Este blog tem por finalidade expor alguns elementos da Fé Católica dentro da Tradição Oriental Bizantina, para manifestar a Catolicidade da Igreja, demonstrando que catolicismo não é sinônimo de latinismo, nem Ortodoxia ruptura com Roma.
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sexta-feira, 16 de outubro de 2015
RECORDAR É VIVER... VISITA DO PAPA BENTO XVIÀ SEDE
DA CONGREGAÇÃO PARA AS IGREJAS ORIENTAIS
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Prezados irmãos e irmãsSábado, 9
de Junho de 2007DISCURSO DO SANTO PADREBeatitudeChegou o
dia, esperado também pelo Papa, de visitar a Congregação para as Igrejas
Orientais. Trata-se de um dia significativo, inclusive porque hoje o calendário
da Igreja latina recorda Santo Efrém, grande Doutor da Igreja síria. Estou
reconhecido ao Senhor e a todos vós por este encontro muito cordial. Saúdo o
Cardeal Prefeito, Ignace Moussa Daoud, e agradeço-lhe as suas amáveis
expressões de homenagem. Faço extensiva a minha lembrança ao Arcebispo
Secretário, D. António Maria Veglió, ao Subsecretário, aos Colaboradores e a
todos os presentes.Dirijo o
meu pensamento ao Papa Bento XV, de feliz memória que, há noventa anos,
instituiu a "Sagrada Congregação para a Igreja Oriental". O Beato Pio
IX tinha constituído no seio da Propaganda Fide a "Secção
Oriental". Todavia, para "evitar o temor de que os Orientais
não fossem tidos na devida consideração pelos Pontífices Romanos", o
Papa Bento XV desejou a nova Congregação, totalmente autónoma, dispondo quanto
era necessário para o seu melhor funcionamento. E ele mesmo assumiu o seu
governo. Como testemunha o "Motu proprio" Dei providentis, ele
desejava manifestar claramente que "in Ecclesia Iesu Christi, ut
quae non latina sit, non graeca, non slavonica, sed catholica, nullum inter
eius filios intercedere discrimen" (AAS, 9 [1917], pp.
529-531).Começava
precisamente então uma fase dramática da história, de maneira especial para o
Leste europeu. Os períodos subsequentes viriam confirmar, mais providencial do
que nunca, aquela decisão pontifícia destinada a assegurar aos Orientais
católicos, através de uma Congregação específica, a atenção da Igreja, que
sucessivamente teria acompanhado muitos deles no período não breve da
perseguição. Depois do silêncio, chegou a hora do resgate, e assim a vida e a
missão da Igreja puderam retomar, desenvolver-se e consolidar-se. Na presente
circunstância, dou graças mais uma vez ao Senhor pelos desígnios da sua bondade
divina. Todavia, como pai e pastor, sinto o dever de elevar a Deus uma ardente
oração e dirigir um vigoroso apelo a todos os responsáveis para que, em
toda a parte, do Oriente ao Ocidente, as Igrejas possam professar a fé
cristã em plena liberdade. Aos filhos e às filhas da Igreja seja concedido, em
toda a parte, viver na tranquilidade pessoal e social: sejam
garantidos a dignidade, o respeito e o futuro aos indivíduos e aos grupos, sem
qualquer preconceito em relação aos seus direitos de fiéis e de cidadãos.Dos meus
lábios eleva-se, outrossim, uma urgente invocação de paz para a Terra Santa, o
Iraque, o Líbano e todos os territórios que se encontram sob a jurisdição da
Congregação para as Igrejas Orientais, assim como para as outras Regiões
inseridas no turbilhão de uma violência aparentemente irrefreável. Possam as
Igrejas e os discípulos do Senhor permanecer lá onde a Providência Divina os
colocou por nascimento; lá onde eles merecem permanecer, em virtude de uma
presença que remonta aos primórdios do Cristianismo. Ao longo dos séculos, eles
distinguiram-se por um amor inquestionável e inseparável pela sua própria fé,
pelo seu povo e pela sua terra.Esta
visita põe-me na esteira dos meus venerados Predecessores: os Servos de Deus
Paulo VI e João Paulo II, e o Beato João XXIII, que vieram pessoalmente
encontrar-se com os Superiores e os Oficiais desta Congregação. Além disso,
através dela tenciono dar simbolicamente continuidade à peregrinação até ao
fulcro do Oriente, que o Papa João Paulo II propôs na Carta Apostólica Orientale lumen. Uma vez que a
venerável e antiga tradição das Igrejas Orientais faz parte integrante do
património indiviso da Igreja de Cristo (C.f. Unitatis redintegratio, 17), ele
exortava a conhecê-la, afirmando: "É necessário que também os
filhos da Igreja católica de tradição latina possam conhecer em plenitude este
tesouro e sentir assim, juntamente com o Papa, a paixão para que seja
restituída à Igreja e ao mundo a manifestação plena da catolicidade da
Igreja" (Orientale lumen, 1). Idealmente,
comecei esta peregrinação assumindo o nome de um Papa que amou muito o Oriente.
E, inaugurando oficialmente o Serviço petrino do Bispo de Roma, recolhi-me no
sepulcro do Apóstolo, convocando ao meu lado os Patriarcas orientais em
comunhão com o Sucessor de Pedro. Assim, diante de toda a Igreja, imergi-me
espiritualmente na fonte sempre jorrante do Credo apostólico, fazendo minha a
profissão de fé do Pescador da Galileia no "Filho de Deus vivo" (Mt 16,
16). E voltei a ouvir a consoladora promessa do Senhor Jesus: "Tu és
Pedro" (Ibid., v. 18). Tinha a certeza de que estavam ao meu
lado, juntamente com os seus Pastores, os filhos e as filhas do Oriente que,
fiéis à sua própria tradição, se rejubilam por beneficiar também do carisma de
comunhão conferido por Jesus a Pedro e aos seus Sucessores.Enfim, a
viagem apostólica à Turquia, inesquecível pelo abraço comovedor à comunidade
católica e pelo seu significado ecuménico e inter-religioso, constituiu mais um
momento de especial fecundidade na minha peregrinação ao coração do Oriente.Hoje, o
Papa agradece novamente aos Orientais a fidelidade paga com o sangue, da qual
permanecem páginas admiráveis ao longo dos séculos, até ao martirológio
contemporâneo! E ele, por sua vez, assegura-lhes que deseja permanecer ao seu
lado. E confirma a profunda consideração que tem pelas Igrejas Orientais
Católicas, em virtude do seu singular papel de testemunhas vivas das
origens (cf. Orientalium Ecclesiarum, 1).
Efectivamente, não há futuro para a Igreja de Cristo, sem um relacionamento
constante com a tradição das origens. São de modo particular as Igrejas
Orientais que conservam o eco do primeiro anúncio evangélico; as mais antigas
memórias dos sinais realizados pelo Senhor; os primeiros reflexos da luz pascal
e o revérbero do fogo inextinguível de Pentecostes. O seu património
espiritual, arraigado no ensinamento dos Apóstolos e dos Padres, gerou
venerandas tradições litúrgicas, teológicas e disciplinares, demonstrando a
capacidade do "pensamento de Cristo", de fecundar as culturas e a
história.Precisamente
por isso também eu, como os meus Predecessores, considero com estima e carinho
as Igrejas da Ortodoxia: "Um laço particularmente estreito já nos une.
Temos em comum quase tudo... e sobretudo temos em comum o anélito sincero da
unidade" (Orientale lumen, 3). Os bons
votos, que se elevam das profundezas do coração, são por que este anseio possa
encontrar depressa a sua plena realização.A Igreja
universal encontra no património das origens a capacidade de falar ao homem
contemporâneo de modo unânime e convincente: "As palavras do
Ocidente precisam das palavras do Oriente, para que a Palavra de Deus manifeste
cada vez melhor as suas riquezas insondáveis" (Orientale lumen, 28). O Concílio
Ecuménico Vaticano II formula votos a fim de que as Igrejas Orientais "floresçam
e cumpram, com novo vigor apostólico, a missão que lhes foi confiada [...] de
promover a unidade de todos os cristãos, especialmente orientais, segundo o
princípio do decreto "sobre o Ecumenismo" [...] em primeiro lugar
pela oração, o exemplo de vida, a escrupulosa fidelidade às antigas tradições
orientais, o mútuo e mais profundo conhecimento, a colaboração e a fraterna
estima de coisas e pessoas"(Orientalium Ecclesiarum, 1e24).Favorecidas
por uma tradição de vida plurissecular, elas deverão enfrentar o desafio
inter-religioso em espírito de verdade, de respeito e de reciprocidade, a fim
de que as diversas culturas e tradições encontrem a mútua hospitalidade no nome
do único Deus (cf. Act 2, 9-11).A
Congregação tem tarefas bem definidas, que desempenha com dedicação competente.
Estou feliz por poder manifestar-lhe o meu grato apreço e encorajá-la a inserir
todos os seus actos no contexto da missão que é própria das Igrejas Orientais e
daquele componente da Igreja latina, que lhe é confiada. Reitero a
irreversibilidade da opção ecuménica e a inderrogabilidade do encontro a nível
inter-religioso. Elogio a mais correcta aplicação da colegialidade sinodal e a
pontual verificação do desenvolvimento eclesial suscitado pela reencontrada
liberdade religiosa. O Papa tem em grande atenção a prioridade da formação,
assim como a actualização da pastoral familiar, juvenil e vocacional, e a
valorização da pastoral da cultura e da caridade.Deverá
continuar e, aliás, aumentar aquele movimento de caridade que, por mandato do
Papa, a Congregação acompanha a fim de que, de maneira ordenada e equitativa, a
Terra Santa e as outras Regiões orientais recebam a necessária ajuda espiritual
e material para fazer frente à vida eclesial ordinária e às necessidades
particulares. Finalmente, é necessário um esforço inteligente também para
enfrentar o sério fenómeno das migrações, que por vezes priva dos melhores
recursos as comunidades mais provadas. É preciso garantir aos migrantes uma
adequada hospitalidade no renovado contexto, bem como o vínculo indispensável
com a sua própria tradição religiosa.Com estas
preocupações, a Congregação colocar-se-á ao lado das Igrejas Orientais para
promover o seu caminho no respeito pelas suas prerrogativas e
responsabilidades. Nesta tarefa não fácil, ela sabe que pode contar sempre com
o Papa, com os Organismos da Cúria Romana, segundo as respectivas funções, com
as Instituições que estão vinculadas à mesma; penso, acima de tudo, no
Pontifício Instituto Oriental, que também celebra o nonagésimo aniversário de
fundação, e ao qual dirijo o meu agradecimento pelo insubstituível e
qualificado serviço eclesial.Confio
estes bons votos ao Beato João XXIII: o Oriente impressionou-o profundamente, a
ponto de o ter levado a convocar o "novo Pentecostes do Concílio", em
docilidade ao Espírito e em cordial abertura a todos os povos. Está próxima de
nós a Santíssima Mãe de Deus, que na vossa capela bizantina pude venerar diante
dos Santos Ícones, circundada pela plêiade de Testemunhas. Confiantes
na Toda Santa, as Igrejas Orientais cultivem esta variedade que não prejudica
mas, ao contrário, exalta a unidade, a fim de que a Igreja inteira venha a ser
o "sacramento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género
humano" (cf.Lumen gentium, 1).Estimados
amigos, transmito-vos a minha saudação destinada aos irmãos e às irmãs do
Oriente, para que eles sintam, também graças ao trabalho quotidiano da
Congregação, que ocupam sempre um lugar no coração do Papa de Roma. Por isso
concedo a cada um de vós a Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva
aos vossos entes queridos e a todas as Igrejas Orientais Católicas.