Pessoas on line

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nosso Patriarca fala sobre a visita do Santo Padre ao Líbano
ROMA, terça-feira, 11 de setembro de 2012 (ZENIT.org) - “A paz é uma bênção para todos nós”, disse o chefe da Igreja Católica Melquita grega, o patriarca Gregorios III Laham de Antioquia, sobre a iminente visita do papa ao Líbano, de 14 a 16 deste mês.
Em declarações à Rádio Vaticano, o prelado afirmou que a visita do papa “traz uma mensagem de paz para o Líbano, mas em particular para a Síria”. O patriarca, cuja sede fica em Damasco, capital síria, disse referindo-se à visita apostólica de Bento XVI: “Não podemos esquecer que, nos últimos dezoito meses de conflito na Síria, o santo padre se pronunciou cerca de quinze vezes, em várias ocasiões, chamando à paz, ao diálogo e à unidade em nosso país. Portanto, a Síria também está no coração do santo padre”.
“Estamos muito felizes com a peregrinação do papa a este país, que faz parte da Terra Santa", disse ainda o patriarca. "O Líbano é um país muito acolhedor, apesar das dificuldades e dos temores".

Programação da viagem de Bento XVI ao Líbano

Sexta-feira, 14 de setembro de  2012

Roma

09h30 (03h30 em Brasília) - Partida de avião do Aeroporto de Roma/Ciampino para Beirute

Beirute

13h45 (07h45 em Brasília) - Cerimônia de Boas-vindas no Aeroporto Internacional Rafiq Hariri de Beirute.
Discurso do Santo Padre

Momento da chegada do Santo Padre


Discurso de Bento XVI na chegada ao Líbano - 14/09/2012

Rádio Vaticano

Viagem Apostólica de Bento XVI ao Líbano
Discurso de chegada ao Líbano
Aeroporto Internacional Rafiq Hariri de Beirute
Sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Senhor Presidente da República,
Senhores Presidentes do Parlamento e do Conselho de Ministros, Amadas Beatitudes, Membros do Corpo Diplomático,
Ilustres Autoridades civis e religiosas presentes,
Queridos amigos!

Tenho a alegria, Senhor Presidente, de responder ao amável convite que me fez para visitar o vosso país, e também ao convite recebido dos Patriarcas e Bispos católicos do Líbano. Este duplo convite bastaria, se fosse necessário, para manifestar a dupla finalidade da minha visita ao vosso país. Esta sublinha as excelentes relações que sempre existiram entre o Líbano e a Santa Sé, e pretende contribuir para as reforçar. Com esta visita, desejo também retribuir as que o Senhor Presidente me fez ao Vaticano em Novembro de 2008 e, mais recentemente, em Fevereiro de 2011, seguida nove meses mais tarde pela visita do Senhor Primeiro-Ministro.

Foi durante o segundo dos nossos encontros que a majestosa estátua de São Maron foi abençoada. A sua presença silenciosa numa parede lateral da Basílica de São Pedro lembra, de forma permanente, o Líbano no próprio lugar onde foi sepultado o apóstolo Pedro. Manifesta um patrimônio espiritual secular, confirmando a veneração dos libaneses pelo primeiro dos Apóstolos e seus sucessores. Precisamente para ressaltar a sua grande devoção a Simão Pedro é que os Patriarcas Maronitas acrescentam ao seu nome o de Boutros. É bom ver como do santuário petrino, São Maron intercede continuamente pelo vosso país e por todo o Médio Oriente. Desde já lhe agradeço, Senhor Presidente, por todos os esforços realizados para o bom êxito da minha estadia entre vós.

Outro motivo da minha visita é a assinatura e entrega da Exortação apostólica pós-sinodal da Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, Ecclesia in Medio Oriente; trata-se dum importante evento eclesial. Agradeço a todos os Patriarcas católicos que aqui se encontram, e de modo particular ao Patriarca emérito, o amado Cardeal Nasrallah Boutros Sfeir, e ao seu sucessor, o Patriarca Bechara Boutros Raï. Saúdo fraternalmente todos os Bispos do Líbano, bem como aqueles que vieram para rezar comigo e receber das mãos do Papa este documento. Através deles, saúdo com paterno afeto todos os cristãos do Médio Oriente. Destinada ao mundo inteiro, a Exortação propõe-se ser para eles um roteiro para os anos futuros. Alegro-me também por poder encontrar, durante estes dias, numerosas representações das comunidades católicas do vosso país, por podermos celebrar e rezar juntos. A sua presença, o seu compromisso e o seu testemunho são um contributo reconhecido e muito apreciado na vida diária de todos os habitantes do vosso amado país.

Desejo saudar também, com grande deferência, os Patriarcas e Bispos ortodoxos que me vieram receber, bem como os representantes das várias comunidades religiosas do Líbano. A vossa presença, queridos amigos, demonstra a estima e colaboração que, no respeito mútuo, desejais promover entre todos. Agradeço-vos pelos vossos esforços e tenho a certeza de que continuareis a procurar caminhos de unidade e concórdia. Não esqueço os acontecimentos tristes e dolorosos que, durante longos anos, atormentaram o vosso lindo país. A convivência feliz de todos os libaneses deve demonstrar a todo o Médio Oriente e ao resto do mundo que, dentro duma nação, pode haver colaboração entre as diversas Igrejas – todas elas membros da única Igreja Católica – num espírito de comunhão fraterna com os outros cristãos e, ao mesmo tempo, a convivência e o diálogo respeitoso entre os cristãos e os seus irmãos de outras religiões. Vós sabeis, tão bem como eu, que este equilíbrio, que é apresentado em toda a parte como um exemplo, é extremamente delicado. Por vezes ameaça romper-se, quando está esticado como um arco ou sujeito a pressões que são muitas vezes de parte ou interessadas, contrárias e estranhas à harmonia e suavidade libanesas. Então é preciso dar provas de real moderação e grande sabedoria; e a razão deve prevalecer sobre a paixão unilateral para favorecer o bem comum de todos. Porventura o grande rei Salomão, que conhecia o rei Hiram de Tiro, não considerava a sabedoria como sendo a virtude suprema!? Por isso a pediu com insistência a Deus, que lhe deu um coração sábio e inteligente (cf. 1 Rs 3, 9-12).

Venho também para vos dizer como é importante a presença de Deus na vida de cada um e como a forma de viver juntos – esta convivência de que o vosso país quer dar testemunho – só será profunda se estiver fundada sobre uma visão acolhedora e uma atitude de benevolência para com o outro, se estiver enraizada em Deus que deseja que todos os homens sejam irmãos. O famoso equilíbrio libanês, que quer continuar a ser efectivo, pode-se prolongar graças à boa vontade e ao compromisso de todos os libaneses. Só então será um modelo para os habitantes de toda a região e para o mundo inteiro. Não se trata duma obra meramente humana, mas dum dom de Deus que é preciso pedir com insistência, preservar a todo custo e consolidar resolutamente.

Os laços entre o Líbano e o Sucessor de Pedro são históricos e profundos. Senhor Presidente e queridos amigos, venho ao Líbano como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo dos homens. «Salami ō-tīkum – dou-vos a minha paz», diz Jesus Cristo (Jo 14, 27). E hoje, além do vosso país, dirijo-me em espírito também a todos os países do Médio Oriente como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo de todos os habitantes de todos os países da região, independentemente da sua filiação e da sua crença. Também a eles Jesus Cristo diz: «Salami ō-tīkum». As vossas alegrias e as vossas tribulações estão continuamente presentes na oração do Papa, pedindo a Deus que vos acompanhe e console. Posso assegurar-vos que rezo de maneira particular por todos os que sofrem nesta região, e são tantos! A estátua de São Maron recorda-me aquilo que vós viveis e suportais.

Senhor Presidente, o seu país preparou-me uma recepção calorosa, um magnífico acolhimento – o acolhimento que se reserva a um irmão amado e respeitado. Verdadeiramente digno é o seu país do «Ahlan wa Sahlan» libanês; já o é agora e sê-lo-á ainda mais daqui para diante. Estou feliz por estar com todos vós. Que Deus vos abençoe a todos (Lè yo barèk al-Rab jami’a kôm!). Obrigado

Harissa

18h00 (12h em Brasília) - Visita à Basílica de St. Paul em Harissa e assinatura da Exortação Apostólica Pós-Sinodal.
Discurso do Santo Padre (CATEDRAL BASÍLICA GRECO MELQUITA CATÓLICA ONDE SERÁ RECEBIDO PELO NOSSO PATRIARCA GREGÓRIOIII)



Discurso do Papa na Basílica Greco Melquita Católica de São Paulo no Líbano - 14/09/12

Boletim de Imprensa da Santa Sé



Discurso
Viagem Apostólica de Bento XVI ao Líbano
Basílica de São Paulo, Harissa
Sexta-feira, 14 de setembro de 2012




Senhor Presidente da República,
Sua Beatitude, venerados Patriarc
as,
Amados Irmãos no Episcopado e membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente,
Ilustres Representantes das Confissões religiosas, do mundo da cultura e da sociedade civil,
Prezados irmãos e irmãs em Cristo, queridos amigos!

Agradeço ao Patriarca Gregorios Laham as suas palavras de boas-vindas, e ao Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, D. Nikola Eterović, as suas palavras de apresentação. As minhas saudações calorosas aos Patriarcas, a todos os Bispos orientais e latinos reunidos nesta linda Basílica de São Paulo, e aos membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente. Alegro-me também com a presença das delegações ortodoxa, muçulmana e drusa, bem como as do mundo da cultura e da sociedade civil. Saúdo com afeto a amada Comunidade greco-melquita que me acolhe. A vossa presença confere solenidade à assinatura da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, e testemunha que este documento, destinado sem dúvida à Igreja universal, reveste-se de uma importância particular para todo o Médio Oriente.

É providencial que este ato tenha lugar precisamente no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz?, cuja celebração nasceu no Oriente em 335, na sequência da Dedicação da Basílica da Ressurreição sobre o Gólgota e o sepulcro de Nosso Senhor construída pelo imperador Constantino, o Grande, que venerais como santo. Dentro de um mês, celebrar-se-ão os 1700 anos da aparição que lhe fez ver, na noite simbólica da sua incredulidade, o monograma cintilante de Cristo enquanto uma voz lhe dizia: «Por este sinal, vencerás!». Mais tarde, Constantino assinou o Édito de Milão e deu o seu nome a Constantinopla. Parece-me que a Exortação pós-sinodal pode ser lida e interpretada à luz da festa da Exaltação da Santa Cruz e, de forma particular, à luz do monograma de Cristo, o X (ghi) e o P (ro),  Tal leitura leva a uma descoberta autêntica da identidade do batizado e da Igreja e, ao mesmo tempo, constitui como que um apelo ao testemunho na comunhão e pela comunhão.

Porventura a comunhão e o testemunho cristãos não estão fundados no mistério pascal, na crucifixão, morte e ressurreição de Cristo? Não é aqui que encontram a sua plena realização? Existe um vínculo indivisível entre a Cruz e a Ressurreição, que não pode ser esquecido pelo cristão; sem este vínculo, exaltar a Cruz significaria justificar o sofrimento e a morte vendo neles apenas uma fatalidade. Para um cristão, exaltar a Cruz quer dizer entrar em comunhão com a totalidade do amor incondicional de Deus pelo homem; é fazer um ato de fé. Exaltar a Cruz, na perspetiva da Ressurreição, é desejar viver e manifestar a totalidade deste amor; é fazer um ato de amor. Exaltar a Cruz leva ao compromisso de ser arauto da comunhão fraterna e eclesial, fonte do verdadeiro testemunho cristão; é fazer um ato de esperança.

Debruçando-se sobre a situação atual das Igrejas no Médio Oriente, os Padres sinodais puderam refletir sobre as alegrias e as penas, os temores e as esperanças dos discípulos de Cristo que vivem nestes lugares. Deste modo, toda a Igreja pôde ouvir o grito ansioso e notar o olhar desesperado de tantos homens e mulheres que se encontram em situações humana e materialmente árduas, vivendo no medo e inquietação pelas fortes tensões, e que desejam seguir Cristo – Aquele que dá sentido à sua vida – mas frequentemente encontram-se impedidos; por isso, quis que a Primeira Carta de São Pedro fosse o fio condutor do documento.

Ao mesmo tempo, a Igreja pôde admirar o que há de belo e nobre nas Igrejas presentes nestas terras. Como não dar contínuas graças a Deus por todos vós (cf. 1 Ts 1, 2: I Parte da Exortação pós-sinodal), amados cristãos do Médio Oriente!? Como não O louvar pela vossa coragem na fé!? Como não Lhe agradecer pela chama do seu amor infinito que vós continuais a manter viva e ardente nestes lugares que foram os primeiros a acolher o seu Filho encarnado!? Como não Lhe elevar o nosso canto de gratidão pelos ímpetos de comunhão eclesial e fraterna, pela solidariedade humana constantemente manifestada por todos os filhos de Deus!?

A Exortação Ecclesia in Medio Oriente permite repensar o presente para considerar o futuro com o próprio olhar de Cristo. Com as suas orientações bíblicas e pastorais, com o seu convite a um aprofundamento espiritual e eclesiológico, com a renovação litúrgica e catequética preconizada, com os seus apelos ao diálogo, pretende traçar um caminho para chegar ao essencial: o seguimento de Cristo, num contexto difícil, e por vezes doloroso, que poderia fazer surgir a tentação de ignorar ou esquecer a Cruz gloriosa. Mas é precisamente então que é necessário celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança, do serviço sobre a prepotência, da humildade sobre o orgulho, da unidade sobre a divisão.

À luz da festa de hoje e tendo em vista uma aplicação frutuosa da Exortação, convido todos a que não tenham medo, permaneçam na verdade e a cultivem a pureza da fé. Esta é a linguagem da Cruz gloriosa. Esta é a loucura da Cruz: a de saber converter os nossos sofrimentos em grito de amor a Deus e de misericórdia para com o próximo; e a de saber também transformar, seres atacados e feridos na sua fé e identidade, em vasos de barro prontos a serem cumulados pela abundância dos dons divinos mais preciosos que o ouro (cf. 2 Cor 4, 7-18). Não se trata aqui de uma linguagem puramente alegórica, mas de um apelo premente a praticar atos concretos que configuram cada vez mais a Cristo, atos que ajudam as diversas Igrejas a refletir a beleza da primeira comunidade dos crentes (cf. At 2, 41-47: II parte da Exortação); atos semelhantes aos do imperador Constantino, que soube testemunhar e fazer sair os cristãos da discriminação, permitindo-lhes viver, aberta e livremente, a sua fé em Cristo crucificado, morto e ressuscitado para a salvação de todos.

A Exortação Ecclesia in Medio Oriente oferece elementos que podem ajudar a um exame de consciência pessoal e comunitário, uma avaliação objetiva do compromisso e desejo de santidade de cada discípulo de Cristo. A Exortação abre ao verdadeiro diálogo inter-religioso fundado na fé em Deus Uno e Criador. Quer também contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo, na verdade e amor evangélicos, que vai buscar a sua força ao mandato do Ressuscitado: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20).

Nas suas diversas partes, a Exortação quer ajudar cada um dos discípulos do Senhor a viver plenamente e a transmitir realmente aquilo que ele mesmo se tornou pelo batismo: um filho da Luz, um ser iluminado por Deus, uma lâmpada nova na escuridão tenebrosa do mundo para que das trevas brilhe a luz (cf. Jo 1, 4-5; 2 Cor 4, 1-6). Este documento quer contribuir para despojar a fé daquilo que a ensombra, de tudo o que pode ofuscar o esplendor da luz de Cristo. Assim a comunhão é uma autêntica adesão a Cristo, e o testemunho é uma irradiação do mistério pascal que dá um sentido pleno à Cruz gloriosa. Nós seguimos e «proclamamos Cristo crucificado (...) poder de Deus e sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 23-24: cf. III parte da Exortação).

«Não temas, pequenino rebanho» (Lc 12, 32) e lembra-te da promessa feita a Constantino: «Por este sinal, vencerás!». Igrejas presentes no Médio Oriente, não temais, porque o Senhor está verdadeiramente convosco até ao fim do mundo. Não temais, porque a Igreja universal vos acompanha com a sua solidariedade humana e espiritual. É com estes sentimentos de esperança e encorajamento a ser protagonistas ativos da fé através da comunhão e do testemunho que, no domingo, entregarei a Exortação pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente aos meus venerados Irmãos Patriarcas, Arcebispos e Bispos, a todos os presbíteros, aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis-leigos. «Tende confiança!» (Jo 16, 33).
Por intercessão da Virgem Maria, a Theotókos, invoco com grande afeto a abundância dos dons divinos sobre todos vós. Deus conceda a todos os povos do Médio Oriente viverem na paz, na fraternidade e na liberdade religiosa! Deus vos abençoe a todos (Lè yo barèk al-Rab jami'a kôm!)!


Sábado, 15 de setembro de 2012

08h00 (02h em Brasília) - Santa Missa (reservada)

Baabda

10h00 (04h em Brasília) - Visita de Cortesia ao presidente da República. Encontro particular com o presidente da República, com o presidente do Parlamento, com o presidente do Conselho dos Ministros no Salão dos Embaixadores

Discurso do Papa no Palácio Presidencial de Baabda - 15/09/2012

Boletim da Santa Sé


 

Discurso
Viagem apostólica de Bento XVI ao Líbano
Salão 25 de maio do Palácio Presidencial de Baabda
Sábado, 15 de setembro de 2012


Senhor Presidente da República,
Ilustres Autoridades parlamentares, governamentais, institucionais e políticas do Líbano,
Senhoras e Senhores Chefes das Missões Diplomáticas,
Beatitudes, Responsáveis religiosos,
Amados Irmãos no Episcopado, Senhoras, Senhores, queridos amigos!

«سَلامي أُعطيكُم» [dou-vos a minha paz] (Jo 14, 27)! É com estas palavras de Jesus Cristo que desejo saudar-vos, agradecido pelo vosso acolhimento e a vossa presença. Agradeço-lhe, Senhor Presidente, não só as palavras cordiais, mas também o fato de ter permitido este encontro. Acabo, juntamente com Vossa Excelência, de plantar um cedro do Líbano, símbolo do vosso lindo país. Vendo esta pequena planta e os cuidados de que necessitará para se tornar robusta e lançar os seus ramos majestosos, pensei no vosso país e seu destino, nos libaneses e suas esperanças, em todas as pessoas desta Região do mundo que parece conhecer as dores dum parto sem fim. Então pedi a Deus que vos abençoe, abençoe o Líbano e abençoe todos os habitantes desta Região que viu nascer grandes religiões e nobres culturas. Por que motivo escolheu Deus esta Região? Porque vive ela em turbulência? Parece-me que Deus a escolheu para servir de exemplo, para testemunhar ao mundo a possibilidade concreta que o homem tem de viver o seu anelo de paz e reconciliação; inscrita desde sempre no plano divino, esta aspiração foi impressa por Deus no coração do homem. É da paz que vos desejo falar, porque Jesus disse: «سَلامي أُعطيكُم» [dou-vos a minha paz] .
O que faz rico um país são, antes de mais nada, as pessoas que nele vivem. De cada uma e todas juntas, depende o seu futuro e a sua capacidade de se comprometer pela paz. Tal compromisso só será possível numa sociedade unida. No entanto, a unidade não é a uniformidade. O que assegura a coesão da sociedade é o respeito constante pela dignidade de cada pessoa e a participação responsável de cada um segundo as próprias capacidades, pondo a render o que há em si de melhor. A fim de assegurar o dinamismo necessário para construir e consolidar a paz, é preciso retornar incansavelmente aos fundamentos do ser humano. A dignidade do homem é inseparável do caráter sagrado da vida, que o Criador lhe deu. No desígnio de Deus, cada pessoa é única e insubstituível. Vem ao mundo numa família, que é o seu primeiro lugar de humanização e sobretudo a primeira educadora para a paz. Por isso, para construir a paz, a nossa atenção deve fixar-se sobre a família a fim de facilitar a sua tarefa, para assim a apoiar e consequentemente promover por toda a parte uma cultura da vida. A eficácia do compromisso a favor da paz depende do conceito que o mundo possa ter da vida humana. Se queremos a paz, defendamos a vida. Esta lógica desabona não só a guerra e as ações terroristas, mas também qualquer atentado contra a vida do ser humano, criatura querida por Deus. A indiferença ou a negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do homem impedem o respeito desta gramática que é a lei natural inscrita no coração humano (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, n. 3). A grandeza e a razão de ser de cada pessoa só se encontram em Deus. Assim, o reconhecimento incondicional da dignidade de cada ser humano, de cada um de nós, e do carácter sagrado da vida responsabiliza-nos a todos diante de Deus. Portanto, devemos unir os nossos esforços para desenvolver uma sã antropologia que integre a unidade da pessoa. Sem isso, não é possível construir a paz autêntica.

Embora mais evidentes nos países que conhecem conflitos armados – estas guerras repletas de bazófia e de horrores –, os atentados à integridade e à vida das pessoas existem também noutros países. O desemprego, a pobreza, a corrupção e tudo o mais que se lhes vem juntar como a exploração, os tráficos ilícitos de toda a espécie e o terrorismo acarretam, para além do sofrimento inaceitável dos que são as suas vítimas, um enfraquecimento do potencial humano. A lógica econômica e financeira quer continuamente impor-nos o seu jugo e fazer prevalecer o ter sobre o ser. Mas cada vida humana que se perde é uma perda para a humanidade inteira. Esta é uma grande família, da qual todos somos responsáveis. Algumas ideologias, pondo em questão de maneira direta ou indireta, e mesmo legalmente, o valor inalienável de cada pessoa e o fundamento natural da família, minam os alicerces da sociedade. Devemos estar conscientes destes atentados contra a construção e a harmonia da convivência social. O único antídoto para tudo isto é uma solidariedade efetiva: solidariedade para rejeitar o que impede o respeito por todo o ser humano, solidariedade para apoiar as políticas e iniciativas que visam unir os povos de forma honesta e justa. É bom ver as ações de cooperação e de verdadeiro diálogo que constroem uma nova maneira de viver juntos. Uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento integral não é possível senão numa partilha das riquezas e das competências, respeitando a dignidade de cada um. Mas tal estilo de convivência social, sereno e dinâmico, não pode existir sem a confiança no outro, seja ele quem for. Hoje, as diferenças culturais, sociais, religiosas devem levar a viver um novo tipo de fraternidade, onde aquilo que une é justamente o sentido comum da grandeza de cada pessoa e o dom que ela constitui para si mesma, para os outros e para a humanidade. Está aqui o caminho da paz. Aqui está o compromisso que nos é pedido. Aqui está a orientação que deve presidir às escolhas políticas e econômicas nos seus diversos níveis e a escala planetária.

Deste modo, a fim de patentear às novas gerações um futuro de paz, a primeira tarefa é educar para a paz, construindo uma cultura de paz. A educação, na família ou na escola, deve ser, antes de mais nada, educação para os valores espirituais que conferem à transmissão do saber e das tradições duma cultura o seu sentido e a sua força. O espírito humano possui o gosto inato do belo, do bom e do verdadeiro; é o selo do divino, a marca de Deus nele! Desta aspiração universal deriva uma concepção moral firme e justa, que sempre coloca a pessoa no centro. Mas é só na liberdade que o homem se pode voltar para o bem, porque «a dignidade do homem exige que ele proceda segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por mera coação externa» (Gaudium et spes, 17). A tarefa da educação é acompanhar a maturação da capacidade de fazer escolhas livres e justas, que possam ir contra-corrente relativamente às opiniões generalizadas, às modas, às ideologias políticas e religiosas. A consolidação duma cultura de paz tem este preço. Obviamente é necessário banir a violência verbal ou física; é sempre um ultraje à dignidade humana, tanto do agressor como da vítima. Além disso, ao valorizar as obras de paz e o seu influxo no bem comum, cria-se também o interesse pela paz. Como testemunha a história, tais gestos de paz desempenham papel considerável na vida social, nacional e internacional. Assim a educação para a paz formará homens e mulheres generosos e retos, solícitos para com todos mas particularmente com as pessoas mais débeis. Pensamentos de paz, palavras de paz e gestos de paz criam uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade, onde os erros e as ofensas podem ser reconhecidos com verdade, para avançar juntos rumo à reconciliação. Peço aos estadistas e aos responsáveis religiosos que reflitam nisto.
Devemos estar bem cientes de que o mal não é uma força anônima que atua no mundo de forma impessoal ou determinista. O mal, o demônio, passa através da liberdade humana, através do uso da nossa liberdade; procura um aliado, o homem: o mal precisa dele para se espalhar. E assim, depois de ter violado o primeiro mandamento, o amor a Deus, vem para perverter o segundo, o amor ao próximo. Com ele, o amor ao próximo desaparece, deixando o lugar à mentira e à inveja, ao ódio e à morte. Mas é possível não se deixar vencer pelo mal, e vencer o mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Somos chamados a esta conversão do coração; sem ela, as «libertações» humanas tão desejadas decepcionam, porque se movem no espaço reduzido que lhes concede a mesquinhez do espírito do homem, a sua dureza, as suas intolerâncias, os seus favoritismos, os seus desejos de vingança e os seus instintos de morte. É necessária a transformação nas profundezas do espírito e do coração para reencontrar uma certa clarividência e imparcialidade, o sentido profundo da justiça e do bem comum. Um olhar novo e mais livre tornar-nos-á capazes de analisar e questionar sistemas humanos que levam a becos sem saída, a fim de se avançar tendo em conta o passado para não mais o repetir com os seus efeitos devastadores. Esta conversão requerida é exaltante, porque abre possibilidades ao fazer apelo aos inúmeros recursos presentes no coração de tantos homens e mulheres ansiosos de viver em paz e dispostos a comprometer-se pela paz. Esta, porém, é particularmente exigente: trata-se de dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar. Porque só o perdão dado e recebido coloca os alicerces duradouros da reconciliação e da paz para todos (cf. Rm 12, 16b.18).

Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras sem complexos de superioridade e no respeito pelos direitos de cada uma. No Líbano, há séculos que o cristianismo e o islão habitam no mesmo espaço. Não é raro ver, na mesma família, as duas religiões. Se, numa mesma família, isto é possível, por que não o haveria de ser ao nível da sociedade inteira? A especificidade do Médio Oriente reside na secular amálgama de componentes diversas. É certo que também se combateram, infelizmente! Uma sociedade pluralista só existe por causa do respeito recíproco, do desejo de conhecer o outro e do diálogo contínuo. Este diálogo entre os homens só é possível com a consciência de que há valores comuns a todas as grandes culturas, porque estas estão radicadas na natureza da pessoa humana. Estes valores, que formam um substrato comum, exprimem os traços autênticos e característicos da humanidade; pertencem aos direitos de cada ser humano. As diversas religiões prestam uma decisiva contribuição para a afirmação da sua existência. Não esqueçamos que a liberdade religiosa é o direito fundamental, de que muitos outros dependem. Para toda e qualquer pessoa deve ser possível professar e viver livremente a própria religião sem pôr em perigo a sua vida e liberdade. A perda ou a diminuição desta liberdade priva a pessoa do direito sagrado a uma vida íntegra no plano espiritual. A chamada tolerância não elimina as discriminações; antes, por vezes até as reforça. E, sem a abertura ao transcendente que permite encontrar resposta para os interrogativos do próprio coração sobre o sentido da vida e sobre como viver de forma moral, o homem torna-se incapaz de agir segundo a justiça e comprometer-se em prol da paz. A liberdade religiosa tem uma dimensão social e política indispensável para a paz: promove uma coexistência e uma vida harmoniosas através do compromisso comum ao serviço de causas nobres e na busca da verdade que não se impõe pela violência, mas pela «sua própria força» (Dignitatis humanae, 1), aquela Verdade que é Deus. Eis o motivo por que a fé viva conduz invariavelmente ao amor. A fé autêntica não pode levar à morte. O obreiro de paz é humilde e justo. Por isso, os crentes têm hoje um papel essencial: dar testemunho da paz que vem de Deus e que é um dom concedido a todos na vida pessoal, familiar, social, política e econômica (cf. Mt 5, 9; Heb 12, 14). A inércia dos homens de bem não deve permitir que o mal triunfe. O pior de tudo é não fazer nada!
Estas breves reflexões sobre a paz, a sociedade, a dignidade da pessoa, sobre os valores da família e da vida, sobre o diálogo e a solidariedade não podem permanecer ideais simplesmente enunciados; podem e devem ser vividos. Estamos no Líbano e é aqui que devem ser vividos. O Líbano é chamado, agora mais do que nunca, a ser um exemplo. Por isso vos convido a vós, políticos, diplomatas, religiosos, homens e mulheres do mundo da cultura, a dar testemunho ao vosso redor e com coragem, em tempo favorável e fora dele, de que Deus quer a paz, de que Deus nos confia a paz. «سَلامي أُعطيكُم» [dou-vos a minha paz] – diz Jesus Cristo (Jo 14, 27)! Que Deus vos abençoe. Obrigado!



10h50 (04h50 em Brasília) - Encontro com os líderes das Comunidades Religiosas Muçulmanas. Palácio Presidenciale de Baabda.

11h15 (05h15 em Brasília) - Encontro com os membros do Governo, das Instituições Governamentais, com o Corpo Diplomático, com os líderes religiosos e representantes culturais no Salão 25 de maio do Palácio Presidencial de Baabda.

Discurso do Santo Padre  

Bzommar

13h30 (07h30 em Brasília) - Almoço com os Patriarcas e Bispos do Líbano, com Membros do Concílio para o Oriente Médio e Sínodo dos Bispos com a comitiva papal no Refeitório do Patriarcado Armênio católico de Bzommar.

Bkerke

18h00 (12h em Brasília) - Encontro com os jovens na praça em frente ao Patriarcado Maronita de Bkerke.

Leia discurso de Bento XVI aos jovens

Discurso do Santo Padre

Domingo, 16 de setembro 2012

Beirute

10h00 (4h em Brasília) - Santa Missa e concessão da Exortação Apostólica Pós-sinodal para o
Oriente Médio no Beirut City Center Waterfront.
Homilia do Santo Padre

Homilia de Bento XVI na Santa Missa no Líbano - 16/09/2012


Boletim da Santa Sé



Homilia
Viagem Apostólica de Bento XVI ao Líbano
City Center Waterfront de Beirute
Domingo, 16 de setembro de 2012

Amados irmãos e irmãs!



«Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo» (Ef 1, 3). Bendito seja Ele neste dia em que tenho a alegria de me encontrar convosco aqui, no Líbano, para entregar aos Bispos da região a Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente. Agradeço cordialmente a Sua Beatitude Béchara Boutros Raï as amáveis palavras de boas-vindas. Saúdo os outros Patriarcas e os Bispos das Igrejas orientais, os Bispos latinos das regiões vizinhas bem como os Cardeais e os Bispos vindos doutros países. Com grande afeto, saúdo a todos vós, queridos irmãos e irmãs do Líbano e também dos países de toda esta amada região do Médio Oriente, que viestes celebrar, com o sucessor de Pedro, Jesus Cristo crucificado, morto e ressuscitado. Dirijo também a minha deferente saudação ao Presidente da República e às Autoridades libanesas, aos Responsáveis e aos membros das outras tradições religiosas que quiseram estar aqui nesta manhã.

Neste domingo em que o Evangelho nos interpela sobre a verdadeira identidade de Jesus, sentimo-nos a caminhar com os discípulos na estrada que leva às aldeias da região de Cesareia de Filipe. "E quem dizeis vós que Eu sou?" (Mc 8, 29): pergunta-lhes Jesus. O momento escolhido para lhes colocar esta questão não é sem significado. Jesus encontra-se num ponto de viragem decisiva da sua vida. Sobe para Jerusalém, para o lugar onde será realizado, através da cruz e ressurreição, o acontecimento central da nossa salvação. É também em Jerusalém que, depois de todos estes acontecimentos, vai nascer a Igreja. E, neste momento decisivo, Jesus começa por perguntar aos seus discípulos: "Quem dizem os homens que Eu sou?" (Mc 8, 27), recebendo deles respostas muito variadas: João Batista, Elias, um profeta… Ainda hoje, como ao longo dos séculos, aqueles que, de diversas maneiras, se cruzaram com Jesus no seu caminho têm a sua resposta a dar. São abordagens que podem ajudar a encontrar o caminho da verdade. Mas as mesmas, embora não sejam necessariamente falsas, são insuficientes, porque não atingem o cerne da identidade de Jesus. Só alguém que aceite seguir pelo seu caminho, viver em comunhão com Ele na comunidade dos discípulos, é que pode ter um verdadeiro conhecimento. Tal é o caso de Pedro, que, desde há algum tempo, vive com Jesus e que agora responde: "Tu és o Messias" (Mc 8, 29). Resposta certa, sem dúvida alguma; mas ainda insuficiente, dado que Jesus sente a necessidade de a especificar. Ele entrevê que as pessoas poderiam servir-se desta resposta para desígnios que não são os seus, para suscitar falsas esperanças temporais sobre Ele. Não se deixa bloquear nos simples atributos do libertador humano que muitos esperam.

Anunciando aos seus discípulos que terá de sofrer, ser condenado à morte e depois ressuscitar, Jesus quer fazer-lhes compreender quem Ele é verdadeiramente. Um Messias sofredor, um Messias servo, e não um libertador político omnipotente. Ele é o Servo obediente à vontade de seu Pai até ao ponto de perder a sua vida. É o que anunciava já o profeta Isaías na primeira leitura. Assim Jesus vai contra o que muitos esperavam d’Ele. A sua afirmação choca e desconcerta. E ouve-se o protesto de Pedro, que O censura, recusando para o seu Mestre o sofrimento e a morte. Jesus mostra-se severo com ele, e faz-lhe compreender que aquele que quiser ser seu discípulo deve aceitar ser servo, como Ele Se fez Servo.

Seguir Jesus significa tomar a própria cruz para O acompanhar pelo seu caminho, um caminho incômodo que não é o do poder nem da glória terrena, mas o que leva necessariamente a renunciar a si mesmo, a perder a sua vida por Cristo e pelo Evangelho, a fim de a salvar. É que nos foi dada a certeza de que este caminho leva à ressurreição, à vida verdadeira e definitiva com Deus. Decidir acompanhar Jesus Cristo que Se fez o Servo de todos exige uma intimidade cada vez maior com Ele, colocando-se atentamente à escuta da sua Palavra, a fim de tirar dela a inspiração para o nosso agir. Ao promulgar o Ano da Fé, que começará em 11 de Outubro próximo, quis que cada fiel pudesse comprometer-se de maneira renovada neste caminho da conversão do coração. Por isso, ao longo deste ano, encorajo-vos vivamente a aprofundar a vossa reflexão sobre a fé para a tornar mais consciente e fortalecer a vossa adesão a Jesus Cristo e ao seu Evangelho.


Irmãos e irmãs, o caminho por onde Jesus nos quer conduzir é um caminho de esperança para todos. A glória de Jesus revela-se no momento em que, na sua humanidade, Ele Se mostra mais frágil, especialmente na encarnação e na cruz. É assim que Deus manifesta o seu amor, fazendo-Se servo, dando-Se a nós. Porventura não é este um mistério extraordinário, por vezes difícil de admitir? O próprio apóstolo Pedro só o compreenderá mais tarde.

Na segunda leitura, São Tiago lembrou-nos como este seguimento de Jesus, para ser autêntico, exija atos concretos: "Pelas obras, te mostrarei a minha fé" (Tg 2, 18). Servir é uma exigência imperativa para a Igreja, de modo que os cristãos são verdadeiros servos à imagem de Jesus. O serviço é um elemento constitutivo da identidade dos discípulos de Cristo (cf. Jo 13, 15-17). A vocação da Igreja e do cristão é servir; e fazê-lo, como o próprio Senhor, gratuitamente e a todos sem distinção. Assim, servir a justiça e a paz, num mundo onde a violência não cessa de alongar o seu rasto de morte e destruição, é uma urgência de modo a comprometer-se em prol duma sociedade fraterna, para edificar a comunhão. Amados irmãos e irmãs, peço ao Senhor de modo particular que conceda a esta região do Médio Oriente servidores da paz e da reconciliação, para que todos possam viver pacífica e dignamente. É um testemunho essencial que os cristãos devem prestar aqui, em colaboração com todas as pessoas de boa vontade. Eu vos convido a todos a trabalhar pela paz; cada qual ao seu nível e no lugar onde se encontra.

Além disso o serviço deve estar no centro da vida da própria comunidade cristã. Todo o ministério, toda a função na Igreja é primariamente um serviço a Deus e aos irmãos. É este espírito que deve animar todos os batizados, uns em relação aos outros, especialmente através dum compromisso efetivo a favor dos mais pobres, dos marginalizados, daqueles que sofrem, para que seja preservada a dignidade inalienável de toda a pessoa.

Queridos irmãos e irmãs que sofreis no corpo ou no coração, o vosso sofrimento não é inútil. Cristo Servo está perto de todos aqueles que sofrem. Está presente junto de vós. Oxalá encontreis no vosso caminho irmãos e irmãs que manifestem concretamente a presença amorosa de Cristo, que não vos pode abandonar. Permanecei cheios de esperança por causa de Cristo!

E vós todos, irmãos e irmãs, que viestes participar nesta celebração, procurai tornar-vos cada vez mais conformes ao Senhor Jesus, Ele que Se fez Servo de todos pela vida do mundo. Deus abençoe o Líbano, abençoe todos os povos desta amada região do Médio Oriente e lhes conceda o dom da sua paz. Amém


     Proclamação do Angelus Domini. Palavras do Santo Padre


Domingo, 16 de setembro de 2012, 09h54

Angelus de Bento XVI - 16/09/2012


Boletim da Santa Sé


Viagem Apostólica de Bento XVI ao Líbano
City Center Waterfront de Beirute
Domingo, 16 de setembro de 2012


Amados irmãos e irmãs!

Voltemo-nos agora para Maria, Nossa Senhora do Líbano, ao redor da qual se encontram os cristãos e os muçulmanos. Peçamos-Lhe que interceda junto do seu divino Filho por vós e, de modo particular, pelos habitantes da Síria e dos países vizinhos, implorando o dom da paz. Vós conheceis bem a tragédia dos conflitos e da violência, que gera tantos sofrimentos. Infelizmente, o fragor das armas continua a fazer-se ouvir, assim como o grito das viúvas e dos órfãos. A violência e o ódio invadem a vida, e as mulheres e as crianças são as suas primeiras vítimas. Por que tantos horrores? Por que tantos mortos? Faço apelo à comunidade internacional; faço apelo aos países árabes para que, como irmãos, proponham soluções viáveis que respeitem a dignidade de cada pessoa humana, os seus direitos e a sua religião. Quem quer construir a paz, deve deixar de ver no outro um mal a eliminar; não é fácil ver no outro uma pessoa a respeitar e a amar, e todavia é preciso consegui-lo, se se deseja construir a paz, se se quer a fraternidade (cf. 1 Jo 2, 10-11; 1 Ped 3, 8-12). Que Deus conceda ao vosso país, à Síria e a todo o Médio Oriente o dom da paz dos corações, o silêncio das armas e o fim de toda a violência. Oxalá os homens compreendam que são todos irmãos! Maria, que é nossa Mãe, compreende a nossa preocupação e as nossas necessidades. Com os Patriarcas e os Bispos presentes, coloco o Médio Oriente sob a sua materna proteção (cf. propositio 44). Possamos nós, com a ajuda de Deus, converter-nos para trabalhar com ardor na construção da paz, necessária para uma vida harmoniosa entre irmãos, independentemente da origem e da convicção religiosa.
Agora, rezemos: Angelus Domini nuntiavit Mariæ…

Harissa

13h20 (07h20) - Almoço com a Comitiva Papal na Nunciatura Apostólica em Harissa.

16h50 (10h50 em Brasília) - Despedida da Nunciatura Apostólica em Harissa.

Charfet

17h15 (11h15 em Brasília) - Encontro Ecumênico no Salão de Honra do Patriarcado Sírio-católico de Charfet

Beirute

18h30 (12h30 em Brasília) - Cerimônia de despedida no Aeroporto Internacional Rafiq Hariri

de Beirute. Discurso do Santo Padre

Discurso do Papa na cerimônia de despedida do Líbano - 16/09/12


Boletim de Imprensa da Santa Sé


DISCURSO
Viagem Apostólica de Bento XVI ao Líbano
Aeroporto Internacional Rafiq Hariri de Beirut
Domingo, 16 de setembro de 2012



Senhor Presidente da República,
Senhores Presidentes do Parlamento e do Conselho de Ministros,
Suas Beatitudes, amados Irmãos no Episcopado,
Ilustres Autoridades civis e religiosas,
Queridos amigos!

Chegado o momento da partida, é com pena que deixo este querido Líbano. Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas palavras e o ter favorecido, com o Governo cujos Representantes saúdo, a organização dos diversos acontecimentos que marcaram a minha presença no vosso meio, assistida de forma notável pela eficiência dos diversos serviços da República e do setor privado. Agradeço também ao Patriarca Béchara Boutros Raï e a todos os Patriarcas presentes bem como aos Bispos orientais e latinos, aos presbíteros e aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis que se deslocaram para me receber. Visitando-vos, é como se Pedro viesse ter convosco, e vós recebestes Pedro com a cordialidade que caracteriza as vossas Igrejas e a vossa cultura.

Os meus agradecimentos dirigem-se de modo particular para todo o povo libanês, que forma um belo e rico mosaico e que soube manifestar ao Sucessor de Pedro o seu entusiasmo, graças à contribuição multiforme e específica de cada comunidade. Agradeço cordialmente às veneráveis Igrejas irmãs e às comunidades protestantes. Agradeço de modo particular aos representantes das comunidades muçulmanas. Durante toda a minha estadia, pude constatar quanto a vossa presença contribuiu para o bom êxito da minha viagem. O mundo árabe e o mundo inteiro verão, nestes tempos conturbados, cristãos e muçulmanos reunidos para celebrar a paz. É tradicional no Médio Oriente receber o hóspede de passagem com consideração e respeito, e assim o fizestes. A todos agradeço. Mas, à consideração e ao respeito, juntastes um complemento, que se pode comparar a uma daquelas famosas especiarias orientais que enriquece o sabor dos alimentos: o vosso calor e o vosso coração, que me deixaram o desejo de voltar. Eu vo-lo agradeço de forma particular. Deus vos abençoe por isso.

Durante a minha breve estadia, motivada principalmente pela assinatura e
entrega da Exortação apostólica Ecclesia in Medio Oriente, pude encontrar os diversos componentes da vossa sociedade. Houve momentos mais oficiais, outros mais íntimos, momentos de alta densidade religiosa e fervorosa oração, e outros ainda marcados pelo entusiasmo da juventude. Dou graças a Deus por estas oportunidades que Ele permitiu, pelos encontros qualificados que pude ter, e pela oração que foi feita por todos e a favor de todos no Líbano e no Médio Oriente, independentemente da origem ou da confissão religiosa de cada um.

Na sua sabedoria, Salomão fez apelo a Hiram de Tiro para o ajudar na construção duma casa ao nome de Deus, um santuário para a eternidade (cf. Sir 47, 13). E Hiram, que evoquei à minha chegada, enviou madeira dos cedros do Líbano (cf. 1 Rs 5, 22). Todo o interior do Templo era revestido de cedro em tábuas entalhadas com flores e frutos (cf. 1 Rs 6, 18). O Líbano estava presente no santuário de Deus. Oxalá o Líbano de hoje, com os seus habitantes, continue a estar presente no santuário de Deus. Possa o Líbano continuar a ser um espaço onde os homens e as mulheres vivam em harmonia e paz uns com os outros, para darem ao mundo, não apenas o testemunho da existência de Deus – primeiro tema do Sínodo passado – mas igualmente o da comunhão entre os homens – segundo tema do Sínodo –, qualquer que seja a sua sensibilidade política, comunitária e religiosa.

Rezo a Deus pelo Líbano, para que viva em paz e resista com coragem a tudo o que poderia destrui-la ou ameaçá-la. Desejo que o Líbano continue a permitir a pluralidade das tradições religiosas e a não dar ouvidos à voz daqueles que a querem impedir. Espero que o Líbano reforce a comunhão entre todos os seus habitantes, seja qual for a comunidade e religião a que pertençam, rejeitando decididamente tudo o que poderia levar à desunião e optando com determinação pela fraternidade. Estas são as flores agradáveis a Deus, virtudes que são possíveis e conviria consolidá-las com um enraizamento ainda maior.

A Virgem Maria, venerada com devoção e ternura pelos fiéis das confissões religiosas aqui presentes, é um modelo seguro para avançar com esperança pelo caminho duma fraternidade vivida e autêntica. Bem o compreendeu o Líbano, ao proclamar há algum tempo o dia 25 de Março como feriado, permitindo assim a todos os seus habitantes poder viver em medida crescente a sua unidade na serenidade. Que a Virgem Maria, cujos santuários antigos são tão numerosos no vosso país, continue a acompanhar-vos e a inspirar-vos.

Deus abençoe o Líbano e todos os libaneses. Que Ele não cesse de atraí-los a Si para lhes conceder a vida eterna. Que Ele os cumule da sua alegria, da sua paz e da sua luz. Deus abençoe todo o Médio Oriente. Sobre cada um e cada uma de vós, invoco de todo o coração a abundância das bênçãos divinas. « لِيُبَارِك الربُّ جميعَكُم » [Deus vos abençoe a todos


19h00 (13h em Brasília) - Partida de avião do Aeroporto Internacional Rafiq Hariri de Beirute para Roma

Momento da despedida do Santo Padre.

Roma

21h40 (15h40 em Brasília) - Chegada ao Aeroporto de Roma/Ciampino.


Fuso horário
Roma: + 2 UTC
Beirut: + 3 UTC





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentar