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terça-feira, 7 de setembro de 2010




O Espírito Santo em minha vida


Arquimandrita Nicolas Antiba
Exarca Patriarcal em Paris

O Espírito Santo está presente na Igreja e trabalha em nós e por nós, a fim de nos ensinar, guiar, e nos transformar em uma nação santa. Ele não habita em uma Igreja “abstrata”, que seria distinta de nós, seus membros. Mas entre nós e em nós uma vez que nós temos o “selo”, aquele do mistério da Crisma ou do sacramento da confirmação. Isto que possibilita São Paulo a dizer que toda a comunidade, em seu conjunto e em cada um de seus membros, forma o templo do Espírito Santo (I Cor 3,16 e 6,19)
O Espírito confere dons a cada crente, dos quais o mais importante é a fé. Todo o processo pelo qual nós confiamos nós mesmos e toda nossa vida a Cristo nosso Deus é realizado por sua força. São Paulo nos garante: “Ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’ se não estiver sob a ação do Espírito Santo” (1 Cor 12,3). É somente por sua luz que trabalha em nós que nós podemos aprender a ver Jesus como Senhor, seja do universo, seja de nós mesmos.
Nós chegamos a reconhecer, assim, que somos pecadores. Percebemos que, embora Deus seja todo santo, nós não o somos, por causa de nossas tendências, de nossos desejos ou de nossas ações. Mas, uma vez que temos o Espírito em nós, conscientizamo-nos realmente do que é o pecado em nossa sociedade e em nós. Começamos a sentir a necessidade de continuar o resto de nossa vida em penitência, e de re-orientar nossa atenção sobre o fato de que somos templos do Espírito Santo. Crer na fé, por conseguinte, implica crer na compreensão de nossa natureza decaída.
Tomar consciência do pecado é já começar a perceber que Cristo nos oferece seu perdão. Essa percepção é um dom entre os dons do Espírito que nos faz conscientes do significado de nossa união ao Cristo. Assim, unidos a Ele, somos perdoados e no mesmo tempo exaltados ao patamar de crianças do Pai Celeste: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus” (Rm 8,14-16).
Esse primeiro dom do Espírito a cada crente é então a tomada de consciência de nossa vocação no Cristo e a prontidão e nele responder na fé. Isso se explica pelo conhecimento interior que Deus nos amou no Cristo, que Ele nos perdoa e que Ele nos recebe em sua intimidade apesar de nosso estado de pecadores.
O conhecimento na fé é devido todo à oração que é também um dom do Espírito. Na medida em que desenvolvemos uma vida de oração descobrimos que somos inaptos a exprimir nossos agradecimentos e nossas necessidades a Deus. Aqui reconhecemos também o trabalho do Espírito: “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segu0ndo Deus” (Rm 8,26-27).
Não rezamos sozinhos. O Espírito concilia o que nós queremos em nossa oração. Não há melhor e reconfortante dom que aquele que Ele nos oferece. Percebemos que Ele está em nossa oração da mesma maneira que está em cada um de nós e permanece na comunidade. Talvez nossa oração não seja atendida, mas o Espírito se ocupa de reconduzi-la segundo a vontade divina.
A “oração de Jesus” que é talvez a oração mais pessoal de nossa tradição bizantina funda-se especialmente sobre a presença vivificante do Espírito. Não exprimimos nenhuma criatividade individual, nem uma sensibilidade pessoal nessa oração. Continuamos simplesmente a repetir: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, tende piedade de mim pecador”. O Espírito vive em nós para nos dar a paz. Reconhecemos então que é o Senhor e que estamos diante dele.
Um outro dom do Espírito conferido a todos os crentes é a caridade, chamado por São Paulo “a maior dentre elas” (I Cor 13, 1-13). As profecias cessarão, as línguas calar-se-ão, o conhecimento passará. Esses dons de tempos em tempos doados à Igreja não têm necessidade de durar. A caridade, pelo contrário, dom conferido ao crente por sua crença, é dado para durar eternamente. É o símbolo principal da presença do Espírito em nós, sem o qual toda outra manifestação espiritual é vã e dúbia. A caridade autentifica todo ato incompleto.
Aqueles que aprendem a se confiar ao Senhor, a viver segundo o Espírito e a amar Seu nome, refletem essas qualidades em sua maneira de vida. Eles desenvolvem, pelo Espírito que está neles, qualidades que surgem muito mais na Sua presença, do que com a influência da cultura em que vivemos: “Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei... Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito” (Ga 5,19-23, 25).
O Espírito porta frutos naqueles que respondem a seus dons. Como na parábola do semeador, Ele se dirige a todos os membros da comunidade e lhes confere dons. Assim, onde Sua semente encontra corações prontos, ela se enraíza e transforma a vida do crente ao manifestar nele os dons sobre os quais fala S. Paulo.
Os Padres Gregos da Igreja chamam este trabalho entre o Espírito e o crente de “sinergia” ou cooperação. Os dons vem de Deus, mas a resposta deve vir da pessoa à qual são dados. Deus não força ninguém a aceitá-los ou a usá-los. Santo Atanásio dizia: “Não perdemos nossa natureza própria recebendo o Espírito”. Mas a força do dom se exerce sem freio naqueles que aceitam completamente o Doador em sua vida. São Gregório de Nissa descreve de uma maneira excelente essa interação mística: “A graça de Deus é incapaz de visitar aqueles que fogem da salvação. Não há virtude humana forte que se adeque a elevar a uma vida autêntica as almas que não são tocadas pela graça... Mas desde que a justiça das obras e a graça do Espírito tenham ido junto à mesma alma, elas são capazes de restabelecer a vida consagrada”.
Uma vez que Deus e os crentes cooperam, os dons do Espírito portam muitos frutos. Quando esses dons não estão presentes, mas se observam bem os preceitos religiosos, a vida do cristão não permanece vazia deles. O que conta é a qualidade da cooperação pessoal do crente com o Espírito Santo. Isso é o que se chama uma via autenticadamente repleta do Espírito.

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