Advento : tempo de preparar a festa da vida!
Icone da Virgem do Sinal,
venerado nestes dias em nossa Paróquia de Rito Bizantino Católico
Tudo na vida requer preparo. Toda preparação envolve espera. São tantas
as esperas da vida humana! Tem gente esperando gente na rodoviária, gente
esperando o sol para estender roupa, gente esperando a chuva para plantar. Tem
gente esperando na fila de emprego, esperando na fila dos hospitais, esperando
tempos melhores. Está todo mundo esperando. É de tanta esperança que se faz o
humano. Somos feitos disso: desejo, súplica, anseio, esperança. No fundo, no
fundo, temos uma lacuna que nos faz gemer para o Eterno pedido ajuda:
"Vem, Senhor, nos salvar! Vem sem demora nos dar a paz!".
Mas como é a chuva para a terra seca, ou como o sol é para a roupa no
varal, toda espera tem o seu objeto esperado, desejado. Tal como nossas
esperanças manifestam o grande anseio humano por quem possa nos plenificar,
assim também nossas realizações manifestam que Ele vem sempre ao nosso
encontro. Não nos falta nunca, ainda que demore! Tudo vira sinal de uma relação
de espera e realização. Tudo aponta para o vazio infinito dentro de nós,
ressoando uma certeza: Ele vem! Mas como toda festa não tem fim, a alegria não
pára por aí. Temos de contar para os outros, afinal foi bom demais! Não dá para
ficar guardando uma coisa dessas!
É assim mesmo esse tempo que se aproxima: no Advento, uma espera, um
desejo, uma abertura. Como a flor que se abre para a visita da borboleta, o
copo na mão pedindo água, uma jarra solitária à espera da rosa. Eis que chega e
se realiza o sonho. O sol trouxe luz e calor, do céu desceu a chuva para molhar
a terra seca, e o silêncio terno anuncia que tem alguém no berço que estava
vazio. Natal se faz. E para todos que se achegam, curiosos com a novidade, um
anúncio. Olhos arregalados e brilhantes falam, propagam, divulgam essa boa
notícia. Tudo para mostrar um grande sinal, um estrondoso acontecimento: Deus
se fez gente!
A origem do NATAL, da EPIFANIA e do ADVENTO
Tudo começou com o domingo. Os cristãos se reuniam no dia do Senhor. Um
dia tão importante, que guardava em si (e ainda guarda!) todos os aspectos da
vida cristã. O domingo ficou sendo, em todos os tempos, o dia mais importante
da semana para os cristãos. Muito tempo se passou e, como uma célula
embrionária, dele foram nascendo outras comemorações, como, por exemplo, a
comemoração anual da páscoa. Outras festas foram acoplando-se a essa
comemoração única e compondo, num processo longo e até complicado, o que
entendemos hoje por ano litúrgico. Dentro desse cenário, por volta do século
IV, nasceu a comemoração do Natal. Foi assim...
Uma origem pagã
O imperador de Roma, Aureliano,
lá pelo século III, oficializou a festa pagã do culto ao sol. Era uma maneira
de combater o cristianismo, que, como se sabe, ainda não era bem aceito. A
grande festa desse culto pagão era feita no dia 25 de dezembro, por causa de um
fenômeno natural conhecido como "solstício de inverno". O que acontecia
era o seguinte: os dias ficavam curtos e as noites longas e o sol quase
desaparecia no céu. Nessa data, no entanto, o sol voltava a aparecer e os dias
voltavam a ficar mais longos e as noites mais curtas. A luz vencia as trevas.
Os pagãos davam o seguinte nome para essa festa: Natalis (solis) invicti, ou
seja, "O nascimento do sol invencível". A Igreja em Roma, para
afastar os fiéis das festas pagãs, deu um significado novo para essas
comemorações: o verdadeiro Sol Invencível é Jesus. É ele o sol nascente que veio
visitar o seu povo (Lc 1,78). Foi ele quem venceu a noite escura da morte com
sua ressurreição! Junte-se a isso o fato de que, na mesma época, a Igreja
lutava contra as falsas doutrinas sobre Jesus. Havia muitas pessoas dizendo que
Jesus não era Deus, ou que a natureza divina de Jesus absorvia a natureza
humana. Outros ainda diziam que as duas naturezas eram confusas. Essas falsas
doutrinas (heresias) exigiram da Igreja formulações rápidas e precisas sobre
essa grande questão de fé: Deus se fez humano para nos salvar. Essa resposta
veio nos famosos Concílios de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, que
cuidaram de assegurar a fé na encarnação do Verbo. A festa do Natal também
serviu de base para difundir a verdadeira doutrina sobre a divindade e a
humanidade de Jesus Cristo.
No Oriente foi igual, mas diferente...
No Oriente, se deu um processo semelhante, mas anterior ao do Natal no
Ocidente. A festa da Epifania (palavra que quer dizer manifestação), no dia 06
de janeiro, também estava relacionada à festa pagã de adoração ao astro solar.
No entanto, com o encontro das duas festas, Natal e Epifania, a segunda assume
no Oriente um caráter mais batismal. Isso se deu também porque, entre os pagãos
que cultuavam o sol, acreditava-se no poder milagroso das águas. Por isso, em
algumas Igrejas orientais, a festa da epifania está também associada ao batismo
do Senhor e ao milagre de Caná. Nota-se que a temática do nascimento está
estreitamente vinculada às festas do Natal e da Epifania. Seja o nascimento do
verdadeiro Sol invencível, Jesus Cristo, Deus encarnado, seja o nascimento dos
cristãos pelo batismo. Com o nascimento do ano novo civil, as festas natalinas
encontram terreno fértil para a vivência de um tempo novo, marcado pela
presença do Deus nascido em Belém, notícia sempre nova e atual para os homens e
as mulheres de todos os tempos.
Em nossa Igreja Greco Melquita Católica (ROMANA por estarmos em plena
comunhão com o bispo de Roma-Papa) de Rito Bizantino o Natal é no dia 25 de
dezembro e sua conclusão no dia 06 de janeiro com a Festa da
Epifania(Manifestação) do Senhor quando tem lugar a Solene Consagração das
Águas porque celebramos neste dia o Batismo de Jesus. Vale a pena lembrar que
nós Católicos Bizantinos usamos o calendário gregoriano. Muitas comunidades
mesmo de Rito Bizantino não católicas usam o antigo calendário juliano, com uma
diferença de treze dias, assim sendo o Natal é celebrado no dia 06 de janeiro;
é o caso da Grande Rússia...Embora é bom observar que há dentro da mesma
Igreja; Una, Santa, Católica e Apostólica; tradições diferentes. No Rito Romano
"""que é um dos ritos da Igreja Católica""" no dia 06 de janeiro celebra-se a Epifania
com a visita dos Magos a Jesus, já no Rito Bizantino essa "Epifânia"
é o Batismo de Jesus.
ADVENTO: tempo de preparação
O tempo do Advento nasce no Ocidente como uma preparação para o Natal.
No Oriente, não se observa um processo semelhante. No rito sírio, celebram-se
as cinco (ou quatro, conforme a região) semanas das anunciações e, no rito
bizantino, comemora-se a memória dos patriarcas do Antigo Testamento, no
domingo precedente ao Natal. As primeiras notícias do Advento no Ocidente vêm
da Espanha e da França (Gália).
Na Espanha, já no século IV, por influência do Oriente, o Advento
aparece com um aspecto ascético (ascese: prática relativa aos jejuns e orações)
em vista do batismo na festa da Epifania. Também na França (século V) se fala
em jejum como meio de preparação para o Natal. Isso se dava durante a quaresma
de São Martinho, que se iniciava no dia 11 de novembro. É na Itália,
entretanto, que aparecem testemunhos do tempo do Advento mais ligados ao
mistério do nascimento do Senhor. Nessa tradição, oriunda de Ravena, o aspecto
ascético penitencial dá lugar ao sentido teológico e espiritual do tempo da
espera: o Advento.
Tanto o aspecto escatológico, que tem a ver com os acontecimentos
últimos e derradeiros da vida e que se refere à segunda vinda de Cristo, quanto
o aspecto histórico, da encarnação do Verbo na primeira vinda, estão presentes
em todo esse percurso histórico do Advento. A reforma do Concílio Vaticano II
tratou de considerar a ambos, associando os dois primeiros domingos à segunda
vinda, em continuidade ao ano litúrgico que findou e os dois últimos domingos
do Advento associados à primeira vinda do Senhor, celebrada no Natal. Advento :
tempo de preparar a festa da vida!
Fonte: Jornal de Opinião
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