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terça-feira, 29 de março de 2011

Papa a bispos siro-malancares: buscar comunhão na diversidade

Recebe representantes desta igreja “sui iuris” em Roma



CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 25 de março de 2011-O Papa Bento XVI recebeu hoje os bispos da Índia que pertencem ao rito siro-malancar e exortou-os a conjugar seu amor e veneração por seu rito particular, em comunhão com o resto da Igreja, e a lealdade para com o Sucessor de Pedro.
Os bispos siro-malancares estão nestes dias em Roma para a visita ‘ad limina Apostolorum", liderados por Baselios Cleemis, o arcebispo maior.
O Papa quis expressar aos bispos o carinho da Santa Sé por eles, recordando o gesto de João Paulo II, em 2005, de promover a Igreja siro-malancar a igreja arcebispal maior, concedendo-lhe assim maior jurisdição.
"As tradições apostólicas que conservais desfrutam da sua total fecundidade espiritual quando vividas em comunhão com a Igreja universal", disse o Papa, destacando que os bispos seguem "corretamente os passos do Servo de Deus Mar Ivanios, que levou seus antecessores e seus fiéis à total comunhão com a Igreja Católica".
"Da mesma forma que vossos antepassados, também estais chamados, na única casa de Deus, a continuar com forte lealdade o que vos foi transmitido."


"É desejo da Igreja Católica que as tradições de cada Igreja particular ou rito se mantenham salvas e íntegras às diferentes necessidades de tempo e lugar", sublinhou o Papa, citando a ‘Orientalium Ecclesiarum'.
Por isso, encorajou os bispos a "desenvolver a estima, entre os vossos sacerdotes e seu povo, pelo patrimônio litúrgico e espiritual que vos foi dado, enquanto construís firmemente a comunhão com a Sé de Pedro".
"O depósito da fé recebida dos Apóstolos e transmitida fielmente ao nosso tempo é um dom precioso de Deus", disse também.
"Vós e vossos presbíteros estais chamados a promover esta comunhão através da Palavra e dos sacramentos, e fortalecê-la com uma catequese sólida, para que a Palavra de Vida, Jesus Cristo, e o dom da vida divina - comunhão com Ele - sejam conhecidos no mundo inteiro", acrescentou.
Ele também os encorajou a não se desanimar pelos seus números pequenos: "As comunidades cristãs pequenas deram muitas vezes, como sabeis, um testemunho notável na história da Igreja".
"Como nos tempos apostólicos, a Igreja do nosso tempo prosperará seguramente na presença de Cristo vivo, que prometeu permanecer conosco sempre e sustentar-nos", afirmou.
Por outro lado, o Papa quis reconhecer as "raízes antigas e a distinta história" do cristianismo na Índia, que "deram um longo e adequado contributo à cultura e à sociedade, e às suas expressões religiosas e espirituais".
"É através da determinação de viver o Evangelho - porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê - que aqueles a quem servis oferecem um contributo mais eficaz para todo o Corpo de Cristo e a sociedade hindu, para o benefício de todos", concluiu.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A propósito da Grande Quaresma 



O que a oração pede, o jejum o alcança 
e a misericórdia o recebe
Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança
à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a
misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam
reciprocamente.

O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três
coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas
simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem
jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de
quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de
Deus às suas próprias súplicas.

Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus
seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede
compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica
quem nega aos outros aquilo que pede para si.

Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia;deste modo alcançarás misericórdia como
quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros
com generosidade e presteza.

Peçamos, portanto, destas três virtudes – oração,jejum, misericórdia – uma única força
mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração
sob três formas distintas.

Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas
pelo jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus como ensina o Profeta: Sacrifício
agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um coração arrependido e
humilhado (cf. Sl 50,19).

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda
pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida
a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si
mesmos.

Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá
frutos se for regado pela misericórdia, pois a aridez da misericórdia faz secar o jejum. O que a
chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o
corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não
abrir as torrentes da misericórdia.

Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo
contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó
homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que
venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros,
também tu não o possuirás.

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo
(Sermo 43: PL 52,320.322)
(Séc.IV)

domingo, 27 de março de 2011

Pedido de Oração


Hoje dia 27 de março, Terceiro Domingo da Grande Quaresma, Domingo da Santa Cruz; após a Santa e Divina Liturgia alguns paroquianos greco-melquitas de origem síria que formam em nossa cidade uma das maiores colônias fora do Oriente, manifestaram enorme preocupação pelos recentes eventos ocorridos na Síria em relação aos protestos contra o governo instalado, reivindicando por mudanças. Fatos estes que não tem ocorridos sem notícias de violências e mortes. Todos os dias nossa Liturgia reza: "Pela paz do mundo inteiro, pela estabilidade das Santas Igrejas de Deus, e pela união de todos. Oremos ao Senhor!Ao que todos responde: "_ Senhor, tende piedade! Por isso nós pedimos a todos os fiéis que façam subir ao céu pela intercessão da Mãe de Deus e do nosso padroeiro o glorioso mártir São Jorge as mais efusivas preces pelo dom da Paz naquele país de grande herança cristã de onde vieram nossos irmãos e fiéis melquitas trazendo para Juiz de Fora-MG esta fé genuína gerada pelos Santos Apóstolos na grande Damasco: onde "pela primeira vez os discípulos de Jesus foram chamados de cristãos" (At, 12) e onde se encontra um grande número de familiares e amigos.    .
  









sábado, 26 de março de 2011


TERCEIRO DOMINGO A GRANDE QUARESMA
VENERAÇÃO DA SANTA E VIVIFICANTE CRUZ

Cenas da Divina Liturgia do Terceiro Domingo da Grande Quaresma e a procissão com a Santa Cruz.



























No calendário Litúrgico Bizantino há duas datas nas quais veneramos a Santa Cruz, tamanha é a relevância e o simbolismo deste instrumento de morte que se transformou em instrumento de vida e salvação para os cristãos: 14 de setembro (festa principal) e no Terceiro Domingo da Quaresma.
A Santa Cruz transformou-se, no decorrer dos acontecimentos da vida da Igreja, no arquétipo da ação salvadora de Deus e no modelo de resposta do homem. Deus salva os homens pela Cruz, através de seu Filho que, obediente à vontade do Pai, a abraçou restaurando aos homens a dignidade filial perdida.
Os primeiros cristãos, conforme relata São Paulo em suas cartas, começavam a descobrir as riquezas do mistério da morte de Jesus na cruz, quando à luz da Ressurreição a vislumbravam como meio de salvação e não como instrumento de perdição. Já que o Senhor havia morrido numa cruz, em obediência à vontade do Pai, ela foi acolhida como sinal de humildade e sujeição aos desígnios de Deus. A resposta do homem ante a vontade divina passou a ser dada de maneira consistente: a fé no Ressuscitado movia os corações a uma plena compreensão do plano salvador.
São Paulo não se limitou apenas a ensinar sobre o poder que tem a Cruz de libertar os homens do pecado, do egoísmo e da morte. Ele foi além dessas verdades estendendo o seu significado. Deu à Cruz a dimensão de Redenção, vendo nela o meio necessário para que fosse selada a Nova Aliança entre Deus e os homens.
Todo cristão, por participar do amor e da obediência de Cristo na Cruz, morre para o pecado que o impede de amar a Deus e aos homens de forma plena e livre. Santo Inácio de Antioquia (+ 117) e São Policarpo (+ 165) lembravam os sofrimentos de Cristo constantemente em suas pregações, para enfatizar a todos os cristãos que no escândalo da Cruz se ocultava o profundo amor de Deus pelos homens. Na cruz trilhava-se o caminho para se chegar à Ressurreição. Por isso, os cristãos do Oriente veneram a Cruz como símbolo da vitória sobre a morte.
Todo sofrimento, angústia, desespero e morte tornam-se secundários diante da magnitude da Ressurreição. O cristão ortodoxo contempla a Cruz resplandecente, mergulhado no espírito pascal: o Senhor não terminou sua missão na Cruz, mas fez dela um instrumento de passagem para se chegar à Vida.
A Cruz para um cristão que esteja imbuído deste espírito torna-se fonte de bênçãos. A loucura da Cruz de Cristo ganha a dimensão do amor infinito e totalmente oblativo. Hoje em dia são muitos os que tem dificuldade em compreender a teologia da Cruz. Parecem fugir dela por medo de sofrer. O sofrimento e a dor fazem parte da humanidade. Sofremos ao nascer, sofremos durante a vida e a morte virá com muito ou pouco sofrimento, mas virá com ele. Não podemos mudar esta realidade que nos é inerente por natureza. Como cristãos podemos mudar a compreensão que damos ao sofrimento.
A Cruz, antes vista como horror e escândalo, passou a ser compreendida como instrumento de salvação. Para que cheguemos a este amadurecimento espiritual é necessário o encontro com o Senhor Crucificado que padeceu os horrores da dor, para que Ele mesmo nos conduza às alegrias da Ressurreição.
Venerar a Cruz é venerar a história humana. Contemplar a Cruz é contemplar os seres humanos nos mais diversos continentes do mundo. Venerar a Cruz gloriosa e vivificante é restabelecer à história humana sua grandeza na História da Salvação. A Cruz sem Deus revela o abandono e a morte. A Cruz com Deus é sinal de esperança e vida nova.
Neste terceiro Domingo da Quaresma a Igreja nos convida a refletir sobre a dimensão que damos à Cruz e ao sofrimento em nossas vidas. Nossa postura frente à Cruz e ao sofrimento humano deve assemelhar-se à postura de Maria e a de João, o discípulo do amor. Estavam em pé diante do Crucificado, contemplando Aquele que era a Ressurreição e a Vida. Mesmo sem entender o que estava acontecendo conservavam tudo isso no coração. Não procuravam uma explicação racional e uma lógica que os fizessem compreender o sofrimento de Jesus. A lógica que os fazia silenciar e aceitar os desígnios de Deus era a obediência e a entrega à vontade do Pai.
Quando racionalmente procuramos explicações para o sofrimento e a cruz, fatalmente cairemos em subjetivismos perigosos que nos poderão levar a erros e a desvios da fé apostólica. O homem por si só não pode explicar os mistérios de Deus. A lógica divina não obedece os parâmetros racionais humanos. A Cruz para a Igreja é sinal e instrumento de Salvação. Por isso, os cristãos de tradição bizantina a veneram gloriosa e vivificante, despida dos sentimentos mórbidos que poderiam ofuscar a sua magnitude. O sofrimento, as dores e a morte que o Senhor sofreu por meio dela, por mais terríveis que pudessem ser, fez dela veículo da nossa salvação.
Numa entrevista à Revista 30 Dias, assim se expressou Sua Santidade o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, referindo-se a relação existente entre a Igreja e a Cruz:
«A Igreja deve apoiar a sua força na sua fraqueza humana, na loucura da Cruz (escândalo para os Judeus, loucura para os Gregos), e a sua esperança na ressurreição de Cristo. Privada de todo poder mundano, perseguida e entregue cotidianamente à morte, a Igreja faz com que surjam santos, que guardam a Graça de Deus em vasos de argila, que vivem dentro da luz da Transfiguração e são conduzidos por Deus ao martírio e ao sacrifício.»
Um cristão, à Luz da Ressurreição, carrega sua cruz subindo o Calvário para a Santidade. O madeiro que sustentou o corpo do Senhor Crucificado tornou-se Árvore da Vida, pois nele foi selado o Novo Testamento, a Nova Aliança. Deus pôs no santo Lenho da Cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde viera a morte.


Durante o Rito de veneração à Santa e Vivificante Cruz, entoa-se um canto que nos convida a contemplar o madeiro sagrado que nos deu a vitória sobre o mal:
«Vinde, fiéis! Adoremos o Madeiro que dá a vida,
no qual Cristo, o Rei da Glória,
estendeu voluntariamente, vossos braços,
restaurando em nós a felicidade primitiva.
Vinde,adoremos a Cruz
que nos dá a vitória sobre o mal.»
Mais forte é o significado da segunda parte deste mesmo hino que nos faz compreender a dimensão e a grandeza da Cruz de Cristo:
«Hoje, a Cruz é exaltada
e o mundo se liberta do erro.
Hoje, renova-se a Ressurreição de Cristo,
regozijam-se os confins da terra..."
Na Cruz renova-se a Ressurreição. Pela Cruz a Vida nos é possível. Pela Cruz a Santidade é uma realidade presente. Basta o encontro com o Senhor e nossa entrega total a Vontade de Deus.
O silêncio e a meditação nos auxiliarão, nesta Quaresma, a ver na Cruz e no sofrimento riquezas espirituais nunca antes vislumbradas por nós, mas já vividas pelos santos. Meditando sobre a Cruz à luz da Ressurreição, "adoramos a vossa Cruz, ó Mestre e glorificamos a vossa Santa ressurreição."


Bibliografia:
DE  FIORES, Stefano. Dicionário de Espiritualidade, São Paulo - Ed. Paulinas, 1989

sexta-feira, 25 de março de 2011

NÓS DA PARÓQUIA GRECO MELQUITA CATÓLICA SÃO JORGE DE JUIZ DE FORA-MG, COM TODA NOSSA EPARQUIA NOSSA SENHORA DO PARAÍSO-SP, NOS UNIMOS AOS NOSSOS IRMÃOS MARONITAS DO BRASIL E DO MUNDO INTEIRO NA  Alegria  da eleição do novo patriarca maronita


Sua Beatitude Bechara El-Rai, “nova esperança e sinal dos tempos”

BEIRUTE, quarta-feira, 23 de março de 2011 - A eleição de Dom Bechara El-Rai como o novo patriarca maronita, na terça-feira, 15 de março, foi recebida com alegria por esta Igreja ‘sui iuris’, bem como pelas autoridades civis e membros de outras religiões no Líbano.
Para os prelados maronitas, é "mais uma confirmação da obra do Espírito Santo, que continua e é essencial, acima de todas as suposições e expectativas. (...) Nós confiamos no Espírito Santo para escolher a pessoa certa para o lugar certo".
O novo patriarca escolheu como lema "Comunhão e Caridade”, confiando em que "a Igreja Maronita continuará a sua viagem através da história sob a orientação do Espírito Santo e a bênção de Nossa Senhora de Bkerke e do Líbano".
O primeiro-ministro libanês, Najib Miqati, acolheu com satisfação a eleição de El-Rai e desejou ao novo patriarca "todo bem, esperando que esteja sempre a serviço do Líbano e dos libaneses, e que contribua para fortalecer a unidade nacional, que está na base da subsistência da nação”.
O diretor da emissora cristã de televisão por satélite ‘Télé Lumière’, Jacques Kallasi, destacou do novo patriarca sua "espiritualidade maravilhosa e valente", e desejou que sua eleição seja "um sinal dos tempos", para contribuir eficazmente na resolução da complexa situação que o Oriente Médio atravessa.
Muhammad al-Sammak, conselheiro religioso e político do Mufti da República do Líbano, disse que o novo patriarca é "um pioneiro do trabalho pela unidade cristã, bem como pela unidade dos libaneses. Ele possui uma grande cultura ecumênica e uma grande fé na unidade dos cristãos".
"Al-Rai - continuou - acredita na importância do diálogo, da coordenação e da colaboração entre as igrejas. E, ao mesmo tempo, acredita nas relações construtivas com os muçulmanos, sem as quais a nação não poderia se manter. Estas qualidades foram evidentes no último Sínodo [a assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio]. El-Rai foi, de fato, o porta-voz oficial do Sínodo, o que mostra a alta estima do Vaticano e de todas as Igrejas Orientais por ele."
O novo patriarca começou, em 19 de março, um retiro espiritual que será concluído na sexta-feira, 25 de março, quando será oficialmente entronizado patriarca na igreja patriarcal de Bkerke.

25 DE MARÇO
Hoje é o prelúdio de nossa Salvação
e a manifestação do Mistério
preparado desde a eternidade:
o Filho de Deus torna-se Filho da Virgem
e o Arcanjo Gabriel anuncia a graça.
Por isso, com ele clamamos à Mãe de Deus:
«Salve, ó Cheia de Graça, o Senhor é contigo!»


O mais sublime dos anjos foi enviado dos céus para saudar e anunciar a encarnação do Verbo à Virgem Maria. A virtude do Altíssimo tendo coberto Maria com sua sombra, tornou Mãe àquela que era Virgem sem núpcias: eis o mistério celebrado na Festa da Anunciação.
O Concilio de 860 afirma: «O que o Evangelho nos diz por palavras, o ícone nos anuncia pelas cores». Sendo assim, somos chamados a mergulhar na profundidade deste mistério contemplando com o coração aquilo que nossos olhos vislumbram sobre o ícone da Anunciação.
Nossos olhos são atraídos pelos esplendor dos detalhes das figuras principais deste acontecimento, iconografado de maneira tão minuciosa e precisa, que faz brotar do coração daquele que o contempla, o estupor e o êxtase divino. Um desses personagens é o Anjo Gabriel que está vestido de branco, a cor que precede a luz da manhã, a cor que anuncia o nascimento. As suas mangas são de cor azul que é a cor da imaterialidade e da pureza. Na mão esquerda, empunha um bastão, símbolo da autoridade e da dignidade da pessoa, do mensageiro e do peregrino. A sua mão direita e os seus olhos apontam para a Virgem, destinatária exclusiva daquela mensagem vinda dos Céus. Os dedos estão posicionados como na bênção tipicamente bizantina : os três dedos abertos (polegar, indicador e mínimo) recordam a Trindade enquanto que os outros dois (médio e anular) estão reunidos simbolizando a natureza divina e humana de Cristo.O Anjo está envolto numa luminosidade para distinguir que ele fora enviado por Deus como Mensageiro.
A outra personagem é Maria que se apresenta sentada, coberta por um manto bordado a ouro e por uma túnica de cor azul escura. A cor escura significa a humildade, o desprendimento dos valores deste mundo e a ascensão da alma que tende para o divino. No manto da Virgem, há três estrelas: uma sobre sua cabeça e as outras sobre cada um dos ombros. Essas estrelas são o sinal da santificação que a Trindade opera em Maria, após o seu SIM, como Mãe de Deus.
Maria está sentada sobre um trono dourado e este está colocado sobre um elevado. Calça sapatos de cor púrpura, evidenciando a realeza divina que a circunda . Na antiguidade, a púrpura e o dourado eram cores reservadas estritamente aos reis . Na sua mão esquerda, Maria segura a roca com a qual fia a púrpura , pois ela mesma tece em seu seio maternal, o corpo do Salvador e Rei do Universo.
O véu de cor igualmente púrpura que sobressai por cima da Virgem é uma alusão ao véu do Templo e símbolo da presença de Deus que pairava naquele lugar antes mesmo de em Maria fazer morada.
A mão direita da Virgem faz o gesto típico de atenção e de perturbação ante a mensagem que acabara de receber. Sua cabeça está ligeiramente inclinada, dando a impressão que está atenta, escutando a mensagem a ela enviada.
Do alto de um semicírculo, sai um raio de sombras que paira sobre Maria. Atravessa o véu de púrpura para pousar sobre sua cabeça , formando uma auréola. O raio representa o Espírito Santo que desce sobre ela. Não é um raio de luz, pois, conforme nos relata o Evangelho, «O Espírito Santo descerá sobre ti,e sobre ti o poder do Altíssimo estenderá sua sombra».
O Plano de Salvação e Redenção da humanidade precisa do consentimento humano. Deus não invade nossa liberdade. Ele age respeitando nossa vontade. Em Maria estava representada a humanidade e após seu "SIM", Deus inicia seu plano de salvação. É da parte de Deus que o Anjo fala, assim como é da parte de toda a humanidade que Maria responde.
No diálogo travado entre o Anjo Gabriel e Maria, Deus tomou a iniciativa, dando o primeiro passo. Era necessário esperar uma resposta para poder regenerar a Criação.
Em Maria, o Anjo saúda a humanidade. Ela estremece ante tal Anúncio. Ela é virgem, não conhece homem, para poder dar a luz e se perturba. A humanidade não conhecia igualmente a Deus, permanecendo intocada da presença divina, não podendo gerar seus filhos. Após o SIM de Maria as mães começaram a gerar os filhos de Deus.
Mesmo estremecida, Maria responde sim: «Faça-se em mi segundo Tua palavra». «E o Verbo se fez carne e habitou entre nós». Todas as vezes que os homens respondem positivamente às solicitudes divinas, Ele se faz presente.
Santo André de Creta, referindo-se a alegria de celebrar a Festa da Anunciação assim escreveu:
«Hoje, a alegria contagia a todos,
porque a antiga condenação fica sem efeito.
Hoje, chega Aquele que está em todos os lugares,
a fim de encher de alegria todas as coisas».

Bibliografia:
Passarelli, Gaetano O Ícone da Anunciação
Ed. Ave Maria – São Paulo – 1996

quinta-feira, 24 de março de 2011

A Beleza Litúrgica da Grande Quaresma






















Cenas da Liturgia dos Dons Pré-santificados na noite da quarta-feira dia 23 de março.
Se alguém quiser viver a riqueza litúrgica, a grandeza maravilhosa e mística da Grande Quaresma, tal pessoa deve tentar toda forma de superficialidade, comum em certas igrejas. A grandeza é o que todos nós vemos e reconhecemos nos domingos da Grande Quaresma. Há realmente uma distinção entre esses domingos e os outros durante o resto do ano. Os temas especiais e festivos, a hinografia, a Liturgia de São Basílio, o Grande, que é realizada em vez da Liturgia de São João Crisóstomo, dão uma cor distinta. No entanto, os domingos da Grande Quaresma é um oásis dentro da Igreja e de cada pessoa. Essencialmente eles não são encontrados fora dela. O verdadeiro charme da Grande Quaresma é sentido no "mar" ou "deserto estéril", como os Padres chamam de Grande Quaresma, ou melhor, no seu ciclo de cada dia, de segunda a sexta das seis semanas que se forma.
Nossa Igreja bizantina, sempre viu a forma ideal de adoração nos serviços monásticos, razão pela qual ao longo do tempo os serviços litúrgicos  foram substituídos pela composição realizada nos mosteiros. São ofícios mais requintados. No entanto, especialmente durante a Grande Quaresma se nota o quanto oculto dos mosteiros foram transferidos para as igrejas  mundo afora. Afinal, os fiéis não podem se aventurar no deserto, por isso os serviços do deserto mudou-se para as cidades. A Igreja quer nestes dias devotos fazer que  seus membros leigos, saboreiam a beleza mística dos serviços monásticos  para formar com os fiéis leigos um pequeno monastério. E isso não foi sem propósito. No sistema monástico os serviços litúrgicos durante o período do jejum se encontram no ponto culminante de todo o ano. Poucas pessoas são capazes de segui-los. Eles não têm tempo disponível, nem a disposição necessária da alma. Em contrapartida nos mosteiros, onde o culto a Deus é o centro da vida monástica e o interesse principal dessas pessoas dedicadas são os serviços eclesiásticos, especialmente no período da Grande Quaresma, tornou o alimento e a única ocupação dos monges. Por isso, já ouvimos pessoas dizendo que nossos ofícios são demorados. É que o ritmo monástico difere do deste mundo “rodeado de trevas” e movido pelo compasso da agitação, especialmente marcante na mentalidade ocidental, onde tudo deve ser rápido e prático e se ater aos elementos da vida presente. Vida eterna? Liturgia celeste? Ah! Deixa pra depois. Infelizmente para não poucos leigos e eclesiásticos; a Grande Quaresma é um período normal, que está entre a Páscoa e o Carnaval.