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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Igrejas Orientais: tradição alexandrina


                         




Coptas e etíopes, o rosto africano do Oriente


Por Inma Álvarez 
 A quarta tradição das Igrejas orientais é a alexandrina, da qual procedem as igrejas copta e etíope. Possui esse nome por proceder de Alexandria (Egito), outro dos grandes centros históricos do cristianismo desde a antiguidade.
A Alexandria foi evangelizada, segundo a tradição, por São Marcos, e converteu-se rapidamente num foco de expansão do cristianismo no norte da África, sofrendo perseguições e martírios, especialmente sob Diocleciano.
Com a liberdade do cristianismo, e até a invasão muçulmana, Alexandria viveu uma etapa gloriosa como centro teológico (a famosa escola de Alexandria, que trouxe autores como Cirilo, Orígenes ou Atanásio) e monástico (São Pacômio).
A ruptura da comunhão com Roma aconteceu também à raiz do Concílio da Calcedônia, como destaca o especialista Pier Giogio Gianazza, por enfrentamentos com os bizantinos. A maior parte dos cristãos egípcios rejeitou Calcedônia. Constituiu-se uma Igreja autocéfala, conhecida como “copta” (que vem de aigyptos, egípcio), enquanto que uma minoria passou à igreja grego-melquita.
Posteriormente, no século XIII, graças à presença de missionários franciscanos latinos, tentou-se uma reunificação com Roma, que como no fim do caso das demais igrejas orientais, foi ratificada pelo Concílio de Florença, mas nunca entrou em vigor.
Devido à presença muçulmana, esta igreja viveu durante séculos isolada do resto da cristandade, em períodos alternados de calmaria e perseguição. Sua liturgia, segundo João Nadal Cañellas, é a que mais conservou influências do judaísmo.
Entre suas características, cabe destacar que entre os coptas ainda se pratica a circuncisão, mesmo não sendo obrigatória, e que os fiéis entram descalços no templo. Nos tempos litúrgicos fortes, praticam um jejum muito rigoroso.
Em geral, explica Nadal Cañelas, devido ter nascido numa sociedade de monjes e eremitas, este rito se caracteriza por ser muito solene, profundo e por celebrações muito longas.
Por sua vez, a origem da Igreja etíope confunde-se com a lenda: já antes de Cristo, existia entre os etíopes a convicção de que seu reino foi o fruto da união entre Salomão e a rainha de Saba, cujos filhos roubaram a arca de Jerusalém e levaram-na para Axum.
Em todo caso, existiram influências semíticas evidentes desde a antiguidade, como a língua litúrgica, o ge’ez, e a existência de comunidades judias.
Também a história do nascimento do cristianismo é lendária: os relatos protocristãos etíopes falam do eunuco da rainha Candace, envangelizada e batizada por São Felipe, que ao retornar a seu país teria propagado o cristianismo.
A primeira notícia histórica vem do século IV, quando o Patriarca de Alexandria consagrou como primeiro bispo etíope São Frumêncio. Portanto, a igreja etíope nasceu como hierarquia vinculada à cópta. Seu patriarca tem o título de Abuna.
De fato, a liturgia etíope é muito semelhante à copta, mas adaptada ao ritmo, à imaginação e musicalidade africanas. Também praticam a circuncisão.
Igreja copta católica
A presença das cruzadas entre os coptas não foi de todo grata. Apesar disso, e graças às diferentes missões franciscanas, que perduraram entre os séculos XVII e XVIII, houve um pequeno, porém significativo, número de conversões, que levaram Bento XIV a criar um vicariato para eles em 1741.
O Patriarcado católico foi criado em 1899, com Cirilo II, que em poucos anos rompeu com Roma e retornou à Igreja Ortodoxa. O Patriarcado ficou vago até 1947, depois da Segunda Guerra Mundial, quando Pio XII nomeou Marcoa Khouzam.
Seu atual Patriarca é Antonios Naguib, e tem sede no Cairo. Agrupa cerca de 210 mil fiéis, a metade deles fora do Egito, segundo o Anuário Pontifício de 2008.
A relação entre as Igrejas copta ortodoxa e católica, segundo o especialista Pier Giorgio Gianazza, não é totalmente fluída, pois além de diferenças eclesiológicas, existem divergências de vários tipos, como a questão do purgatório ou a imaculada conceição, entre outras. Houve contato dos patriarcas ortodoxos com Roma, especialmente nos anos 70, entre Paulo VI e Shenouda III.
Igreja etíope católica
Também existe uma Igreja católica de rito etíope, ainda que sua história seja muito diferente. Alguns franciscanos chegaram ao país no século XIII, em busca do lendário Preste João. Contudo, não se estabeleceu um contato estável até a chegada do missionários jesuítas, liderados pelo Padre Pedro Páez, já no século XVII.
Este missionário, apoiado pelos portugueses, conseguiu convencer o imperador Susenyos de passar à obediência de Roma. Contudo, os sucessores do Padre Páez, levados com um zelo excessivo, quiseram latinizar os etíopes, e foram expulsos.
O contato com os missionários vicentinos franceses, durante o século XIX, especialmente São Justino de Jacobis, permitiu a sobrevivência de uma pequena comunidade etíope unida a Roma, que em 1930 recebeu o grau de arquieparquia e que tem sua sede em Addis Adeba. Possui cerca de 150 mil fiéis.

Igrejas orientais: tradição bizantina (I)



 
Ecumenismo e cisma, perseguição e martírio

Por Inma Álvarez
 O rito ou tradição bizantina é majoritária no oriente cristão. A ele pertencem cerca de 300 milhões de pessoas, em sua imensa maioria de obediência ortodoxa.
Historicamente, estão vinculados ao antigo Império bizantino e, portanto, ao Patriarcado de Constantinopla, ainda que ao longo dos séculos foram-se constituindo igrejas autocéfalas nos diferentes países. Destaca-se em número de fiéis o Patriarcado de Moscou.
Seria muito longo e alheio ao propósito desta série de artigos aprofundar nas causas que levaram ao Grande Cisma de 1054, que atualmente estão sendo objeto de discussão no Comitê de Diálogo Ecumênico entre Católicos e Ortodoxos.
O que todos os especialistas destacam é que o ato formal do cisma, a excomunhão entre o papa e Miguel I Cerulário, foi o ápice de um longo caminho de distanciamento entre Oriente e Ocidente, não apenas em questões canônicas e disciplinares, mas também litúrgicas, culturais e históricas.
Em todo caso, já desde o primeiro momento houve tentativas de reconstruir a unidade perdida, sem êxito. Depois o Ocidente viveria outro doloroso cisma, de Lutero, que voltaria sua atenção para longe da questão oriental durante séculos.
Das tensões entre ambas Igrejas e das vicissitudes dos séculos surgiram treze igrejas católicas de rito bizantino, especialmente na Europa Oriental, também conhecidas como “uniatas”.
A liturgia bizantina ou grega, a majoritária e mais seguida dos ritos orientais, é chamada também de Divina Liturgia, de uma grande beleza visual, pois dela participam também os ícones, a música, os ornamentos sagrados e a própria arquitetura, de forma que o fiel esteja “dentro” da liturgia.
Procede da liturgia que se celebrava em Antioquia, chamada “de Santiago”, e que foi reformada por São Basílio e São João Crisóstomo (século IV e V). Uma das importantes diferenças com o rito latino é o calendário festivo, juliano, que caminha 14 dias atrás do gregoriano ocidental.
A Sagrada Escritura está constantemente presente na liturgia, muito mais que no Ocidente. O jejum é praticado rigorosamente, especialmente durante a Grande Quaresma. Tem uma grandíssima veneração pela Virgem Maria, sob o título de Theotokos.
Em questão de disciplina eclesiástica, os sacerdotes podem ser homens casados (mas não podem contrair o matrimônio depois de sua ordenação, apenas antes). A língua litúrgica utilizada é o grego ou eslavo antigo, dependendo da influência russa ou grega.
Outra característica importante da igreja bizantina é a importância do monaquismo, das horas litúrgicas, e da devoção particular, por meio da chamada “oração do coração”.
Igreja católica albanesa
A igreja bizantina da Albânia pertencia ao patriarcado de Roma, diferente das demais, que dependiam de Constantinopla. No ano 731, em meio às lutas iconoclastas, o imperador bizantino Leão III conquistou a Albânia e anexou sua igreja a Constantinopla, com a que também participou na ruptura de 1054.
Posteriormente, a Albânia caiu sob o domínio muçulmano, com o que a Igreja passou a ser minoritária. Entre 1895 e 1900, vários grupos ortodoxos tornaram-se católicos e solicitaram um bispo de seu próprio rito, o que lhes foi concedido por Pio XII em 1939, na forma de Administração Apostólica.
Com a perseguição comunista, e especialmente desde 1967, com a proclamação da Albânia como Estado oficialmente ateu, a Igreja católica albanesa passou à total clandestinidade, até a queda do regime. Hoje são 1500 fiéis, agrupados numa só paróquia, e dependem diretamente da Congregação para as Igrejas Orientais.
Igreja grego-católica bielorussa
Esta Igreja católica marca a união de Brest (1596), quando os bispos ortodoxos da província de Kiev decidiram em grupo retornar à comunhão com Roma. Desta união surgiram as Igrejas grego-católicas da Bielorússia e Ucrânia.
Após a invasão da Bielorússia no século XVIII pelos russos, muitos católicos uniram-se, uns voluntariamente e outros de forma forçada, à Igreja ortodoxa russa. Ainda que em 1905 tenha sido reconhecida a liberdade de culto, muitos católicos optaram por passar ao rito latino, e a Igreja bizantina católica ficou reduzida a 30 mil fiéis.
Sob a dominação comunista, os greco-católicos foram novamente unidos de forma forçada à Igreja ortodoxa, até 1991. Os que conseguiram sair do país estabeleceram comunidades na diáspora, que ainda hoje existem.
Esta igreja atualmente conta com cerca de 5500 fiéis, agrupados em cerca de vinte paróquias. Depende diretamente da Congregação para as Igrejas Orientais.
Igreja grego-católica búlgara
A Igreja ortodoxa búlgara esteve tradicionalmente unida ao Patriarcado de Constantinopla, apesar de sua independência inicial. Ao longo de sua história, a reação contra a helenização foi confundida com sentimentos nacionais, o que afetou também as relações com Roma.
Na metade do século XIX, o arquimandrita Sokolsky pediu a união com Roma, e foi consagrado como primeiro bispo católico bizantino, ainda que o movimento pró-Roma se dissolveu após conseguir de Constantinopla o reconhecimento da independência eclesiástica.
A pequena comunidade greco-católica búlgara está formada hoje por cerca de 22 mil fiéis, agrupados no Exarcado de Sofia. A maior parte dos católicos búlgaros seguem o rito latino.
Igreja dos grego-católicos da ex-Iugoslávia
Também chamada Igreja católica bizantina da eparquia de Križevci, agrupa os fiéis católicos bizantinos da Bósnia, Croácia e Eslovênia (eparquia de Križevci), e o exarca apostólico de Sérvia e Montenegro.
Esta Igreja constituiu-se ao longo dos séculos XVIII e XIX majoritariamente com população emigrada desde Galitzia, após sua conquista por parte da Rússia, assim como de católicos rutenos procedentes de Transcarpátia e Eslováquia. Atualmente são cerca de 53 mil fiéis.
Igreja grego-católica húngara
Também tem sua origem na emigração de católicos rutenos de rito bizantino. O mais característico desta Igreja é que, devido a um importante grupo protestante, no século XVIII, que se uniu a ela adotando o rito bizantino, introduziu o uso do húngaro na liturgia, no lugar do grego, ainda que sem autorização.
No ano 1900, um grupo de greco-católicos húngaros peregrinou a Roma para o Ano Santo e aproveitou para pedir ao Papa Leão XIII que regularizasse sua situação e lhes proporcionasse um bispo próprio. Em 1912, o Papa Pio X escolheu para eles a Eparquia de Hajdudorog. Atualmente são 302 mil fiéis.
Igreja bizantina eslovaca
Em 1646, um importante grupo de hierarcas ortodoxos rutenos tomou a decisão de se unir novamente a Roma, na chamada União de Uzhhorod, similar à que haviam protagonizado os ucranianos em Brest quase um século antes.
A igreja greco-católica eslovaca esteve unida à igreja rutena durante vários séculos. Durante a Segunda Guerra Mundial, e após a invasão comunista, o novo governo obrigou os grego-católicos a abandonarem Roma e unierem-se ao Patriarcado de Moscou. O bispo greco-católico de Prešov, Dom Gojdič, foi preso e executado.
Após a queda do comunismo e a divisão do país, o Papa João Paulo II criou o exarcado de Košice. Em 30 de janeiro de 2008, Bento XVI elevou a igreja à categoria de metropolitana sui iuris, ao mesmo tempo que elevava Košic ao posto de eparquia. Hoje conta com 258 mil fiéis.
[Continua...]

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