor e tornado digno das alegrias celestes"; "consumiste os carvões do culto aos falsos deuses deixando-te queimar e para nós tu és uma brasa que sempre alumia com seu clarão os fiéis que elevam hinos à tua memória."
O kontákion do dia assim nos apresenta o santo:
"Teu coração ardia pelo fogo divino enquanto o fogo das paixões estava apagado, sustentáculo dos que sofrem, ó teóforo mártir Lourenço, e ao sofrer exclamaste com fidelidade: nada me separará do amor de Cristo."
A figura do arquidiácono Lourenço, representado sempre como um moço bonito, comumente revestido com a dalmática, e por vezes na atitude de distribuir os bens eclesiásticos (assim como fez também o beato Angélico), foi sempre fascinante e sobre ele se concentra a atenção, embora saibamos que no martírio estavam incluídas outras pessoas: o subdiácono Cláudio, o presbítero Severo, o leitor Crescenciano e o ostiário Romano. Como eles, quatro dias antes, tinham entregado a própria vida para o Cristo, o papa Sisto II, eleito no ano 257, e decapitado com outros seis diáconos no cemitério de Calisto, todos vítimas do segundo edito de perseguição de Valeriano. Também o soldado Hipólito, que tinha sido carcereiro de São Lourenço e por ele convertido à fé e, batizado, sofreu o martírio no ano 258.
Na Ode nona do Cânon bizantino de 10 de agosto, assim é exaltado o mártir Lourenço: "Ó maravilha! Como um sol, grande e glorioso, te elevaste do Ocidente, ó Bem-aventurado, para iluminar toda a Igreja com teus resplendores e aquecer o mundo com o ardor da tua fé."
Pouco depois outro texto assim reza:
"Ilustre e grande mártir que participas da exultação das legiões celestiais e do coro dos mártires junto do trono da fulgente Trindade, pede a luz e a paz para os fiéis que celebram tua esplendorosa memória e com júbilo te glorificam, santo arquidiácono Lourenço."

Para concluir
O Ano Litúrgico é a celebração do mistério de Cristo que se reatualiza para a nossa salvação e para a nossa divinização. Com gratidão elevamos a nossa oração repetindo o tropário que no livro litúrgico bizantino se encontra no dia 12 de setembro, primeiro dia do ano litúrgico bizantino, mas que agora é usado também no dia 1º de janeiro:
Tropário (2º tom).
"Ó Criador de todo o universo, que submeteste ao teu próprio poder as estações e os tempos, abençoa o início do ano que a tua bondade nos concede. Guarda, Senhor, na paz, os que nos governam, e assim todas as nações: pelas orações da Mãe de Deus, salva-nos."

Livros litúrgicos bizantinos
Apóstolos: Livro que contém os Atos dos Apóstolos, as Epístolas Paulinas e as
Epístolas Católicas, divididas em perícopes para a leitura na liturgia .
eucarística
Efchológhion: (Eucológio) Livro com os ritos dos sacramentos e outras orações para
bênçãos.
Evangeliário: Texto completo dos quatro evangelhos com a indicação das perícopes a
serem lidas nas assembléias litúrgicas.
Ieratikón: Livro para os sacerdotes. Contém o formulário das três liturgias
eucarísticas e as orações sacerdotais dos diversos ofícios.
Minéa: "Livro dos meses," com os textos das partes próprias para cada dia do mês (Minéon), em doze volumes, começando pelo dia 1º de setembro.
Októichos: (= Oito-ecos) Livro que contém o "próprio" dos oito tons da música
eclesiástica bizantina, correspondentes a um ciclo de oito semanas, que se repetem no decorrer do ano. Distinguimos o Pequeno októichos, que contém unicamente os Ofícios dos domingos, do Grande októíchos (no grego: Paraklitiki) com os Ofícios dos sete dias de cada semana, para cada um dos oito tons.
Orológhion: É o livro da Liturgia das Horas, com o ordinário" dos Ofícios diários. Contém também as partes principais dos Minea, Októichos, Triódion, Pentikostárion e outros formulários das orações mais usadas.
Pentikostárion: Livro com os Ofícios a partir do domingo da Páscoa até o domingo depois de Pentecostes.
Triódion: Este livro contém os Ofícios da Grande Quaresma, começando dos três domingos que a precedem, até o sábado santo.
Saltério: Contém os 150 salmos bíblicos divididos em 20 seções chamadas katismas, para uso litúrgico.
Léxico de alguns termos litúrgicos
Akáthistos: Hino que deve ser cantado de pé, composto por um kontákion, doze estrofes mais longas que terminam com uma aclamação e doze mais breves, que se concluem com o "Aleluia." Famoso o hino em honra da Mãe de Deus, cantado no 5º sábado da Quaresma.
Cânon: (= regra fixa) Composição poética que faz parte do Órthros (= ofício das Matinas). O Cânon é composto de nove Odes, cada uma com alguns tropários e com referência a um cântico bíblico. A Ode segunda é usada somente na Quaresma. Nesse tempo litúrgico encontramos cânones com apenas duas ou três Odes. Os cânticos bíblicos (recitados apenas na Quaresma, excetuado o último, que se recita todos os dias) são: Ex 15,1-20; Dt 32,1-44; lRs 2,1-11; Hab 3; Is 26,9-21; Jó 2,3-11; Dn 3,57-88; Lc 1,46-55.
Enkómia: Lamentações exaltando a pessoa de Jesus. São cantadas no Ofício do sábado santo.
Exapostilário: Oração do Ofício do Órthros, cantado depois do Cânon e antes das Laudes.
Katisma: Grupo de salmos ou orações que se rezam depois deles, no Órthros (o termo significa a posição de sentar, durante a récita desses salmos ou orações).
Kontákion: Estrofe de origens antigas, que resume o mistério da festa ou as características do santo. É cantada na liturgia eucarística e repetida em todas as Horas do Ofício divino.
Litia: "Súplica." É uma parte das Vésperas festivas, freqüentemente acompanhada por uma procissão.
Lucernário: Nome que se dá, às vezes, ao Ofício das Vésperas, com alusão evidente às luzes que se acendiam ao morrer o dia.
Órthros: Ofício que se celebra ao nascer do dia (=Matinas), muito longo e variado e que termina com as Laudes (não separáveis).
Stiquirá: Série de tropários que se cantam ou recitam no fim das Vésperas e do Órthros, intercalados com versículos de salmos (por vezes chamados Apósticha).
Tropário: Breve composiçao poética de métrica variável, cujo ritmo está baseado sobre o acento tônico. Os tropários podem-se distinguir conforme o seu conteúdo (da ressurreição, da Mãe de Deus, etc.), ou conforme o lugar em que se coloca dentro de um Ofício divino. Há um tropário principal, ou do dia (às vezes dois) repetido em todas as Horas canônicas e durante a liturgia eucarística. Este tropário é chamado, pelos gregos: Apolítikion (= que conclui), porque a primeira vez que se canta é no fim das Vésperas (1ª Hora canônica do dia litúrgico).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentar