06 de agosto:
Santa
Transfiguração do Nosso Senhor Jesus Crísto
No Oriente
bizantino a festa do 6 de agosto, Santa Transfiguração de Nosso Senhor Deus e
Salvador Jesus Cristo, reveste-se de uma solenidade toda especial. Essa festa é
lembrada desde o século IV pelos santos Efrém, o Sírio e João Crisóstomo e,
entre os hinos litúrgicos, até hoje ainda em uso entre os bizantinos ortodoxos
e/ou católicos, muitos são de autoria de São Cosme de Maiúma e de São João
Damasceno. já no dia anterior à festa se evidencia a importância do evento em
que aparecem a beleza primordial
da criação e o inteiro plano salvífico:
Kontákion
da vigília (4º tom).
"Hoje, em vossa divina
transfiguração, a inteira natureza humana brilha de divino resplendor e exclama
com júbilo: O Senhor transfigura-se salvando todos os homens.
O tropário final da festa, bem como o kontákíon,
são repetidos mais vezes até o dia 13 de agosto. Ei-los:
"Ó Cristo Deus, vos transfigurastes
sobre a montanha, mostrando aos discípulos vossa glória, à medida que lhes era
possível contemplá-la. Também sobre nós, pecadores, deixai brilhar vossa luz
eterna, pelas orações da Mãe de Deus. ó Doador da luz, glória a vós!"
Kontákion
(7º tom).
"Sobre o monte vos
transfigurastes e os vossos discípulos, à medida que o podiam, viram a vossa
glória, ó Cristo Deus, a fim de que quantos vos vissem crucificado,
compreendessem que a vossa paixão era voluntária e proclamassem ao mundo que sois
verdadeiramente o resplendor do Pai."
Com efeito, a
narrativa evangélica, transmitida por Mateus, Marcos e Lucas, se encontra entre
dois prenúncios da paixão de Cristo, e os três discípulos presentes ao evento
da transfiguração são os mesmos que assistirão, embora de longe e sonolentos, à
dolorosa oração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Com freqüência no-lo lembram
os textos litúrgicos bizantinos próprios do dia, como, por exemplo, este trecho
das Vésperas:
"Antes da vossa
crucificação, Senhor, o monte tornou-se parecido ao céu e uma nuvem encobriu-o
como uma tenda; enquanto vos transfiguravas, o Pai vos testemunhou qual Filho.
Estavam ali presentes Pedro, Tiago e João, os mesmos que estariam presentes
contigo na hora da traição, para que, tendo contemplado as vossas maravilhas,
não se perturbassem ao contemplar vossos sofrimentos. Concedei também a nós,
por vossa misericórdia, contemplá-los na paz."
O ícone da
Transfiguração encontra-se com freqüência, também porque é um tema que o
iconógrafo deve privilegiar na sua atividade pictórica. Ele fica exposto, no
meio da igreja, à veneração dos fiéis, desde a tarde do dia 5 de agosto até 13
do mesmo mês. O complexo pictórico resume bem o conjunto da festa conforme o
esquema que nos foi transmitido por séculos. Ao centro domina a figura do
Cristo em vestes brancas. Raios de luz se desprendem da sua pessoa e se
espalham em todas as direções rumo à extremidade de um círculo, símbolo da verdade. Ele está no alto
de um monte e aos lados, sobre dois picos rochosos, admiramos as figuras de
Moisés e Elias, ligeiramente inclinados para o Salvador, com o qual conversam;
representantes respectivamente da Lei e dos Profetas que têm, na pessoa do Salvador, o seu cumprimento.
Embaixo, a cena é mais movimentada e apresenta figuras do Novo Testamento: os
três discípulos escolhidos para subir ao monte estão em atitude de grande
espanto. À direita (de quem olha), Pedro, de joelhos, com uma das mãos se apóia
no chão e com a outra aponta para o divino fulgor que observa de esguelha.
Tiago e João estão caídos no chão e cobrem os olhos ofuscados pela luminosa
teofania. A fraqueza humana perante o evento excepcional, por contraste,
ressalta a paz transcendente e a
divina segurança de Jesus, centro de tudo.
A tradição oriental
reconhece na Transfiguração uma nova manifestação trinitária após a ocorrida no
batismo de Jesus, porque no Tabor "a
voz do Pai dá testemunho, o Espírito ilumina e o Filho recebe e manifesta a
palavra e a luz."
Existem
outros temas sobre os quais os hinos litúrgicos dessa festa querem atrair a
atenção dos fiéis: a "metamorfose" de Cristo "resplendor"
do Pai; o prenúncio da Ressurreição de Jesus e nossa; a divinização da natureza
humana, obscurecida em Adão e agora iluminada. Eis alguns desses temas
hinográficos:
"Luz imutável da luz do
Pai não gerado, ó Verbo, na vossa luz brilhante hoje no Tabor vimos a luz do
Pai e a luz do Espírito que ilumina toda criatura." "Vinde, subamos à
montanha do Senhor, à casa do nosso Deus, e veremos a glória da transfiguração,
glória do Unigênito do Pai; na luz receberemos a luz e, elevados pelo Espírito,
cantaremos nos séculos a Trindade consubstancial."
"Ó Cristo,vos
revestistes do Adão inteiro, iluminastes a natureza outrora obscurecida e na
metamorfose do vosso aspecto a divinizaste."
A teologia oriental
insiste sobre a graça incriada,
participação na luz que envolveu o Cristo no Tabor,
"graça deificante, emanação do Espírito Santo que vem a
iluminar a Esposa para torná-la nupcialmente conforme ao Esposo,"
como escreve C.
Andronikov, acrescentando:
"A Transfiguração, festa teleológica por excelência,
nos permite aguardar a Páscoa e prever o porvir para além da parusia."
As origens dessa festa, no Oriente,
talvez remontem à inauguração de uma basílica da Transfiguração no monte Tabor
no IV século e possui antigos testemunhos.
A
oração de São João Damasceno (século VIII), na Ode nona do seu Cânon para o dia
6 de agosto, é um convite que se estende até os nossos dias, para todos nós:
"Vinde, ó povos,
segui-me; subamos à montanha santa, rumo ao céu. Fixemos espiritualmente a
nossa morada na cidade do Deus vivente e contemplemos a divindade imaterial do
Pai e do Espírito que, em vosso Filho único, resplandece." "ó Cristo,
vós me atraístes e transformastes com o vosso divino amor; queimai, pois, os
meus pecados na chama do fogo imaterial e enchei-me de vossas delícias, para
que, exultante de alegria, possa glorificar, ó Deus de bondade, as vossas duas vindas."
O Ano Litúrgico Bizantino, Madre Maria Donadeo
O Ano Litúrgico Bizantino, Madre Maria Donadeo
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