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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

 Santa Transfiguração do Nosso Senhor Jesus Cristo
6 de agosto

No Oriente bizantino a festa do 6 de agosto, Santa Transfiguração de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, reveste-se de uma solenidade toda especial. Essa festa é lembrada desde o século IV pelos santos Efrém, o Sírio e João Crisóstomo e, entre os hinos litúrgicos, até hoje ainda em uso entre os bizantinos ortodoxos e/ou católicos, muitos são de autoria de São Cosme de Maiúma e de São João Damasceno. já no dia anterior à festa se evidencia a importância do evento em que aparecem a beleza primordial da criação e o inteiro plano salvífico:
Kontákion da vigília (4º tom).

"Hoje, em tua divina transfiguração, a inteira natureza humana brilha de divino resplendor e exclama com júbilo: O Senhor transfigura-se salvando todos os hornens.

tropário final da festa, bem como o kontákíon, são repetidos mais vezes até o dia 13 de agosto. Ei-los:

"Ó Cristo Deus, te transfiguraste sobre a montanha, mostrando aos discípulos tua glória, à medida que lhes era possível contemplá-la. Também sobre nós, pecadores, deixa brilhar tua luz eterna, pelas orações da Mãe de Deus. ó Doador da luz, glória a ti!"

Kontákion (7º tom).

"Sobre o monte te transfiguraste e os teus discípulos, à medida que o podiam, viram a tua glória, ó Cristo Deus, a fim de que quantos te vissem crucificado, compreendessem que a tua paixão era voluntária e proclamassem ao mundo que tu és verdadeiramente o resplendor do Pai."
Com efeito, a narrativa evangélica, transmitida por Mateus, Marcos e Lucas, se encontra entre dois prenúncios da paixão de Cristo, e os três discípulos presentes ao evento da transfiguração são os mesmos que assistirão, embora de longe e sonolentos, à dolorosa oração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Com freqüência no-lo lembram os textos litúrgicos bizantinos próprios do dia, como, por exemplo, este trecho das Vésperas:
"Antes da tua crucificação, Senhor, o monte tornou-se parecido ao céu e uma nuvem encobriu-o como uma tenda; enquanto te transfiguravas, o Pai te testemunhou qual Filho. Estavam ali presentes Pedro, Tiago e João, os mesmos que estariam presentes contigo na hora da traição, para que, tendo contemplado as tuas maravilhas, não se perturbassem ao contemplar teus sofrimentos. Concede também a nós, por tua misericórdia, contemplá-los na paz."
O ícone da Transfiguração encontra-se com freqüência, também porque é um tema que o iconógrafo deve privilegiar na sua atividade pictórica. Ele fica exposto, no meio da igreja, à veneração dos fiéis, desde a tarde do dia 5 de agosto até 13 do mesmo mês. O complexo pictórico resume bem o conjunto da festa conforme o esquema que nos foi transmitido por séculos. Ao centro domina a figura do Cristo em vestes brancas. Raios de luz se desprendem da sua pessoa e se espalham em todas as direções rumo à extremidade de um círculo, símbolo da verdade. Ele está no alto de um monte e aos lados, sobre dois picos rochosos, admiramos as figuras de Moisés e Elias, ligeiramente inclinados para o Salvador, com o qual conversam; representantes respectivamente da Lei e dos Profetas que têm, na pessoa do Salvador, o seu cumprimento. Embaixo, a cena é mais movimentada e apresenta figuras do Novo Testamento: os três discípulos escolhidos para subir ao monte estão em atitude de grande espanto. À direita (de quem olha), Pedro, de joelhos, com uma das mãos se apóia no chão e com a outra aponta para o divino fulgor que observa de esguelha. Tiago e João estão caídos no chão e cobrem os olhos ofuscados pela luminosa teofania. A fraqueza humana perante o evento excepcional, por contraste, ressalta a paz transcendente e a divina segurança de Jesus, centro de tudo.

A tradição oriental reconhece na Transfiguração uma nova manifestação trinitária após a ocorrida no batismo de Jesus, porque no Tabor "a voz do Pai dá testemunho, o Espírito ilumina e o Filho recebe e manifesta a palavra e a luz."
Existem outros temas sobre os quais os hinos litúrgicos dessa festa querem atrair a atenção dos fiéis: a "metamorfose" de Cristo "resplendor" do Pai; o prenúncio da Ressurreição de Jesus e nossa; a divinização da natureza humana, obscurecida em Adão e agora iluminada. Eis alguns desses temas hinográficos:

"Luz imutável da luz do Pai não gerado, ó Verbo, na tua luz brilhante hoje no Tabor vimos a luz do Pai e a luz do Espírito que ilumina toda criatura." "Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do nosso Deus, e veremos a glória da transfiguração, glória do Unigênito do Pai; na luz receberemos a luz e, elevados pelo Espírito, cantaremos nos séculos a Trindade consubstancial."
"Ó Cristo, te revestiste do Adão inteiro, iluminaste a natureza outrora obscurecida e na metamorfose do teu aspecto a divinizaste."

A teologia oriental insiste sobre a graça incriada, participação na luz que envolveu o Cristo no Tabor, "graça deificante, emanação do Espírito Santo que vem a iluminar a Esposa para torná-la nupcialmente conforme ao Esposo,"

como escreve C. Andronikov, acrescentando:

"A Transfiguração, festa teleológica por excelência, nos permite aguardar a Páscoa e prever o porvir para além da parusia."

As origens dessa festa, no Oriente, talvez remontem à inauguração de uma basílica da Transfiguração no monte Tabor no IV século e possui antigos testemunhos.

A oração de São João Damasceno (século VIII), na Ode nona do seu Cânon para o dia 6 de agosto, é um convite que se estende até os nossos dias, para todos nós:

"Vinde, ó povos, segui-me; subamos à montanha santa, rumo ao céu. Fixemos espiritualmente a nossa morada na cidade do Deus vivente e contemplemos a divindade imaterial do Pai e do Espírito que, em seu Filho único, resplandece." "ó Cristo, tu me atraíste e transformaste com o teu divino amor; queima, pois, os meus pecados na chama do fogo imaterial e enche-me de tuas delícias, para que, exultante de alegria, possa glorificar, ó Deus de bondade, as tuas duas vindas."

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