Um lamento...
|
Impressionante
o número de papagaiadas, trejeitos, invenciones, bizarrices filmados e
mostrados nas redes sociais por ocasião da Semana Santa.
Todas
elas são fruto de duas desgraças:
a ignorância do que seja a Liturgia
e a ideia de criatividade no âmbito da vida litúrgica da Igreja.
a ignorância do que seja a Liturgia
e a ideia de criatividade no âmbito da vida litúrgica da Igreja.
A
ignorância de uma consistente teologia da Liturgia, tal qual a Igreja crê e
guardou na sua grande Tradição e a Sacrosanctum Concilium apresentou, leva a
todo tipo de extrapolação, de comportamentos simplórios e aberrantes, estranhos
ao espírito da Liturgia.
Por
sua vez, a maldita categoria de criatividade, aplicada à Liturgia, abre as
portas para todo tipo de exibicionismo, esquisitismo, subjetivismo, leviandade
e até mesmo profanação dos Santos Mistérios de Cristo... Na Liturgia não há
lugar para a criatividade! Liturgia é fidelidade! Ponto e basta!
A
Liturgia da Igreja agoniza... E, com ela, a vida mesma, a identidade mesma da
Igreja agonizam...
E as assembleias, na santa ignorância, conduzidas por pastores infiéis ou simplesmente ignorantes e incompetentes, aplaudem... E a fé católica vai degenerando-se...
E as assembleias, na santa ignorância, conduzidas por pastores infiéis ou simplesmente ignorantes e incompetentes, aplaudem... E a fé católica vai degenerando-se...
Até
quando?
Tenho medo de que, daqui a pouco, os católicos orientais - unidos à Sé Romana ou não - já não mais nos considerem como Igreja de Cristo...
Tenho medo de que, daqui a pouco, os católicos orientais - unidos à Sé Romana ou não - já não mais nos considerem como Igreja de Cristo...
Até que enfim, um Bispo do
Rito Romano respondeu a pergunta que quase todos os dias me fazem: Quando os
orientais separados (ortodoxos) vão se unir à Sé de Roma?
Tanto para os Ortodoxos e nós
Católicos Orientais a Igreja de Cristo só é compreendida a partir da Liturgia. Desfigurar a Liturgia é deformar o rosto da
Esposa (Igreja) do Cordeiro (Jesus). Reproduzo aqui uma pequena contribuição da
minha monografia.
“Transcorria o ano de 988 da nossa era quando
a Rússia abraçou a fé cristã. E isso ocorreu mediante um fato que nos conduz a
certeza de que a Liturgia da Igreja é de fato um fator predominante para nos
introduzir no Mistério da Fé, iniciado em Pentecostes quando o Espírito Santo
insuflou a Igreja, corpo místico de Cristo, como quando na Criação Deus soprou
sobre os primeiros corpos criados. Assim foi dado á Igreja o impulso para
continuar a ação litúrgica de Cristo, pelo Pai, no Espírito Santo. Tal fato nos
da conta de que o príncipe Vladimir de Kiev enviou seus representantes para que,
viajando por diversas partes do mundo, conhecessem os mais diferentes credos e
suas celebrações e depois lhes apresentassem a que mais convinha ao grande
reino. Os enviados foram e conheceram primeiramente os búlgaros e não se
agradaram do modo muçulmano como oravam. Em seguida conheceram os cristãos
germanos e tão pouco sentiram o calor dos louvores que buscavam. Enfim chegaram
até Constantinopla (Bizâncio), onde foram recebidos pelo imperador e
representantes do clero que os conduziram à gloriosa Santa Sofia onde ali na
presença deles celebraram a Divina Liturgia. E qual não foi a impressão dos
enviados que tão logo trataram de comunicar ao jovem príncipe a impressão que
tiveram num breve relato seguido de uma grande decisão: Não sabemos se estamos no céu ou na terra, a certeza que temos é que
aqui Deus mora entre os homens. Refletindo sobre este episódio o papa emérito
Bento XVI comentava: o que os
representantes do príncipe russo relataram acerca da verdade da fé celebrada na
liturgia bizantina não foi uma forma de persuasão missionária, cujos argumentos
lhes havia parecido mais convincentes que os de outras religiões. O que eles
experimentaram foi o mistério como tal, que para além de uma disputa racional,
deixou aparecer o poder da verdade.
Essa verdade tem
sinônimo de beleza e fé, cujo núcleo é o ápice da vida sacramental pela
liturgia da Igreja, a saber a Eucaristia, assim
a força interna da liturgia desempenhou sem dúvida um papel fundamental na
expansão do Cristianismo.”
GRANDE SEMANA SANTA
MARÇO - 2018
Dia 24 SÁBADO DA RESSURREIÇÃO DE LÁZARO (INÍCIO DA GRANDE SEMANA)
18:30 - OFÍCIO PELOS
FALECIDOS (TRAZER POR ESCRITO OS NOMES DOS FALECIDOS QUE SERÃO DEPOIS ENVIADOS
AO SANTO SEPULCRO)
19:00 - DIVINA LITURGIA
DIA 25 DOMINGO DE RAMOS
09:00 - DIVINA LITURGIA COM
BENÇÃO E PROCISSÃO COM RAMOS
(ÚNICA CELEBRAÇÃO DO DIA)
DIA 28 - GRANDE QUARTA FEIRA
19:00 - DIVINA LITURGIA COM
BENÇÃO DOS SANTOS ÓLEOS DO BATISMO, ENFERMOS E PENITENTES
DIA 29 - GRANDE QUINTA FEIRA
19:00 - DIVINA LITURGIA DA
CEIA MISTICA E LAVA-PÉS COM A LEITURA DOS DOZE EVANGELHOS DA PAIXÃO DO SENHOR
DIA 30 - GRANDE SEXTA FEIRA
15:00 - CERIMÔNIA DA DESCIDA
DO SENHOR DA CRUZ E PROCISSÃO (AS
ROSAS VERMELHAS PARA O ESQUIFE PODERÃO SER TRAZIDAS ATÉ NO MOMENTO DA
CELEBRAÇÃO)
DIA 31 - GRANDE SÁBADO
18:30 - TRASLADAÇÃO DO
EPITÁFIO PARA O ALTAR, BENÇÃO DO FOGO NOVO E DIVINA LITURGIA (TRAZER VELAS PARA ACENDER NO CÍRIO
PASCAL)
DIA 01 DE ABRIL - GRANDE DOMINGO DA PÁSCOA DA
RESSURREIÇÃO DO SENHOR
09:00 - ABERTURA DA PORTA E DIVINA LITURGIA (COM A DISTRIBUIÇÃO DO LOURO)
(ÚNICA CELEBRAÇÃO DO DIA)
Conforme a variedade dos Ritos na Santa Igreja Católica; para os que
tomarão parte nas nossas celebrações pela primeira vez no Rito Bizantino especialmente estas da Grande Semana Santa,
poderão fazer uma maravilhosa peregrinação à Terra Santa. Um tesouro da
Tradição da Igreja revelado pela peregrina Silvia (Egéria), que no século IV
passa bons anos em Jerusalém e descreve em seu diário de viagem a beleza do lá
viu nestes dias e que ainda fazemos. Segundo a pedagogia do Rito Bizantino, a
Grande Semana Santa começa com uma ressurreição: a de Lázaro. Quando seis dias
antes da sua própria, Jesus demonstra tal possibilidade.
Na Sexta feira Santa após descer da cruz o ícone do Senhor Crucificado,
como José de Arimatéia, o sacerdote envolve-o num lençol e unta de perfumes,
que também é aspergido sobre os fiéis.Cobre-o em seguida com o “Antimension”
(anti-mesa) peça na qual está estampada a cena da descida do Corpo do Senhor da
Cruz, colocado sobre o Santo Sepulcro, e somente sobre ele é que se pode
celebrar a Divina Liturgia (missa).
No Sábado Santo o “Antimension” é levado para o seu posto definitivo: o
altar.Benze o Fogo Novo e acende o Círio do qual todos os batizandos e
crismandos tomam da Luz do Ressuscitado até a próxima Páscoa.
Na manhã do Grande Domingo da Ressurreição, a Porta da Igreja é aberta
numa cerimônia muito especial. É a Porta da Vida: Jesus. Há distribuição do
louro. Símbolo da Vitória. Com o qual se tece as coroas dos vencedores dos
jogos olímpicos. Jesus venceu o pecado e a morte. Desta maneira durante os
cinqüenta dias do Tempo Pascal, abolimos toda espécie de cumprimentos usuais
para usar apenas este em qualquer lugar, hora e situação: CRISTO RESSUSCITOU! O
Cumprimentado responde: VERDADEIRAMENTE RESSUSCITOU!!
Santa e Feliz PÁSCOA para todos!
Arquimandrita João, pároco
1ª. Dor - Apresentação de meu Filho no Templo
Nesta primeira dor veremos como meu
coração foi transpassado por uma espada, quando Simeão profetizou que meu Filho
seria a salvação de muitos, mas também serviria para ruína de outros. A virtude
que aprendereis nesta dor é a da santa obediência.
Ao ouvir essa profecia Maria
continuou firme na fé, confiando no Senhor: “Em vós confio”. Quem confia em
Deus jamais será confundido. Nas vossas penas, nas vossas angústias, confiai em
Deus e jamais vos arrependereis dessa confiança. Mesmo prevendo dores e sofrimentos
em procurar fazer a vontade de Deus, continuemos firmes e confiantes no Senhor.
2ª. Dor - A fuga para o Egito
Após o nascimento de Jesus, o Rei
Herodes quis matá-Lo e, por causa disso, um anjo do Senhor apareceu a São José
e disse: "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá
até que eu te avise". Obediente, "José levantou-se durante a noite,
tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito." (Mt 2, 13-14).
Unidos à dor que Maria sentiu nessa
ocasião, peçamos forças e graças para suportarmos com paciência as dores de
nossas vidas, e para nos mantermos afastados dos pecados. Estejamos unidos a
tantos que sofrem perseguição e são obrigados a fugir de seus países.
3ª Dor - Perda do Menino Jesus
A dor de Maria pela perda de Jesus
foi sem dúvida uma das mais acerbas; porque ela então sofria longe do Filho, e
a humildade fazia-lhe crer que Ele se tinha apartado dela por causa de alguma
negligência sua. Sirva-nos esta dor de conforto nas desolações espirituais, e
ensine-nos o modo de buscarmos a Deus, se jamais para nossa desgraça viermos a
perdê-Lo por nossa culpa.
Aqui nos unimos a tantas situações de
famílias que “perdem” seus filhos em tantas dependências e situações. Somente
no retorno ao Senhor representando pelo templo é que serão reencontrados.
4ª. Dor - Doloroso encontro no
caminho do Calvário
Um dos momentos mais pungentes da
Paixão é o encontro de Jesus com Sua Mãe no caminho do Calvário. Na ocasião, a
troca de olhar com o Filho, a constatação das crueldades que Ele estava
sofrendo, tudo causava imensa dor no Seu Coração de Mãe. Unidos à dor que Maria
sentiu nesta ocasião, peçamos forças e graças para suportarmos com paciência
todas as dores de nossas vidas, e para nos mantermos afastados do pecado.
Nós nos unimos à dor de tantas mães que
trocam olhares com seus filhos que carregam tantas cruzes e tantas dores no
mundo de hoje.
5ª. Dor - Aos pés da Cruz
Maria acompanhou de perto todo o
sofrimento de Jesus na Cruz, e assistiu de pé à sua morte: "junto à cruz
de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleófas, e
Maria Madalena" (Jo 19, 25). Depois de três horas de tormentosa agonia,
Jesus morre. Maria, sem duvidar um só instante, aceitou a vontade de Deus e, no
seu doloroso silêncio, entregou ao Pai sua imensa dor, pedindo, como Jesus,
perdão para os criminosos.
Quantas situações de cruzes e de
morte em nossa sociedade! Inseguranças, injustiças, maldades, maledicências!
Quantas dores nos fazem sofrer! Unidos a Maria, estejamos em pé diante da Cruz.
6ª. Dor - Uma lança atravessa o
Coração de Jesus
Consideremos como, depois da morte do
Senhor, dois de seus discípulos, José e Nicodemos, O descem da cruz e O depõem
nos braços da aflita Mãe que, com ternura O recebe e O aperta contra o peito. O
momento fotografado nas imagens de Nossa Senhora da Piedade nos mostra o amor
de mãe ao ver o filho sem vida nos braços.
É a unidade com tantas situações que
a Igreja, como mãe que é, vê seus filhos sem vida nos seus braços, seja pelos
pecados, seja pelas injustiças ou perseguições. Com a mesma coragem e fé de
Maria vivamos esses momentos difíceis deste conturbado século.
7ª. Dor - Jesus é sepultado
Consideremos como a Mãe dolorosa quis
acompanhar os discípulos que levaram Jesus morto à sepultura. Depois de tê-Lo
acomodado com suas próprias mãos, diz um último adeus ao Filho e ao Seu
sepulcro, e volta para casa com as perguntas que toda mãe faz, ao mesmo tempo
em que mergulha no mistério de Deus. Nós também, à imitação de Maria,
encerremos o nosso coração no santo Tabernáculo onde reside Jesus, já não
morto, mas vivo e verdadeiramente como está no céu.
Mas procuremos também encontrá-Lo na
pessoa dos irmãos, em especial dos mais pobres que nos fazem descobrir que Ele
vive e está no meio de nós.
Nesta Semana Santa queremos caminhar
com Nossa Senhora das Dores pelos caminhos do Calvário, relembrando que a
Paixão do Senhor nos anima a vivermos as obras de misericórdia neste ano santo
extraordinário. Nestes dias, queremos pedir à Bem-aventurada Virgem Maria que
nos ajude a ser fiéis no caminho de seu Filho. Quantas dores ela passou e
suportou, e sempre esteve ao lado do Filho. Maria é exemplo de fiel discípula e
missionária. É aquela que vive a dor na esperança da Ressurreição.
QUINTO DOMINGO DA GRANDE QUARESMA
18 DE MARÇO
SANTA MARIA EGÍPCIA
Maria teria começado
a sua vida no Egito, era linda e teria sido uma prostituta com 17 anos de idade
e era cínica e totalmente desencantada da vida e detestava o dinheiro. Na
verdade ela não amava a nada.
Um dia ela, por
curiosidade se uniu a um grupo de peregrinos para conhecer Jerusalém.
Em Jerusalém uma
força irresistível não a deixava entrar na igreja junto com os outros
peregrinos. Mas em frente a uma imagem da Virgem Maria (de acordo com outra
versão: no Santo Sepulcro) ela sentiu a enormidade dos seus pecados e recebeu
uma visão mandando ela ir para o deserto após o Rio Jordão, onde encontraria a
paz.
Imediatamente Maria
foi para o deserto e apenas levou com ela três pedaços de pão. Ela se confessou
e comungou no monastério de São João Batista, mas não ficou lá e deixou os
monges penalizados com a sua determinação de ir para o deserto. Diz a tradição
que ela conseguiu ficar 48 anos no deserto sofrendo de sede e de frio Ela comia
algumas frutas e suas roupas viraram farrapos. Algumas vezes se via tentada a
voltar a vida de pecado mas a Virgem Maria sempre dava a ela a fortaleza que
precisava. Ela não sabia ler, mas recebia dos anjos a instrução da fé cristã.
Havia um monge
chamado Zósimo que nos conta o que sabemos sobre Maria. Ele era um velho homem
e viveu em um monastério na Palestina por 53 anos . Todo ano após a Sexta Feira
da Paixão, ele ia para o deserto meditar e a cada ano ele caminhava alguns dias
a mais do que o ano anterior. Certo ano ao caminhar 20 dias alem do anterior,
ele parou para descansar e estava orando quando viu alguém a sua frente.
A principio pensou
ser o demônio, mas depois viu que se tratada de Maria e ela era uma pessoa
extremamente magra, tão magra que apesar de quase nua, não tinha seios e ele
não a distinguiria de um homem. Ela estava tostada pelo sol, preta e seca como
um velho pedaço de madeira.
O monge foi até ela
mas ela gritou "Antes coloque um manto sobre mim ,porque eu não tenho
roupas". Ele a perseguiu até uma moita onde ela se escondeu. "Pelo
amor de Deus", disse ele, "que faz aqui? e por quanto tempo está
aqui?"
"Zósimo,
respondeu ela , "por favor dê-me seu manto, me abençoe e perdoa-me os meus
pecados e eu sairei daqui".
(não se sabe como ela
sabia o seu nome).
Pelos seus escritos,
Zósimo deu detalhes sobre ela.
Maria a Egípcia falou
sobre a bíblia que ela inexplicavelmente conhecia muito bem.Zósimo ficou
impressionado o seu conhecimento espiritual e a sua sabedoria.
Maria disse a Zósimo
: "Deixe o seu manto e só volte no próximo ano na Sexta da Paixão e venha
com a Eucaristia para mim, e não diga uma só palavra a ninguém."
Como havia prometido
ele retornou no ao seguinte na Sexta Santa e deu a ela a santa comunhão.
Ele trouxe ainda
figos, damascos e lentilhas mas após Maria receber os sacramentos, ela só comeu
três lentilhas.
Agradeceu a ele e
suplicou que ele retornasse no ano seguinte.
De acordo com a
tradição, Santa Maria morreu certa noite e deixou uma mensagem ao monge seu
amigo, a qual ela teria escrito em um pedaço de pedra com outra pedra, e dizia
o seguinte :
"Padre Zósimo,
enterre o corpo desta Maria pecadora aqui. Devolva a terra o que é apenas
terra, e ore por mim".
Ele reverenciou Maria
o resto de sua vida. Ele a chamava de Maria, a Egípcia .
Parece que ela viveu
78 anos.
Na arte litúrgica da
Igreja ela é mostrada com um longo cabelo com o seu emblema, três pedaços de
pão. Ela também é mostrada com Maria Madalena, com a qual ela é freqüentemente
confundida, mas Madalena carrega uma jarra de óleo e ela apenas as três fatias
de pão.
Ela é mostrada ainda
sentada em baixo de uma palmeira no deserto, ou lavando os cabelos no Jordão,
ou olhando o rio Jordão a distancia, ou sendo expulsa de uma igreja por um anjo
com uma espada, ou recebendo a sagrada comunhão de São Zósimo.
Quarto
domingo da grande quaraesma
São
João Clímaco
OS
TRINTA DEGRAUS DA ESCADA DE SÃO JOÃO CLIMACO:
1º degrau: a renúncia à vida do mundo;
2º degrau: renúncia aos afetos
terrenos;
3º degrau: fuga do mundo;
4º degrau: bem-aventurada e
sempre louvável obediência;
5º degrau: verdadeira e sincera
penitência;
6º degrau: pensamento da morte
e dom de lágrimas;
7º degrau: a tristeza que
produz alegria;
8º degrau: a doçura que triunfa
a cólera;
9º degrau: esquecimento das
injúrias;
10º degrau: fugir da
maledicência, que seca a virtude da caridade;
11º degrau: amor ao silêncio,
porque falar muito leva à vanglória;
12º degrau: fugir da mentira,
que é ato de hipocrisia;
13º degrau: combater o enfado e
a preguiça, uma vez que esta última destrói por si só todas as virtudes;
14º degrau: praticar a
temperança, porque comer guloseimas é hipocrisia do estômago;
15º degrau: amor à castidade;
16º degrau: viver a pobreza,
oposta à avareza;
17º degrau: não deixar o
coração endurecer (isso causa a morte da alma);
18º degrau: sono e do canto
público dos salmos;
19º degrau: fazer vigílias;
20º degrau: timidez pueril;
21º degrau: não praticar a
vanglória;
22º degrau: fugir do orgulho;
23º degrau: fugir da blasfêmia;
24º degrau: doçura da alma,
simplicidade;
25º degrau: humildade;
26º degrau: discernimento nos
pensamentos;
27º degrau: vida interior e paz
de alma;
28º degrau: oração, que é santa
e fecunda fonte de virtudes;
29º degrau: recolhimento do
espírito e repouso do corpo que lhe são necessários;
30º degrau: fé, esperança e
caridade
São João Clímaco nasceu em 580. Clímaco foi um
monge do Monte Sinai, e deve o seu cognome a um livro seu, Escada (Klímax -
Clímaco). A Escada é um resumo da vida espiritual, concebida para os solitários
e contemplativos. Para Clímaco, a oração é a mais alta expressão da vida
solitária; ela se desenvolve pela eliminação das imagens e dos pensamentos. Daí
a necessidade da 'monologia', isto é, a invocação curta, de uma só palavra,
incansavelmente repetida, que paralisa a dispersão do espírito. Essa repetição
deve assimilar-se com a respiração.
João Clímaco faleceu por volta do ano 650.
O nome de São João Clímaco é uma alusão à palavra
"klímax', que em grego significa escada. São João decidiu adotar este nome
em virtude do livro escrito por ele mesmo, intitulado Escada para o Paraíso.
Nesta obra ele explica que existem 30 degraus a
serem galgados para que possamos atingir a perfeição moral. Este livro foi um
grande sucesso na época e chegou até mesmo a influenciar monges e outros
religiosos cm sua conduta particular, tanto no Ocidente como no Oriente. A
importância desta obra literária para a época pode ser notada na utilização do
símbolo escada na arte bizantina.
São João Clímaco foi muito famoso como homem santo
em toda a Palestina e Arábia. Viveu por volta do ano 650 e morreu no Monte
Sinai.
Conta-se que ele era palestino e na adolescência
ingressou cm um mosteiro no Monte Sinai, onde passou a dedicar sua vida às
orações e à meditação. Até os 35 anos viveu desta forma, mas quando seu mestre
faleceu resolveu encerrar-se cm uma cela e viver à moda dos monges do deserto:
jejuando, orando e estudando a Bíblia.
Durante este novo período de sua vida São João
Clímaco decidiu nunca mais comer carne, fosse ela vermelha ou branca. Também
passou a sair de sua cela apenas para participar da Eucaristia, aos domingos.
Já com 70 anos foi eleito bispo do Monte Sinai,
muito embora preferisse continuar com sua vida isolada. Nesta época construiu
hospitais para a população mais pobre, ajudado pelo papa Gregório Magno.
Os últimos quatro anos de sua vida foram dedicados
a viver como ermitão. Neste período de total isolamento ele escreveu Escada
para o Paraíso.
Revista Santo do
Dia. São Paulo: Ed. Casa Dois, 2001
TERCEIRO DOMINGO DA GRANDE QUARESMA
Domingo da Santa cruz
04 de março-2018
Os sofrimentos do Messias e Sua morte
redentora foi o assunto de numerosas profecias e acontecimentos espirituais
significantes do Antigo Testamento. Entre eles estão o sacrifício de Isaac (cf.
Gên 22:1-18), a elevação da serpente de bronze no deserto (cf. Núm 21:4-9), os
sacrifícios realizados no templo de Jerusalém, o ritual do bode expiatório (cf.
Lev 16:1-34) e outros acontecimentos bíblicos. A profecia encontrada no
capítulo 53 do livro de Isaías, é a
profecia mais clara entre as do Antigo Testamento com relação ao sofrimento do
Messias:
"Quem deu crédito ao
que nós ouvimos? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Ele subirá como o
arbusto diante Dele, e como raiz que sai de uma terra sequiosa; Ele não tem
beleza, nem formosura; vimo-Lo, não tinha parecença do que era, e por isso não
fizemos caso Dele. Ele era desprezado, o último dos homens, um homem de dores,
experimentado nos sofrimentos; o Seu rosto estava encoberto; era desprezado, e
por isso nenhum caso fizemos Dele. Verdadeiramente Ele foi o que tomou sobre si
as nossas fraquezas, Ele mesmo carregou com as nossas dores; nós O reputamos
como um leproso, como um homem ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por
causa das nossas iniquidades, foi despedaçado por causa dos nossos crimes; o
castigo que nos devia trazer a paz, caiu sobre Ele, e nós fomos sarados com as
Suas pisaduras. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se
extraviou por seu caminho; e o Senhor carregou sobre Ele a iniquidade de todos
nós. Foi oferecido (em sacrifício), porque Ele mesmo quis, e não abriu a Sua
boca; como uma ovelha que é levada ao matadouro, como um cordeiro diante do que
o tosquia, guardou silêncio e não abriu sequer a Sua boca.
Ele foi tirado pela
angústia e pelo juízo. Quem contará a Sua geração? Porque Ele foi cortado da
terra dos viventes; eu O feri por causa da maldade do meu povo. E (o Senhor)
Lhe dará os ímpios (convertidos) em recompensa da Sua sepultura, e o rico em
recompensa da Sua morte; porque Ele não cometeu iniquidade, nem nunca se achou dolo
na Sua boca. O Senhor quis consumi-Lo com sofrimentos, mas, quando tiver
oferecido a Sua vida pelo pecado, verá uma descendência perdurável, e a vontade
do Senhor prosperará nas Suas mãos. Verá o fruto do que a Sua alma trabalhou, e
ficará satisfeito. Este mesmo justo, Meu servo (diz o Senhor) justificará
muitos com a Sua ciência, e tomará sobre Si as suas iniquidades. Por isso eu
Lhe darei por sorte uma grande multidão e Ele distribuirá os despojos dos
fortes, porque entregou a Sua vida à morte, foi posto no número dos
malfeitores, tomou sobre Si os pecados de muitos e intercedeu pelos
pecadores" (Is 53).
Apesar dessa profecia ter
sido escrita a mais de sete séculos antes de Cristo, sua linguagem é tão clara
como se ela tivesse sido narrada por uma testemunha ocular perante ao pé da
cruz.
João Batista, sem dúvida,
referiu-se a essa mesma profecia, quando apontando para Jesus, disse aos
judeus:
"Contemplem,
o Cordeiro de Deus, Que tira os pecados do mundo."
Autor:
Bispo Alexander (Mileant)
Tradução:
N. Namestnikov
Folheto Missionário número P32
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
Carta Placuit Deo
aos Bispos da Igreja católica
sobre alguns aspectos da salvação cristã
aos Bispos da Igreja católica
sobre alguns aspectos da salvação cristã
I. Introdução
1. «Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se
a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef 1,9), segundo o
qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no
Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef 2,18; 2 Pe
1,4). […] Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da
salvação dos homens, manifesta-se-nos, por esta revelação, em Cristo, que é,
simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação».[1]O ensinamento sobre a salvação em Cristo
exige sempre ser aprofundado novamente. A Igreja, tendo o olhar fixo em Cristo
Senhor, dirige-se com amor materno a todos os homens, para anunciar-lhes o
inteiro desígnio de Aliança do Pai que, mediante o Espírito Santo, deseja
«submeter tudo a Cristo» (Ef 1,10). A presente Carta pretende destacar, na
linha da grande tradição da fé e com especial referência ao ensinamento de Papa
Francisco, alguns aspectos da salvação cristã que possam ser hoje difíceis de
compreender por causa das recentes transformações culturais.
II. O impacto das transformações culturais de hoje sobre
o significado da salvação cristã
2. O mundo contemporâneo questiona, não sem dificuldade,
a confissão de fé cristã, que proclama Jesus o único Salvador de
todo o homem e da humanidade inteira(cf. At 4,12; Rom 3,23-24;
1 Tm 2,4-5; Tit 2,11-15).[2]Por um lado, o individualismo centrado no
sujeito autônomo, tende a ver o homem como um ser cuja realização depende
somente das suas forças.[3]Nesta visão, a figura de Cristo
corresponde mais a um modelo que inspira ações generosas, mediante suas
palavras e seus gestos, do que Aquele que transforma a condição humana,
incorporando-nos numa nova existência reconciliada com o Pai e entre nós,
mediante o Espírito (cf. 2 Cor 5,19; Ef 2,18). Por outro lado, difunde-se a
visão de uma salvação meramente interior, que talvez suscita uma forte
convicção pessoal ou um sentimento intenso de estar unido a Deus, mas sem
assumir, curar e renovar as nossas relações com os outros e com o mundo criado.
Com esta perspectiva, torna-se difícil compreender o significado da Encarnação
do Verbo, através da qual Ele se fez membro da família humana, assumindo a
nossa carne e a nossa história, por nós homens e para a nossa salvação.
3. O Santo Padre Francisco, no seu magistério ordinário,
referiu-se muitas vezes a duas tendências que representam os dois desvios antes
mencionados, e que se assemelham em alguns aspectos a duas antigas heresias,
isto é, o pelagianismo e o gnosticismo.[4]Prolifera em nossos tempos um
neo-pelagianismo em que o homem, radicalmente autônomo, pretende salvar-se a si
mesmo sem reconhecer que ele depende, no mais profundo do seu ser, de Deus e
dos outros. A salvação é então confiada às forças do indivíduo ou a estruturas
meramente humanas, incapazes de acolher a novidade do Espírito de Deus.[5]Um certo neo-gnosticismo, por outro lado,
apresenta uma salvação meramente interior, fechada no subjetivismo.[6]Essa consiste no elevar-se «com o
intelecto para além da carne de Jesus rumo aos mistérios da divindade
desconhecida».[7]Pretende-se, assim, libertar a pessoa do
corpo e do mundo material, nos quais não se descobrem mais os vestígios da mão
providente do Criador, mas se vê apenas uma realidade privada de significado,
estranha à identidade última da pessoa e manipulável segundo os interesses do
homem.[8]Por outro lado, é claro que a comparação
com as heresias pelagiana e gnóstica pretende somente evocar traços gerais
comuns, sem entrar, nem fazer juízos, sobre a natureza destes erros antigos. De
fato, a diferença entre o contexto histórico secularizado de hoje e o contexto
dos primeiros séculos cristãos, nos quais estas heresias nasceram, é grande.[9]Todavia, enquanto o gnosticismo e o
pelagianismo representam perigos perenes de equívocos da fé bíblica, é possível
encontrar uma certa familiaridade com os movimentos de hoje apenas referidos
acima.
4. Seja o individualismo neo-pelagiano que o desprezo
neo-gnóstico do corpo, descaracterizam a confissão de fé em Cristo, único
Salvador universal. Como poderia Cristo mediar a Aliança da família humana
inteira, se o homem fosse um indivíduo isolado, que si auto realiza somente com
as suas forças, como propõe o neo-pelagianismo? E como poderia chegar até nós a
salvação mediante a Encarnação de Jesus, a sua vida, morte e ressurreição no
seu verdadeiro corpo, se aquilo que conta fosse somente libertar a
interioridade do homem dos limites do corpo e da matéria, segundo a visão
neo-gnóstica? Diante destas tendências, esta Carta pretende reafirmar que, a
salvação consiste na nossa união com Cristo, que, com a sua Encarnação, vida,
morte e ressurreição, gerou uma nova ordem de relações com o Pai e entre os
homens, e nos introduziu nesta ordem graças ao dom do seu Espírito, para que
possamos unir-nos ao Pai como filhos no Filho, e formar um só corpo no
«primogênito de muitos irmãos» (Rom 8,29).
III. O desejo humano de salvação
5. O homem percebe, direta ou indiretamente, de ser um
enigma: eu existo, mas quem sou eu? Tenho em mim o princípio da minha
existência? Toda pessoa, a seu modo, procura a felicidade e tenta alcançá-la
recorrendo aos meios disponíveis. No entanto, esse desejo universal não é
necessariamente expresso ou declarado; ao contrário, esse é mais secreto e
oculto do que parece, e está pronto a revelar-se diante de situações
específicas. Com frequência, tal desejo coincide com a esperança da saúde
física, às vezes assume a forma de ansiedade por um maior bem-estar econômico,
mais difusamente expressa-se através da necessidade de uma paz interior e de
uma convivência pacífica com o próximo. Por outro lado, enquanto o desejo de
salvação se apresenta como um compromisso na direção de um bem maior, esse
conserva também uma característica de resistência e de superação da dor. Ao
lado da luta pela conquista do bem se coloca a luta de defesa do mal: da
ignorância e do erro, da fragilidade e da fraqueza, da doença e da morte.
6. Com relação a estas aspirações, a fé em Cristo
ensina-nos, rejeitando qualquer pretensão de auto-realização, que as mesmas
somente podem realizar-se plenamente se Deus mesmo as torna possíveis,
atraindo-nos a Ele. A salvação plena da pessoa não consiste nas coisas que o
homem poderia obter por si mesmo, como o ter ou o bem-estar material, a ciência
ou a técnica, o poder ou a influência sobre os outros, a boa fama ou a
auto-realização.[10]Nada da ordem do criado pode satisfazer
completamente ao homem, porque Deus nos destinou à comunhão com Ele, e o nosso
coração permanecerá inquieto até que não repouse Nele.[11]«A vocação última de todos os homens é
realmente uma só, a divina».[12]A revelação, desta forma, não se limita a
anunciar a salvação como resposta à expectativa contemporânea. «Se a redenção,
ao contrário, devesse ser
julgada ou medida pela necessidade existencial dos seres humanos, como
poderíamos evitar a suspeita de termos simplesmente criado um Deus-Redentor à
imagem de nossas próprias necessidades?».[13]
7. Além disso, é necessário afirmar que, segundo a fé
bíblica, a origem do mal não se encontra no mundo material e corpóreo,
experimentado como um limite e como uma prisão da qual deveríamos ser salvos.
Pelo contrário, a fé proclama que o mundo inteiro é bom, enquanto criado por
Deus (cf. Gen 1,31; Sab 1,13-14; 1Tim 4,4), e que o mal que mais prejudica o
homem é aquele que provém do seu coração (cf. Mt 15,18-19; Gen 3,1-19).
Pecando, o homem abandonou a fonte do amor, e se perde em falsas formas de
amor, que o fecham cada vez mais em si mesmo. É esta separação de Deus – isto é,
Daquele que é fonte de comunhão e de vida – que leva à perda de harmonia entre
os homens e dos homens com o mundo, introduzindo a desintegração e a morte (cf.
Rom 5,12). Consequentemente, a salvação que a fé nos anuncia não diz unicamente
respeito à nossa interioridade, mas ao nosso ser integral. De facto, é a pessoa
inteira, em corpo e alma, criada pelo amor de Deus à sua imagem e semelhança,
que é chamada a viver em comunhão com Ele.
IV. Cristo, Salvador e Salvação
8. Em nenhum momento do caminho do homem, Deus deixou de
oferecer a sua salvação aos filhos de Adão (cf. Gen 3,15), estabelecendo uma
Aliança com todos os homens em Noé (cf. Gen 9,9) e, mais adiante, com Abraão e
a sua descendência (cf. Gn 15,18). Assim, a salvação divina assume a ordem da
criação compartilhada por todos os homens e percorre os seus caminhos concretos
na história. Escolhendo para Si um povo, a quem ofereceu os meios para lutar
contra o pecado e para se aproximar Dele, Deus preparou a vinda de «um poderoso
Salvador, na casa de David, seu servidor» (Lc 1,69). Na plenitude dos tempos, o
Pai enviou ao mundo seu Filho, o qual anunciou o reino de Deus, curando todo
tipo de doenças (cf. Mt 4,23). As curas realizadas por Jesus, através das quais
se tornava presente a providência de Deus, eram um sinal que se referia à sua
pessoa, Àquele que se revelou plenamente como Senhor da vida e da morte no
acontecimento pascal. Segundo o Evangelho, a salvação para todos os povos
começa com o acolhimento de Jesus: «Hoje veio a salvação a esta casa» (Lc
19,9). A Boa Nova da salvação tem um nome e um rosto: Jesus Cristo, Filho de
Deus Salvador. «No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma
grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida
um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo».[14]
9. Ao longo da sua tradição secular, a fé cristã tornou
presente, através de muitas figuras, a obra salvífica do Filho encarnado. Fê-lo
sem nunca separar o aspecto regenerador da salvação, no qual Cristo nos resgata
do pecado, do aspecto da elevação, pelo qual Ele nos faz filhos de Deus, participantes
da sua natureza divina (cf. 2 Pe 1,4). Considerando a perspectiva salvífica no
seu significado descendente, isto é, a partir de Deus que vem para resgatar os
homens, Jesus é iluminador e revelador, redentor e libertador; Aquele que
diviniza o homem e o justifica. Assumindo a perspectiva ascendente, isto é, a
partir dos homens que se dirigem a Deus, Ele é Aquele que, como Sumo Sacerdote
da Nova Aliança, oferece ao Pai o culto perfeito em nome dos homens: se
sacrifica, repara os nossos pecados e permanece sempre vivo para interceder a
nosso favor. Desta forma, verifica-se na vida de Jesus uma sinergia maravilhosa
do agir divino com o agir humano, que mostra a falta de fundamento de uma
perspectiva individualista. Assim, por um lado, o sentido descendente testemunha
a primazia absoluta da ação gratuita de Deus; a humildade em receber os dons de
Deus, antes mesmo do nosso agir, é essencial para poder responder ao seu amor
salvífico. Por outro lado, o sentido ascendente recorda-nos que, através do
agir plenamente humano de seu Filho, o Pai quis regenerar o nosso agir, para
que, assemelhados a Cristo, possamos realizar «as boas obras que Deus de
antemão preparou para nelas caminharmos» (Ef 2,10).
10. Para além disso, é claro que a salvação que Jesus
trouxe na sua própria pessoa não se realiza somente de modo interior. Assim,
para poder comunicar a cada pessoa a comunhão salvífica com Deus, o Filho se
fez carne (cf. Jo 1,14). É exatamente assumindo a carne (cf. Rom 8,3; Heb 2,14;
1 Jo 4,2), e nascendo de uma mulher (cf. Gal 4,4), que «o Filho de Deus se fez
filho do homem»[15]e, também, nosso irmão (cf. Heb 2,14). Assim,
entrando a fazer parte da família humana, «uniu-se de certo modo a cada homem»[16]e estabeleceu uma nova ordem nas relações
com Deus, seu Pai, e com todos os homens, na qual podemos ser incorporados para
participar na sua própria vida. Consequentemente, assumir a carne humana, longe
de limitar a ação salvífica de Cristo, permite-Lhe mediar de maneira concreta a
salvação de Deus com todos os filhos de Adão.
11. Concluindo, e para responder, quer seja ao
reducionismo individualista da tendência pelagiana, quer seja ao reducionismo
neo-gnóstico que promete uma libertação interior, é necessário recordar o modo como
Jesus é Salvador. Ele não se limitou a mostrar-nos o caminho para encontrar
Deus, isto é, um caminho que poderemos percorrer por nós mesmos, obedecendo às
suas palavras e imitando o seu exemplo. Cristo, todavia, para abri-nos a porta
da libertação, tornou-se Ele mesmo o caminho: «Eu sou o caminho» (Jo 14,6).[17]Além disso, esse caminho não é um
percurso meramente interior, à margem das nossas relações com os outros e com o
mundo criado. Pelo contrário, Jesus ofereceu-nos um «caminho novo e vivo que
Ele abriu para nós através […] da sua carne» (Heb 10,20). Enfim, Cristo é
Salvador porque Ele assumiu a nossa humanidade integral e viveu em plenitude a
vida humana, em comunhão com o Pai e com os irmãos. A salvação consiste em
incorporar-se nesta vida de Cristo, recebendo o seu Espírito (cf. 1 Jo 4,13).
Assim, Ele tornou-se «em certo modo, o princípio de toda graça segundo a
humanidade».[18]Ele é, ao mesmo tempo, o Salvador e a
Salvação.
V. A Salvação na Igreja, corpo de Cristo
12. O lugar onde recebemos a salvação trazida por Jesus é
a Igreja, comunidade daqueles que, tendo sido incorporados à nova ordem de
relações inaugurada por Cristo, podem receber a plenitude do Espírito de Cristo
(cf. Rom 8,9). Compreender esta mediação salvífica da Igreja é uma ajuda
essencial para superar qualquer tendência reducionista. De fato, a salvação que
Deus nos oferece não é alcançada apenas pelas forças individuais, como gostaria
o neo-pelagianismo, mas através das relações nascidas do Filho de Deus
encarnado e que formam a comunhão da Igreja. Além disso, uma vez que a graça
que Cristo nos oferece não é, como afirma a visão neo-gnóstica, uma salvação
meramente interior, mas que nos introduz nas relações concretas que Ele mesmo
viveu, a Igreja é uma comunidade visível: nela tocamos a carne de Jesus, de
maneira singular nos irmãos mais pobres e sofredores. Enfim, a mediação
salvífica da Igreja, «sacramento universal de salvação»,[19]assegura-nos que a salvação não consiste
na auto-realização do indivíduo isolado, e, muito menos, na sua fusão interior
com o divino, mas na incorporação em uma comunhão de pessoas, que participa na
comunhão da Trindade.
13. Tanto a visão individualista como a visão meramente
interior da salvação contradizem a economia sacramental, através da qual Deus
quis salvar a pessoa humana. A participação, na Igreja, à nova ordem de relações
inauguradas por Jesus realiza-se por meio dos sacramentos, entre eles, o Batismo
que é a porta,[20]e a Eucaristia que é fonte e culmine.[21]Assim, se vê, a inconsistência das
pretensões de auto-salvação, que contam apenas com as forças humanas. Pelo
contrário, a fé confessa que somos salvos por meio do Batismo, que imprime o
caráter indelével de pertencer a Cristo e à Igreja, do qual deriva a
transformação do nosso modo concreto de viver as relações com Deus, com os
homens e com a criação (cf. Mt 28,19). Assim, purificados do pecado original e
de todo pecado, somos chamados a uma nova vida em conformidade com Cristo (cf.
Rom 6,4). Com a graça dos sete sacramentos, os crentes continuamente crescem e
se regeneram, sobretudo, quando o caminho se torna mais difícil e as quedas não
faltam. Quando eles pecam, abandonam o amor por Cristo, podendo ser
reintroduzidos, por meio do sacramento da Penitência, à ordem das relações
inaugurada por Jesus, para caminhar como Ele caminhou (cf. 1 Jo 2,6). Desta
forma, olhamos com esperança para o juízo final, no qual cada pessoa será
julgada pelo amor (cf. Rm 13,8-10), especialmente pelos mais fracos (cf. Mt
25,31-46).
14. A economia salvífica sacramental opõe-se ainda às
tendências que propõem uma salvação meramente interior. De facto, o gnosticismo
está associado a um olhar negativo sobre a ordem da criação, inclusive, como
uma limitação da liberdade absoluta do espírito humano. Consequentemente, a
salvação é vista como libertação do corpo e das relações concretas que a pessoa
vive. Pelo contrário, como somos salvos «por meio da oferta do corpo de Jesus
Cristo» (Heb 10,10; cf. Col 1,22), a verdadeira salvação, longe de ser
libertação do corpo, compreende também a sua santificação (cf. Rom 12,1). O
corpo humano foi modelado por Deus, que nele inscreveu uma linguagem que
convida a pessoa humana a reconhecer os dons do Criador e a viver em comunhão
com os irmãos.[22]O Salvador restabeleceu e renovou, com a
sua Encarnação e o seu mistério pascal, esta linguagem originária, e
comunicou-a na economia corporal dos sacramentos. Graças aos sacramentos, os
cristãos podem viver fielmente à carne de Cristo e, consequentemente, em
fidelidade à ordem concreta das relações que Ele nos deu. Esta ordem de
relações requer, de maneira especial, o cuidado pela humanidade sofredora de
todos os homens, através das obras de misericórdia corporais e espirituais.[23]
VI. Conclusão: comunicar a fé, esperando o Salvador
15. A consciência da vida plena, na qual Jesus Salvador
nos introduz, impulsiona os cristãos à missão de proclamar a todos os homens a
alegria e a luz do Evangelho.[24] Neste esforço, eles estarão também
prontos para estabelecer um diálogo sincero e construtivo com os crentes de
outras religiões, na confiança que Deus pode conduzir à salvação em Cristo
«todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente».[25]Ao dedicar-se com todas as suas forças à
evangelização, a Igreja continua a invocar a vinda definitiva do Salvador,
porque «na esperança fomos salvos» (Rom 8,24). A salvação do homem será plena
somente quando, depois de ter vencido o último inimigo, a morte (cf 1 Cor
15,26), participaremos plenamente da glória de Cristo ressuscitado, que leva à
plenitude a nossa relação com Deus, com os irmãos e com toda a criação. A
salvação integral, da alma e do corpo, é o destino final ao qual Deus chama
todos os homens. Fundamentados na fé, sustentados pela esperança, operantes na
caridade, seguindo o exemplo de Maria, a Mãe do Salvador e a primeira dos que
foram salvos, estamos certos de que nossa cidadania “está nos céus, de onde
certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transfigurará o nosso
pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com aquela energia que o
torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas”(Fil 3,20-21).
O Sumo Pontífice Francisco, no dia 16 de
fevereiro de 2018, aprovou esta Carta, decidida na Sessão Plenária desta
Congregação no dia 24 de janeiro de 2018, e ordenou a publicação.
Dado em Roma, na Sede da Congregação para a
Doutrina da Fé, no dia 22 de fevereiro de 2018, Festa da Cátedra de São Pedro.
+ Luis F. Ladaria, S.I.
Arcebispo titular de ThibicaPrefeito
+ Giacomo Morandi
Arcebispo titular de Cerveteri
Secretário
Arcebispo titular de Cerveteri
Secretário
[2] Cf.
Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), nn. 5-8: AAS 92
(2000), 745-749.
[3] Cf.
Francisco, Exort. apost. Evangelii gaudium(24 de novembro de 2013), n. 67: AAS105
(2013), 1048.
[4] Cf.
Id., Carta enc. Lumen fidei (29 de junho de 2013), n. 47: AAS 105
(2013), 586-587; Exort. apost. Evangelii gaudium, nn. 93-94: AAS (2013),
1059; Discurso aos representantes do V Congresso nacional da Igreja italiana, Florença (10 de novembro de 2015): AAS 107
(2015), 1287.
[5] Cf.
Id., Discurso aos representantes do V Congresso nacional da Igreja italiana, Florença (10 de novembro de 2015): AAS 107
(2015), 1288.
[6] Cf.
Id., Exort. apost. Evangelii gaudium, n. 94: AAS105
(2013), 1059: «o fascínio do gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde
apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e
conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância,
a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus
sentimentos»; Pontíficio Conselho para a Cultura –– Pontifício Conselho para o
diálogo Inter-religioso, Jesus Cristo, portador da água viva. Uma reflexão
cristã sobre a “New Age” (janeiro de 2003), Cidade
do Vaticano 2003.
[8] Cf.
Id., Discurso aos participantes da peregrinação da diocese de Brescia (22
de junho de 2013): AAS 95 (2013), 627: «neste mundo onde
nega-se o homem, onde se prefere andar na estrada do gnosticismo, […] do “sem
carne” – um Deus que não se fez carne […]».
[9] De
acordo com a heresia Pelagiana, desenvolvida durante o século V ao redor de
Pelágio, o homem, para cumprir os mandamentos de Deus e ser salvo, precisa da
graça apenas como um auxílio externo à sua liberdade (como luz, exemplo,
força), mas não como uma sanação e regeneração radical da liberdade, sem mérito
prévio, para que ele possa realizar o bem e alcançar a vida eterna.
Mais
complexo é o movimento gnóstico, surgido nos séculos I e II, que manifestou-se
de formas muito diferentes. Em geral, os gnósticos acreditavam que a salvação é
obtida através de um conhecimento esotérico ou “gnose”. Esta gnose revela ao
gnóstico sua essência verdadeira, isto é, uma centelha do Espírito divino que
habita em sua interioridade, que deve ser libertada do corpo, estranho à sua
verdadeira humanidade. Somente assim o gnóstico retorna ao seu ser originário
em Deus, de quem ele afastou-se pela queda original.
[14] Bento
XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n.
1: AAS 98 (2006), 217; cf. Francisco, Exort. apost. Evangelii gaudium, n. 3: AAS 105
(2013), 1020.
[17] Cf.
Agostinho, Tractatus in Ioannem, 13, 4: Corpus
Christianorum, 36, 132: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,
6). Se você busca a verdade, siga o caminho; porque o caminho é o mesmo que a
verdade. A meta que se busca e o caminho que se deve percorrer, são a mesma
coisa. Não se pode alcançar a meta seguindo um outro caminho; por outro caminho
não se pode alcançar a Cristo: a Cristo se pode alcançar somente através de
Cristo. Em que sentido se chega a Cristo através de Cristo? Se chega a Cristo
Deus através de Cristo homem; por meio do Verbo feito carne se chega ao Verbo
que era no princípio Deus junto a Deus.
[21] Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 11; Const. Sacrosanctum Concilium, n. 10.
[23] Cf.
Id., Carta apost. Misericordia et misera (20 de novembro de 2016), n.
20: AAS 108 (2016), 1325-1326.
[24] Cf.
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de dezembro de 1990),
n.40: AAS 83 (1991), 287-288; Francisco, Exort. apost. Evangelii gaudium, nn. 9-13: AAS105
(2013), 1022-1025.
DOMINGO DAS SANTAS RELIQUIAS
2º Domingo da Grande Quaresma
25-fevereiro-2018
NO FINAL DE CADA DIVINA LITURGIA ESTAREMOS DISTRIBUINDO UMA RELÍQUIA PARA CADA FIEL
A
primeira vez em que um milagre foi feito pela relíquia dos santos está em II
Reis 13:20-21, onde um homem morto foi colocado sobre os ossos do Profeta
Eliseu, ressuscitando. Temos vemos em Atos 19:11-12, onde as relíquias de São
Pedro e São Paulo efetuavam milagres pela graça de Deus. Como podemos negar os
milagres das relíquias sagradas, quando temos exemplos destas nas Escrituras?
Também temos o exemplo de diversas histórias dos antigos cristãos, que
reverenciavam as relíquias dos mártires, como nos conta os martírios de São
Policarpo e Ignácio. Não se enganem, é Deus quem faz os milagres, mas Ele faz
pelas relíquias dos santos. Se Deus assim os honra, como nós podemos negar
a eles alguma honra?
Parte deste problema para aceitar a validade das relíquias ocorre
porque nossa sociedade ensina que o corpo é uma coisa, que é algo onde o ego ou
a alma habita: que a pessoa interna é a que verdadeiramente importa, o corpo
não passaria de uma roupa que será descartada. Mas as Escrituras nos ensinam
que o Corpo é como uma parte integrante da pessoa, como a alma. Se não fosse
assim, por que Deus prometeria ressuscitar os mortos com seus corpos íntegros?
Então, faria Ele corpos novos, de algum outro material, para a ressurreição?
Mas Deus prometeu livrar os corpos dos santos da morte e da corrupção, portanto
ensinamos que há uma verdadeira identidade entre o corpo e a alma. Por isso
honramos os corpos dos santos, pois estes são uma ligação aos santos no céu, que
foram honrados por Deus em milagres e sinais, e porque fomos ensinados a fazer
isso desde o princípio.
Dando
veneração aos santos de Deus que partiram com suas almas para o céu, a Santa
Igreja ao mesmo tempo honra as relíquias ou corpos dos santos de Deus que
permanecem na terra.
No Velho Testamento não havia a veneração dos corpos dos justos,
pois os justos estavam ainda esperando a sua libertação. Então também a carne
(dos mortos) era considerada impura.
No Novo Testamento após a Encarnação do Salvador, houve uma
elevação não só do conceito do homem em Cristo, mas também do conceito do corpo
como morada do Espírito Santo. O próprio Senhor, o Verbo de Deus, encarnou e
tomou sobre si um corpo humano. Os Cristãos são chamados para isso: que não só
suas almas mas também seus corpos, santificados pelo santo Batismo,
santificados pela recepção do Puríssimo Corpo e Sangue de Cristo, possam
tornar-se verdadeiros templos do Espírito Santo. "Não sabeis que o nosso
corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós?" (1 Co 6:19). E por
isso os corpos dos Cristãos que viveram uma vida justa ou tornaram-se santos
pelo recebimento de uma morte em martírio, são dignos de especial veneração e
honra.
A Santa Igreja em todos os tempos, seguindo a Sagrada Tradição,
mostrou honra às santas relíquias. Essa honra tem sido expressa: a) pela
reverente coleta e preservação dos remanescentes dos santos de Deus, como é
sabido pelos relatos desde o segundo século, e a seguir pelos testemunhos dos
tempos posteriores; b) na solene descoberta e translação de santas relíquias;
c) nas construção sobre elas de igreja e altares; d) no estabelecimento de
festas em memória de suas descobertas e translações; e) na peregrinação para
santos túmulos, e na decoração deles; f) na regra constante da Igreja de
colocar relíquias de santos mártires na dedicação de altares, ou de colocar
relíquias no santo antimension sobre o qual é realizada a Divina Liturgia.
Essa honra inteiramente natural dada ás santas relíquias e a
outros remanescentes dos santos de Deus tem uma firme fundamentação no fato que
Deus dignou-se a honrá-las e glorificá-las por inumeráveis sinais e milagres —
algo para o que existe testemunho através do complexo da historia da Igreja.
Mesmo no Velho Testamento, quando santos não eram venerados com uma
glorificação especial depois da morte, houveram sinais produzidos pelos corpos
dos justos. Assim, o corpo de um certo homem morto, depois de ter tocado ossos
do Profeta Eliseu em seu túmulo, imediatamente voltou à vida, e o homem morto
se pôs sobre seus pés (II Reis 13:21). O corpo do Profeta Elias foi elevado
vivo para o céu, e seu manto, que foi deixado por ele para Eliseu, dividiu por
seu toque (do manto) as águas do Jordão para o cruzamento do Rio, por Eliseu.
Olhando-se no Velho Testamento, nós lemos nos Atos dos Apóstolos
que lenços e aventais do corpo do Apóstolo Paulo eram colocados sobre os
doentes, e as doenças eram curadas, e espíritos malignos saiam deles (At
19:12). Os Santos Padres e professores da Igreja tem testemunhado diante de
seus ouvintes e leitores os milagres ocorridos pelos remanescentes dos santos,
e com freqüência eles tem chamado seus contemporâneos a serem testemunhas da
verdade de suas palavras. Por exemplo, Santo Ambrósio diz em sua homilia na
descoberta das relíquias de Santos Gervário e Protásio: "Vós conhecestes e
até mesmo vistes muitos que foram libertados dos demônios e mais ainda aqueles
que não logo tocaram as vestes dos santos que com suas mãos e foram
imediatamente curados de suas doenças. Os milagres da antiguidade foram
renovados desde o tempo quando através da vinda do Senhor Jesus, foi derramada
sobre a abundante graça! Vós vistes muitos que foram curados como se fosse pela
sombra dos santos. Quantas roupas foram passadas de mão em mão! Quantas vestes,
deixadas sobre os remanescentes sagrados, e que pelo mero toque tornaram-se
fonte de cura, que os que crêem pedem de cada outro! Todos tentam no mínimo um
pouco tocar (as vestes), e o que toca fica curado." Testemunhos similares
podem ser lidos em São Gregório o Teólogo, São Efrem, o Sírio, São João
Crisóstomo, Bem Aventurado Agostinho e outros.
Já no início do segundo século já informações sobre a honra dada
pelos Cristãos aos remanescestes dos santos. Assim, depois de descrever a morte
por martírio de Santo Inácio Teóforo, Bispo de Alexandria, uma pessoa que
testemunhou essa morte afirmou que "O que restou de seu corpo (que foi
feito em pedaços pelas bestas no circo), só as partes mais firmes foram pegas e
levadas para Antioquia e colocadas em linho como um inestimável tesouro da
graça que habita no mártir, um tesouro deixado para a Santa Igreja." Os
residentes das cidades, começando por Roma, receberam esses remanescentes em
sucessão naquele; e carregaram-nos nos ombros, como São Crisóstomo mais tarde
testemunhou. "para a cidade de Antioquia, louvando o vitorioso coroado e
glorificando o lutador." Da mesma forma, depois na morte por martírio de
São Policarpo como um tesouro mais precioso que pedras preciosas e mais puro
que ouro, e os colocaram "... para a celebração do dia de seu nascimento
por martírio, e para a instrução e confirmação dos futuros cristãos."
Os remanescentes dos santos (em gregos ta leipsana, em latim
reliquiae, ambos significando o que foi "deixado") são reverenciados
estejam ou não incorruptos pelo respeito pela vida santa ou pela morte por
martírio do santo, mais ainda quando há evidentes e confirmados sinais de cura
pelas orações aos santos pela intercessão deles diante de Deus. Os concílios da
Igreja muitas vezes (por exemplo, o Concílio de Moscou de 1667) proibiram o
reconhecimento dos que passaram como santos, pela simples incorruptibilidade de
seus corpos. Mas com certeza a incorruptibilidade dos corpos dos justos é
aceita como um dos sinais Divinos de sua santidade. (Pode-se dizer que a
incorruptibilidade de corpo de um morto não é garantia de santidade: podem ser
dados exemplos de swamis orientais cujos corpos estavam incorruptos muitos
tempos depois da morte (seja por meios naturais relacionados às suas vidas
ascéticas, ou por uma imitação demoníaca) e do corpo de alguns grande santos
Ortodoxos (por exemplo, São Serafim de Sarov, São Herman do Alasca) restaram só
ossos. As relíquias de São Nectário de Pentápolis (morto 1920) ficaram
incorruptos por muitos anos, e então rapidamente decaíram (no solo) deixando só
ossos perfumados).
Reverenciando as santas
relíquias, nós não acreditaríamos na força ou poder dos remanescentes nos
santos, mas sim ma intercessão por oração dos santos cujas relíquias diante de
nós levantam em nossos corações um sentimento de proximidade dos próprios
santos de Deus, que uma vez usaram esses corpos.
TeologiaDogmática Ortodoxa.
Protopresbítero Michael Pomazansky (1888—1988)
Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior.
Comunicamos que a santa sé apostólica de roma em comunhão com o sínodo patriarcal greco melquita católico transferiu e nomeou dom joseph gebara até a presente data eparca do brasil como bispo da eparquia de petra e filadélfia no reino hachemita da jordânia. Sendo elevado a dignidade de ARCEBISPO.
Primeiro Domingo da Grande Quaresma
18 de fevereiro - 2018
Santos
Ícones
O PRIMEIRO DOMINGO DA GRANDE QUARESMA É O DOMINGO DA ORTODOXIA.
Ele foi estabelecido como um dia memorial especial pelo Concilio de
Constantinopla em 843. Ele comemora antes de tudo a vitória da Igreja sobre a
heresia dos Iconoclastas: o uso e veneração dos Santos Ícones foi restaurada.
Neste dia nós continuamos a cantar o tropário da Santa Imagem de
Cristo: "Nós reverenciamos vossa sagrada Imagem, ó Cristo..."
Á primeira vista, pode parecer
ser uma ocasião inadequada para comemorar a glória da Igreja e todos os heróis
e mártires da Fé da Igreja. Não seria mais razoável fazer isto nos dias
dedicados à memória dos grandes Concílios Ecumênicos ou dos Santos Padres da
Igreja? A veneração do Ícone não é mais uma peça de um ritual e cerimonial
externo? Um Ícone pintado não é justamente mais uma decoração, muito bonita
de fato, e de diversas maneiras instrutiva, mas dificilmente um artigo de
Fé? Esta é a opinião corrente, infelizmente largamente espalhada mesmo entre os
próprios Católicos e Ortodoxos. E é a responsável por um pesaroso decaimento da
nossa arte religiosa. Nós usualmente confundimos Ícones com "pinturas
religiosas", e assim não encontramos dificuldade em usar as mais
inadequadas pinturas como Ícones, mesmo nas nossas igrejas. Com excessiva
freqüência nós simplesmente perdemos o significado religioso dos Santos Ícones.
Nós esquecemos do verdadeiro e definitivo propósito dos Ícones.
Olhemos o testemunho de São
João Damasceno — um dos primeiros e maiores defensores dos Santos Ícones na
época da luta — o grande teólogo e poeta devocional da nossa Igreja. Em um de
seus sermões em defesa dos Ícones ele diz: "Eu tenho visto a imagem humana
de Deus e minha alma está salva". É uma afirmação forte e mobilizadora.
Deus é invisível, Ele vive na luz inaproximável. Como pode um homem frágil ver
ou contemplar Ele? Porém, Deus Se manifestou na carne. O Filho de Deus, Que
está no seio do Pai, "desceu do céu" e "Se fez homem". Ele
habitou entre os homens. Este foi o grande movimento do Amor Divino. O Pai
Celestial foi movido pela miséria do homem e enviou Seu Filho porque Ele amava
o mundo. "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, Que está no
seio do Pai, Este o fez conhecer." (Jo. 1: 18). O Ícone de Cristo, Deus
Encarnado, é um testemunho contínuo da Igreja para aquele mistério da Santa
Encarnação, que é a base e substância de nossa fé e esperança. Cristo Jesus,
nosso abençoado Senhor, é Deus Encarnado. Isto significa que desde a Encarnação
Deus é visível. Pode-se ter agora uma verdadeira imagem de Deus.
A Encarnação é
uma identificação íntima e pessoal de Deus com o homem, com as necessidades
e misérias do homem. O Filho de Deus "Se fez homem", como afirma o
Credo, "e por nós homens e para nossa salvação". Ele tomou sobre Si
os pecados do mundo, e morreu por nós pecadores na árvore da Cruz, e assim Ele
fez da Cruz a árvore da vida para os fiéis. Ele Se tornou o novo e Último Adão.
A Cabeça da nova e redimida humanidade. A Encarnação significa uma intervenção
pessoal de Deus na vida do homem, uma intervenção do Amor e Misericórdia. O
Santo Ícone de Cristo é um símbolo disto, mas muito mais do que um mero símbolo
ou sinal. É também um eficiente sinal e recordação da presença em
habitação de Cristo na Igreja, que é Seu Corpo. Mesmo em uma pintura comum há
sempre algo da pessoa representada. Uma pintura não só nos lembra da pessoa,
mas de alguma forma conduz a alguma coisa dela, isto é, "representa"
a pessoa, ou seja, "torna ela presente de novo". Isto é ainda mais
verdade com a sagrada Imagem de Cristo. Como os professores da Igreja nos
ensinaram — especialmente São Teodoro o Estudita, outro grande confessor e
defensor dos Santos Ícones — um Ícone, em certo sentido, pertence á própria
personalidade de Cristo. O Senhor está lá, nas Suas "Santas Imagens".
Por isso, nem todo mundo tem
permissão para fazer ou pintar um Ícone, se se tratar de verdadeiros Ícones. O
pintor de Ícones deve ser um membro fiel da Igreja, e deve se preparar para sua
tarefa sagrada com jejum e oração. Não se trata somente de uma questão de arte,
ou de habilidade artística ou técnica. É um tipo de testemunho, uma profissão
de fé. Pela mesma razão, a arte em si deve ser subordinada de todo o coração à
regra da fé. Há limites para a imaginação artística. Existem certos padrões
estabelecidos a serem seguidos. Em todo caso, o Ícone de Cristo deve ser
executado de maneira a conduzir à verdadeira concepção de Sua pessoa, isto
é, testemunhar a Sua Divindade, ainda que Encarnada. Todas estas regras foram
mantidas por séculos na Igreja, e então elas foram esquecidas. Até mesmo
descrentes foram autorizados a pintar ícones de Cristo nas igrejas, e assim
certos ‘ícones’ modernos não são mais do que pinturas, nos mostrando somente um
homem. Estas pinturas falham em ser "Ícones" em qualquer sentido
próprio e verdadeiro, e cessam de ser testemunhas da Encarnação. Em tais casos,
nós simplesmente "decoramos" nossas igrejas.
O uso dos Santos Ícones sempre
foi uma das características mais distintivas da Igreja Católica Oriental e
Ortodoxa. O Ocidente Cristão, mesmo antes do Cisma, tinha pouco entendimento
desta substância dogmática e devocional da pintura de Ícones. No Ocidente ela
significava simplesmente decoração. E foi sob influência ocidental que a
pintura de Ícones também se deteriorou no Oriente Católico e Ortodoxo nos
tempos modernos. O decaimento da pintura de Ícones foi um sintoma do
enfraquecimento da fé. A arte dos Santos Ícones não é uma matéria neutra.
Ele pertence à Fé.
É comum e indispensável em nossas casas "católicas fervorosas" haver lugar para os santos ícones
Não deve haver risco, nem
"improvisação" na pintura de nossas igrejas. Cristo nunca está
sozinho, afirma São João Damasceno. Ele está sempre com Seus santos, que são
Seus amigos para sempre. Cristo é a Cabeça, e os verdadeiros fiéis são o Corpo.
Nas igrejas antigas o estado completo da Igreja Triunfante estava representado
pictorialmente nas paredes. De novo, isto não era simplesmente uma decoração,
nem era uma simplesmente uma história contada em linhas e cores para os
ignorantes e iletrados. Era mais uma visão da realidade invisível da Igreja. A
companhia toda do Céu estava representada porque ela estava presente ali,
apesar de invisivelmente. Nós sempre oramos na Divina Liturgia, durante a
Pequena Entrada, "que os Santos Anjos entrem conosco para servirem
conosco...". E nossa oração é, sem dúvida, atendida. Nós não vemos os
Anjos, na verdade. Nossa visão é fraca. Mas é relatado que São Serafim
costumava vê-los, pois eles estavam lá de fato. Os eleitos do Senhor os vêem e
a Igreja Triunfante. Ícones são sinais desta presença. "Quando nós estamos
no templo de vossas glória, nós os vemos nos Céus".
Assim, é bastante natural que
no Domingo da Ortodoxia nós devamos celebrar não somente a restauração da
veneração dos Ícones, mas comemorar também o glorioso corpo de testemunhas
e fiéis que professaram sua fé, mesmo ao custo de sua segurança, prosperidade e
a própria vida mundana. É o grande dia da Igreja. De fato, nesse dia nós
celebramos a Igreja do Verbo Encarnado: nós celebramos o Amor redimidor do Pai,
o Amor Crucificado do Filho, e o Companheirismo do Espírito Santo, tornados
visíveis na companhia toda dos fiéis, que já entraram no Repouso Celeste, na
alegria Permanente do Senhor e Mestre deles. Santos Ícones são nossas
testemunhas do Reino que há de vir, e já presente.
Do Capítulo
VI, "Dimensões da Redenção," da
Collected
Works of Georges Florovsky, Vol. III:
Creation and
Redemption (Nordland Publishing
Company):
Belmont,
Mass., 1976), pp. 209-212.
Folheto Missionário número P095w
Copyright ©
2005 Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill
Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator:
Bispo Alexandre Mileant
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentar