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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

  

Papa encerra Sínodo convidando à paz e à comunhão

 Nunca podemos nos resignar diante da falta de paz, apesar das dificuldades: esta foi a mensagem de Bento XVI durante a Missa solene de encerramento da Assembleia do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, celebrada no Altar da Confissão, com 177 padres sinodais e 69 colaboradores concelebrantes.    
Durante a homilia, o Pontífice quis lançar uma mensagem de apoio aos cristãos do Oriente Médio, "que se encontram em situações difíceis, às vezes muito duras, tanto pelos problemas materiais como pelo desânimo, pelo estado de tensão e pelo medo".
No entanto, Bento XVI sublinhou a importância de que os cristãos dessa região assumam um papel protagonista na busca da paz, superando o medo e as dificuldades.
Estes cristãos, sublinhou, "ainda que poucos em número, são portadores da Boa Nova do amor de Deus pelo homem, amor que se revelou precisamente na Terra Santa, na pessoa de Jesus Cristo".
O Papa também destacou a importância da experiência de comunhão vivida durante as duas semanas de duração do Sínodo.
Em especial, referiu-se às Celebrações Eucarísticas realizadas cada dia, "assim como na Liturgia das Horas, realizada cada manhã em um dos 7 ritos católicos do Oriente Médio".
Isso serviu, afirmou, para valorizar "a riqueza litúrgica, espiritual e teológica das Igrejas Orientais Católicas, além da Igreja Latina".
Neste sentido, expressou seu desejo de que "esta experiência positiva se repita também nas respectivas comunidades do Oriente Médio, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos demais ritos católicos e, portanto, a abertura à dimensão da Igreja universal".
Em sua homilia, o Pontífice também anunciou a convocação da próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em 2012, sobre o tema "Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam - A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".
"Durante os trabalhos da Assembleia - afirmou o Papa - se sublinhou frequentemente a necessidade de voltar a propor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco ou que inclusive se afastaram da Igreja."
"Muitas vezes - prosseguiu - se evocou a urgente necessidade de uma evangelização também para o Oriente Médio. Trata-se de um tema muito difundido, sobretudo nos países de antiga cristianização."
E acrescentou: "Também a recente criação do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização responde a esta profunda exigência".
O Papa encerrou sua homilia desejando "que a experiência destes dias vos garanta que não estais sozinhos jamais, que vos acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja, a qual, nascida em Jerusalém, estendeu-se pelo Oriente Médio e depois pelo mundo inteiro".

Cenas do encerramento do Sínodo para o Oriente:
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Nosso arcebispo D. Fares Maakaroun, o terceiro da direita para a esquerda.
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A alegria do nosso arcebispo no final dos trabalhos sinodais, bem como do nosso Patriarca Gregório III Laham, na foto abaixo.

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A seguir cenas do almoço de confraternização com o Santo Padre, sua oração ao final dos trabalhos, despedida da Sala do Sinodo e Liturgia Eucarística na Basilica de São Pedro:

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sínodo não debate o celibato, e sim a formação sacerdotal: Padres sinodais estão preocupados pelos seminaristas e sacerdotes



CIDADE DO VATICANO - Dado que o Sínodo do Oriente Médio reúne as igrejas orientais católicas, nas quais é comum a ordenação sacerdotal de homens casados, esperava-se um debate sobre o celibato sacerdotal.
Diante da surpresa dos jornalistas, o tema recebeu bem menos atenção que em qualquer outro sínodo. Já no Documento de Trabalho (Instrumentum laboris), preparado após uma consulta com as igrejas locais e que serve de base para a discussão, o tema não apareceu em momento algum.
Nenhum dos padres sinodais, dos ouvintes ou dos delegados ecumênicos de outras igrejas tratou diretamente do tema do celibato. De fato, a palavra nem foi mencionada nas intervenções escritas e apresentadas diante da sala sinodal.
O único que fez declarações públicas sobre o celibato foi Sua Beatitude Antonios Naguib, patriarca de Alexandria dos Coptos (Egito), relator-geral do Sínodo.
Em resposta aos jornalistas, ontem, o futuro cardeal e pastor dessa igreja oriental assegurou que o fato de admitir sacerdotes casados "não resolverá o problema das vocações e não resolverá o comportamento bom ou mau do sacerdote".
O que importa - garantiu - é viver com coerência e fidelidade a própria vocação.
O essencial: formação
Tanto os padres sinodais da Igreja latina como os das igrejas orientais coincidiram com frequência em sublinhar que o grande desafio que as igrejas enfrentam é o de uma adequada formação dos seminaristas e sacerdotes (sejam eles latinos ou orientais).
Dom Mikaël Mouradian, vigário patriarcal para o Instituto do Clero Patriarcal de Bzommar (no Líbano), entre as soluções para a falta de vocações, pediu que se garantisse "um bom discernimento das vocações, dando prioridade à qualidade, não à quantidade; procurar oferecer uma boa direção espiritual às vocações; proporcionar uma formação inicial e permanente adequadas".
Dom Michel Abrass, B.A., arcebispo titular de Mira, do patriarcado de Antioquia dos greco-melquitas, da Síria, explicou - em referência à situação do Oriente Médio - que, "no que se refere à formação dos seminaristas, em primeiro lugar está o problema da escolha".
"Não se pode negar - acrescentou - que a maior parte atualmente escolhe a 'carreira' eclesiástica e não a vocação, e isso para alcançar uma posição social eminente ou por considerações econômicas."
Saïd A. Azer, membro do Conselho Pontifício para os Leigos, do Egito, interveio como ouvinte para afirmar que, entre os desafios que o clero deve enfrentar, destaca-se a "falta de formação humana e espiritual, que às vezes é inaceitável e com frequência escandalosa".
Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo, bispo titular de Emmaus, vigário patriarcal de Jerusalém dos Latinos para Israel, explicou que "a formação é a prioridade pastoral que o Sínodo especial para o Oriente Médio deveria adotar".
Como se pode ver, quando as "propostas" do Sínodo forem apresentadas ao Papa, no próximo sábado, não aparecerá a petição de abolir o celibato sacerdotal da Igreja latina, e sim se sublinhará, de diferentes maneiras, a necessidade de uma formação profunda dos pastores das igrejas, latina ou orientais.
(Jesús Colina)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Igrejas orientais: tradição bizantina (2)


Ecumenismo e cisma, perseguição 
 O rito ou tradição bizantina envolve majoritariamente o oriente cristão. A ele pertencem cerca de 300 milhões de pessoas, em sua imensa maioria ortodoxas. Os grego-católicos somam 8,5 milhões de fiéis.
Igreja grego-melquita
A igreja grego-católica melquita tem sua orgigem em Antioquia, durante o Concílio da Calcedônia (451), proveniente da palavra melek, com a qual se identificavam os que aceitaram Calcedônia. Os melquitas, originariamente de rito antioqueno, passaram para a tradição bizantina.
Após a conquista da Síria pelos muçulmanos, estes cristãos foram gradualmente aceitando influências culturais árabes, entre elas o idioma. Esta Igreja seguiu o Patriarcado de Constantinopla no cisma de 1054.
Contudo, graças à pregação de missionários dominicanos (século XIV) e sobretudo jesuítas (século XVI), foi-se criando paulatinamente entre os melquitas uma simpatia com Roma, que orquestrou a eleição de Cirilo VI, que foi excomungado pelo Patriarca de Constantinopla e confirmado pelo Papa Bento XIII, em 1724.
O chefe da igreja melquita, Gregório III Laham, leva o título de Patriarca católico grego-melquita de Antioquia e todo o Oriente, Alexandria e Jerusalém. A igreja conta com quase 1,2 milhão de fiéis e tem sua sede em Damasco, estende-se por todo Oriente Médio e tem uma comunidade significativa nos Estados Unidos.
Segundo o especialista Pier Giorgio Gianazza, esta igreja é a mais “árabe” de todas as igrejas católicas orientais. Está empenhada num importante diálogo ecumênico com o Patriarcado ortodoxo de Antioquia.
Conta com várias instituições assistenciais e educativas, é muito ativa também no diálogo com os muçulmanos.
Igreja católica grega
Cerca de oitocentos anos depois do cisma de 1054, em 1856, começou a formar-se uma pequena comunidade de gregos católicos, fundamentalmente em Constantinopla, à raiz da pregação de um sacerdote grego de rito latino.
O Papa Pio X escolheu em 1911 um ordinariato para estes católicos bizantinos, que chegaram a ter seu próprio seminário. Contudo, com a derrota do império otomano após a Primeira Guerra Mundial, muitos deles migraram para Atenas, e os que ficaram, sofreram perseguição.
Esta comunidade católica de rito bizantino é muito pequena atualmente, com cerca de 2.500 membros, e se divide em dois exarcados, de Atenas, cujo hierarcas são Dimitrios Salachas, e o de Constantinopla, que praticamente desapareceu em número de fiíes.
Igreja romena bizantina
A Igreja Católica Romena também foi produto de migração, especialmente de católicos alemães e rutenos, à Transilvânia, que então era território húngaro e de maioria ortodoxa.
Após o cisma de Lutero, estendeu-se o protestanismo calvinista na Romênia, o que levou em 1697 o bispo ortodoxo da Transilvânia em Alba Iulia, Teofil Seremi, a unir-se com Roma, em 1700. Contudo, uma boa parte dos romenos permaneceu ortodoxa.
Ainda no princípio, os católicos bizantinos dependiam da Igreja húngara de rito latino. Mas o Papa Pio X criou uma eparquia própria, Hajdudorog, em 1912. Durante o regime comunista, esta igreja foi suprimida, e seus fiéis, obrigados a unirem-se aos ortodoxos.
A clandestinidade durou até a revolução contra Ceaucescu de 1989. Atualmente, esta igreja conta com cerca de 550 mil fiéis. Para diferenciar-se dos ortodoxos, os grego-católicos romenos utilizam o romano na liturgia. Seu atual chefe é o arquieparca maior Lucian Mureşan.
Igreja rutena
Esta igreja está vinculada historicamente com a Rutênia, cujo território compreendia a atual Ucrânia, Bielorrússia e uma parte da Réssia europeia.
Como vimos ao falar da Igreja bizantina eslovaca, uma parte da Igreja rutena participou na chamada União de Uzhhorod. Houve depois outras duas uniões, em 1664 e 1713, após o que praticamente quase todos os rutenos passaram à obediência de Roma.
Para os rutenos, o Papa Clemente XIV criou a eparquia de Mukachevo (1778). Após a Primeira Guerra Mundial, e com a dissolução do Império austro-húngaro, a Rutênia foi dividida entre Checoslováquia, Ucrânia e Bielorrússia.
A igreja rutena atual encontra-se no território da Ucrânia. Durante o domínio comunista, esta igreja também foi forçada a ser ortodoxa, e em muitos lugares seus fiéis foram diretamente deportados para a União Soviética. Outros muitos conseguiram migrar para os Estados Unidos.
Igreja grego-católica ucraniana
Trata-se da igreja mais numerosa de todas, com 5,5 milhões de fiéis. Também é a mais dispersa, pois seus fiéis estão divididos, pela migração, em mais de 40 países diferentes.
Seu território está mais ou menos relacionado com o antigo Patriarcado de Kiev. Após o cisma de 1054, esta igreja viveu momentos difíceis, passando os séculos aproximando-se paulatinamente da Polônia. O patriarca de Kiev assistiu ao Concílio de Florença em 1440 e concordou em retornar à obediência de Roma. Isso foi interpretado para os russos como sinal de inimizade.
Os grego-católicos ucranianos acudiram em várias ocasiões a Roma para pedir proteção, diante ao expansionismo russo por um lado e a influência latinizadora dos polonese por outro. Em 1596, toda a hierarquia eclesiástica ucraniana passou a Roma no Sínodo de Brest.
Com a dominação russa, os grego-católicos sofreram uma perseguição sistemática, até o ponto de sobreviverem apenas no leste da Ucrânia, sobre domínio austro-húngaro (Galitzia). No final do século XIX, praticamente tinham desaparecido.
Em Galitzia, depois da Segunda Guerra Mundial, os comunistas perseguiram ainda com mais gana os greco-católicos, encarcerando toda sua hierarquia, chefiada pelo cardeal Slipyj. Após a queda do Muro, houve na Ucrânia uma “ressurreição” dos católicos. O Papa João Paulo II visitou o país em 2001.
Igreja ítalo-albanesa
Esta igreja procede da imigração, especialmente à Calábria e Tarento durante o século XV, por causa da perseguição muçulmana. Alguns imigrantes já eram bizantinos católicos, e outros uniram-se a Roma depois de sua chegada à Itália.
Em 1595, o Papa Clemente VIII reconheceu a presença destes fiéis e deu instruções para que fossem atendidos em suas necessidades, e em 1742, outro papa, Bento XIV, lhes deu um primeiro código canônico. Em 1919 foi fundada a eparquia de Lungro, e em 1937 a eparquia de Piana degli Albanesi.
Atualmente agrupa cerca de 67 mil fiéis. Ali também está o único monastério italiano de rito bizantino, Santa Maria di Grottaferrata, que tem mais de mil anos de idade.
Igreja Russa
A igreja grego-católica russa surgiu em 1905 de um cisma da igreja ortodoxa russa, ao redor do poeta Vladimir Sergeyavich Soloviev, que afirmava que era possível ser fiel ortodoxo e estar unido a Roma. Um de seus seguidores, o sacerdote Nicolás Tolstoi, tornou-se católico e organizou uma pequena comunidade em Moscou.
Apesar das perseguições, primeiro pelo regime czarista e logo a brutal repressão comunista, continuou existindo um exarcado apostólico na clandestinidade, e criou-se outro para os católicos refugiados na China com sede em Xangai.
Atualmente existe um “renascimento” desta comunidade, ainda que não tenha formalmente um hierarca próprio. Conta com 3.800 fiéis e sua liturgia não tem diferenças com a ortodoxa russa.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Igrejas Orientais: tradição alexandrina


                         




Coptas e etíopes, o rosto africano do Oriente


Por Inma Álvarez 
 A quarta tradição das Igrejas orientais é a alexandrina, da qual procedem as igrejas copta e etíope. Possui esse nome por proceder de Alexandria (Egito), outro dos grandes centros históricos do cristianismo desde a antiguidade.
A Alexandria foi evangelizada, segundo a tradição, por São Marcos, e converteu-se rapidamente num foco de expansão do cristianismo no norte da África, sofrendo perseguições e martírios, especialmente sob Diocleciano.
Com a liberdade do cristianismo, e até a invasão muçulmana, Alexandria viveu uma etapa gloriosa como centro teológico (a famosa escola de Alexandria, que trouxe autores como Cirilo, Orígenes ou Atanásio) e monástico (São Pacômio).
A ruptura da comunhão com Roma aconteceu também à raiz do Concílio da Calcedônia, como destaca o especialista Pier Giogio Gianazza, por enfrentamentos com os bizantinos. A maior parte dos cristãos egípcios rejeitou Calcedônia. Constituiu-se uma Igreja autocéfala, conhecida como “copta” (que vem de aigyptos, egípcio), enquanto que uma minoria passou à igreja grego-melquita.
Posteriormente, no século XIII, graças à presença de missionários franciscanos latinos, tentou-se uma reunificação com Roma, que como no fim do caso das demais igrejas orientais, foi ratificada pelo Concílio de Florença, mas nunca entrou em vigor.
Devido à presença muçulmana, esta igreja viveu durante séculos isolada do resto da cristandade, em períodos alternados de calmaria e perseguição. Sua liturgia, segundo João Nadal Cañellas, é a que mais conservou influências do judaísmo.
Entre suas características, cabe destacar que entre os coptas ainda se pratica a circuncisão, mesmo não sendo obrigatória, e que os fiéis entram descalços no templo. Nos tempos litúrgicos fortes, praticam um jejum muito rigoroso.
Em geral, explica Nadal Cañelas, devido ter nascido numa sociedade de monjes e eremitas, este rito se caracteriza por ser muito solene, profundo e por celebrações muito longas.
Por sua vez, a origem da Igreja etíope confunde-se com a lenda: já antes de Cristo, existia entre os etíopes a convicção de que seu reino foi o fruto da união entre Salomão e a rainha de Saba, cujos filhos roubaram a arca de Jerusalém e levaram-na para Axum.
Em todo caso, existiram influências semíticas evidentes desde a antiguidade, como a língua litúrgica, o ge’ez, e a existência de comunidades judias.
Também a história do nascimento do cristianismo é lendária: os relatos protocristãos etíopes falam do eunuco da rainha Candace, envangelizada e batizada por São Felipe, que ao retornar a seu país teria propagado o cristianismo.
A primeira notícia histórica vem do século IV, quando o Patriarca de Alexandria consagrou como primeiro bispo etíope São Frumêncio. Portanto, a igreja etíope nasceu como hierarquia vinculada à cópta. Seu patriarca tem o título de Abuna.
De fato, a liturgia etíope é muito semelhante à copta, mas adaptada ao ritmo, à imaginação e musicalidade africanas. Também praticam a circuncisão.
Igreja copta católica
A presença das cruzadas entre os coptas não foi de todo grata. Apesar disso, e graças às diferentes missões franciscanas, que perduraram entre os séculos XVII e XVIII, houve um pequeno, porém significativo, número de conversões, que levaram Bento XIV a criar um vicariato para eles em 1741.
O Patriarcado católico foi criado em 1899, com Cirilo II, que em poucos anos rompeu com Roma e retornou à Igreja Ortodoxa. O Patriarcado ficou vago até 1947, depois da Segunda Guerra Mundial, quando Pio XII nomeou Marcoa Khouzam.
Seu atual Patriarca é Antonios Naguib, e tem sede no Cairo. Agrupa cerca de 210 mil fiéis, a metade deles fora do Egito, segundo o Anuário Pontifício de 2008.
A relação entre as Igrejas copta ortodoxa e católica, segundo o especialista Pier Giorgio Gianazza, não é totalmente fluída, pois além de diferenças eclesiológicas, existem divergências de vários tipos, como a questão do purgatório ou a imaculada conceição, entre outras. Houve contato dos patriarcas ortodoxos com Roma, especialmente nos anos 70, entre Paulo VI e Shenouda III.
Igreja etíope católica
Também existe uma Igreja católica de rito etíope, ainda que sua história seja muito diferente. Alguns franciscanos chegaram ao país no século XIII, em busca do lendário Preste João. Contudo, não se estabeleceu um contato estável até a chegada do missionários jesuítas, liderados pelo Padre Pedro Páez, já no século XVII.
Este missionário, apoiado pelos portugueses, conseguiu convencer o imperador Susenyos de passar à obediência de Roma. Contudo, os sucessores do Padre Páez, levados com um zelo excessivo, quiseram latinizar os etíopes, e foram expulsos.
O contato com os missionários vicentinos franceses, durante o século XIX, especialmente São Justino de Jacobis, permitiu a sobrevivência de uma pequena comunidade etíope unida a Roma, que em 1930 recebeu o grau de arquieparquia e que tem sua sede em Addis Adeba. Possui cerca de 150 mil fiéis.

Igrejas orientais: tradição bizantina (I)



 
Ecumenismo e cisma, perseguição e martírio

Por Inma Álvarez
 O rito ou tradição bizantina é majoritária no oriente cristão. A ele pertencem cerca de 300 milhões de pessoas, em sua imensa maioria de obediência ortodoxa.
Historicamente, estão vinculados ao antigo Império bizantino e, portanto, ao Patriarcado de Constantinopla, ainda que ao longo dos séculos foram-se constituindo igrejas autocéfalas nos diferentes países. Destaca-se em número de fiéis o Patriarcado de Moscou.
Seria muito longo e alheio ao propósito desta série de artigos aprofundar nas causas que levaram ao Grande Cisma de 1054, que atualmente estão sendo objeto de discussão no Comitê de Diálogo Ecumênico entre Católicos e Ortodoxos.
O que todos os especialistas destacam é que o ato formal do cisma, a excomunhão entre o papa e Miguel I Cerulário, foi o ápice de um longo caminho de distanciamento entre Oriente e Ocidente, não apenas em questões canônicas e disciplinares, mas também litúrgicas, culturais e históricas.
Em todo caso, já desde o primeiro momento houve tentativas de reconstruir a unidade perdida, sem êxito. Depois o Ocidente viveria outro doloroso cisma, de Lutero, que voltaria sua atenção para longe da questão oriental durante séculos.
Das tensões entre ambas Igrejas e das vicissitudes dos séculos surgiram treze igrejas católicas de rito bizantino, especialmente na Europa Oriental, também conhecidas como “uniatas”.
A liturgia bizantina ou grega, a majoritária e mais seguida dos ritos orientais, é chamada também de Divina Liturgia, de uma grande beleza visual, pois dela participam também os ícones, a música, os ornamentos sagrados e a própria arquitetura, de forma que o fiel esteja “dentro” da liturgia.
Procede da liturgia que se celebrava em Antioquia, chamada “de Santiago”, e que foi reformada por São Basílio e São João Crisóstomo (século IV e V). Uma das importantes diferenças com o rito latino é o calendário festivo, juliano, que caminha 14 dias atrás do gregoriano ocidental.
A Sagrada Escritura está constantemente presente na liturgia, muito mais que no Ocidente. O jejum é praticado rigorosamente, especialmente durante a Grande Quaresma. Tem uma grandíssima veneração pela Virgem Maria, sob o título de Theotokos.
Em questão de disciplina eclesiástica, os sacerdotes podem ser homens casados (mas não podem contrair o matrimônio depois de sua ordenação, apenas antes). A língua litúrgica utilizada é o grego ou eslavo antigo, dependendo da influência russa ou grega.
Outra característica importante da igreja bizantina é a importância do monaquismo, das horas litúrgicas, e da devoção particular, por meio da chamada “oração do coração”.
Igreja católica albanesa
A igreja bizantina da Albânia pertencia ao patriarcado de Roma, diferente das demais, que dependiam de Constantinopla. No ano 731, em meio às lutas iconoclastas, o imperador bizantino Leão III conquistou a Albânia e anexou sua igreja a Constantinopla, com a que também participou na ruptura de 1054.
Posteriormente, a Albânia caiu sob o domínio muçulmano, com o que a Igreja passou a ser minoritária. Entre 1895 e 1900, vários grupos ortodoxos tornaram-se católicos e solicitaram um bispo de seu próprio rito, o que lhes foi concedido por Pio XII em 1939, na forma de Administração Apostólica.
Com a perseguição comunista, e especialmente desde 1967, com a proclamação da Albânia como Estado oficialmente ateu, a Igreja católica albanesa passou à total clandestinidade, até a queda do regime. Hoje são 1500 fiéis, agrupados numa só paróquia, e dependem diretamente da Congregação para as Igrejas Orientais.
Igreja grego-católica bielorussa
Esta Igreja católica marca a união de Brest (1596), quando os bispos ortodoxos da província de Kiev decidiram em grupo retornar à comunhão com Roma. Desta união surgiram as Igrejas grego-católicas da Bielorússia e Ucrânia.
Após a invasão da Bielorússia no século XVIII pelos russos, muitos católicos uniram-se, uns voluntariamente e outros de forma forçada, à Igreja ortodoxa russa. Ainda que em 1905 tenha sido reconhecida a liberdade de culto, muitos católicos optaram por passar ao rito latino, e a Igreja bizantina católica ficou reduzida a 30 mil fiéis.
Sob a dominação comunista, os greco-católicos foram novamente unidos de forma forçada à Igreja ortodoxa, até 1991. Os que conseguiram sair do país estabeleceram comunidades na diáspora, que ainda hoje existem.
Esta igreja atualmente conta com cerca de 5500 fiéis, agrupados em cerca de vinte paróquias. Depende diretamente da Congregação para as Igrejas Orientais.
Igreja grego-católica búlgara
A Igreja ortodoxa búlgara esteve tradicionalmente unida ao Patriarcado de Constantinopla, apesar de sua independência inicial. Ao longo de sua história, a reação contra a helenização foi confundida com sentimentos nacionais, o que afetou também as relações com Roma.
Na metade do século XIX, o arquimandrita Sokolsky pediu a união com Roma, e foi consagrado como primeiro bispo católico bizantino, ainda que o movimento pró-Roma se dissolveu após conseguir de Constantinopla o reconhecimento da independência eclesiástica.
A pequena comunidade greco-católica búlgara está formada hoje por cerca de 22 mil fiéis, agrupados no Exarcado de Sofia. A maior parte dos católicos búlgaros seguem o rito latino.
Igreja dos grego-católicos da ex-Iugoslávia
Também chamada Igreja católica bizantina da eparquia de Križevci, agrupa os fiéis católicos bizantinos da Bósnia, Croácia e Eslovênia (eparquia de Križevci), e o exarca apostólico de Sérvia e Montenegro.
Esta Igreja constituiu-se ao longo dos séculos XVIII e XIX majoritariamente com população emigrada desde Galitzia, após sua conquista por parte da Rússia, assim como de católicos rutenos procedentes de Transcarpátia e Eslováquia. Atualmente são cerca de 53 mil fiéis.
Igreja grego-católica húngara
Também tem sua origem na emigração de católicos rutenos de rito bizantino. O mais característico desta Igreja é que, devido a um importante grupo protestante, no século XVIII, que se uniu a ela adotando o rito bizantino, introduziu o uso do húngaro na liturgia, no lugar do grego, ainda que sem autorização.
No ano 1900, um grupo de greco-católicos húngaros peregrinou a Roma para o Ano Santo e aproveitou para pedir ao Papa Leão XIII que regularizasse sua situação e lhes proporcionasse um bispo próprio. Em 1912, o Papa Pio X escolheu para eles a Eparquia de Hajdudorog. Atualmente são 302 mil fiéis.
Igreja bizantina eslovaca
Em 1646, um importante grupo de hierarcas ortodoxos rutenos tomou a decisão de se unir novamente a Roma, na chamada União de Uzhhorod, similar à que haviam protagonizado os ucranianos em Brest quase um século antes.
A igreja greco-católica eslovaca esteve unida à igreja rutena durante vários séculos. Durante a Segunda Guerra Mundial, e após a invasão comunista, o novo governo obrigou os grego-católicos a abandonarem Roma e unierem-se ao Patriarcado de Moscou. O bispo greco-católico de Prešov, Dom Gojdič, foi preso e executado.
Após a queda do comunismo e a divisão do país, o Papa João Paulo II criou o exarcado de Košice. Em 30 de janeiro de 2008, Bento XVI elevou a igreja à categoria de metropolitana sui iuris, ao mesmo tempo que elevava Košic ao posto de eparquia. Hoje conta com 258 mil fiéis.
[Continua...]

sábado, 16 de outubro de 2010

Momentos da Concelebração Eucarística que inaugurou o Sinodo para o Oriente
De 10 a 23 de Outubro



Que o Senhor nosso Deus se lembre sempre em seu reino de glória, de Sua Santidade o Santo padre o Papa Bento XVI e o guarde por muitos e muitos anos.





























Sua Beatitude nosso Patriarca Greco Melquita Gregório III Laham



 Basílica de São Pedro em Roma

Nosso Patriarca e o Patriarca Armênio
Sacerdote copta católico





         Nosso Pastor presente no Sínodo


                               
                                                          

Nosso querido pai e pastor Dom Fáres Maakaroun, arcebispo greco melquita católico de São Paulo e todo o Brasil presente entre o Padres Sinodais em Roma.
Abaixo no telão da sala do Sínodo ele faz sua intervenção.

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       Papa coloca sínodo nas mãos de Maria




Durante a oração do Ângelus

CIDADE DO VATICANO, domingo, 10 de outubro- O Papa Bento XVI quis confiar a Maria hoje, publicamente, o recém-inaugurado Sínodo Especial para o Oriente Médio, durante a oração do Ângelus com os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.    
Ele realizou este gesto levando em consideração "o quanto nossos irmãos e irmãs do Oriente Médio veneram a Virgem Maria. Todos a veem como Mãe solícita, próxima em todo sofrimento, como Estrela de esperança".
O Papa explicou aos presentes o significado profundo deste sínodo, ao mesmo tempo em que pediu orações por ele.
"Esta extraordinária reunião sinodal, que durará duas semanas, une no Vaticano os pastores da Igreja que vive na região médio-oriental, uma realidade muito variada: nessas terras, de fato, a única Igreja de Cristo se expressa em toda a riqueza de suas antigas tradições."
Nesses países, "marcados por profundas divisões e feridos por longos conflitos, a Igreja está chamada a ser sinal e instrumento de unidade e reconciliação, sobre o modelo da primeira comunidade de Jerusalém", afirmou.
"Esta tarefa é árdua, desde o momento em que os cristãos do Oriente Médio se encontram suportando condições de vida difíceis, tanto no âmbito pessoal como familiar e de comunidade. Mas isso não deve nos desanimar", acrescentou.
Rosário
Por outro lado, o Papa recordou que outubro é o mês do rosário. "Portanto, somos convidados a deixar-nos guiar por Maria nesta oração, antiga e sempre nova, que é especialmente querida por Ela, porque nos conduz diretamente a Jesus, contemplado em seus mistérios de salvação: gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos."
"Seguindo os passos do venerável João Paulo II, eu gostaria de recordar que o terço é uma oração bíblica, toda entretecida de Sagrada Escritura."
É também, explicou, "oração do coração, na qual a repetição 'Ave Maria' orienta o pensamento e o afeto a Cristo e, portanto, torna-se súplica confiada à sua e nossa Mãe".
"É oração que ajuda a meditar na Palavra de Deus e a assimilar a comunhão eucarística, segundo o modelo de Maria, que guardava em seu coração tudo o que Jesus fazia, dizia e sua própria presença."
Por isso, nas saudações em diversos idiomas, o Papa convidou os presentes a rezarem o terço, para que, como disse aos peregrinos em espanhol, "a invocação do doce nome de Maria seja para todos uma fonte de consolo e esperança". 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

 

Sinodo para o Oriente: Os esforços do Papa cairão no oriente como chuva em terra seca; aqui no ocidente como folhas levadas ao vento, enfim...

Roma de 10 a 23 de outubro

Papa a Igrejas Orientais Católicas: conservar própria identidade


Ao término do Congresso pelos 20 anos do Código de Direito Canônico Oriental

ROMA, segunda-feira, 11 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - As igrejas orientais católicas estão chamadas a "conservar sua própria identidade, que é ao mesmo tempo oriental e católica", e a levar adiante, "com novo vigor apostólico, a missão confiada a elas".    
Assim disse o Papa Bento XVI ao receber, no sábado pela manhã, no Vaticano, os participantes do Congresso de estudo celebrado por ocasião do 20° aniversário da promulgação do Código de Direito Canônico Oriental.
O Código, promulgado em 1990, contém a disciplina comum às 23 Igrejas sui iuris da Igreja Católica, integrada em cinco grandes tradições orientais - alexandrina, antioquena, armênia, caldeia e bizantina - e estabelece a plena igualdade de todas as Igrejas do Oriente e Ocidente.
Este vigésimo aniversário - disse Bento XVI - é uma ocasião para "ver em que medida o Código teve efetivamente força de lei para todas as igrejas orientais sui iuris e como foi traduzido na atividade da vida cotidiana", como também "em que medida a potestade legislativa de cada igreja sui iuris previu para a promulgação do próprio direito particular, tendo presentes as tradições de seu próprio rito, como também as disposições do Concílio Vaticano II".
A propósito disso - acrescentou - os sacri canones da Igreja antiga, que inspiraram a codificação oriental vigente, "estimulam todas Igrejas Orientais a conservar sua própria identidade, que é ao mesmo tempo oriental e católica".
"Ao manter a comunhão católica, as igrejas orientais católicas não pretendiam de fato negar a fidelidade a sua tradição", disse o Papa .
Como muitas vezes foi reafirmado, a já realizada união plena das igrejas orientais católicas com a Igreja de Roma não deve comportar para estas uma diminuição da consciência de sua própria autenticidade e originalidade".
"Portanto, a tarefa de todas as igrejas orientais católicas é a de conservar o patrimônio comum disciplinar e alimentar suas próprias tradições, riqueza para toda a Igreja."
Os próprios sacri canones dos primeiros séculos da igreja - destacou o Papa - "constituem em grande medida o fundamental e o mesmo patrimônio de disciplina canônica que também regem as igrejas ortodoxas. Portanto, as igrejas orientais católicas podem oferecer uma contribuição peculiar e relevante ao caminho ecumênico".
Antes do discurso papal, em sua saudação, Dom Francesco Coccopalmerio, presidente do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, confirmou o compromisso de seu dicastério de "ajudar as igrejas sui iuris a serem uma ponte, também como ajuda do Código, frente às igrejas ortodoxas, buscando a desejada comunhão plena para formar uma frente comum, em uma virtuosa sinergia, diante dos desafios da época, contra as forças do neopositivismo, que leva - como sabemos - a um funesto relativismo do pensamento e da vida".

Igrejas Orientais Católicas: igreja de tradição caldeia

Uma longa viagem a partir do nestorianismo até a comunhão com Roma

ROMA, segunda-feira, 11 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, durante esta semana, uma breve viagem histórica sobre cada uma das cinco grandes tradições orientais: caldeia, armênia, copta, antioquena e bizantina.    
A Igreja Católica de tradição caldeia ou siro-oriental, uma das cinco grandes tradições orientais, foi fundada, segundo a tradição, pelo apóstolo São Tomé, na Babilônia, e por seus discípulos Addai e Mari, que evangelizaram as comunidades judaicas que existiam no império Persa desde os tempos bíblicos do exílio.
Dentro desta tradição se encontra a igreja caldeia, majoritária no Iraque, e a Igreja siro-malabar, fruto de uma florescente expansão dos nestorianos até a Índia e a China, nos séculos VII e VIII.
A tradição caldeia ou siro-oriental procede da Igreja síria pré-calcedoniana, uma das que primeiro separou-se da comunhão com Roma (no ano 410, durante o Concílio de Éfeso), por seguir as doutrinas do monge Nestório.
O nestorianismo é uma heresia cristológica, que consiste basicamente em afirmar que em Cristo não há duas naturezas numa única pessoa, mas duas pessoas, uma divina e uma humana. Por isso, os nestorianos negam à Virgem Maria o título de Theotokos, Mãe de Deus.
Além disso, os especialistas falam também de questões políticas e sociais que teriam influído nesta separação, entre elas, a hostilidade dos persas com os bizantinos.
A Igreja siro-oriental ou caldeia viveu posteriormente vários séculos de esplendor, entre outras coisas, graças à escola teológica de Nisibe, de onde procede São Efrém.
Séculos depois desta divisão, uma parte da Igreja nestoriana voltou à comunhão com Roma, em grande parte devido também a uma mudança na forma de sucessão de katholicos, o chefe da Igreja siro-oriental, que passou a ser hereditária, o que produziu forte ruptura interna.
O aproximamento foi nos tempos do Papa Eugênio IV (1445), com a bula Benedictus sit Deus, ainda que o restabelecimento da comunhão teve de esperar mais de um século, quando Júlio III, em 1553, consagrou bispo o abade João Sulaqa, dando-lhe o título de Patriarca dos caldeus.
Os caldeus, tanto ortodoxos como católicos, sofreram diversas perseguições nas mãos dos turcos e curdos no início do século XX, motivo pelo qual a população foi reduzida drasticamente.
Atualmente, esta Igreja sofre perseguição no Iraque, pelos fundamentalistas muçulmanos, que provocaram uma segunda diáspora.
Um dos momentos mais dramáticos vividos recentemente pela igreja caldeia católica foi o sequestro a assassinato de Dom Paulo Faraj Rahho, arcebispo de Mossul, dia 12 de março de 2008.
A principal característica do rito caldeu é sua antiguidade: trata-se, segundo o especialista Juan Nadal Cañellas, da liturgia mais arcaica da cristandade, com um "forte sabor hebraico", que é observado na forma da assembleia litúrgica, parecida à de uma sinagoga, ou na quase total ausência de imagens.
A liturgia é quase toda cantada. A língua litúrgica é o siríaco ou aramaico e o árabe e, no caso da igreja siro-malabar, o siríaco e o Malayalam.
Igreja caldeia
A Igreja caldeia conta atualmente com cerca de 340 mil membros, segundo as estatísticas mais recentes do Anuário Pontifício. Seu chefe é o Patriarca da Babilônia dos Caldeus, Cardeal Emmanuel Delly, que reside em Bagdá.
Conta com 3 arquieparquias metropolitanas e 5 arquieparquias, que se estenderam pelo território da antiga Mesopotâmia (atual Iraque e Irã).
Devido às duras condições nas quais vivem as minorias cristãs, uma parte importante dos fiéis caldeus reside nos Estados Unidos, vinculados às eparquias de San Diego e Detroit, e na Austrália (eparquia de Sydney).
Atualmente, a igreja caldeia está desenvolvendo um importante papel de mediação ecumênica entre a Igreja siro-oriental ortodoxa que permaneceu separada, e Roma, segundo explica Pier Giorgio Gianazza, um dos especialistas do sínodo que é realizado nestes dias no Vaticano.
De fato, o diálogo com os cristãos ortodoxos de tradição caldeia avançou muito nas últimas décadas. Os católicos caldeus recuperaram nos últimos anos muitas das fontes originais aramaicas relativas às disputadas cristológicas, revisando especialmente as obras de Nestório.
Segundo alguns especialistas, a questão cristológica que levou ao cisma teve mais a ver com problemas de entendimento entre duas culturas distantes conceitualmente, a grega e a síria, que com uma ruptura real com o depósito da fé.
Sobre esta base, em 11 de novembro de 1994, o Papa João Paulo II e o katholicos caldeu ortodoxo, Mar Dinkha, assinaram uma declaração cristológica e mariológica na qual afirmam que, ainda com termos teológicos distintos, a fé de ambas as Igrejas é a mesma.
Em 1996, os dois patriarcas caldeus, o ortodoxo Mar Dinkha e o católico Raphael Bidawid, assinaram um acordo de cooperação e, em 1997, ambas as igrejas levantaram suas excomunhões mútuas.
Igreja siro-malabar
Esta igreja de tradição caldeia conta com cerca de 3,4 milhões de fieis e se estende sobretudo no norte da Índia. Seu atual chefe é o arcebispo maior Varkey Vithayathil, e tem sede em Ernakulam, no estado de Kerala (Índia).
A origem desta igreja se remonta à época de grande esplendor cultural da tradição síria, entre os séculos VII e XIII, quando os caldeus evangelizaram praticamente toda a Ásia Central, até chegar à China.
São conhecidos também como "cristãos de São Tomé", nome dado pelos surpresos portugueses no século XV, ao chegar à Índia.
Sua união com Roma aconteceu em 1599, após o sínodo de Diamper (os especialistas suspeitam que foi em parte forçado pelos portugueses), após o qual começou um processo de "latinização" de sua liturgia e ritos, assim como de sua disciplina.
Em 1934, o Papa Pio XI ordenou que fosse iniciado um processo de reforma litúrgica que eliminasse as imposições latinas da liturgia. Em 1957, o Papa Pio XII aprovou o ritual siro-malabar. Em 1998, João Paulo II deu aos bispos siro-malabares autoridade para resolver conflitos litúrgicos.
(Por Inma Álvarez)

Igrejas orientais: a Igreja de tradição antioquena


Monofisismo, cruzadas e perseguições

(Por Inma Álvarez) 
ROMA, terça-feira, 12 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - A segunda grande tradição oriental é conhecida como antioquena ou siro-ocidental, compartilhada também pelas Igrejas Católica e Ortodoxa. Dentro da Igreja Católica, são três as agrupações pertencentes a este rito: a Igreja siro-católica, a Igreja maronita e a Igreja siro-malancar.
Esta tradição venerável procede da Antioquia, cidade que tem um lugar muito importante na história do cristianismo, como narram os Atos dos Apóstolos. Foi fundada, segundo a tradição, pelo próprio São Pedro. Lá, os seguidores de Cristo receberam pela primeira vez o nome de "cristãos".
Antioquia, chamada "Rainha do Oriente", foi uma das sedes dos quatro patriarcados originais, junto com Jerusalém, Alexandria e Roma. Foi também um grande centro teológico, monástico, cultural e litúrgico na Igreja antiga.
A Igreja síria se separou da com o resto da Igreja, rejeitando o Concílio de Calcedônia (451) e adotando o monofisismo, heresia que afirma que em Cristo existe apenas uma natureza, a divina.
Posteriormente, no século VI, um bispo monofisita, Jacob Baradai, enviado secretamente pela imperatriz Teoodora, organizou e estruturou a Igreja síria ortodoxa, que desde então é conhecida também como Igreja jacobita ou siro-ocidental.
Os cristãos sírios que não abraçaram o monofisismo são os melquitas, de quem falaremos no capítulo sobre a Igreja bizantina, já que abandonaram o rito siríaco. Outros cristãos que conservaram o rito siríaco, mas permaneceram católicos, são os maronitas, de quem trataremos mais adiante.
Segundo explica o especialista Juan Nadal Cañellas, o monofisismo da Igreja síria foi mais uma questão política, para atender os persas frente ao império bizantino. No entanto, nunca desembocou em proclamações heterodoxas, senão que nunca houve um cisma real no conteúdo da fé.
De fato, afirma, não foi difícil chegar a uma declaração comum, em 1984, entre o patriarca ortodoxo sírio, Ignace Zakka Ivas, e João Paulo II, na qual ambos afirmam que os "mal-entendidos e os cismas que vieram depois do Concílio de Niceia (...) não tocam o conteúdo da fé".
Ao longo dos séculos, a Igreja síria sofreu muitas perseguições, nas mãos dos bizantinos, dos árabes, dos mongóis e, finalmente, do império otomano. Este - além da emigração - é o motivo pelo qual o número de fiéis sírios é muito pequeno.
A liturgia antioquena é muito antiga, ainda que tenha muita influência bizantina. Entre outras características, são proclamadas 6 leituras (3 do Antigo e 3 do Novo Testamento); o ósculo da paz é colocado antes da consagração; a liturgia eucarística está repleta de gestos simbólicos; o Batismo é por imersão.
Igreja Católica síria
Durante a época das cruzadas, os cristãos jacobitas mantiveram boas relações com os católicos romanos e, inclusive no Concílio de Florença (1442), apresentou-se uma volta à comunhão com Roma, mas sem êxito.
Em 1656, conseguiu-se criar a primeira hierarquia reconhecida por Roma, ao ser eleito como patriarca o jacobita convertido ao catolicismo, Abdul Ahijan. No entanto, a linha hierárquica unida a Roma se interrompeu em várias ocasiões.
Em 1782, o Santo Sínodo Ortodoxo Sírio elegeu o metropolitano Miguel Jarweh como patriarca, quem se declarou católico e teve de refugiar-se no Líbano, fugindo dos ortodoxos, que elegeram outro patriarca. Com Jarweh, explica o especialista do sínodo, Pier Giorgio Gianazza, restabeleceu-se até hoje a hierarquia siro-ocidental católica.
O patriarca de Antioquia dos Sírios atualmente é Ignace Youssef III Younan, e os fiéis são cerca de 120 mil. A sede está em Beirute e sua liturgia é praticamente igual, exceto pequenos detalhes, à dos sírios ortodoxos.
Igreja maronita
Em meio às disputas cristológicas da Calcedônia, no século V, houve um monge sírio com fama de santidade, Maron, que permaneceu unido a Roma. Seus seguidores, devido às perseguições dos monofisitas, tiveram de retirar-se às montanhas do Líbano.
Esta Igreja permaneceu oculta até a chegada dos cruzados no século XII, segundo explica Nadal Cañellas. A Igreja de Roma a reconheceu sem problemas e seus representantes já participaram do Concílio Lateranense IV.
Trata-se, portanto, da única Igreja oriental que permaneceu desde sempre fiel a Roma. Devido a isso, lamenta Nadal, seu rito está muito latinizado.
Conta com cerca de 3,5 milhões de fiéis, segundo os dados da última edição do Anuário Pontifício da Igreja.
Sua cabeça atual é Pedro Sfeir de Reyfoun, com o nome de patriarca de Antioquia dos maronitas, e tem sua sede de Bkerke (Líbano). Devido à emigração, têm importantes comunidades nos Estados Unidos, México, Brasil, Canadá, Austrália e Argentina.
Igreja siro-malancar católica
Como vimos anteriormente na Igreja caldeia, os siro-orientais evangelizaram, durante os séculos VII a XIII, grande parte da Ásia Central. Daquela evangelização surgiu a Igreja siro-malabar, que, séculos mais tarde, com a chegada dos portugueses, passou a depender de Roma.
No entanto, segundo explica Nadal, em 1665, aproveitando certo vazio de poder deixado pelos portugueses, e com o desejo de preservar seu próprio rito, o arquidiácono Tomás Parambil e muitos seguidores romperam com Roma e passaram a obedecer o patriarca ortodoxo siro-ocidental.
Criou-se assim a Igreja malancar ortodoxa. No entanto, em 1930, uma parte da Igreja siro-malancar ortodoxa voltou novamente a obedecer Roma.
Esta Igreja malancar católica é presidida pelo arquieparca maior de Trivandrum, chamado de maneira informal de Catolicós, Baselios Cleemis Thottunkal. A sede está em Trivandrum (ou Thiruvananthapuram), no estado indiano de Kerala. São cerca de 340 mil fiéis.


Igrejas orientais: a igreja de tradição armênia

O trágico destino de uma nação

                         

ROMA, quarta-feira, 13 de outubro de 2010 (ZENIT.org) – A terceira tradição oriental é a armênia, vinculada à nação de mesmo nome. Um aspecto trágico cerca os cristãos armênios em toda sua história, especialmente após o genocídio perpetrado pelos turcos durante a Primeira Guerra Mundial.
A Armênia foi evangelizada, segundo a tradição, pelos apóstolos Bartolomeu e Judas Tadeu, ainda que o nascimento de uma Igreja propriamente armênia aconteceu no século III, com Gregório, o Iluminador.
Gregório evangelizou a Armênia, com a conversão de seu rei Tirídates, que proclamou, pela primeira vez na história, o cristianismo como religião oficial do Estado. A Armênia é, portanto, a primeira nação cristã da história.
Inicialmente, a Igreja armênia dependia de Casareia da Capadócia, mas se converteu em seguida em autônoma, em todos os níveis, incluindo o litúrgico e o disciplinar. 
Ao desaparecer muito rápido o Estado armênio independente, no final do século IV, o cristianismo converteu-se para os armênios em elemento unitivo de sua própria identidade.
Dominados pelos persas e depois pelos bizantinos, os armênios viram-se arrastados também pelas disputas cristológicas de Calcedônia, rechaçando este Concílio mais por razões políticas que realmente religiosas.
No século XI, o território armênio é conquistado pelos turcos. A população teve de emigrar massivamente para a Ásia Menor, onde fundou a Pequena Armênia. Ali entraram em contato com os cruzados, especialmente com os francos, mas apesar disso não houve volta à comunhão com Roma.
Os armênios ficaram portanto dentro do Império Otomano, onde adquiriram uma certa autonomia. No entanto, as lutas balcânicas dos séculos XVIII e XIX de alguns povos contra os turcos, alentadas pela Rússia e o Ocidente, e seu próprio desejo de independência, os converteram em suspeitos aos olhos dos turcos.
No final do século XIX, mas sobretudo no início do XX, o povo armênio foi objeto de um autêntico genocídio, com quase 1,5 milhão de mortos e centenas de milhares de deportados para o Líbano, os Estados Unidos e a América do Sul.
Igreja Católica Armênia
Ainda que desde a época das Cruzadas já existiam comunidades armênias católicas que mantinha laços com Roma, não foi algo mais estruturado até 1742, quando o Papa Bento XIV constituiu o Patriarcado de Cilícia dos armênios, cujos patriarcas usam desde então o nome de Pedro (Petros) junto com seu próprio nome.
Os armênios católicos são, atualmente, ao redor de 270.000. Também eles se viram afetados pelo genocídio: segundo o especialista Pier Giorgio Gianazza, morreram 7 bispo, 130 sacerdotes e cerca de 100.000 fiéis. Atualmente, estão presentes em todo Orienta Médio, na França, nos Estados Unidos e na Argentina, principalmente. O cabeça atual da Igreja católica armênia é o Patriarca Nerses Petros XIX Tarmouni, e tem sua sede em Beirute.
O rito se celebra em armênio. As igrejas armênias costumam ter muito poucos ícones, e têm uma cortina que divide o sacerdote e o altar do restante das pessoas durante partes da liturgia, em relação com o ritual sacerdotal judaico.
Celebram com pães ázimos e há elevação do Corpo de Cristo durante a consagração, coisa que não sucede com outros ritos orientais. Estes e outros elementos similares ao rito romano extraordinário são, segundo o especialista Juan Nadal Cañellas, de clara influência latina.
Segundo Gianazza, a Igreja católica armênia tem tido um papel importante no diálogo ecumênico entre os armênios ortodoxos e Roma. Desde a época de Paulo VI, firmaram-se várias declarações conjuntas com os respectivos Patriarcas. A última foi entre João Paulo II e Aram I, em 1997.
Em 1991, João Paulo II beatificou um bispo católico armênio, Inácio Maloyan, fuzilado junto com centenas de fiéis por se negar a se converter ao Islã durante o genocídio de 1915.
(Inma Álvarez)