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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A GRANDE QUARESMA NO RITO BIZANTINO


Para nós católicos de Rito Bizantino na segunda-feira que segue o domingo da abstinência de laticínios, antes da Quarta-feira de Cinzas, é o primeiro dia da Grande Quaresma propriamente dita. São quarenta dias que nos preparam para o tempo da Paixão e da Páscoa. Há elementos intensamente pertinentes que devem necessariamente ser considerados para de fato caracterizar a Quaresma: o primeiro dessas características é o jejum. Não se pode ignorar ou tratar superficialmente essa questão do jejum alimentar. Os Padres da Igreja e a consciência coletiva dos fiéis discerniram perfeitamente o valor espiritual, o valor da fé penitencial e purificadora da abstenção de certos alimentos. Basta lembrar que a desordem estabelecida pelo pecado dos primeiros pais (Adão e Eva) foi estabelecida pela desobediência ao comerem do fruto da árvore plantada por Deus no centro do Édem. Afastados de Deus o homem e mulher mesmo dos nossos dias por trazerem a maldita herança do pecado das origens; não se satisfazem. Nunca estão satisfeitos, plenos; o que só a graça de Deus pode fazer. Já disse Jesus: “Sem mim vocês não podem nada”. Daí que derivam toda espécie vícios e desequilíbrios com necessidade de suprimento: bebida, cigarro, drogas em geral, palavras excessivas, gritaria, prostituição... No entanto, seria um grande erro fazer consistir o jejum da Quaresma exclusivamente na observância dessa abstenção. O jejum do corpo deve ser acompanhado por outros jejuns. A disciplina da Igreja nos primeiros séculos prescrevia, durante a Grande Quaresma, a continência conjugal; ela interditava a participação em festas e a assistência a espetáculos. No Rito Bizantino não fazemos Casamentos e Batizados na Grande Quaresma exatamente para não induzir os fiéis a uma atitude de dispersão neste tempo de recolhimento e penitência (conheço paróquias por aí que se facilitar faz festa até na Sexta-feira da Paixão). Essa disciplina pode ter se enfraquecido e não se apresentar aos fiéis, hoje, com o mesmo rigor que no tempo dos Padres da Igreja. Ela permanece, no entanto, como uma indicação precisa do espírito, da intenção da Igreja. Essa intenção é, certamente, que nós exercitemos, durante a Quaresma, um controle mais estrito de nossos pensamentos, de nossas palavras, de nosso atos, e que concentremos nossa atenção sobre a Pessoa e sobre as exigências do Salvador. (apesar de que boa intenção por si não salva ninguém como dizia uma grande filósofa do século passado; minha avó:“de gente com boas intenções o inferno está cheio!”). O tempo da Grande Quaresma não pode ficar restrito apenas a um tempo no calendário, na mente das pessoas.
É preciso que a Igreja de modo geral em qualquer rito e seus fiéis possam dar sinais visíveis de estarem num determinado tempo litúrgico. A esmola é também uma forma de observância da Quaresma muito recomendada pelos Santos Padres. Embora hoje esta pratica deve ser feita acompanhada de certos critérios. Dar dinheiro na porta pode ser uma forma de incentivar a vadiagem, há muitas obras sérias comprometidas com verdadeiros trabalhos de ajuda médica, social...estas merecem atenção. O jejum agradável a Deus é um “todo”, portanto não deve ser dividido entre os aspectos interiores e exteriores, mas os primeiros são os mais relevantes. Quanto aos ritos das  a Liturgia celebrada nos domingos da Grande Quaresma, não é a Liturgia habitual de São João Crisóstomo, mas a Liturgia de São Basílio, Arcebispo de Cesaréia no século IV. Essa Liturgia tem orações mais longas que aquelas da de São João Crisóstomo. Nas quartas e sextas-feiras, durante a Grande Quaresma, celebra-se a Liturgia ditas dos Pré-Santificados, isto é, dos Santos Dons consagrados na Divina Liturgia do Domingo anterior. Não é uma Liturgia Eucarística, pois ela não comporta a consagração. É um serviço de Comunhão, no curso do qual o padre e fiéis comungam Dons Eucarísticos que foram consagrados em Liturgia Eucarística anterior. A Liturgia dos Pré-Santificados acrescenta-se ao ofício de Vésperas. É por isso que ela deve ser celebrada à noite.( Aqui nós fazemos na penumbra com velas nas mãos). Ela contém certos Salmos, Leituras das Escrituras e orações tiradas da Liturgia de São João Crisóstomo. Essa última é celebrada a cada sábado de manhã.

Na segunda-feira, terça-feira, quarta-feira e quinta-feira da I Semana da Grande Quaresma, na Grande Completas, lê-se o Grande Canôn de Santo André de Creta (dividido em quatro partes). E na quinta-feira da V Semana da Quaresma, em Orthos, lê-se todo o Canôn. É uma composição enorme, compreendendo 250 estrofes. Esses poemas são divididos em 9 séries de Odes. Elas exprimem a aspiração da alma culpada e penitente. Eles opõe a bondade e misericórdia de Deus à fragilidade do homem.
Nos dias da Grande Quaresma nosso olhar se volta reverente para  a Virgem da Paixão.
Mencionemos enfim - e, talvez, sobretudo - a admirável oração atribuída a Santo Efrém. Recitamos esta oração várias vezes ao dia. Nela não se encontra poesia nem retórica como nas orações que acabamos de mencionar. Estamos agora diante de um puro impulso da alma, curto, sóbrio e caloroso. Ela é repetida na maior parte dos ofícios de Quaresma.
É uma oração bem conhecida pelos fiéis.Senhor e Mestre de minha vida,
Afastai de mim o espírito de preguiça.
O espírito de dissipação,
de domínio e vã loquacidade.
Concedei ao vosso servo um espírito de
temperança, de humildade, de paciência e de caridade.
Sim, Senhor e Rei
Concedei-me que veja as minhas faltas e que
não julgue a meu irmão,

pois só Vós sois Bendito pelos séculos dos séculos. Amém!

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